Por Altamiro Borges
O PSDB está numa sinuca de bico. Sem ter como defender abertamente as teses neoliberais, que arrasaram o Brasil no reinado de FHC e agravaram a crise capitalista nos EUA e Europa, os tucanos só podem mesmo esbravejar contra a corrupção. Eles agora viraram agitadores e clamam por protestos de rua. E o falso moralismo de alguns políticos mais sujos do que pau de galinheiro!
Nos bastidores, porém, o tucanato aprofunda sua guinada neoliberal. No final de agosto, o Instituto FHC promoveu um seminário para discutir um programa para o Brasil. O evento foi encoberto pela mídia. E nem podia ser de outra forma. Afinal, o convescote dos economistas tucanos reafirmou as teses da privatização e da ortodoxia econômica – o que não pega bem junto à sociedade.
“A conjuntura não é favorável”, lamenta FHC
Maria Cristina Fernandes, editora de política do jornal Valor, cobriu o evento e fez um elucidativo relato no artigo intitulado “O futuro segundo os pais do Real”. Reproduzo alguns trechos mais curiosos:
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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pedia que os palestrantes se ativessem ao tempo que lhes estava destinado para não atrasar o cronograma do seminário: “Alguns aqui trabalham. Poucos”. À sua volta estava toda a árvore genealógica do Plano Real: Pedro Malan, Pérsio Arida, Edmar Bacha, André Lara Resende e Gustavo Franco. Às 10h da manhã de ontem contavam-se poucos assalariados no pequeno auditório do Instituto Fernando Henrique Cardoso...
Os palestrantes, convidados a discutir por que a transição da economia brasileira restava incompleta, convergiram para o diagnóstico já conhecido de que o país gasta demais e que, por isso, arrisca-se a perder oportunidade histórica de reduzir a taxa de juros. Pérsio Arida, o único a falar sem fazer uso de gráficos ou tabelas, foi o que mais se aproximou de um programa a ser oferecido à oposição, ainda que de viabilidade política duvidosa...
Um pouco antes Malan tinha dito que a crise financeira mundial explicitara os limites do Estado de bem estar social promovido por meio do gasto público: "Os que tinham a Europa como modelo vão precisar rever os seus conceitos". Gianotti não conseguiu conter a impaciência: "Desde o último artigo que li de Gustavo Franco tive a impressão de que vocês descrêem da impossibilidade de se prover o welfare state. Mas o que pretendem fazer com essa gente?"...
Fernando Henrique tentou fazer a ponte. Situou o buraco em que está metido o PSDB ao explicar que, ao contrário do que acontecia na época da inflação, as pessoas não percebem mudanças na política econômica como necessárias porque a conta quem vai pagar são as gerações futuras e não quem hoje está usufruindo do crescimento... Ao concluir a mesa, o diretor do IFHC, Sérgio Fausto, reportou o impasse político, que chamou de “situação aflitiva”, para levar à rua as propostas daquele debate: "O movimento pelo Real aconteceu num momento de desarticulação do sistema político. Agora está tudo articulado".
Fernando Henrique reconheceu que as mudanças gestadas pelos formuladores do PSDB ainda carecem de viabilidade política porque o governo hoje está alinhavado social e empresarialmente: "Há acertos lícitos (BNDES) e ilícitos (corrupção) no atual arranjo. A economia cresce e há uma base sólida de cumplicidade. A conjuntura não é favorável a mudanças".
*****
Privatizações, cortes e desnacionalização
Já o colunista Vinicius Torres Freire, da Folha, sintetizou o evento do IFHC como a busca de “um programa de oposição radical”, contra “tudo isso que está aí” no governo de Dilma Rousseff. As linhas mestras desta plataforma ultra-neoliberal seriam: redução dos gastos públicos e dos impostos; retomada das privatizações; e maior abertura da economia ao capital estrangeiro.
