Por Rasna Warah, de Nairóbi (Quênia), no jornal Brasil de Fato:
A temporada de doações começou – e ainda nem é Natal. As principais agências internacionais de ajuda humanitária, incluindo as Nações Unidas (ONU), Oxfam, Save the Children e Islamic Relief UK, vêm lançando massivas campanhas para salvar os milhares de somalis que estão passando fome em seu próprio país e nos campos de refugiados dos vizinhos Quênia e Etiópia.
O secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon pediu 1,6 bilhão de dólares em doação para a Somália, e o Banco Mundial já suplicou por mais de 500 milhões de dólares para os esforços humanitários.
Os apelos para o envio de alimentos vêm sendo acompanhados por imagens de cortar o coração: crianças com barrigas inchadas e desnutridas, mães emagrecidas com peitos murchos que não produzem mais leite, acampamentos transbordando de hordas de refugiados esqueléticos.
Quase todas as maiores agências de ajuda humanitária estão correndo para o campo de refugiados de Dadaab, no Quênia, para testemunhar, fotografar e filmar a crise. Já vimos essas imagens antes – em meados dos anos de 1980, quando Mohamed Amin filmou a fome na Etiópia, desencadeando a tendência de as estrelas do rock se tornarem benfeitoras. Desde então, a fome se tornou a principal história vinda da África – e uma das maiores indústrias.
Mídia e agências
Imagens de africanos famintos são componentes fundamentais de campanhas de arrecadação de fundos – assim como os jornalistas. Como um membro de uma grande agência humanitária afirmou ao repórter da BBC, Andrew Harding, a ONU pode produzir relatórios sem fim, mas é só quando as imagens de pessoas famintas são televisionadas ou postas nas capas dos jornais que os políticos começam a agir.
O problema é que a matéria que eles veem ou leem não é tão imparcial como eles gostariam de acreditar. Na maioria das vezes, a história é contada pela equipe da agência humanitária na região ou documentaristas independentes.
Meios de comunicação que não possuem recursos para enviar repórteres a vastas zonas de tragédia como o campo em Dadaab têm formado uma aliança profana com as agências humanitárias, cujos porta-vozes – vestindo camisetas e bonés com os logos de suas respectivas organizações – “reportam” o desastre via satélite para audiências internacionais.
Mesmo quando os jornalistas estão presentes na região, eles dependem quase exclusivamente da versão contada pelas agências. A narrativa sobre a fome na Somália, por essa razão, tornou-se previsível e unilateral.
A jornalista holandesa Linda Polman acredita que a relação “nada saudável” entre jornalistas e agências humanitárias não permite um relato independente e objetivo, mantendo-o frequentemente inclinado em favor das segundas.
Os funcionários das entidades acostumados a tratar com a mídia exploram amplamente a ânsia com a qual os jornalistas aceitam sua versão. Por sua vez, diz Linda, os jornalistas “aceitam acriticamente a neutralidade proclamada pelas instituições de ajuda humanitária, elevando a credibilidade e a imagem de especialistas de seus funcionários”.
Distorção
Essa visão simplista e sem nuances dos desastres africanos tem implicações políticas no exterior, afirma Karen Rothmyer em um caderno de debates publicado no começo deste ano pelo Centro Joan Shorenstein da Universidade de Harvard, nos EUA. “Altas autoridades estadunidenses responsáveis pela política em relação à África que começam seus dias com os resumos de matérias que enfatizam desproporcionalmente os problemas africanos provavelmente não veem o potencial do continente”.
A relação íntima entre agentes humanitários e jornalistas vem, portanto, distorcendo o modo como a África é mostrada. Os jornalistas quase nunca chegam ao coração da história ou gastam tempo para pesquisar as causas de uma determinada crise. Os africanos não figuram muito em suas matérias, a não ser como vítimas.
