Por Miguel do Rosário, no blog Cafezinho:
Depois de um início preguiçoso, a semana promete encerrar pegando fogo, por isso não encontrei melhor ilustração para o post do que uma pintura de Hieronymus Bosch, com sua agitação infernal. E desta vez, a pauta política, pela primeira vez na história da república, não está sendo conduzida pela mídia, e sim pela combativa blogosfera progressista.
A panela esquenta sobre dois bocais do fogão legislativo: no Senado e na Câmara.
O líder do PT no Senado, o pernambucano Humberto Costa, subiu à tribuna ontem para pedir a reabertura de investigações sobre o processo de privatização, em virtude das graves e documentadas denúncias contidas no livro de Amaury Ribeiro, A Privataria Tucana.
Na Câmara, depois do discurso inflamado do deputado Brizola Neto (PDT-RJ), temos notícia de que o seu colega, Protógenes Queiroz, prometeu entregar um pedido de CPI sobre a Privataria com mais de 200 assinaturas ainda nesta quinta-feira.
Então teremos briga, como aliás adianta o Tijolaço, do Brizola. Os tucanos devem lançar hoje uma contra-ofensiva.
O Globo, porém, amanheceu com a pretensão de ignorar solenemente o tema e pautar à sua maneira a agenda política. Conseguiu, de fato, aplicar um golpe em Pimentel. O presidente da Fiemg, Robson Andrade, falara que Pimentel dera palestras nas regionais, mas o ministro não o fez. Foi um equívoco de Andrade, não do ministro, mas já foi o bastante para gerar duas páginas negativas na edição de hoje, além de uma chamada na capa, no hemisfério superior, ao lado das manchetes.
Noblat, naturalmente, se esbaldou.
O procedimento é corriqueiro em crises políticas. Obriga-se todos os envolvidos a se manifestarem diariamente, e qualquer mínima contradição ou erro factual em suas falas são tratados como um grande trunfo, mesmo que aquele deslize verbal não tenha nada a ver com o objeto da denúncia em si.
Outro destaque na mídia foi a publicação, pela Folha, de matéria sobre o livro de Amaury, rompendo o estrondoso silêncio que vinha perdurando nos últimos dias. A reportagem, contudo, se esmera em atacar Amaury, repetindo pleonasticamente umas quatro ou cinco vezes que ele está sendo investigado e processado por “quebra de sigilo”, e que teria trabalhado ou quase trabalhado na campanha de Dilma Rousseff em 2010.
Também tenta acobertar os indícios de ligação entre as transferências milionárias registradas para integrantes do PSDB e familiares de Serra e o processo de privatização. E dá destaque à agressiva defesa de Serra. Trata-se, enfim, de uma peça jornalística em defesa mal disfarçada dos tucanos envolvidos nas denúncias.
Temos um artigo do Eugênio Bucci no Estadão, tentando convencer os meios de comunicação a não temerem a inevitável reforma nas leis do setor.
E uma charge animada do Maurício Ricardo, publicada no UOL, que, segundo o Eduardo Guimarães, já foi retirada e republicada do ar algumas vezes, numa prova de nervosismo e insegurança do editor do portal sobre a conveniência de se publicar alguma coisa negativa sobre Serra.
A blogosfera continua a seguir as indicações do livro do Amaury e a puxar o fio do novelo. Um post do Nassif revela que Serra reside em casa de sua filha comprada com dinheiro de Daniel Dantas.
O fato é que o escândalo das privatizações constitui um objeto de grande curiosidade e revolta porque além de envolver, comprovadamente, corrupção a um nível realmente digno da magnitude continental do país, consistiu na entrega criminosa de patrimônio público de valor estratégico. Não se trata de radicalismo anti-privatização. O governo brasileiro poderia perfeitamente ter aberto o capital das empresas de telefonia e mineração, modernizando-as e adequando-as aos novos tempos.
O que se viu, contudo, foi um plano deliberado para lesar a pátria, e que envolveu diretamente a mídia. Membros do próprio governo davam declarações depreciativas sobre as estatais, desvalorizando seu preço, e realizaram leilões a toque de caixa, sem promover nenhuma consulta popular. Colunistas como Miriam Leitão, faziam análises tendenciosas e descontextualizadas sobre essas empresas, num joguinho pré-armado para criar um clima favorável à privatização, a preços baixos. E o pior: tudo financiado a juros amigos pelos bancos governamentais e fundos de pensão!
Para culminar um dia que promete fogosos embates políticos, noticio aqui a misteriosa morte do blogueiro Amilton Alexandre, o famoso Mosquito, de Santa Catarina, que ganhou notoriedade ao denunciar o estupro cometido pelo filho do magnata da mídia gaúcha. O caso suscita muita apreensão entre a blogosfera do sul, e de todo país, pela possibilidade de ter ocorrido um crime político.
