Reproduzo artigo de Augusto da Fonseca, publicado no blog Festival de Besteiras na Imprensa:
Como já dissemos anteriormente, O Globo está no terceiro turno das eleições presidenciais ou, na melhor das hipóteses, já está na campanha presidencial de 2014.
A manipulação da informação corre à solta no jornal, na rádio CBN, na TV Globo e na Globo News.
Não importam os fatos. Qualquer que seja, há sempre uma forma de manipular a informação via juizo sem fundamentação ou via manchetes negativas para fatos positivos.
Como exemplo do que digo, analisemos as manchetes do jornal O Globo de hoje (16/1/11) e o conteúdo das respectivas matérias:
Capa: "No governo Lula, mais 82 mil servidores".
Página 3 (a principal, depois da capa): "Máquina foi inchada até com serviços terceirizados".
Subtítulo dessa manchete: "Na gestão Lula, essas despesas subiram muito acima da inflação".
Como a maioria das pessoas não passa das manchetes, ou seja, não lê a matéria completa, fica a impressão de que o Lula inchou “indevidamente” a máquina pública que era tão “enxutinha” ao final do governo FHC, ainda que às custas de sucateamento da educação, saúde, segurança e infraestrutura, entre muitas outras.
Entretanto, as pessoas que se dispuserem a ler a matéria completa terão uma grata surpresa: essa é uma notícia altamente positiva para o país!
Senão, vejamos alguns trechos relevantes da matéria, elaborada pela Regina Alvarez, que não tem culpa do que o editor faz com as suas matérias (normalmente manipula).
“Maioria das contratações ocorreu na área de educação, com mais 49 mil servidores“.
Perguntei para a minha neta de quatro anos se isso era bom ou ruim e ela me respondeu na lata:
“Vô, todo mundo diz que a prioridade número um do Brasil é a educação. Logo, isso é muito bom!”
Li outro trecho da matéria para a minha neta:
Subtítulo manipulador: “Na Presidência, aumento de 148%“.
Que horror! Diriam em uníssono o Merval e a Míriam Leitão.
Mas, o que diz o texto?
“O número de servidores passou de 3.147 para 7.820. Nesse caso, pesou o fato de a Presidência ter incorporado alguns órgãos que estavam em outros ministérios no governo passado, como é o caso do IPEA“.
‘Voilá”! Não há o que criticar, portanto.
Aumentou muito o número de professores e de profissionais da educação para as Escolas Técnica e Universidades.
E vai aumentar mais, senhores e senhoras do Globo.
“É difícil viver num país onde a imprensa pode manipular a informação do jeito que for mais conveniente para ela, né vô?“, falou a minha neta
“Mas nós e o governo Dilma vamos fazer alguma coisa contra isso. Aguarde, minha neta.”
“E eu vou poder ajudar?“
Balancei a cabeça positivamente.
Politizada essa menina!
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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
A internet já disputa com a televisão
Reproduzo artigo de Pedro de Oliveira, publicado no sítio Vermelho:
Gradualmente a internet vai se equiparando à televisão como a principal fonte de informação nacional e internacional do público norte-americano. Em uma pesquisa conduzida pela empresa especializada PEW Research Center for the People and the Press – realizada de 1 a 5 de dezembro do ano passado, com 1 500 pessoas - cerca de 41% dos pesquisados declaram ser a internet a fonte primária de noticias nacionais e internacionais, o que em relação ao ano de 2007 significava apenas em 17%.
A televisão continua sendo ainda a referência principal de noticias para 66% dos norte-americanos, índice que por sua vez significava 74% há três anos e 82% em 2002. Esta mesma pesquisa constatou que a maioria das pessoas busca informações sobre notícias mais pela Internet do que pelos jornais impressos como sua principal fonte de referência.
Este dado mostra a continua curva de crescimento da internet e a queda constante da leitura de jornais: o índice de leitura era de 34% em 2007 e é de apenas 31% atualmente. Já a proporção do índice de ouvintes de notícias pelo rádio manteve-se relativamente estável. Este índice hoje é de 16% dos que procuram notícias nacionais e internacionais.
Pela primeira vez na série histórica desenvolvida pela PEW – que é um instituto independente de pesquisa sobre a mídia – em 2010 a internet superou a televisão como a principal fonte de informações nacionais e internacionais para as pessoas com menos de 30 anos de idade. Desde 2007 o índice de pessoas de 18 a 29 anos que citaram a internet como fonte principal de informações saltou de 34% para 65%, enquanto que no mesmo período o índice de jovens que citaram a televisão como fonte principal diminuiu de 68% para 52%.