“No senso comum, o termo ‘africanos famintos’ sai das línguas das pessoas tanto quanto ‘céu azul’”, escreveu o ex-agente humanitário Michael Maren em seu livro The Road to Hell [A estrada para o inferno], de 1997. “As campanhas de caridade levantam dinheiro para africanos famintos. O que os africanos fazem? Eles passam fome. Mas, na maioria dos casos, eles passam fome na nossa imaginação. O africano faminto é um estereótipo fabricado pelo Ocidente, como o judeu muquirana e o árabe dissimulado”.
Em uma conversa telefônica recente, Linda me disse que a história do “africano faminto” não é apenas a mais fácil de se contar, especialmente em um continente que não recebe muita atenção da mídia internacional, como também é a mais “politicamente correta”. Afinal, quem em sã consciência quer ser acusado de não fazer nada por pessoas que estão morrendo?
Oportunidades de negócios O que mais impressiona é que, de parte dos meios de comunicação, quase não se tenta verificar independentemente os fatos e dados disseminados pelas agências humanitárias que, como eu descobri quando trabalhei em uma agência da ONU, muitas vezes são infl ados ou baseados em informações equivocadas.
“A tentação de se exagerar a extensão de uma crise para se arrecadar mais dinheiro está sempre presente”, diz Ahmed Jama, um economista agrícola somali radicado em Nairóbi, no Quênia. Ele acredita que é muito provável que muitas regiões da Somália que foram declaradas atingidas pela seca – como a região fértil do baixo Shabelle, que teve uma grande colheita no ano passado – podem, na verdade, apresentar segurança alimentar. Para ele, é possível, além disso, que as pessoas que estão sofrendo não sejam locais, mas migrantes vindos de áreas do país propensas à seca.
Ele acrescenta que é do interesse da ONU e outras agências humanitárias apresentar o pior dos cenários, pois isso mantém o fluxo da doação de dinheiro. Jama afirma que, enquanto regiões da Somália sempre sofreram de secas cíclicas, a falta de políticas agrícolas e de estocagem fez com que as secas rapidamente se transformassem em fome, o que nem sempre foi o caso. Nos anos de 1980, por exemplo, ele diz que a Somália produzia 85% dos cereais de que necessitava, graças a investimentos do governo e da comunidade internacional na agricultura.
Tragédias como a fome na Somália alimentam o negócio da ajuda humanitária, com cada agência ansiando criar para si própria a “marca” de a mais competente para lidar com a crise. Em seu livro The Crisis Caravan [A caravana da crise], recentemente publicado, Linda Polman descreve como as crise se tornam “oportunidades de negócios” para agências humanitárias.
“As entidades que querem permanecer mandando no jogo”, acrescenta, “precisam ser fluentes no idioma do posicionamento do produto, do desenvolvimento proposto e das relações com os clientes.” A presença física na área do desastre é crítica, pois “as organizações humanitárias que falham em aparecer em cada novo desastre deixam escapar contratos para a implementação de projetos de ajuda humanitária financiados por governos e instituições, e são deixadas para trás pelas organizações que aparecem”.
A verdadeira história
As agências raramente relatam as causas profundas da fome, embora no caso da Somália exista uma tendência de culpar a guerra civil e a milícia Al Shabaab que, até recentemente, as havia banido de entrar nas áreas sob seu controle.
Por mais de duas décadas, a guerra civil e a fome têm dominado a narrativa sobre a Somália. No entanto, alguns economistas acreditam que a comunidade internacional deve ser amplamente culpada pela crise no país. Michel Chossudovsky, professor de economia na Universidade de Ottawa, no Canadá, argumentou em seu livro The Globalisation of Poverty and the New Order [A globalização da pobreza e a nova ordem], lançado em 1993, que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial causaram um impacto negativo na estabilidade somali depois de terem imposto programas de ajustes estruturais nos anos de 1980 que forçaram a Somália a adotar medidas de austeridade que desestabilizaram a economia nacional e destruíram a agricultura.
Ele responsabiliza as instituições de Bretton Woods, entre outras coisas, pelo aumento da dependência somali de grãos importados, pelas desvalorizações periódicas da moeda, que levaram a um aumento dos preços do combustível, fertilizantes e insumos agrícolas, e pela privatização de serviços veterinários.