O programa proposto pelos economistas do PSDB expressaria uma radicalização do neoliberalismo. “Não se trata só da ladainha sobre gasto excessivo e inflação. Não se trata de coisa pequena, mas: 1) da limitação legal da despesa pública (idéia de Malan); 2) de equilíbrio orçamentário que dê conta não só do déficit anual (2,2% do PIB), mas ainda da monstruosa rolagem da dívida que deveria ser amortizada anualmente (17% do PIB. Idéia de Franco); 3) de reforma fiscal-constitucional que reconhecesse a ilusão de que poderemos ter um ‘welfare state’ europeu (Malan e Franco)”, relata o jornalista.
A plataforma está no forno tucano
Sobre as privatizações, os radicais tucanos não defenderam apenas a entrega do que resta das empresas estatais e dos serviços públicos. “De um modo metafórico, mas não muito, propôs-se a ‘privatização’ das reservas internacionais (ativos e moedas conversíveis comprados pelo BC, grosso modo dólares). Isto é, sugeriu-se a liberdade geral de manter moeda no exterior... Propôs-se privatizar os recursos ou a gestão dos fundos de poupança obrigatória, como FGTS e FAT (Arida e Franco)”.
Como se observa pelos dois relatos, o PSDB tem um programa e ele é bem radical. Ele propõe aprofundar ainda mais o desmonte do Estado, da nação e do trabalho. Estas propostas foram derrotadas nas três últimas eleições presidenciais e hoje são rejeitadas até nos EUA e na Europa em crise. Mas os tucanos não desistem. Eles não podem defender o programa abertamente. Por isso, eles se travestem de paladinos da ética para enganar os ingênuos. Mas a plataforma está sendo gestada para as futuras batalhas.
O PSDB está numa sinuca de bico. Sem ter como defender abertamente as teses neoliberais, que arrasaram o Brasil no reinado de FHC e agravaram a crise capitalista nos EUA e Europa, os tucanos só podem mesmo esbravejar contra a corrupção. Eles agora viraram agitadores e clamam por protestos de rua. E o falso moralismo de alguns políticos mais sujos do que pau de galinheiro!
Nos bastidores, porém, o tucanato aprofunda sua guinada neoliberal. No final de agosto, o Instituto FHC promoveu um seminário para discutir um programa para o Brasil. O evento foi encoberto pela mídia. E nem podia ser de outra forma. Afinal, o convescote dos economistas tucanos reafirmou as teses da privatização e da ortodoxia econômica – o que não pega bem junto à sociedade.
“A conjuntura não é favorável”, lamenta FHC
Maria Cristina Fernandes, editora de política do jornal Valor, cobriu o evento e fez um elucidativo relato no artigo intitulado “O futuro segundo os pais do Real”. Reproduzo alguns trechos mais curiosos:
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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pedia que os palestrantes se ativessem ao tempo que lhes estava destinado para não atrasar o cronograma do seminário: “Alguns aqui trabalham. Poucos”. À sua volta estava toda a árvore genealógica do Plano Real: Pedro Malan, Pérsio Arida, Edmar Bacha, André Lara Resende e Gustavo Franco. Às 10h da manhã de ontem contavam-se poucos assalariados no pequeno auditório do Instituto Fernando Henrique Cardoso...
Os palestrantes, convidados a discutir por que a transição da economia brasileira restava incompleta, convergiram para o diagnóstico já conhecido de que o país gasta demais e que, por isso, arrisca-se a perder oportunidade histórica de reduzir a taxa de juros. Pérsio Arida, o único a falar sem fazer uso de gráficos ou tabelas, foi o que mais se aproximou de um programa a ser oferecido à oposição, ainda que de viabilidade política duvidosa...
Um pouco antes Malan tinha dito que a crise financeira mundial explicitara os limites do Estado de bem estar social promovido por meio do gasto público: "Os que tinham a Europa como modelo vão precisar rever os seus conceitos". Gianotti não conseguiu conter a impaciência: "Desde o último artigo que li de Gustavo Franco tive a impressão de que vocês descrêem da impossibilidade de se prover o welfare state. Mas o que pretendem fazer com essa gente?"...
Fernando Henrique tentou fazer a ponte. Situou o buraco em que está metido o PSDB ao explicar que, ao contrário do que acontecia na época da inflação, as pessoas não percebem mudanças na política econômica como necessárias porque a conta quem vai pagar são as gerações futuras e não quem hoje está usufruindo do crescimento... Ao concluir a mesa, o diretor do IFHC, Sérgio Fausto, reportou o impasse político, que chamou de “situação aflitiva”, para levar à rua as propostas daquele debate: "O movimento pelo Real aconteceu num momento de desarticulação do sistema político. Agora está tudo articulado".