A televisão ainda predomina entre os menos escolarizados
Os estudantes universitários nesta pesquisa afirmam buscar como fonte principal de informações a internet com o índice de 51%, enquanto os que procuram a televisão se situam em 54%. Os de nível secundário se colocam de outra forma: 51% citam a internet como fonte principal e 63%, a televisão. O extrato com educação mais inicial faz um bom contraste com os melhores escolarizados: 29% apenas buscam na internet as fontes principais de informação e a maioria de 75% procura a televisão em primeiro lugar.
No caso da televisão brasileira – num levantamento de outra pesquisa publicada no jornal Folha de S.Paulo em 6/01/2010 -, o SBT perdeu quase 50% do seu público de 2000 até 2010. Ou seja, caiu de 10,4 pontos de média no país para apenas 5,9 pontos, que foi a média do ano passado. A Rede Record cresceu 31% na década passada, pulando de 5,5 pontos para 7,2 pontos como média em 2010. Enquanto a Rede Globo, por sua vez, caiu 8,5% na década. Registrou no ano de 2000 média de 19,9 pontos e 18,2 pontos em 2010.
Ou seja, no ambiente brasileiro também se pode verificar o crescimento das redes mais voltadas para um publico menos escolarizado, enquanto que os programas mais sofisticados vão sendo consumidos cada vez mais pelos canais pagos e pela internet.
O crescimento vertiginoso das redes sociais
Se é verdade que as pesquisas detectam este gradual crescimento da internet em relação à televisão como fonte primária de informações, no caso das redes sociais o aumento é explosivo: a contagem de tweets aumentou de 5.000 por dia em 2007 para 90.000.000 (noventa milhões) diários em 2010. Somente o Facebook passou de 30 milhões de usuários em 2007 para mais de 500 milhões atualmente.
Exatamente em função deste poder gigantesco que estas redes sociais foram adquirindo nos últimos anos é que o Departamento de Estado dos EUA, já sob direção da candidata derrotada nas primárias para indicação do candidato a presidente pelo Partido Democrata, Hillary Clinton, anunciou em janeiro de 2010 que o governo americano faria um grande investimento para o desenvolvimento de ferramentas desenhadas para reabrir o acesso à internet em países que restringem sua utilização. Este tipo de política teria como alvo impedir que Estados como a República Popular da China impeça websites como o Google, YouTube ou o New York Times atuem como queiram em seu país.
Alguns programas foram criados com este objetivo como o Freegate e o Haystack, mas acabaram não se tornando úteis para o objetivo do imperialismo, transformando-se ao contrário numa ferramenta a mais para impedir que as empresas norte-americanas infiltrassem idéias e conceitos para combater o governo central na China.
De fato, a questão das redes sociais tornou-se um problema de Estado cada vez mais importante para os interesses norte-americanos no mundo. A capa da principal revista de relações internacionais dos EUA – Foreign Affairs – edição de janeiro/fevereiro de 2011, é dedicada ao tema sob o titulo “O poder político da mídia social”.
A tese principal do artigo é que os Estados Unidos perderam a guerra na tentativa de impedir outros países controlarem a rede social de mídia e que deveriam se voltar para “a luta pelas liberdades políticas nestas sociedades de forma geral”, como se isso tivesse sido em algum momento um dos objetivos do imperialismo americano através da história.
Gradualmente a internet vai se equiparando à televisão como a principal fonte de informação nacional e internacional do público norte-americano. Em uma pesquisa conduzida pela empresa especializada PEW Research Center for the People and the Press – realizada de 1 a 5 de dezembro do ano passado, com 1 500 pessoas - cerca de 41% dos pesquisados declaram ser a internet a fonte primária de noticias nacionais e internacionais, o que em relação ao ano de 2007 significava apenas em 17%.
A televisão continua sendo ainda a referência principal de noticias para 66% dos norte-americanos, índice que por sua vez significava 74% há três anos e 82% em 2002. Esta mesma pesquisa constatou que a maioria das pessoas busca informações sobre notícias mais pela Internet do que pelos jornais impressos como sua principal fonte de referência.
Este dado mostra a continua curva de crescimento da internet e a queda constante da leitura de jornais: o índice de leitura era de 34% em 2007 e é de apenas 31% atualmente. Já a proporção do índice de ouvintes de notícias pelo rádio manteve-se relativamente estável. Este índice hoje é de 16% dos que procuram notícias nacionais e internacionais.
