Por Nicolau Soares, na Rede Brasil Atual:
Os efeitos da crise dos Estados Unidos e da Europa sobre a "vida real" no Brasil ainda são incertos. Segundo o diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, as medidas adotadas pelo governo federal para controlar o fluxo de capitais e para estimular a indústria vão na direção correta. Ele reconhece que é necessário ainda promover ações de controle de gastos públicos, sem redução de investimentos, e aumento da arrecadação, com incentivo à formalização da economia.
Uma semana depois de os Estados Unidos viverem a iminência de decretar moratória e com o anúncio do rebaixamento de nota dos títulos do Tesouro norte-americano por agências de classificações de risco, bolsas de valores de todo o mundo operaram em fortes baixas na segunda-feira (8). A crise na Europa dá sinais de que pode ser ainda mais profunda e atingir, além de Grécia, Portugal e Itália, países como a França.
Apesar de o epicentro da crise estar nos países desenvolvidos, os efeitos são motivo de preocupação também para nações emergentes, como o Brasil. "No curtíssimo prazo, há o impacto nas bolsas, mas neste mês não dá para sentir impacto na vida real, a não ser essa insegurança entre as empresas sobre o futuro", explica Clemente. A insegurança é de que os "países avançados" entrem em recessão
"A questão (para o Brasil) é como preservar o desenvolvimento, fortalecendo empresas nacionais, e quanto a crise trará de restrição ao nosso crescimento", avalia. "A única chance que temos é que o mercado interno sustente o crescimento", resume Clemente. Em 2008, durante a crise financeira, foi o consumo das famílias que garantiu a evolução da economia.
"Se tivermos 4% ou 4,5% enquanto o mundo cresce nada, está ótimo. E com essa taxa continuaremos tendo queda do desemprego. Mas precisamos garantir nível de atividade que crie emprego e renda, com mercado interno sustentando uma taxa de crescimento, para, enquanto isso, enfrentarmos nossas mazelas, como as desigualdades regionais."
Entre os impactos de um cenário de retração nos Estados Unidos e na Europa, Clemente cita a eventual dificuldade para se exportar. Outro efeito seria a possibilidade de o país, por ter um desempenho econômico relativamente melhor do que o do resto do mundo, passar a ser visto por outras nações como destino para desovar produtos.
Os desafios colocados envolvem a manutenção de equilíbrio macroeconômico – inflação controlada e cenário fiscal equilibrado, evitando aumento de despesas descolado da elevação da receita tributária. Embora a recessão externa diminua a pressão sobre preços, esse tipo de medida impõe restrições às ações do governo.
Campanha salarial
Em relação às campanhas salariais, o economista do Dieese prevê impactos apenas em médio e longo prazos. Apesar disso, ele prevê uma conduta "mais defensiva" das empresas nas negociações do segundo semestre – em setores como bancários, metalúrgicos, petroleiros e químicos.
"Evidentemente que, ao diminuir o risco de pressão inflacionária, aumenta a capacidade das empresas em conceder aumento real de salário, mas a redução do crescimento pode gerar outros problemas", afirma Clemente. A médio prazo, os impactos sobre negociações salariais devem ser maiores em setores voltados para a exportação e a produção de bens manufaturados, por serem mais influenciados pelo cenário internacional.
Ação do governo
As medidas adotadas pelo governo, na visão do economista, vão na linha de ampliar a capacidade de intervenção do Estado, seja no controle dos fluxos financeiros, seja no incentivo e na dinamização da indústria nacional. "Se são suficientes, é uma interrogação, porque os problemas podem ser muito maiores."
A necessidade de divulgar as iniciativas de modo gradual é uma estratégia necessária para lidar com os investidores. "O anúncio de uma medida muito forte pode produzir, nos agentes econômicos, a impressão de que a situação do país é muito ruim", analisa Clemente. Ainda assim, o governo provavelmente irá adotar um conjunto de medidas, que crie a capacidade do Estado de diminuir a pressão internacional.
