Por Maurício Caleiro, no blog Cinema&Outras Artes:
Confesso que não simpatizo com José Dirceu. No período em que foi Chefe da Casa Civil exalava prepotência, tornando-se, a meu ver, uma das figuras públicas mais arrogantes que conheci em meus 44 anos de vida, rivalizando com certos ministros da ditadura (o José Serra da época das últimas eleições acabaria por superá-lo com folga).
Vou além: eu não compraria um carro usado de José Dirceu. Tenho claro, no entanto, que as minhas impressões pessoais sobre ele e a desconfiança que a recusa em dele comprar um carro assinala pertencem à esfera subjetiva e não me autorizam a imputar-lhe nenhum ato ilegal ou a prejulgá-lo um criminoso.
Intransigência e radicalização
Vivemos, no entanto, uma era de radicalizações: “quem não está conosco está contra nós”, parece ser o lema de todas as facções da microguerrilha política na internet. Em tal ambiente, grassa a mistificação: quem questiona se Belo Monte é mesmo o horror que alguns apregoam é carimbado como nada menos do que genocida, numa reação que revela não só o desconhecimento do significado do termo mas a desonestidade intelectual de sugerir que para a construção da usina os índios serão assassinados; quem revela o absurdo de uma revista semanal alegadamente violar não só as regras do bom jornalismo, mas do Código Penal, é acusado de defender Dirceu.
Ora, e se de defender Dirceu se tratasse? Há alguma lei que o proíba, algum interdito secreto que o tenha tornado o único cidadão brasileiro que não pode ser defendido? No caso de Dirceu – e só no dele – o ônus da prova cabe ao acusado? Por que os outros envolvidos no mensalão e também formalmente denunciados – como o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB) e o petebista Roberto Jefferson - continuam a ter livre-trânsito na mídia mas Dirceu só aparece no papel de Judas de Sábado de Aleluia?
Qual é o critério e o que está por trás de tamanha repulsa ao ex-Chefe da Casa Civil? Por que a necessidade de persegui-lo constantemente e neutralizá-lo como ente político? É preciso que todos os que testemunham a caça implacável da mídia a Dirceu, culminando (sic) com a reportagem de métodos reprováveis e de resultados pífios da última Veja, se façam tais perguntas.
Jornalismo de arromba
Apesar de, como já disse, não ir com a cara de Dirceu, de ter divergências com seu método-trator de fazer política partidária e com a realpolitik demasiado elástica que ele impôs ao PT quando no comando, como forma de levar Lula à Presidência (no que acabou bem-sucedido), parece-me evidente que ele já foi, há tempos, julgado e condenado. Não pela Justiça, como manda a Constituição, que esta ainda não se pronunciou, mas pela mídia.
E a imprensa não tem o direito de agir como Poder Judiciário e prejulgar e condenar quem quer que seja. A Constituição brasileira é clara: um cidadão só pode ser considerado culpado após sentença transitada em julgado. Ao contrário do que um certo populismo neoudenista crente das panaceias fáceis no estilo Lei da Ficha Limpa quer fazer crer, isso não é um sintoma de impunidade; pelo contrário, sinaliza maturidade democrática e respeito pelos trâmites legais constitucionais.
Porém, o que estamos vendo no Brasil, em âmbito federal desde a posse de Lula em 2002, é um desrespeito pelos trâmites legais institucionais par a par com o desvirtuamento da nobre função da imprensa de investigar e produzir denúncias fundamentadas. Substitui tal ação democrática da mídia uma atuação com tonalidades e métodos de gangsterismo, com verdadeiras quadrilhas repercutindo umas às outras os factoides mais improváveis e menos documentados, sempre sob um pronunciado – mas raramente assumido - viés político-partidário, inaceitável no jornalismo.
Arrombar portas é a mais bizarra, mas não a mais venal das práticas a tal jornalismo associadas. Sinaliza, no entanto, de forma clara, o ápice de um processo, a ultrapassagem de todas as barreiras de tolerância possível para com o desvirtuamento da imprensa corporativa no Brasil.
Basta!
Goste-se ou não de José Dirceu, é forçoso reconhecer que ele se tornou, com o episódio do último final de semana no Hotel Naoum, o maior símbolo dessa caça as bruxas desenfreada, com métodos inescrupulosos, promovida por uma imprensa que se pretende polícia, Ministério Público e juiz. Trata-se de algo inaceitável em um país que respeite o Estado Democrático de Direito. Está mais do que na hora de o governo, os partidos e, sobretudo, a sociedade botarem um fim nisso e exigir que a imprensa aja como imprensa, sob as leis de um estado democrático.