“Também os fornecimentos de grãos estadunidenses que entraram no país sob a forma de doação de alimentos destruíram a agricultura local”, afirma. Essa doação, por outro lado, frequentemente foi vendida pelo governo no mercado local para baixar os preços domésticos.
O desvio de ajuda alimentar não é novo. O estudo de Linda Polman mostra que em quase todas as regiões do mundo em crise, senhores de guerra, milícias e soldados impõem “taxas” às agências humanitárias ou roubam e vendem as doações para comprarem armas.
Muito frequentemente, os campos de refugiados se tornam paraísos seguros para as milícias, que os utilizam para se reagruparem e se recuperarem. Os acampamentos, assim, prolongam indiretamente as guerras civis.
Avenidas para a propina
O que tampouco é mencionado nos apelos por recursos é o fato de que uma boa parte deles é usada para se pagar ou subornar autoridades e milícias para permitir que os comboios com as doações passem por determinada estrada. O outro fato que é convenientemente negligenciado é que uma grande parte do dinheiro arrecadado é usado para cobrir os custos administrativos e logísticos das agências humanitárias.
Equipes têm que ser contratadas, carros 4x4 têm que ser comprados, escritórios devem ser montados, especialistas internacionais super bem pagos têm que ser consultados. Tudo isso custa dinheiro, muito, muito dinheiro.
D.T. Krueger, ex-funcionário da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), estima que até três quartos dos recursos recebidos por uma agência da ONU são usados apenas para si própria. Muitas das doações acabam voltando ao país doador na forma de salários para especialistas conterrâneos e insumos para projetos de desenvolvimento que são adquiridos no mesmo país doador.
Apesar de todas essas falhas e ineficiências flagrantes, a indústria da ajuda humanitária continua firme; na verdade, se fortalece cada vez mais. Estatísticas indicam que o número de agências e ongs disparou desde o fim da Guerra Fria. (Pambazuka News. Texto originalmente publicado em The East African)
* Tradução de Igor Ojeda.
A temporada de doações começou – e ainda nem é Natal. As principais agências internacionais de ajuda humanitária, incluindo as Nações Unidas (ONU), Oxfam, Save the Children e Islamic Relief UK, vêm lançando massivas campanhas para salvar os milhares de somalis que estão passando fome em seu próprio país e nos campos de refugiados dos vizinhos Quênia e Etiópia.
O secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon pediu 1,6 bilhão de dólares em doação para a Somália, e o Banco Mundial já suplicou por mais de 500 milhões de dólares para os esforços humanitários.
Os apelos para o envio de alimentos vêm sendo acompanhados por imagens de cortar o coração: crianças com barrigas inchadas e desnutridas, mães emagrecidas com peitos murchos que não produzem mais leite, acampamentos transbordando de hordas de refugiados esqueléticos.
Quase todas as maiores agências de ajuda humanitária estão correndo para o campo de refugiados de Dadaab, no Quênia, para testemunhar, fotografar e filmar a crise. Já vimos essas imagens antes – em meados dos anos de 1980, quando Mohamed Amin filmou a fome na Etiópia, desencadeando a tendência de as estrelas do rock se tornarem benfeitoras. Desde então, a fome se tornou a principal história vinda da África – e uma das maiores indústrias.
Mídia e agências
Imagens de africanos famintos são componentes fundamentais de campanhas de arrecadação de fundos – assim como os jornalistas. Como um membro de uma grande agência humanitária afirmou ao repórter da BBC, Andrew Harding, a ONU pode produzir relatórios sem fim, mas é só quando as imagens de pessoas famintas são televisionadas ou postas nas capas dos jornais que os políticos começam a agir.
O problema é que a matéria que eles veem ou leem não é tão imparcial como eles gostariam de acreditar. Na maioria das vezes, a história é contada pela equipe da agência humanitária na região ou documentaristas independentes.