Segundo Clemente, parte das ações poderá buscar controle sobre despesas com pessoal, o que aumenta conflitos com o funcionalismo público. Outras despesas de "custeio" possivelmente serão enfrentadas com novas restrições a contratações. Ainda entre as medidas "ruins" da agenda para enfrentar a crise, a mais grave seria retardar investimentos, como os previstos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
"É necessário também melhorar a capacidade do Estado de arrecadar, não aumentando impostos, mas aumentando a formalização", sustenta Clemente. "Precisamos de medidas que caminhem nessa perspectiva de controle do gasto visando aumentar a capacidade da economia de resistir à crise internacional."
Juro
Para lidar com a inflação em alta, a autoridade monetária promoveu, em 2011, cinco altas concecutivas da taxa básica de juros da economia (Selic), de 10,75% para 12,5% ao ano. O efeito colateral da medida foi aumentar a atração de recursos para o país, incluindo investimentos de curto prazo, interessados em lucrar com o juro alto.
De acordo com Clemente, há convergência entre economistas de que a taxa de juros no Brasil está mal posicionada internacionalmente – é a mais alta do mundo, mesmo descontada a inflação. "Mas a partir daí, não há mais convergência nenhuma", constata. Ele acredita que a recessão internacional coloca novamente para o Brasil a oportunidade de criar condições para reduzir os juros.
"Os juros não são altos apenas porque o presidente do BC está vendido para o mercado ou algo assim, não é simples questão de vontade. A questão é se conseguiremos criar as condições macroeconômicas para baixar a taxa de juros e mantê-la baixa", analisa.
Na lista de medidas para se livrar dos juros altos há iniciativas variadas, da eliminação da indexação da economia (ainda presente em contratos de concessões públicas corrigidos anualmente pela inflação) à redução da proporção entre a dívida do setor público e o Produto Interno Bruto (PIB) anual, passando por desvincular a dívida da taxa Selic. Clemente ainda vê necessidade de ampliação dos patamares de poupança interna para assegurar investimento produtivo.
Os efeitos da crise dos Estados Unidos e da Europa sobre a "vida real" no Brasil ainda são incertos. Segundo o diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, as medidas adotadas pelo governo federal para controlar o fluxo de capitais e para estimular a indústria vão na direção correta. Ele reconhece que é necessário ainda promover ações de controle de gastos públicos, sem redução de investimentos, e aumento da arrecadação, com incentivo à formalização da economia.
Uma semana depois de os Estados Unidos viverem a iminência de decretar moratória e com o anúncio do rebaixamento de nota dos títulos do Tesouro norte-americano por agências de classificações de risco, bolsas de valores de todo o mundo operaram em fortes baixas na segunda-feira (8). A crise na Europa dá sinais de que pode ser ainda mais profunda e atingir, além de Grécia, Portugal e Itália, países como a França.
Apesar de o epicentro da crise estar nos países desenvolvidos, os efeitos são motivo de preocupação também para nações emergentes, como o Brasil. "No curtíssimo prazo, há o impacto nas bolsas, mas neste mês não dá para sentir impacto na vida real, a não ser essa insegurança entre as empresas sobre o futuro", explica Clemente. A insegurança é de que os "países avançados" entrem em recessão
"A questão (para o Brasil) é como preservar o desenvolvimento, fortalecendo empresas nacionais, e quanto a crise trará de restrição ao nosso crescimento", avalia. "A única chance que temos é que o mercado interno sustente o crescimento", resume Clemente. Em 2008, durante a crise financeira, foi o consumo das famílias que garantiu a evolução da economia.
"Se tivermos 4% ou 4,5% enquanto o mundo cresce nada, está ótimo. E com essa taxa continuaremos tendo queda do desemprego. Mas precisamos garantir nível de atividade que crie emprego e renda, com mercado interno sustentando uma taxa de crescimento, para, enquanto isso, enfrentarmos nossas mazelas, como as desigualdades regionais."
Entre os impactos de um cenário de retração nos Estados Unidos e na Europa, Clemente cita a eventual dificuldade para se exportar. Outro efeito seria a possibilidade de o país, por ter um desempenho econômico relativamente melhor do que o do resto do mundo, passar a ser visto por outras nações como destino para desovar produtos.