Depois de um início preguiçoso, a semana promete encerrar pegando fogo, por isso não encontrei melhor ilustração para o post do que uma pintura de Hieronymus Bosch, com sua agitação infernal. E desta vez, a pauta política, pela primeira vez na história da república, não está sendo conduzida pela mídia, e sim pela combativa blogosfera progressista.
A panela esquenta sobre dois bocais do fogão legislativo: no Senado e na Câmara.
O líder do PT no Senado, o pernambucano Humberto Costa, subiu à tribuna ontem para pedir a reabertura de investigações sobre o processo de privatização, em virtude das graves e documentadas denúncias contidas no livro de Amaury Ribeiro, A Privataria Tucana.
Na Câmara, depois do discurso inflamado do deputado Brizola Neto (PDT-RJ), temos notícia de que o seu colega, Protógenes Queiroz, prometeu entregar um pedido de CPI sobre a Privataria com mais de 200 assinaturas ainda nesta quinta-feira.
Então teremos briga, como aliás adianta o Tijolaço, do Brizola. Os tucanos devem lançar hoje uma contra-ofensiva.
O Globo, porém, amanheceu com a pretensão de ignorar solenemente o tema e pautar à sua maneira a agenda política. Conseguiu, de fato, aplicar um golpe em Pimentel. O presidente da Fiemg, Robson Andrade, falara que Pimentel dera palestras nas regionais, mas o ministro não o fez. Foi um equívoco de Andrade, não do ministro, mas já foi o bastante para gerar duas páginas negativas na edição de hoje, além de uma chamada na capa, no hemisfério superior, ao lado das manchetes.
Noblat, naturalmente, se esbaldou.
O procedimento é corriqueiro em crises políticas. Obriga-se todos os envolvidos a se manifestarem diariamente, e qualquer mínima contradição ou erro factual em suas falas são tratados como um grande trunfo, mesmo que aquele deslize verbal não tenha nada a ver com o objeto da denúncia em si.
Outro destaque na mídia foi a publicação, pela Folha, de matéria sobre o livro de Amaury, rompendo o estrondoso silêncio que vinha perdurando nos últimos dias. A reportagem, contudo, se esmera em atacar Amaury, repetindo pleonasticamente umas quatro ou cinco vezes que ele está sendo investigado e processado por “quebra de sigilo”, e que teria trabalhado ou quase trabalhado na campanha de Dilma Rousseff em 2010.
Também tenta acobertar os indícios de ligação entre as transferências milionárias registradas para integrantes do PSDB e familiares de Serra e o processo de privatização. E dá destaque à agressiva defesa de Serra. Trata-se, enfim, de uma peça jornalística em defesa mal disfarçada dos tucanos envolvidos nas denúncias.
Temos um artigo do Eugênio Bucci no Estadão, tentando convencer os meios de comunicação a não temerem a inevitável reforma nas leis do setor.
E uma charge animada do Maurício Ricardo, publicada no UOL, que, segundo o Eduardo Guimarães, já foi retirada e republicada do ar algumas vezes, numa prova de nervosismo e insegurança do editor do portal sobre a conveniência de se publicar alguma coisa negativa sobre Serra.
A blogosfera continua a seguir as indicações do livro do Amaury e a puxar o fio do novelo. Um post do Nassif revela que Serra reside em casa de sua filha comprada com dinheiro de Daniel Dantas.
O fato é que o escândalo das privatizações constitui um objeto de grande curiosidade e revolta porque além de envolver, comprovadamente, corrupção a um nível realmente digno da magnitude continental do país, consistiu na entrega criminosa de patrimônio público de valor estratégico. Não se trata de radicalismo anti-privatização. O governo brasileiro poderia perfeitamente ter aberto o capital das empresas de telefonia e mineração, modernizando-as e adequando-as aos novos tempos.
O que se viu, contudo, foi um plano deliberado para lesar a pátria, e que envolveu diretamente a mídia. Membros do próprio governo davam declarações depreciativas sobre as estatais, desvalorizando seu preço, e realizaram leilões a toque de caixa, sem promover nenhuma consulta popular. Colunistas como Miriam Leitão, faziam análises tendenciosas e descontextualizadas sobre essas empresas, num joguinho pré-armado para criar um clima favorável à privatização, a preços baixos. E o pior: tudo financiado a juros amigos pelos bancos governamentais e fundos de pensão!
Para culminar um dia que promete fogosos embates políticos, noticio aqui a misteriosa morte do blogueiro Amilton Alexandre, o famoso Mosquito, de Santa Catarina, que ganhou notoriedade ao denunciar o estupro cometido pelo filho do magnata da mídia gaúcha. O caso suscita muita apreensão entre a blogosfera do sul, e de todo país, pela possibilidade de ter ocorrido um crime político.
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