Por Heloisa Villela, de Washington, no blog Viomundo:
A notícia é estarrecedora. Mas não foi manchete na imprensa mundial. O diretor geral da rede Al Jazeera, Wadah Khanfar, entregou o cargo ontem sem explicar porque e sem dizer o que fará daqui prá frente. Khanfar é palestino, foi correspondente da Al Jazeera no Iraque, entre outros lugares, e dirigia o jornalismo da empresa há oito anos. É apontado como grande responsável pelo crescimento da tevê que hoje é a mais assistida no mundo árabe e mereceu elogios até da secretária de Estado, Hillary Clinton, o que por si só já seria motivo para deixar qualquer cético de orelha em pé.
Pois agora as dúvidas vieram à tona. Mais uma vez, a cargo do site WikiLeaks. O New York Times teve acesso ao material e contou que em um telegrama diplomático de outubro de 2005, o embaixador americano Chase Untermeyer descreve um encontro com Wadah Khanfar no qual foram entregues ao diretor da Al Jazeera cópias de relatórios da Agência de Inteligência do Departamento de Defesa americano sobre as reportagens feitas pela Al Jazeera a respeito da guerra no Iraque. Segundo o telegrama, Khanfar informou que o Ministério das Relações Exteriores do Qatar já havia fornecido a ele os mesmos relatórios, o que sugere um elevado grau de consultas entre os dois governos e a Al Jazeera.
O telegrama diz ainda que Khanfar salientou a necessidade de manter secretas as consultas. E criticou qualquer referência, por escrito, a um entendimento entre os Estados Unidos e a Al Jazeera. De acordo com o telegrama, Khanfar afirmou: “O acordo era de que seria sem papel. Como uma organização jornalística, não podemos assinar acordos dessa natureza, e tê-lo aqui por escrito nos preocupa muito”. Na mesma reunião, Khanfar admitiu que a rede modificou detalhes das reportagens para satisfazer pedidos dos americanos. Por exemplo: retirou do ar imagens de crianças feridas, em um hospital, e de uma mulher com o rosto muito machucado.
Com relação a uma segunda reclamação dos americanos, o diretor da Al Jazeera se mostrou relutante, mas prometeu colaborar. “Não imediatamente”, relata o embaixador americano no telegrama, “porque provocaria comentários, mas em dois ou três dias”.
Se isso acontece com uma rede financiada pelo governo do Qatar, imagine a que tipo de pressão não cedem os diretores de jornalismo americanos? O que não fica claro, nessa história toda, é o motivo pelo qual o diretor da Al Jazeera cedeu. Em troca do que? Acesso? Espaço no mercado americano? Ontem, Wadah Khanfar entregou o cargo. Despediu-se dos colegas e subordinados por carta. Destacou o crescimento que a Al Jazeera experimentou nos últimos oito anos, enquanto ele esteve à frente da direção de jornalismo.
Nem uma palavra, dele ou da empresa, a respeito dos documentos do WikiLeaks. Mas que ele deixou a empresa depois que os documentos foram divulgados, isso é fato.
A notícia é estarrecedora. Mas não foi manchete na imprensa mundial. O diretor geral da rede Al Jazeera, Wadah Khanfar, entregou o cargo ontem sem explicar porque e sem dizer o que fará daqui prá frente. Khanfar é palestino, foi correspondente da Al Jazeera no Iraque, entre outros lugares, e dirigia o jornalismo da empresa há oito anos. É apontado como grande responsável pelo crescimento da tevê que hoje é a mais assistida no mundo árabe e mereceu elogios até da secretária de Estado, Hillary Clinton, o que por si só já seria motivo para deixar qualquer cético de orelha em pé.
Pois agora as dúvidas vieram à tona. Mais uma vez, a cargo do site WikiLeaks. O New York Times teve acesso ao material e contou que em um telegrama diplomático de outubro de 2005, o embaixador americano Chase Untermeyer descreve um encontro com Wadah Khanfar no qual foram entregues ao diretor da Al Jazeera cópias de relatórios da Agência de Inteligência do Departamento de Defesa americano sobre as reportagens feitas pela Al Jazeera a respeito da guerra no Iraque. Segundo o telegrama, Khanfar informou que o Ministério das Relações Exteriores do Qatar já havia fornecido a ele os mesmos relatórios, o que sugere um elevado grau de consultas entre os dois governos e a Al Jazeera.
O telegrama diz ainda que Khanfar salientou a necessidade de manter secretas as consultas. E criticou qualquer referência, por escrito, a um entendimento entre os Estados Unidos e a Al Jazeera. De acordo com o telegrama, Khanfar afirmou: “O acordo era de que seria sem papel. Como uma organização jornalística, não podemos assinar acordos dessa natureza, e tê-lo aqui por escrito nos preocupa muito”. Na mesma reunião, Khanfar admitiu que a rede modificou detalhes das reportagens para satisfazer pedidos dos americanos. Por exemplo: retirou do ar imagens de crianças feridas, em um hospital, e de uma mulher com o rosto muito machucado.
Com relação a uma segunda reclamação dos americanos, o diretor da Al Jazeera se mostrou relutante, mas prometeu colaborar. “Não imediatamente”, relata o embaixador americano no telegrama, “porque provocaria comentários, mas em dois ou três dias”.
Se isso acontece com uma rede financiada pelo governo do Qatar, imagine a que tipo de pressão não cedem os diretores de jornalismo americanos? O que não fica claro, nessa história toda, é o motivo pelo qual o diretor da Al Jazeera cedeu. Em troca do que? Acesso? Espaço no mercado americano? Ontem, Wadah Khanfar entregou o cargo. Despediu-se dos colegas e subordinados por carta. Destacou o crescimento que a Al Jazeera experimentou nos últimos oito anos, enquanto ele esteve à frente da direção de jornalismo.
Nem uma palavra, dele ou da empresa, a respeito dos documentos do WikiLeaks. Mas que ele deixou a empresa depois que os documentos foram divulgados, isso é fato.
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