Os desafios colocados envolvem a manutenção de equilíbrio macroeconômico – inflação controlada e cenário fiscal equilibrado, evitando aumento de despesas descolado da elevação da receita tributária. Embora a recessão externa diminua a pressão sobre preços, esse tipo de medida impõe restrições às ações do governo.
Campanha salarial
Em relação às campanhas salariais, o economista do Dieese prevê impactos apenas em médio e longo prazos. Apesar disso, ele prevê uma conduta "mais defensiva" das empresas nas negociações do segundo semestre – em setores como bancários, metalúrgicos, petroleiros e químicos.
"Evidentemente que, ao diminuir o risco de pressão inflacionária, aumenta a capacidade das empresas em conceder aumento real de salário, mas a redução do crescimento pode gerar outros problemas", afirma Clemente. A médio prazo, os impactos sobre negociações salariais devem ser maiores em setores voltados para a exportação e a produção de bens manufaturados, por serem mais influenciados pelo cenário internacional.
Ação do governo
As medidas adotadas pelo governo, na visão do economista, vão na linha de ampliar a capacidade de intervenção do Estado, seja no controle dos fluxos financeiros, seja no incentivo e na dinamização da indústria nacional. "Se são suficientes, é uma interrogação, porque os problemas podem ser muito maiores."
A necessidade de divulgar as iniciativas de modo gradual é uma estratégia necessária para lidar com os investidores. "O anúncio de uma medida muito forte pode produzir, nos agentes econômicos, a impressão de que a situação do país é muito ruim", analisa Clemente. Ainda assim, o governo provavelmente irá adotar um conjunto de medidas, que crie a capacidade do Estado de diminuir a pressão internacional.
Segundo Clemente, parte das ações poderá buscar controle sobre despesas com pessoal, o que aumenta conflitos com o funcionalismo público. Outras despesas de "custeio" possivelmente serão enfrentadas com novas restrições a contratações. Ainda entre as medidas "ruins" da agenda para enfrentar a crise, a mais grave seria retardar investimentos, como os previstos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
"É necessário também melhorar a capacidade do Estado de arrecadar, não aumentando impostos, mas aumentando a formalização", sustenta Clemente. "Precisamos de medidas que caminhem nessa perspectiva de controle do gasto visando aumentar a capacidade da economia de resistir à crise internacional."
Juro
Para lidar com a inflação em alta, a autoridade monetária promoveu, em 2011, cinco altas concecutivas da taxa básica de juros da economia (Selic), de 10,75% para 12,5% ao ano. O efeito colateral da medida foi aumentar a atração de recursos para o país, incluindo investimentos de curto prazo, interessados em lucrar com o juro alto.
De acordo com Clemente, há convergência entre economistas de que a taxa de juros no Brasil está mal posicionada internacionalmente – é a mais alta do mundo, mesmo descontada a inflação. "Mas a partir daí, não há mais convergência nenhuma", constata. Ele acredita que a recessão internacional coloca novamente para o Brasil a oportunidade de criar condições para reduzir os juros.
"Os juros não são altos apenas porque o presidente do BC está vendido para o mercado ou algo assim, não é simples questão de vontade. A questão é se conseguiremos criar as condições macroeconômicas para baixar a taxa de juros e mantê-la baixa", analisa.
Na lista de medidas para se livrar dos juros altos há iniciativas variadas, da eliminação da indexação da economia (ainda presente em contratos de concessões públicas corrigidos anualmente pela inflação) à redução da proporção entre a dívida do setor público e o Produto Interno Bruto (PIB) anual, passando por desvincular a dívida da taxa Selic. Clemente ainda vê necessidade de ampliação dos patamares de poupança interna para assegurar investimento produtivo.
Dá gôsto ler "... o país, por ter um desempenho relativamente melhor do que o resto do mundo...". Precisei viver 74 anos pra ter esse prazer. A parte mais difícil para o Governo é sempre convencer os mais ricos a cederem um pouquinho de seus ganhos milionários. Veja o Obama, coitado, pra se eleger prometeu um "SUS" para os americanos pobres. Deu. Agora não é que os Republicanos acham que, pra dar fim à crise, a solução é o Obama cortar esses gastos inúteis?
ResponderExcluir