Por Altamiro Borges
Duas entrevistas recentes confirmam que 2011 foi um péssimo ano para o PSDB, o partido dos neoliberais tupiniquins. Apesar dos 43,7 milhões de votos obtidos por José Serra na eleição presidencial e da conquista de seis governos estaduais, a sigla atravessa uma grave crise interna, talvez a maior da sua história. As bicadas tucanas são cada vez mais sangrentas e o partido está à deriva!
FHC confessa a perda de rumo
Nesta semana, o governador do Paraná, Beto Richa, escancarou os problemas: “O melhor é o PSDB parar com essa bobagem de briga, de grupos disputando... O partido encolheu na última eleição. Se não tiverem juízo, a coisa tende a se agravar. Ou existe uma união, um desprendimento de todas as partes pensando no fortalecimento do partido, ou a situação tende a piorar”.
Dias antes, no início de dezembro, o chefão dos tucanos, o ex-presidente FHC, foi ainda mais sorumbático numa sabatina do UOL e da Folha: “Passou a ser um pouco repetitivo dizer que o PSDB não tem saída, que perdeu o rumo, e é verdade até certo ponto”. Para ele, o partido, que já sonhou deter a hegemonia no país por várias décadas, está sem programa, sem identidade própria.
Expressão do neoliberalismo
O PSDB surgiu no Brasil como expressão da avalanche mundial do neoliberalismo, do chamado “Consenso de Washington”, nos anos 1990. FHC foi eleito e reeleito no primeiro turno e aplicou o programa de desmonte do estado, da nação e do trabalho. Mas, aos poucos, as ilusões neoliberais foram se dissipando com o aumento do desemprego, a quebradeira da produção, a privataria.
A vitória de Lula em 2002 marcou o início da reversão da hegemonia neoliberal, com todas suas limitações. No ano passado, com a terceira derrota consecutiva num pleito presidencial, a crise dos tucanos se agravou. Fora do núcleo de poder, o oportunismo e o fisiologismo ficaram mais patentes. Um rápido apanhado evidencia as enormes dificuldades do PSDB no ano que termina.
Brigas internas e “arenização”
Logo no início do ano, uma das jovens promessas de uma legenda cada vez mais envelhecida, Gabriel Chalita, abandonou o ninho. Criticou a linha oposicionista dos tucanos e a total ausência de democracia interna. Culpou o presidenciável José Serra pela saída. “Senti que não havia mais espaço no PSDB para continuar o trabalho que eu estava desenvolvendo. Me senti perseguido por ele”.
Pouco depois, em março, a sigla sofreu forte baque no seu principal reduto, em São Paulo. Seis vereadores da capital deixaram o partido, criticando o maior rival de Serra, o governador Geraldo Alckmin, que perseguiria os antigos serristas. Num documento bastante duro, eles condenaram a “arenização do PSDB” e a guerra fratricida no interior da legenda:
A fuga para o PSD de Kassab
“Mais do que destruir a sua concepção original, o partido agora adota caminhos que antes abominava e considerava nocivos ao país. Perde a credibilidade como defensor da democracia – já que nem sequer consegue praticá-la dentro de casa – e do debate político, visto que sugere resolver divergências de seus parlamentares ‘a peixeiradas’”.
A fundação do PSD do prefeito Gilberto Kassab, um fiel aliado de Serra, foi a válvula de escape para vários tucanos descontentes. Sete deputados federais trocaram de ninho. A crise interna se exacerbou, sendo verbalizada inclusive por intelectuais orgânicos do PSDB e por vários articulistas da mídia, ex-entusiastas da “massa cheirosa tucana”.
Intelectuais se afastam e criticam
Em maio, Luiz Carlos Bresser-Pereira, um dos fundadores da sigla e intelectual de renome, deu adeus ao PSDB. Num texto incisivo, ele alegou que a sigla abandonou o seu projeto original, social-democrata, rumo à direita. “Nesses últimos dez anos, eu mudei, e o partido que ajudei a criar, o PSDB, também mudou. A mudança foi tão grande que chegou a hora de dizer adeus a esse partido”.