Pela primeira vez na série histórica desenvolvida pela PEW – que é um instituto independente de pesquisa sobre a mídia – em 2010 a internet superou a televisão como a principal fonte de informações nacionais e internacionais para as pessoas com menos de 30 anos de idade. Desde 2007 o índice de pessoas de 18 a 29 anos que citaram a internet como fonte principal de informações saltou de 34% para 65%, enquanto que no mesmo período o índice de jovens que citaram a televisão como fonte principal diminuiu de 68% para 52%.
A televisão ainda predomina entre os menos escolarizados
Os estudantes universitários nesta pesquisa afirmam buscar como fonte principal de informações a internet com o índice de 51%, enquanto os que procuram a televisão se situam em 54%. Os de nível secundário se colocam de outra forma: 51% citam a internet como fonte principal e 63%, a televisão. O extrato com educação mais inicial faz um bom contraste com os melhores escolarizados: 29% apenas buscam na internet as fontes principais de informação e a maioria de 75% procura a televisão em primeiro lugar.
No caso da televisão brasileira – num levantamento de outra pesquisa publicada no jornal Folha de S.Paulo em 6/01/2010 -, o SBT perdeu quase 50% do seu público de 2000 até 2010. Ou seja, caiu de 10,4 pontos de média no país para apenas 5,9 pontos, que foi a média do ano passado. A Rede Record cresceu 31% na década passada, pulando de 5,5 pontos para 7,2 pontos como média em 2010. Enquanto a Rede Globo, por sua vez, caiu 8,5% na década. Registrou no ano de 2000 média de 19,9 pontos e 18,2 pontos em 2010.
Ou seja, no ambiente brasileiro também se pode verificar o crescimento das redes mais voltadas para um publico menos escolarizado, enquanto que os programas mais sofisticados vão sendo consumidos cada vez mais pelos canais pagos e pela internet.
O crescimento vertiginoso das redes sociais
Se é verdade que as pesquisas detectam este gradual crescimento da internet em relação à televisão como fonte primária de informações, no caso das redes sociais o aumento é explosivo: a contagem de tweets aumentou de 5.000 por dia em 2007 para 90.000.000 (noventa milhões) diários em 2010. Somente o Facebook passou de 30 milhões de usuários em 2007 para mais de 500 milhões atualmente.
Exatamente em função deste poder gigantesco que estas redes sociais foram adquirindo nos últimos anos é que o Departamento de Estado dos EUA, já sob direção da candidata derrotada nas primárias para indicação do candidato a presidente pelo Partido Democrata, Hillary Clinton, anunciou em janeiro de 2010 que o governo americano faria um grande investimento para o desenvolvimento de ferramentas desenhadas para reabrir o acesso à internet em países que restringem sua utilização. Este tipo de política teria como alvo impedir que Estados como a República Popular da China impeça websites como o Google, YouTube ou o New York Times atuem como queiram em seu país.
Alguns programas foram criados com este objetivo como o Freegate e o Haystack, mas acabaram não se tornando úteis para o objetivo do imperialismo, transformando-se ao contrário numa ferramenta a mais para impedir que as empresas norte-americanas infiltrassem idéias e conceitos para combater o governo central na China.
De fato, a questão das redes sociais tornou-se um problema de Estado cada vez mais importante para os interesses norte-americanos no mundo. A capa da principal revista de relações internacionais dos EUA – Foreign Affairs – edição de janeiro/fevereiro de 2011, é dedicada ao tema sob o titulo “O poder político da mídia social”.
A tese principal do artigo é que os Estados Unidos perderam a guerra na tentativa de impedir outros países controlarem a rede social de mídia e que deveriam se voltar para “a luta pelas liberdades políticas nestas sociedades de forma geral”, como se isso tivesse sido em algum momento um dos objetivos do imperialismo americano através da história.
Globo e El País: jornalismo na lama
Reproduzo artigo de Maurício Caleiro, publicado no blog Cinema & Outras Artes:
Em termos de comunicação, a estratégia que garantiu ao ex-presidente Lula se reeleger e terminar seu segundo mandato com 87% de aprovação popular - a despeito de oito anos de oposição cerrada da mídia, incluindo espasmos golpistas - concentrou-se no seguinte tripé:
1.Diversificação do investimento da verba publicitária federal, espraiada em pequenas e médias publicações e emissoras de rádio;
2.Internet (notadamente blogosfera e redes sociais);
3.Marketing político de primeiro nível, não restrito a campanhas eleitorais.