Fernando Henrique reconheceu que as mudanças gestadas pelos formuladores do PSDB ainda carecem de viabilidade política porque o governo hoje está alinhavado social e empresarialmente: "Há acertos lícitos (BNDES) e ilícitos (corrupção) no atual arranjo. A economia cresce e há uma base sólida de cumplicidade. A conjuntura não é favorável a mudanças".
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Privatizações, cortes e desnacionalização
Já o colunista Vinicius Torres Freire, da Folha, sintetizou o evento do IFHC como a busca de “um programa de oposição radical”, contra “tudo isso que está aí” no governo de Dilma Rousseff. As linhas mestras desta plataforma ultra-neoliberal seriam: redução dos gastos públicos e dos impostos; retomada das privatizações; e maior abertura da economia ao capital estrangeiro.
O programa proposto pelos economistas do PSDB expressaria uma radicalização do neoliberalismo. “Não se trata só da ladainha sobre gasto excessivo e inflação. Não se trata de coisa pequena, mas: 1) da limitação legal da despesa pública (idéia de Malan); 2) de equilíbrio orçamentário que dê conta não só do déficit anual (2,2% do PIB), mas ainda da monstruosa rolagem da dívida que deveria ser amortizada anualmente (17% do PIB. Idéia de Franco); 3) de reforma fiscal-constitucional que reconhecesse a ilusão de que poderemos ter um ‘welfare state’ europeu (Malan e Franco)”, relata o jornalista.
A plataforma está no forno tucano
Sobre as privatizações, os radicais tucanos não defenderam apenas a entrega do que resta das empresas estatais e dos serviços públicos. “De um modo metafórico, mas não muito, propôs-se a ‘privatização’ das reservas internacionais (ativos e moedas conversíveis comprados pelo BC, grosso modo dólares). Isto é, sugeriu-se a liberdade geral de manter moeda no exterior... Propôs-se privatizar os recursos ou a gestão dos fundos de poupança obrigatória, como FGTS e FAT (Arida e Franco)”.
Como se observa pelos dois relatos, o PSDB tem um programa e ele é bem radical. Ele propõe aprofundar ainda mais o desmonte do Estado, da nação e do trabalho. Estas propostas foram derrotadas nas três últimas eleições presidenciais e hoje são rejeitadas até nos EUA e na Europa em crise. Mas os tucanos não desistem. Eles não podem defender o programa abertamente. Por isso, eles se travestem de paladinos da ética para enganar os ingênuos. Mas a plataforma está sendo gestada para as futuras batalhas.
É impressionante essa tentativa insistente do PSDB de tentar fazer o mundo acreditar, via mídia, que a vocação do Povo Brasileiro é viver chafurdando o lixo em meio a mais absoluta e abjeta miséria. É lamentável que FHC e outros estudiosos usem a sua tão cantada e decantada cultura a serviço de um propósito tão canalha. Só não é mais lastimável porque as pessoas não são as tristes marionetes que eles imaginam: diante de tais propostas, optaram pelo partido capitaneado por um iletrado metalúrgico que pensa em uma vida melhor para a população. Definitivamente, o PSDB terá que comer muita massa cheirosa para ser capaz de conhecer e respeitar os sentimentos e anseios dos verdadeiros brasileiros.
ResponderExcluirMiro, coloquei um link para este seu texto em uma comunidade do Orkut de oposição ao neoliberalismo que criei e da qual integro o grupo de moderadores, e tenho feito isso com diversos outros textos que você publica aqui.
ResponderExcluirCaso queira nos apoiar publicando pequenos textos e colocando links para seus textos procure pela comunidade Resistência ao Neoliberalismo. Também escrevo em um blogue no qual consta um link para este blogue entre os blogues dos que se opõem a essa ideologia que exclui, destrói o ecossistema e transforma grande parte dos seres humanos em lixo ambulante não-reciclável.