Na mesma época, outro intelectual influente nas hostes tucanas, Leôncio Martins Rodrigues, afirmou à Folha que “o PSDB corre o risco de virar uma legenda maldita”. Desgostoso, ele reclamou das intermináveis disputas internas. “Nunca houve uma crise assim tão forte... O PSDB está sem uma mensagem e não tem liderança. Ou melhor, tem liderança demais”.
Mídia lamenta “demolição do PSDB”
Prova maior da decepção entre a intelectualidade foi dada na semana passada por Marco Antônio Villa, o tucaninho travestido de historiador. Num texto jururu no Estadão, intitulado “Um ano para se esquecido”, ele decretou: “O partido inexiste como partido, no sentido moderno. O PSDB é um agrupamento, quase um ajuntamento. Não se sabe o que pensa sobre absolutamente nada”.
A crise é tão violenta que chegou até a mídia declaradamente tucana. Ela lamenta o desastre e faz apelos à unidade da direita. O Estadão, que declarou apoio aberto a Serra, chegou a publicar editorial criticando “a demolição do PSDB”, responsabilizando o governador Geraldo Alckmin pela destruição do “enfermiço partido no seu berço e reduto mais consolidado” – São Paulo.
Os “zumbis da oposição”
“As fraturas no PSDB paulista ocorrem na pior hora e no pior lugar. Elas são um entrave para o soerguimento do partido, em sua dimensão nacional... Os erros de Alckmin não só o enfraquecem no plano regional, como sufocam as aspirações tucanas na esfera nacional. Assim os brasileiros não terão uma alternativa viável ao projeto de poder do PT”, lamenta a oligárquica famiglia Civita.
Outros jornais também dedicaram editoriais e artigos para chorar a decadência tucana. Um dos mais curiosos foi o texto sobre os “zumbis da oposição”, de Fernando de Barros e Silva. “É notável a vocação dos tucanos para destruir o próprio legado (a começar do que fizeram com FHC). Transmitem sucessivamente a idéia de que não há nada mais importante que suas brigas internas”.
Quem sobrará no ninho neoliberal?
“De maneira ainda mais determinada do que Serra havia feito com o seu grupo, Alckmin está dando aval ao estrangulamento do serrismo no partido. O ressentimento da turma de Pinda está em marcha... Emparedado por Aécio Neves no país e agora por Alckmin em São Paulo, Serra, de certa forma, já é um zumbi no PSDB”, lamentou o colunista anti-lulista da Folha.
E todo este tiroteio ocorreu antes da publicação, em 9 de dezembro, do livro “A privataria tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro. A obra desmascara as privatizações e falcatruas do partido e instiga ainda mais as divergências internas. Será que alguém sobreviverá às sangrentas bicadas tucanas? A conferir!
Duas entrevistas recentes confirmam que 2011 foi um péssimo ano para o PSDB, o partido dos neoliberais tupiniquins. Apesar dos 43,7 milhões de votos obtidos por José Serra na eleição presidencial e da conquista de seis governos estaduais, a sigla atravessa uma grave crise interna, talvez a maior da sua história. As bicadas tucanas são cada vez mais sangrentas e o partido está à deriva!
FHC confessa a perda de rumo
Nesta semana, o governador do Paraná, Beto Richa, escancarou os problemas: “O melhor é o PSDB parar com essa bobagem de briga, de grupos disputando... O partido encolheu na última eleição. Se não tiverem juízo, a coisa tende a se agravar. Ou existe uma união, um desprendimento de todas as partes pensando no fortalecimento do partido, ou a situação tende a piorar”.
Dias antes, no início de dezembro, o chefão dos tucanos, o ex-presidente FHC, foi ainda mais sorumbático numa sabatina do UOL e da Folha: “Passou a ser um pouco repetitivo dizer que o PSDB não tem saída, que perdeu o rumo, e é verdade até certo ponto”. Para ele, o partido, que já sonhou deter a hegemonia no país por várias décadas, está sem programa, sem identidade própria.
Expressão do neoliberalismo
O PSDB surgiu no Brasil como expressão da avalanche mundial do neoliberalismo, do chamado “Consenso de Washington”, nos anos 1990. FHC foi eleito e reeleito no primeiro turno e aplicou o programa de desmonte do estado, da nação e do trabalho. Mas, aos poucos, as ilusões neoliberais foram se dissipando com o aumento do desemprego, a quebradeira da produção, a privataria.