Mídia internacional
Além desses fatores, a cobertura que grandes veículos da imprensa internacional fizeram da personalidade política de Lula e de seu governo, contraposta à má-vontade e às distorções preconceituosas da mídia nativa, não só tornou evidente o quanto esta oferecia uma visão falsa dos fatos, como forneceu – à história, ao público internacional e a estratos mais antenados no próprio Brasil - um atestado da eficiência da gestão presidencial.
Tal atestado, por sua vez, contradiz as acusações de populismo que, através, de ilações entre altas taxas de aprovação e programas de inclusão social como o Bolsa-Família, a mídia corporativa esforçava-se por pespegar em Lula, adotando-as como a explicação virtualmente exclusiva para o sucesso de sua gestão.
Rancor dos derrotados
A vitória eleitoral de Dilma Rousseff representou a derrota do projeto político abraçado pela mídia corporativa nativa. Pois, como escrevi no início da campanha eleitoral, em artigo no Observatório da Imprensa, as eleições de 2010, de caráter eminentemente plebiscitário, não oporiam apenas o projeto de inclusão social em bases pós-keynesianas encarnado pelo lulopetismo e o retorno à ortodoxia neoliberal tucana, mas a efetividade da influência eleitoral da mídia corporativa versus a diversificação desconcentrada e contra-discursiva da internet e dos pequenos media.
Derrotada uma vez mais, resta à velha mídia procurar minar qualquer estratégia comunicacional que contrarie seu projeto político. Na internet, a briga é por uma regularização draconiana, representada pelo projeto do senador Eduardo Azeredo (acusado de ser o principal nome do mensalão tucano e réu em denúncia criminal aceita pelo STF). Já em relação à desconcentração das verbas publicitárias federais, pouco pode fazer, no curto prazo, para revertê-la novamente ao modelo concentrador de que sempre se beneficiou.
Fontes não confiáveis
No entanto, credenciar-se novamente como fonte da imprensa anglo-européia poderia significar a chance tanto de impedir que Dilma, por seus próprios méritos, se beneficie da cobertura jornalística desta (como ocorreu com Lula) quanto de, assim, criar um fator de chantagem, digo, de pressão para demandar maiores verbas federais para suas publicações.
Por tais razões é importante a reação sistemática dos brasileiros contra matéria publicada hoje pelo usualmente sóbrio El País, da Espanha, ecoando uma edição de imagens claramente mal intencionada e jornalisticamente criminosa da Rede Globo – na qual altera flagrantes de momentos de descontração durante a primeira reunião ministerial, em Brasília, com imagens da tragédia das enchentes. Ou seja, que conecta artificialmente dois eventos espacialmente apartados e de diferentes naturezas de modo a, por interesses políticos, manipular emocionalmente os espectadores, num ato de incrível baixeza e falta de profissionalismo.
No texto, o correspondente de longa data Juan Arias – um especialista em Vaticano e escritor de livros com temática espiritual, incluindo um sobre Paulo Coelho – se diz impressionado e indignado pelas imagens. Um jornal do prestígio internacional do El País não pode manter em um país com a atual importância estratégica do Brasil um correspondente que não só se mostra incapaz de identificar o viés fortemente tendencioso da imprensa, mas compra como legítima – e se deixa impressionar por – uma montagem descontextualizada e artificial de imagens que a ética jornalística condena.
É preciso protestar
Ainda antes antes de saber que Eduardo Guimarães publicara um post conclamando seus leitores a escreverem ao jornal espanhol protestando, enviei ao El País um comentário (que foi publicado). Eis a tradução:
“Não é necessário ser um gênio para perceber que não é honesto confundir a atmosfera particular de uma reunião ministerial com a reação de um presidente ante o sofrimento humano causado pelas enchentes. Além disso, o fato é que a reação efetiva de Dilma Rousseff para amenizar os efeitos da tragédia foi rápida e objetiva, visitando as zonas afetadas e autorizando a liberação do equivalente a U$450 milhões. A imprensa brasileira, desde a eleição de Lula da Silva em 2002, atua como um partido político e não pode ser levada a sério. Sinto muito que um jornal supostamente sério como o El País “compre” a campanha infame que os meios corporativos brasileiros movem contra Rousseff. Reproduzir suas mentiras significa enganar os leitores do jornal – como o correspondente Juan Arias, se realmente tem consciência do que ora acontece no Brasil, deveria saber”.