Meios de comunicação que não possuem recursos para enviar repórteres a vastas zonas de tragédia como o campo em Dadaab têm formado uma aliança profana com as agências humanitárias, cujos porta-vozes – vestindo camisetas e bonés com os logos de suas respectivas organizações – “reportam” o desastre via satélite para audiências internacionais.
Mesmo quando os jornalistas estão presentes na região, eles dependem quase exclusivamente da versão contada pelas agências. A narrativa sobre a fome na Somália, por essa razão, tornou-se previsível e unilateral.
A jornalista holandesa Linda Polman acredita que a relação “nada saudável” entre jornalistas e agências humanitárias não permite um relato independente e objetivo, mantendo-o frequentemente inclinado em favor das segundas.
Os funcionários das entidades acostumados a tratar com a mídia exploram amplamente a ânsia com a qual os jornalistas aceitam sua versão. Por sua vez, diz Linda, os jornalistas “aceitam acriticamente a neutralidade proclamada pelas instituições de ajuda humanitária, elevando a credibilidade e a imagem de especialistas de seus funcionários”.
Distorção
Essa visão simplista e sem nuances dos desastres africanos tem implicações políticas no exterior, afirma Karen Rothmyer em um caderno de debates publicado no começo deste ano pelo Centro Joan Shorenstein da Universidade de Harvard, nos EUA. “Altas autoridades estadunidenses responsáveis pela política em relação à África que começam seus dias com os resumos de matérias que enfatizam desproporcionalmente os problemas africanos provavelmente não veem o potencial do continente”.
A relação íntima entre agentes humanitários e jornalistas vem, portanto, distorcendo o modo como a África é mostrada. Os jornalistas quase nunca chegam ao coração da história ou gastam tempo para pesquisar as causas de uma determinada crise. Os africanos não figuram muito em suas matérias, a não ser como vítimas.
“No senso comum, o termo ‘africanos famintos’ sai das línguas das pessoas tanto quanto ‘céu azul’”, escreveu o ex-agente humanitário Michael Maren em seu livro The Road to Hell [A estrada para o inferno], de 1997. “As campanhas de caridade levantam dinheiro para africanos famintos. O que os africanos fazem? Eles passam fome. Mas, na maioria dos casos, eles passam fome na nossa imaginação. O africano faminto é um estereótipo fabricado pelo Ocidente, como o judeu muquirana e o árabe dissimulado”.
Em uma conversa telefônica recente, Linda me disse que a história do “africano faminto” não é apenas a mais fácil de se contar, especialmente em um continente que não recebe muita atenção da mídia internacional, como também é a mais “politicamente correta”. Afinal, quem em sã consciência quer ser acusado de não fazer nada por pessoas que estão morrendo?
Oportunidades de negócios O que mais impressiona é que, de parte dos meios de comunicação, quase não se tenta verificar independentemente os fatos e dados disseminados pelas agências humanitárias que, como eu descobri quando trabalhei em uma agência da ONU, muitas vezes são infl ados ou baseados em informações equivocadas.
“A tentação de se exagerar a extensão de uma crise para se arrecadar mais dinheiro está sempre presente”, diz Ahmed Jama, um economista agrícola somali radicado em Nairóbi, no Quênia. Ele acredita que é muito provável que muitas regiões da Somália que foram declaradas atingidas pela seca – como a região fértil do baixo Shabelle, que teve uma grande colheita no ano passado – podem, na verdade, apresentar segurança alimentar. Para ele, é possível, além disso, que as pessoas que estão sofrendo não sejam locais, mas migrantes vindos de áreas do país propensas à seca.
Ele acrescenta que é do interesse da ONU e outras agências humanitárias apresentar o pior dos cenários, pois isso mantém o fluxo da doação de dinheiro. Jama afirma que, enquanto regiões da Somália sempre sofreram de secas cíclicas, a falta de políticas agrícolas e de estocagem fez com que as secas rapidamente se transformassem em fome, o que nem sempre foi o caso. Nos anos de 1980, por exemplo, ele diz que a Somália produzia 85% dos cereais de que necessitava, graças a investimentos do governo e da comunidade internacional na agricultura.