A vitória de Lula em 2002 marcou o início da reversão da hegemonia neoliberal, com todas suas limitações. No ano passado, com a terceira derrota consecutiva num pleito presidencial, a crise dos tucanos se agravou. Fora do núcleo de poder, o oportunismo e o fisiologismo ficaram mais patentes. Um rápido apanhado evidencia as enormes dificuldades do PSDB no ano que termina.
Brigas internas e “arenização”
Logo no início do ano, uma das jovens promessas de uma legenda cada vez mais envelhecida, Gabriel Chalita, abandonou o ninho. Criticou a linha oposicionista dos tucanos e a total ausência de democracia interna. Culpou o presidenciável José Serra pela saída. “Senti que não havia mais espaço no PSDB para continuar o trabalho que eu estava desenvolvendo. Me senti perseguido por ele”.
Pouco depois, em março, a sigla sofreu forte baque no seu principal reduto, em São Paulo. Seis vereadores da capital deixaram o partido, criticando o maior rival de Serra, o governador Geraldo Alckmin, que perseguiria os antigos serristas. Num documento bastante duro, eles condenaram a “arenização do PSDB” e a guerra fratricida no interior da legenda:
A fuga para o PSD de Kassab
“Mais do que destruir a sua concepção original, o partido agora adota caminhos que antes abominava e considerava nocivos ao país. Perde a credibilidade como defensor da democracia – já que nem sequer consegue praticá-la dentro de casa – e do debate político, visto que sugere resolver divergências de seus parlamentares ‘a peixeiradas’”.
A fundação do PSD do prefeito Gilberto Kassab, um fiel aliado de Serra, foi a válvula de escape para vários tucanos descontentes. Sete deputados federais trocaram de ninho. A crise interna se exacerbou, sendo verbalizada inclusive por intelectuais orgânicos do PSDB e por vários articulistas da mídia, ex-entusiastas da “massa cheirosa tucana”.
Intelectuais se afastam e criticam
Em maio, Luiz Carlos Bresser-Pereira, um dos fundadores da sigla e intelectual de renome, deu adeus ao PSDB. Num texto incisivo, ele alegou que a sigla abandonou o seu projeto original, social-democrata, rumo à direita. “Nesses últimos dez anos, eu mudei, e o partido que ajudei a criar, o PSDB, também mudou. A mudança foi tão grande que chegou a hora de dizer adeus a esse partido”.
Na mesma época, outro intelectual influente nas hostes tucanas, Leôncio Martins Rodrigues, afirmou à Folha que “o PSDB corre o risco de virar uma legenda maldita”. Desgostoso, ele reclamou das intermináveis disputas internas. “Nunca houve uma crise assim tão forte... O PSDB está sem uma mensagem e não tem liderança. Ou melhor, tem liderança demais”.
Mídia lamenta “demolição do PSDB”
Prova maior da decepção entre a intelectualidade foi dada na semana passada por Marco Antônio Villa, o tucaninho travestido de historiador. Num texto jururu no Estadão, intitulado “Um ano para se esquecido”, ele decretou: “O partido inexiste como partido, no sentido moderno. O PSDB é um agrupamento, quase um ajuntamento. Não se sabe o que pensa sobre absolutamente nada”.
A crise é tão violenta que chegou até a mídia declaradamente tucana. Ela lamenta o desastre e faz apelos à unidade da direita. O Estadão, que declarou apoio aberto a Serra, chegou a publicar editorial criticando “a demolição do PSDB”, responsabilizando o governador Geraldo Alckmin pela destruição do “enfermiço partido no seu berço e reduto mais consolidado” – São Paulo.
Os “zumbis da oposição”
“As fraturas no PSDB paulista ocorrem na pior hora e no pior lugar. Elas são um entrave para o soerguimento do partido, em sua dimensão nacional... Os erros de Alckmin não só o enfraquecem no plano regional, como sufocam as aspirações tucanas na esfera nacional. Assim os brasileiros não terão uma alternativa viável ao projeto de poder do PT”, lamenta a oligárquica famiglia Civita.
