quarta-feira, 27 de julho de 2011

Os efeitos do jornalismo de esgoto

Por Luis Nassif, em seu blog:

Um dos pontos centrais das políticas de direitos humanos é o chamado direito à privacidade. Desde que não afete a vida de terceiros nem desrespeite as leis, toda pessoa tem o direito à sua privacidade.

O caso Murdoch expôs uma das características mais repelentes do jornalismo-espetáculo e do jornalismo "partido político": a exposição da vida de pessoas, os ataques pessoais, os chamados assassinatos de reputação como ferramentas não apenas para aumento de audiência, mas como arma política.



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Ocorreu nas eleições de Barack Obama. Comentaristas da Fox News, acumpliciados com redes anônimas de internautas, espalhavam que Obama não teria nascido nos Estados Unidos, que seria muçulmano, uma liderança infiltrada na política norte-americana visando destruir o país.

Esse mesmo modelo foi utilizado na campanha eleitoral do ano passado. Em qualquer escola de São Paulo, crianças eram contaminadas pela versão de que a candidata Dilma Rousseff "assassinou pessoas", que seria a favor do aborto. Ao mesmo tempo, havia ataques destemperados contra nordestinos. Na outra ponta, o preconceito contra qualquer pessoa que pertencesse à classe média para cima.

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A intolerância global foi particularmente feroz contra muçulmanos e árabes em geral, especialmente após o episódio terrorista que derrubou as Torres Gêmeas. Proliferaram sites e analistas preconizando o fim da civilização ocidental, com a invasão da Europa pelos muçulmanos.

Na França, proibiu-se o uso da burka. Diferenças culturais foram apontadas como desvios morais. Em um mundo cada vez mais globalizado, e enfrentando o fantasma da crise econômica, essa pregação espalhou-se como um rastilho, especialmente pelos países europeus. Da mesma maneira que a intolerância que se seguiu ao crack de 1929 da Bolsa de Nova York.

Por aqui, a pregação limitou-se ao chamado Foro de São Paulo - que, segundo alguns alucinados, visaria tomada do poder na América Latina pelos esquerdistas.

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O massacre de Oslo foi conseqüência direta de um clima de intolerância que teve em Murdoch o ponto central de disseminação, o exemplo no qual se espelharam grupos de mídia pelo mundo afora. Esse movimento foi facilitado pela ampliação da Internet, com o caos inicial que marca a entrada de novas mídias - especialmente uma descentralizada e onde é possível a prática dos ataques anônimos.

Nesse ambiente, houve o oportunismo de muitos comentaristas de mídia, explorando a intolerância que se manifestava na classe média - acossada, de um lado, pela tributação pesada, de outro, pela ascensão das novas massas consumidoras.

Abriu-se espaço para um modismo repelente, o "politicamente incorreto", que tornou de bom tom zombar das minorias, dos defeitos físicos, da feiura.

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O episódio Murdoch-Oslo deve servir de reflexão não apenas na Inglaterra, mas sobre a comunicação de massa em geral, sobre o respeito às diferenças, sobre os direitos individuais, sobre a responsabilidade na hora de se atacar pessoas ou grupos.

El Pais chamou a esse jornalismo de Murdoch de "cloaca". Por aqui, tornou-se comum a expressão "jornalismo de esgoto" para definir esse estilo.

2 comentários:

  1. Seguindo a sua linha de raciocínio, com relação ao clima gerado pelo massacre de Oslo, a mídia tem induzido a uma intolerância generalizada à comunidade cristã. É certo, há muito grupos religiosos que se apóiam no cristianismo para justificar condutas intolerantes, mas isso não é regra. A verdadeira mensagem de Jesus Cristo é uma mensagem pura e de amor verdadeiro.

    O louco da Noruega (Anders Behring Breivik)que matou por razões preconceituosas, não deve ser confundido como um cristão genuíno. Ao longo do seu manifesto de 1.518 páginas, ele enfatiza constantemente que para aderir ao que chama de causa, não precisa acreditar em Jesus Cristo como Salvador e muito menos acreditar em Deus, ou seja, um ateu é mais que bem vindo a sua causa torpe.

    Ele também salienta que não tem um relacionamento com Deus e que é apenas favorável a uma “cultura cristã”. Isso difere completamente da mensagem de Jesus Cristo de “amar o próximo como a si mesmo”. Mas isso a mídia não divulga e de forma irresponsável, como um disco furado, repete constantemente que Anders Behring Breivik é um cristão. Na verdade, ele usou princípios cristãos para conquistar adeptos. Vale lembra, também, que os cristãos que aderem a sua causa na verdade nada têm de cristãos. Por isso, no sofá da minha casa, toda vez que os jornais enfatizaram que Anders é um cristão, remexia-me toda.

    Para citar uma conseqüência dessa conduta irresponsável da mídia, surgiu no twitter uma avalanche de comentários dizendo que os cristãos agora se acham no direito de fazer tudo. Na verdade, as pessoas que postaram frases do gênero não leram o manifesta de 1.518 páginas do louco norueguês e se contentaram com o alimento de informações de uma mídia que divulga sem pesquisa, sem análise, sem responsabilidade, uma mídia apressada que divulga apenas um recorde dos fatos.

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  2. Murdoch tem discípulos no Brasil, assim como o terrorista norueguês tem aqui mentores intelectuais, que ele nunca leu. A Fox é citada frequentemente por "analistas" brasileiros como o velhinho-pornô Olavo Carvalho e seu êmulo Reinaldo Azevedo, mais conhecido como "Rei do Esgoto". Ambos, sem dúvida, subscreveriam o manifesto do terrorista da Noruega, não fosse a covardia que sempre caracterizou a direita-burra brasileira. As idéias são as mesmas.

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