sábado, 13 de agosto de 2011

As pedras no caminho do PSD de Kassab

Por Altamiro Borges

Em convenção realizada neste sábado (13), o prefeito da capital paulista, o ex-demo Gilberto Kassab, foi eleito presidente nacional do PSD – partido que nasce da fratura exposta do DEM e da atração de políticos de outras siglas. A senadora ruralista Kátia Abreu, outra ex-demo, será a primeira vice-presidente da nova legenda, que afirma não ser “nem de esquerda, nem direita ou de centro”.



Pressa para a disputa de 2012

A pressa na formalização do PSD decorre da agenda eleitoral. Para se firmar no cenário político, o novo partido pretende disputar as eleições de várias prefeituras. Em São Paulo, por exemplo, ele cogita lançar Guilherme Afif, vice-governador do tucano Geraldo Alckmin. Caso não consiga se legalizar, ele poderá apoiar Eduardo Jorge, secretário de meio ambiente da capital, do “verde” PV.

Mas Kassab já explicitou que se José Serra for candidato à prefeitura, ele terá seu "apoio integral". A criatura não trairia seu criador! Como se observa, a consistência ideológica do PSD é bastante gelatinosa. A legenda, que se proclama de “independente”, tenta se firmar no tabuleiro político sem qualquer plataforma. O pragmatismo político parece ser a sua principal marca.

Futuro incerto da nova sigla

De imediato, a criação do novo partido representa um duro baque na oposição demotucana, que já saiu bastante fragilizada das eleições de outubro passado. Neste sentido, ela é comemorada pelo Palácio do Planalto. A maior vítima é o direitista DEM, que já discute um novo nome ou a fusão com o PSDB e o PPS. Os demos perderam vários parlamentares e caminham para o inferno.

Mas não é certo como o novo partido se comportará no futuro. A tensão interna, entre os mais pragmáticos e os mais direitistas, tende a se agravar com o tempo. A legenda tentará se aproximar do governo para ocupar “espaços”. Na próxima semana, Kassab será recebido por Dilma Rousseff. Já nos temas mais polêmicos, a nova sigla deve votar em posições mais conservadoras, à direita.

Obstáculos legais e intrigas

Há ainda outras pedras no caminho do PSD. Não tem sido fácil o esforço para legalizar o partido nos prazos legais para as eleições de 2012. Ele sofre vários questionamentos na Justiça Eleitoral, principalmente do DEM e do PTB, magoados com a migração dos seus parlamentares. Nesta guerra, todo o dia surgem denúncias sobre irregularidades no processo de criação da nova legenda.

Há denúncias do uso de assinaturas falsas nas listas de apoio ao partido, de eleitores mortos que aderiram à sigla e, na semana passada, pintou o escândalo de que as atas da fundação de diretórios em vários estados foram manipuladas, clonadas. Cada denúncia desta retarda ainda mais a obtenção das 490 mil assinaturas, em pelo menos nove Estados, exigidas pela Justiça Eleitoral.

O ódio da mídia demotucana

Além das intrigas dos partidos prejudicados e das dificuldades legais, o PSD também passou a ser alvo da mídia demotucana. Ela não aceita o racha na oposição de direita e a aproximação com o governo Dilma. Os mesmos “calunistas” que ajudaram a eleger Gilberto Kassab em 2008, hoje só vêem defeitos no prefeito da capital paulista. Do amor ao ódio em curto espaço de tempo.

A Folha de ontem publicou editorial raivoso contra o PSD. O jornal serrista afirma, agora, que Kassab é fisiológico. “O objetivo do prefeito parece ser criar um feudo próprio no espaço por onde já transita o que há de mais oportunista na política nacional. Sem fazer oposição nem a petistas nem a tucanos, ficaria livre para associar-se com a máquina pública onde quer que seja”.

Esforço de desconstrução da imagem

O temor da mídia demotucana é que o novo partido debilite ainda mais a direita nativa. “Os descontentes com as agruras da vida na oposição, com a abstinência de verbas e empregos públicos, podem virar a casaca e aderir ao governo”, lamenta a Folha, que nunca reclamou da ampla base de apoio dos governos estaduais do PSDB. Ela gosta das alianças, mas apenas a serviço da direita!

Isto é que explica a mudança de postura da mídia diante do prefeito de São Paulo. Antes, ele era um excelente gestor. Agora, é um incompetente que “cai na avaliação dos paulistanos” e que terá o “fim melancólico para uma administração que teve um começo promissor”. Neste esforço de desconstrução, a mídia agora resolveu até publicar denúncias de corrupção contra a prefeitura.

“A quem interessa atacar o PSD?”

O Estadão, jornal que assumiu em editorial o apoio a José Serra, denunciou nesta semana que a “prefeitura está pagando a uma organização social (OS) por serviços de diagnóstico por imagem em quatro unidades de saúde municipais da zona sul mesmo quando os exames não são feitos”. Já a Folha criticou os contratos do governo municipal com as empresas de limpeza pública.

O bombardeio é violento. Até o próprio Gilberto Kassab, que no passado foi blindado pela imprensa serrista, está surpreso com tanta pancadaria. No artigo “a quem interessa atacar e denegrir (sic) o PSD?”, ele lamentou a postura hostil da mídia. “Desde que nos unimos e decidimos fundar o PSD, temos enfrentado uma enorme quantidade de críticas, ataques, boatos, denúncias e notícias distorcidas”. Ele mesmo já percebeu que haverá muitas pedras no caminho do seu projeto político.

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