Gostaria de reforçar o apelo de Eduardo e convidar mais pessoas a protestarem. Ressalvo, no entanto, a importância de ser educado e argumentativo, ao invés de se utilizar da agressividade xenófoba que se lê em alguns comentários. Agredir os espanhóis pelo erro do jornal não é inteligente nem adequado (pense: você acharia justo ser ofendido pelo que a mídia brasileira publica?). Não dominando o idioma, talvez seja conveniente valer-se de um tradutor na internet (não são perfeitos mas ajudam), de maneira a fazer com que os leitores espanhóis entendam nossas razões e eventualmente apóiem nosso protesto. O importante é fazer, através do volume de cartas e da sensatez das argumentações, o editor do El País convencer-se de que erraram - e feio.
Em termos de comunicação, a estratégia que garantiu ao ex-presidente Lula se reeleger e terminar seu segundo mandato com 87% de aprovação popular - a despeito de oito anos de oposição cerrada da mídia, incluindo espasmos golpistas - concentrou-se no seguinte tripé:
1.Diversificação do investimento da verba publicitária federal, espraiada em pequenas e médias publicações e emissoras de rádio;
2.Internet (notadamente blogosfera e redes sociais);
3.Marketing político de primeiro nível, não restrito a campanhas eleitorais.
Mídia internacional
Além desses fatores, a cobertura que grandes veículos da imprensa internacional fizeram da personalidade política de Lula e de seu governo, contraposta à má-vontade e às distorções preconceituosas da mídia nativa, não só tornou evidente o quanto esta oferecia uma visão falsa dos fatos, como forneceu – à história, ao público internacional e a estratos mais antenados no próprio Brasil - um atestado da eficiência da gestão presidencial.
Tal atestado, por sua vez, contradiz as acusações de populismo que, através, de ilações entre altas taxas de aprovação e programas de inclusão social como o Bolsa-Família, a mídia corporativa esforçava-se por pespegar em Lula, adotando-as como a explicação virtualmente exclusiva para o sucesso de sua gestão.
Rancor dos derrotados
A vitória eleitoral de Dilma Rousseff representou a derrota do projeto político abraçado pela mídia corporativa nativa. Pois, como escrevi no início da campanha eleitoral, em artigo no Observatório da Imprensa, as eleições de 2010, de caráter eminentemente plebiscitário, não oporiam apenas o projeto de inclusão social em bases pós-keynesianas encarnado pelo lulopetismo e o retorno à ortodoxia neoliberal tucana, mas a efetividade da influência eleitoral da mídia corporativa versus a diversificação desconcentrada e contra-discursiva da internet e dos pequenos media.
Derrotada uma vez mais, resta à velha mídia procurar minar qualquer estratégia comunicacional que contrarie seu projeto político. Na internet, a briga é por uma regularização draconiana, representada pelo projeto do senador Eduardo Azeredo (acusado de ser o principal nome do mensalão tucano e réu em denúncia criminal aceita pelo STF). Já em relação à desconcentração das verbas publicitárias federais, pouco pode fazer, no curto prazo, para revertê-la novamente ao modelo concentrador de que sempre se beneficiou.
Fontes não confiáveis
No entanto, credenciar-se novamente como fonte da imprensa anglo-européia poderia significar a chance tanto de impedir que Dilma, por seus próprios méritos, se beneficie da cobertura jornalística desta (como ocorreu com Lula) quanto de, assim, criar um fator de chantagem, digo, de pressão para demandar maiores verbas federais para suas publicações.
Por tais razões é importante a reação sistemática dos brasileiros contra matéria publicada hoje pelo usualmente sóbrio El País, da Espanha, ecoando uma edição de imagens claramente mal intencionada e jornalisticamente criminosa da Rede Globo – na qual altera flagrantes de momentos de descontração durante a primeira reunião ministerial, em Brasília, com imagens da tragédia das enchentes. Ou seja, que conecta artificialmente dois eventos espacialmente apartados e de diferentes naturezas de modo a, por interesses políticos, manipular emocionalmente os espectadores, num ato de incrível baixeza e falta de profissionalismo.