Tragédias como a fome na Somália alimentam o negócio da ajuda humanitária, com cada agência ansiando criar para si própria a “marca” de a mais competente para lidar com a crise. Em seu livro The Crisis Caravan [A caravana da crise], recentemente publicado, Linda Polman descreve como as crise se tornam “oportunidades de negócios” para agências humanitárias.
“As entidades que querem permanecer mandando no jogo”, acrescenta, “precisam ser fluentes no idioma do posicionamento do produto, do desenvolvimento proposto e das relações com os clientes.” A presença física na área do desastre é crítica, pois “as organizações humanitárias que falham em aparecer em cada novo desastre deixam escapar contratos para a implementação de projetos de ajuda humanitária financiados por governos e instituições, e são deixadas para trás pelas organizações que aparecem”.
A verdadeira história
As agências raramente relatam as causas profundas da fome, embora no caso da Somália exista uma tendência de culpar a guerra civil e a milícia Al Shabaab que, até recentemente, as havia banido de entrar nas áreas sob seu controle.
Por mais de duas décadas, a guerra civil e a fome têm dominado a narrativa sobre a Somália. No entanto, alguns economistas acreditam que a comunidade internacional deve ser amplamente culpada pela crise no país. Michel Chossudovsky, professor de economia na Universidade de Ottawa, no Canadá, argumentou em seu livro The Globalisation of Poverty and the New Order [A globalização da pobreza e a nova ordem], lançado em 1993, que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial causaram um impacto negativo na estabilidade somali depois de terem imposto programas de ajustes estruturais nos anos de 1980 que forçaram a Somália a adotar medidas de austeridade que desestabilizaram a economia nacional e destruíram a agricultura.
Ele responsabiliza as instituições de Bretton Woods, entre outras coisas, pelo aumento da dependência somali de grãos importados, pelas desvalorizações periódicas da moeda, que levaram a um aumento dos preços do combustível, fertilizantes e insumos agrícolas, e pela privatização de serviços veterinários.
“Também os fornecimentos de grãos estadunidenses que entraram no país sob a forma de doação de alimentos destruíram a agricultura local”, afirma. Essa doação, por outro lado, frequentemente foi vendida pelo governo no mercado local para baixar os preços domésticos.
O desvio de ajuda alimentar não é novo. O estudo de Linda Polman mostra que em quase todas as regiões do mundo em crise, senhores de guerra, milícias e soldados impõem “taxas” às agências humanitárias ou roubam e vendem as doações para comprarem armas.
Muito frequentemente, os campos de refugiados se tornam paraísos seguros para as milícias, que os utilizam para se reagruparem e se recuperarem. Os acampamentos, assim, prolongam indiretamente as guerras civis.
Avenidas para a propina
O que tampouco é mencionado nos apelos por recursos é o fato de que uma boa parte deles é usada para se pagar ou subornar autoridades e milícias para permitir que os comboios com as doações passem por determinada estrada. O outro fato que é convenientemente negligenciado é que uma grande parte do dinheiro arrecadado é usado para cobrir os custos administrativos e logísticos das agências humanitárias.
Equipes têm que ser contratadas, carros 4x4 têm que ser comprados, escritórios devem ser montados, especialistas internacionais super bem pagos têm que ser consultados. Tudo isso custa dinheiro, muito, muito dinheiro.
D.T. Krueger, ex-funcionário da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), estima que até três quartos dos recursos recebidos por uma agência da ONU são usados apenas para si própria. Muitas das doações acabam voltando ao país doador na forma de salários para especialistas conterrâneos e insumos para projetos de desenvolvimento que são adquiridos no mesmo país doador.
Apesar de todas essas falhas e ineficiências flagrantes, a indústria da ajuda humanitária continua firme; na verdade, se fortalece cada vez mais. Estatísticas indicam que o número de agências e ongs disparou desde o fim da Guerra Fria. (Pambazuka News. Texto originalmente publicado em The East African)
* Tradução de Igor Ojeda.
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