Confesso que não simpatizo com José Dirceu. No período em que foi Chefe da Casa Civil exalava prepotência, tornando-se, a meu ver, uma das figuras públicas mais arrogantes que conheci em meus 44 anos de vida, rivalizando com certos ministros da ditadura (o José Serra da época das últimas eleições acabaria por superá-lo com folga).
Vou além: eu não compraria um carro usado de José Dirceu. Tenho claro, no entanto, que as minhas impressões pessoais sobre ele e a desconfiança que a recusa em dele comprar um carro assinala pertencem à esfera subjetiva e não me autorizam a imputar-lhe nenhum ato ilegal ou a prejulgá-lo um criminoso.
Intransigência e radicalização
Vivemos, no entanto, uma era de radicalizações: “quem não está conosco está contra nós”, parece ser o lema de todas as facções da microguerrilha política na internet. Em tal ambiente, grassa a mistificação: quem questiona se Belo Monte é mesmo o horror que alguns apregoam é carimbado como nada menos do que genocida, numa reação que revela não só o desconhecimento do significado do termo mas a desonestidade intelectual de sugerir que para a construção da usina os índios serão assassinados; quem revela o absurdo de uma revista semanal alegadamente violar não só as regras do bom jornalismo, mas do Código Penal, é acusado de defender Dirceu.
Ora, e se de defender Dirceu se tratasse? Há alguma lei que o proíba, algum interdito secreto que o tenha tornado o único cidadão brasileiro que não pode ser defendido? No caso de Dirceu – e só no dele – o ônus da prova cabe ao acusado? Por que os outros envolvidos no mensalão e também formalmente denunciados – como o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB) e o petebista Roberto Jefferson - continuam a ter livre-trânsito na mídia mas Dirceu só aparece no papel de Judas de Sábado de Aleluia?
Qual é o critério e o que está por trás de tamanha repulsa ao ex-Chefe da Casa Civil? Por que a necessidade de persegui-lo constantemente e neutralizá-lo como ente político? É preciso que todos os que testemunham a caça implacável da mídia a Dirceu, culminando (sic) com a reportagem de métodos reprováveis e de resultados pífios da última Veja, se façam tais perguntas.
Jornalismo de arromba
Apesar de, como já disse, não ir com a cara de Dirceu, de ter divergências com seu método-trator de fazer política partidária e com a realpolitik demasiado elástica que ele impôs ao PT quando no comando, como forma de levar Lula à Presidência (no que acabou bem-sucedido), parece-me evidente que ele já foi, há tempos, julgado e condenado. Não pela Justiça, como manda a Constituição, que esta ainda não se pronunciou, mas pela mídia.
E a imprensa não tem o direito de agir como Poder Judiciário e prejulgar e condenar quem quer que seja. A Constituição brasileira é clara: um cidadão só pode ser considerado culpado após sentença transitada em julgado. Ao contrário do que um certo populismo neoudenista crente das panaceias fáceis no estilo Lei da Ficha Limpa quer fazer crer, isso não é um sintoma de impunidade; pelo contrário, sinaliza maturidade democrática e respeito pelos trâmites legais constitucionais.
Porém, o que estamos vendo no Brasil, em âmbito federal desde a posse de Lula em 2002, é um desrespeito pelos trâmites legais institucionais par a par com o desvirtuamento da nobre função da imprensa de investigar e produzir denúncias fundamentadas. Substitui tal ação democrática da mídia uma atuação com tonalidades e métodos de gangsterismo, com verdadeiras quadrilhas repercutindo umas às outras os factoides mais improváveis e menos documentados, sempre sob um pronunciado – mas raramente assumido - viés político-partidário, inaceitável no jornalismo.
Arrombar portas é a mais bizarra, mas não a mais venal das práticas a tal jornalismo associadas. Sinaliza, no entanto, de forma clara, o ápice de um processo, a ultrapassagem de todas as barreiras de tolerância possível para com o desvirtuamento da imprensa corporativa no Brasil.
Basta!
Goste-se ou não de José Dirceu, é forçoso reconhecer que ele se tornou, com o episódio do último final de semana no Hotel Naoum, o maior símbolo dessa caça as bruxas desenfreada, com métodos inescrupulosos, promovida por uma imprensa que se pretende polícia, Ministério Público e juiz. Trata-se de algo inaceitável em um país que respeite o Estado Democrático de Direito. Está mais do que na hora de o governo, os partidos e, sobretudo, a sociedade botarem um fim nisso e exigir que a imprensa aja como imprensa, sob as leis de um estado democrático.
Pois é, a questão não é a figura do Zé Dirceu....o problema é "a nossa" midia...assim não dá....uma midia venenosa, querendo pautar o governo...não dá mais para ser refém deste tipo de coisa. O PT, também, não pode se acovardar...já passou da hora...
ResponderExcluirOnde eu assino ?
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