Por Silvio Miele, no jornal Brasil de Fato:
Um dos marcos da virada empresarial do jornalismo foi a introdução da imprensa rápida, em 1814, pelo diário londrino The Times, que, ironicamente, foi incorporadoem 1981 pela News Corporation Group, império do megaempresário australiano/estadunidense Rupert Murdoch.
Pouco depois, a partir de meados do século 19, teve início uma fase de acumulação primitiva da indústria cultural, através do crescimento exponencial da imprensa, da publicidade e da produção do espetáculo, áreas que foram se articulando num mercado gigantesco, cada vez mais concentrado e monopolizado, precursor do atual complexo de entretenimento global.
Pulemos do século 19 para a recente explosão do escândalodas gravações ilegais utilizadas pelo tabloide britânico News of the World, propriedade do próprio Murdoch. Afinal, qual a novidade no fato de um veículo da mídia liberal burguesa estabelecer relações promíscuas com o governo e com a polícia de plantão?
A resposta nos obriga a voltarmos ao século 19. A reportagem sempre andou de mãos dadas com o formato policialesco do interrogatório e a linguagem jurídica do inquérito. Mas, além disso, desde que o jornalismo transformou-se em negócio (os primeiros grandes jornais foram fundados entre 1780 e 1880) e a informação passou a virar uma commodity, a fronteira entre imprensa, governos e corporações se esfumaçou de vez. Em nome da transparência, da iluminação da verdade e do livre mercado, jornais violaram privacidades, tramaram contra movimentos coletivos e traficaram interesses escusos ao longo dos últimos séculos.
Nesse contexto, o escândalo da mídia britânica — que inclusive envolveu a escuta de familiares do brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinado no metrô pela polícia londrina em 2005 — não representaria nada de muito novo mesmo, exceto por um motivo. Vindo de onde veio, sua simbologia configura, pela riqueza de detalhes e pelo vínculo carnal com o poder institucional, o enterro simbólico da era do jornalismo liberal tal como o conhecemos. E isso não é pouca coisa.
Nos últimos dias, um certo rebuliço instaurou-se entre os defensores de Murdoch e de sua lógica, inclusivea partir de muitos analistas brasileiros que andaram repercutindo um texto do articulista Roger Cohen (publicadona edição de 12 de julho do New York Times), onde pode-se ler a seguinte pérola: “Esse homem (referindo-se a Murdoch) é uma força da natureza, e suas incansáveis inovações têm sido, em equilíbrio com as ressalvas, boas para a mídia e para um mundo mais aberto”.
No fundo, o temor preventivo dessa estrutura que domina a mídia global é que o escândalo potencialize os movimentos por uma maior regulação dos meios de comunicação de massa. E, na mesma toada, ajude a conscientizar-nos a todos sobre os excessos de um mundo feito de muita luz, mas pouca clarividência, que está deslocando o jornalismo para uma dimensão muito diferente daquela herdada pelos ideais da Revolução Francesa.
O fim deste “modelo de jornalismo” não significará o “fim do jornalismo”. Existem fontes alternativas de energia informacional que ainda precisam ser exploradas e democratizadas. Afinal de contas, Millôr Fernandes tinha razão quando dizia que “jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Oposição ao poder, onde quer que ele esteja e em qualquer formato que ele se apresente.
Um dos marcos da virada empresarial do jornalismo foi a introdução da imprensa rápida, em 1814, pelo diário londrino The Times, que, ironicamente, foi incorporadoem 1981 pela News Corporation Group, império do megaempresário australiano/estadunidense Rupert Murdoch.
Pouco depois, a partir de meados do século 19, teve início uma fase de acumulação primitiva da indústria cultural, através do crescimento exponencial da imprensa, da publicidade e da produção do espetáculo, áreas que foram se articulando num mercado gigantesco, cada vez mais concentrado e monopolizado, precursor do atual complexo de entretenimento global.
Pulemos do século 19 para a recente explosão do escândalodas gravações ilegais utilizadas pelo tabloide britânico News of the World, propriedade do próprio Murdoch. Afinal, qual a novidade no fato de um veículo da mídia liberal burguesa estabelecer relações promíscuas com o governo e com a polícia de plantão?
A resposta nos obriga a voltarmos ao século 19. A reportagem sempre andou de mãos dadas com o formato policialesco do interrogatório e a linguagem jurídica do inquérito. Mas, além disso, desde que o jornalismo transformou-se em negócio (os primeiros grandes jornais foram fundados entre 1780 e 1880) e a informação passou a virar uma commodity, a fronteira entre imprensa, governos e corporações se esfumaçou de vez. Em nome da transparência, da iluminação da verdade e do livre mercado, jornais violaram privacidades, tramaram contra movimentos coletivos e traficaram interesses escusos ao longo dos últimos séculos.
Nesse contexto, o escândalo da mídia britânica — que inclusive envolveu a escuta de familiares do brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinado no metrô pela polícia londrina em 2005 — não representaria nada de muito novo mesmo, exceto por um motivo. Vindo de onde veio, sua simbologia configura, pela riqueza de detalhes e pelo vínculo carnal com o poder institucional, o enterro simbólico da era do jornalismo liberal tal como o conhecemos. E isso não é pouca coisa.
Nos últimos dias, um certo rebuliço instaurou-se entre os defensores de Murdoch e de sua lógica, inclusivea partir de muitos analistas brasileiros que andaram repercutindo um texto do articulista Roger Cohen (publicadona edição de 12 de julho do New York Times), onde pode-se ler a seguinte pérola: “Esse homem (referindo-se a Murdoch) é uma força da natureza, e suas incansáveis inovações têm sido, em equilíbrio com as ressalvas, boas para a mídia e para um mundo mais aberto”.
No fundo, o temor preventivo dessa estrutura que domina a mídia global é que o escândalo potencialize os movimentos por uma maior regulação dos meios de comunicação de massa. E, na mesma toada, ajude a conscientizar-nos a todos sobre os excessos de um mundo feito de muita luz, mas pouca clarividência, que está deslocando o jornalismo para uma dimensão muito diferente daquela herdada pelos ideais da Revolução Francesa.
O fim deste “modelo de jornalismo” não significará o “fim do jornalismo”. Existem fontes alternativas de energia informacional que ainda precisam ser exploradas e democratizadas. Afinal de contas, Millôr Fernandes tinha razão quando dizia que “jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Oposição ao poder, onde quer que ele esteja e em qualquer formato que ele se apresente.
Apesar de um tanto quanto radicalista ao meu ver, concordo quando o artigo diz que o fato em si não é novidade, o que é uma pena para aqueles que utopicamente ainda acreditam num jornalismo sério e honesto.
ResponderExcluir@juhbarreto
Estudante do 3° período de Jornalismo na UFPB e autora do Blog Pré-Jornalismo
www.prejornalismo.blogspot.com