No texto, o correspondente de longa data Juan Arias – um especialista em Vaticano e escritor de livros com temática espiritual, incluindo um sobre Paulo Coelho – se diz impressionado e indignado pelas imagens. Um jornal do prestígio internacional do El País não pode manter em um país com a atual importância estratégica do Brasil um correspondente que não só se mostra incapaz de identificar o viés fortemente tendencioso da imprensa, mas compra como legítima – e se deixa impressionar por – uma montagem descontextualizada e artificial de imagens que a ética jornalística condena.
É preciso protestar
Ainda antes antes de saber que Eduardo Guimarães publicara um post conclamando seus leitores a escreverem ao jornal espanhol protestando, enviei ao El País um comentário (que foi publicado). Eis a tradução:
“Não é necessário ser um gênio para perceber que não é honesto confundir a atmosfera particular de uma reunião ministerial com a reação de um presidente ante o sofrimento humano causado pelas enchentes. Além disso, o fato é que a reação efetiva de Dilma Rousseff para amenizar os efeitos da tragédia foi rápida e objetiva, visitando as zonas afetadas e autorizando a liberação do equivalente a U$450 milhões. A imprensa brasileira, desde a eleição de Lula da Silva em 2002, atua como um partido político e não pode ser levada a sério. Sinto muito que um jornal supostamente sério como o El País “compre” a campanha infame que os meios corporativos brasileiros movem contra Rousseff. Reproduzir suas mentiras significa enganar os leitores do jornal – como o correspondente Juan Arias, se realmente tem consciência do que ora acontece no Brasil, deveria saber”.
Gostaria de reforçar o apelo de Eduardo e convidar mais pessoas a protestarem. Ressalvo, no entanto, a importância de ser educado e argumentativo, ao invés de se utilizar da agressividade xenófoba que se lê em alguns comentários. Agredir os espanhóis pelo erro do jornal não é inteligente nem adequado (pense: você acharia justo ser ofendido pelo que a mídia brasileira publica?). Não dominando o idioma, talvez seja conveniente valer-se de um tradutor na internet (não são perfeitos mas ajudam), de maneira a fazer com que os leitores espanhóis entendam nossas razões e eventualmente apóiem nosso protesto. O importante é fazer, através do volume de cartas e da sensatez das argumentações, o editor do El País convencer-se de que erraram - e feio.
A banalização da violência no BBB-11
Reproduzo artigo de Maíra Kubik Mano, publicado no blog Viva Mulher:
Eu conheço uma pessoa que se inscreveu para a 11ª edição do Big Brother Brasil (BBB). Perdeu um final de semana inteiro fazendo o tal vídeo, com direito a locações diferentes e falas ensaiadas. Seu objetivo era o mesmo de todos os demais: ganhar uma bolada e, numa tacada só, ficar famosa. E quem não quer isso na sociedade do espetáculo e da hiper valorização do consumismo?
Como ela é uma amiga de longa data, eu não quis criticar sua decisão. Tentei entender, acolher, participar. Me peguei até prometendo que sim, eu iria naquela torcida da família ao lado de fora da casa quando tem alguma eliminação. “Disfarçada e o mais longe possível do Pedro Bial”, pensei. “E sem camisetinha com frase de apoio”. Amigo que é amigo vai ao BBB, né?
No fim das contas, ela não foi selecionada. E cá entre nós, sorte a dela. Para além do absurdo inicial da concepção do programa, que explora publicamente o espaço privado sem qualquer limite, essa edição promete ser ainda mais degradante para os participantes. É o que demonstra a declaração de José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, diretor do reality show, que decidiu “liberar a pancadaria”.
Como não presto muita atenção nesse programa, fiquei sabendo do ocorrido por meio de uma nota de repúdio (abaixo) que mulheres de diferentes organizações lançaram hoje contra o BBB e seu comandante. A preocupação delas é evitar o estímulo à violência gratuita, o que me parece bastante sensato e motivo suficiente para divulgar o texto nesse blog que vos fala. No mínimo, vale o esforço e o alerta.
“A banalização e espetacularização da violência têm servido de estímulo para mais-violência na sociedade. (...) Não há qualquer sentido em ‘liberar a pancadaria’ num programa de grande audiência, sabedoras que somos do estímulo que isso representa para os jovens e adultos”, afirmam. E continuam: “exigimos a retratação imediata e pública da ‘liberação’ dada pelo diretor do programa aos componentes do mesmo, bem como sugerimos medidas preventivas, que se contraponham ao discurso proferido, entre as quais recomendamos: - a veiculação de uma campanha de não-violência (uma geral, e outra, de gênero); - uma atenção redobrada no sentido de minimizar a quantidade de cenas de violência na programação geral das emissoras de TV e, particularmente, no BBB11.”