Outros jornais também dedicaram editoriais e artigos para chorar a decadência tucana. Um dos mais curiosos foi o texto sobre os “zumbis da oposição”, de Fernando de Barros e Silva. “É notável a vocação dos tucanos para destruir o próprio legado (a começar do que fizeram com FHC). Transmitem sucessivamente a idéia de que não há nada mais importante que suas brigas internas”.
Quem sobrará no ninho neoliberal?
“De maneira ainda mais determinada do que Serra havia feito com o seu grupo, Alckmin está dando aval ao estrangulamento do serrismo no partido. O ressentimento da turma de Pinda está em marcha... Emparedado por Aécio Neves no país e agora por Alckmin em São Paulo, Serra, de certa forma, já é um zumbi no PSDB”, lamentou o colunista anti-lulista da Folha.
E todo este tiroteio ocorreu antes da publicação, em 9 de dezembro, do livro “A privataria tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro. A obra desmascara as privatizações e falcatruas do partido e instiga ainda mais as divergências internas. Será que alguém sobreviverá às sangrentas bicadas tucanas? A conferir!
A privataria tucana já aparece em oitavo na lista dos mais vendidos no ano de 2011, na seção de não-ficção da Publishnews. Isso considerando que foi lançando em 09 de dezembro.
ResponderExcluirInteressante que pouco antes, o homem mais rico do Brasil também lançou um livro. Segundo informações o livro já teria vendido 60 mil exemplares, e está em 16º, na mesma lista. E ainda tem quem acha que o livro do Amaury não vendeu tanto assim.
De qualquer forma, para ficar mais claro o que está acontecendo, o homem mais rico do mundo estará em um programa no próximo domingo, dia 01/01/2012, em uma emissora que até o momento não divulgou nada sobre a privataria tucana.
Miro, seu texto merece reflexão. É claro que há espaço para um partido conservador ou liberal, no Brasil - e acho até que seria salutar. Temas como nacionalismo, políticas sociais, inserção internacional, regulação das Comunicações e até privatizações, seriam mais arejados se houvessem vozes de centro, e de centro-direita contrapondo-se, com argumentação sólida, às idéias e práticas do Governo trabalhista.
ResponderExcluirO problema é que o PSDB e seus anexos DEM e PPS, deixaram em segundo plano um programa conservador (ou liberal) que pudesse ser oferecido à Nação como alternativa. Entregaram-se à direita mais fundamentalista, ao ponto de pautarem uma campanha eleitoral em questões morais-religiosas, incabíveis num Estado moderno.
No Congresso, sustentados por sua mídia outrora poderosa, ficaram no denuncismo e até no golpismo mais reles. Quem cria uma CPI contra a Petrobrás e contrata empresa norte-americana para orientar a "investigação", está mexendo com os brios dos brasileiros, e isolando-se.
Sem falar na intriga puta e simples, nas baixarias internas, nas traições (Alckmin não esquece...) e na corrupção deslavada (só escondida pela mídia, mas que corre de boca em boca nas esquinas). Foi este emprobrecimento do debate, ao meu ver, que levou o PSDB ao atual quase-colapso. Há ainda a centralização total (Serra foi escolhido candidato por 5 ou 6 caciques, ou não?). Sem programa, sem permitir o surgimento de novas lideranças, e fazendo um discurso de extrema-direita que, certamente, tem público diminuto no país, o PSDB se levou à insignificância. E o PT e setores progressistas assistiram de poltrona, sem precisar debater nada.
O tema é vasto, como indica seu texto, e vou tentar analisá-lo melhor, com mais espaço, no abarbosafilho.blogspot.com
Parabéns pelo nível do disgnóstico.
ANALISANDO A CRISE DO PSDB
ResponderExcluirO amigo Altamiro Borges, presidente do Centro Barão de Itararé, publicou mais um excelente post em seu blog (reproduzo abaixo) no qual analisa alguns dos muitos erros cometidos pelo PSDB nesta sua trajetória descendente. Tudo que o Miro escreve está certo, mas eu acrescentaria alguns aspectos que vejo como importantes neste processo.
Antonio Barbosa Filho
Íntegra em:
abarbosafilho.blogspot.com