É um pedido difícil este que elas estão fazendo. Afinal, qual seria o parâmetro para medir algo mais ou menos bizarro, violento e invasivo num programa com tal proposta? De qualquer forma, eu assino embaixo. Não custa nada tentar melhorar um pouco o maior meio de comunicação do Brasil, certo?
Nota de preocupação e repúdio
Temos acompanhado com muita preocupação o pronunciamento de José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, diretor do programa de reality show BBB (Big Brother Brasil), da TV Globo.
O pronunciamento do “Boninho”, antes da estréia do programa, cuja fala e repercussão anexamos, não poderia ser mais evidente – é um estímulo à violência na nova edição do BBB, em sua 11ª edição.
Provavelmente preocupado com os índices de audiência do programa e, querendo reerguê-los, Boninho explicitamente “liberou a pancadaria” nesta edição, provavelmente apostando na tradicional espetacularização da violência, receita já bastante usada pela grande mídia, sem qualquer respeito aos direitos humanos.
Acreditamos que, por ser uma concessão pública, e pela sua importância como educadora informal, pelo respeito devido aos telespectadores, cabe à televisão se pautar pelos mais altos interesses da sociedade e pela responsabilidade social que o poder que detém com a concessão lhe confere.
Não nos interessa a banalização da violência na mídia, que tem servido de estímulo para a sua reprodução na sociedade em que vivemos, numa espiral infernal que nos distancia do modelo de sociedade livre de violência na qual gostaríamos de viver.
A violência contra a mulher é um mal que queremos erradicar, pelo que temos militado há décadas. Os acordos e protocolos internacionais firmados pelo Brasil, a luta implementação da Lei Maria da Penha veio coroar os nossos esforços no sentido de tentar inibir tal violência. Seria portanto altamente prejudicial e contraditório que a mídia estimulasse a violência, tão-somente para melhorar os seus próprios índices de audiência! As mulheres querem, merecem, precisam e têm o direito de viver numa sociedade livre de violência de gênero e de qualquer forma de opressão.
Nos parece igualmente prejudicial a nossos interesses, caso a mensagem do Boninho não vise estimular a violência contra as mulheres, mas “a pancadaria” entre os homens.
A banalização e espetacularização da violência têm servido de estímulo para mais-violência na sociedade. Como mães, namoradas, filhas, companheiras, irmãs, amigas, a violência entre os homens não nos interessa. Não há qualquer sentido em “liberar a pancadaria” num programa de grande audiência, sabedoras que somos do estímulo que isso representa para os jovens e adultos.
As masculinidades não devem ser medidas pela violência e é importante ter em mente que não podemos oferecer tais modelos, para muitos jovens que se identificam com esse programa. Finalmente, dizem bem os psicólogos sobre a contribuição destas cenas na formação da subjetividade das crianças, quando não também dos adultos.
Finalmente, por se tratar de um reality show, passa como cenas da vida real, selecionada para estar na mídia. Neste contexto, essa violência, pancadaria estimulada, seria ainda mais nociva à sociedade brasileira, do que a presenciada em filmes e telenovelas, notadamente mais ficcionais.
Assim, exigimos a retratação imediata e pública da “liberação” dada pelo diretor do programa aos componentes do mesmo, bem como sugerimos medidas preventivas, que se contraponham ao discurso proferido, entre as quais recomendamos:
- a veiculação de uma campanha de não-violência (uma geral, e outra, de gênero),
- uma atenção redobrada no sentido de minimizar a quantidade de cenas de violência na programação geral das emissoras de TV e, particularmente, no BBB11.
- Observatório da Mulher;
- Coletivo de Mulheres Ana Montenegro;
- Campanha pela Ética na TV – SP;
- Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero;
- Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras/SP;
- Anas do Brasil – Educação Popular Ampliada;
- Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social;
- AMARC-BRASIL (Associação Mundial de Rádios Comunitárias);
- Fórum da Mulher Tocantinense;
- Jornal MULHERES;
- Jornal H; Palmas/Tocantins;
- SESEG/Amazonas;
- Rede Mulher e Democracia – Alagoas;
- Ciranda Brasil de Comunicação Compartilhada;
- Rede 3setor;
- Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher - Americana – SP, entre outras.
Eu conheço uma pessoa que se inscreveu para a 11ª edição do Big Brother Brasil (BBB). Perdeu um final de semana inteiro fazendo o tal vídeo, com direito a locações diferentes e falas ensaiadas. Seu objetivo era o mesmo de todos os demais: ganhar uma bolada e, numa tacada só, ficar famosa. E quem não quer isso na sociedade do espetáculo e da hiper valorização do consumismo?
Como ela é uma amiga de longa data, eu não quis criticar sua decisão. Tentei entender, acolher, participar. Me peguei até prometendo que sim, eu iria naquela torcida da família ao lado de fora da casa quando tem alguma eliminação. “Disfarçada e o mais longe possível do Pedro Bial”, pensei. “E sem camisetinha com frase de apoio”. Amigo que é amigo vai ao BBB, né?
No fim das contas, ela não foi selecionada. E cá entre nós, sorte a dela. Para além do absurdo inicial da concepção do programa, que explora publicamente o espaço privado sem qualquer limite, essa edição promete ser ainda mais degradante para os participantes. É o que demonstra a declaração de José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, diretor do reality show, que decidiu “liberar a pancadaria”.
Como não presto muita atenção nesse programa, fiquei sabendo do ocorrido por meio de uma nota de repúdio (abaixo) que mulheres de diferentes organizações lançaram hoje contra o BBB e seu comandante. A preocupação delas é evitar o estímulo à violência gratuita, o que me parece bastante sensato e motivo suficiente para divulgar o texto nesse blog que vos fala. No mínimo, vale o esforço e o alerta.
“A banalização e espetacularização da violência têm servido de estímulo para mais-violência na sociedade. (...) Não há qualquer sentido em ‘liberar a pancadaria’ num programa de grande audiência, sabedoras que somos do estímulo que isso representa para os jovens e adultos”, afirmam. E continuam: “exigimos a retratação imediata e pública da ‘liberação’ dada pelo diretor do programa aos componentes do mesmo, bem como sugerimos medidas preventivas, que se contraponham ao discurso proferido, entre as quais recomendamos: - a veiculação de uma campanha de não-violência (uma geral, e outra, de gênero); - uma atenção redobrada no sentido de minimizar a quantidade de cenas de violência na programação geral das emissoras de TV e, particularmente, no BBB11.”
É um pedido difícil este que elas estão fazendo. Afinal, qual seria o parâmetro para medir algo mais ou menos bizarro, violento e invasivo num programa com tal proposta? De qualquer forma, eu assino embaixo. Não custa nada tentar melhorar um pouco o maior meio de comunicação do Brasil, certo?
Nota de preocupação e repúdio
Temos acompanhado com muita preocupação o pronunciamento de José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, diretor do programa de reality show BBB (Big Brother Brasil), da TV Globo.
O pronunciamento do “Boninho”, antes da estréia do programa, cuja fala e repercussão anexamos, não poderia ser mais evidente – é um estímulo à violência na nova edição do BBB, em sua 11ª edição.
Provavelmente preocupado com os índices de audiência do programa e, querendo reerguê-los, Boninho explicitamente “liberou a pancadaria” nesta edição, provavelmente apostando na tradicional espetacularização da violência, receita já bastante usada pela grande mídia, sem qualquer respeito aos direitos humanos.
Acreditamos que, por ser uma concessão pública, e pela sua importância como educadora informal, pelo respeito devido aos telespectadores, cabe à televisão se pautar pelos mais altos interesses da sociedade e pela responsabilidade social que o poder que detém com a concessão lhe confere.
Não nos interessa a banalização da violência na mídia, que tem servido de estímulo para a sua reprodução na sociedade em que vivemos, numa espiral infernal que nos distancia do modelo de sociedade livre de violência na qual gostaríamos de viver.
A violência contra a mulher é um mal que queremos erradicar, pelo que temos militado há décadas. Os acordos e protocolos internacionais firmados pelo Brasil, a luta implementação da Lei Maria da Penha veio coroar os nossos esforços no sentido de tentar inibir tal violência. Seria portanto altamente prejudicial e contraditório que a mídia estimulasse a violência, tão-somente para melhorar os seus próprios índices de audiência! As mulheres querem, merecem, precisam e têm o direito de viver numa sociedade livre de violência de gênero e de qualquer forma de opressão.
Nos parece igualmente prejudicial a nossos interesses, caso a mensagem do Boninho não vise estimular a violência contra as mulheres, mas “a pancadaria” entre os homens.
A banalização e espetacularização da violência têm servido de estímulo para mais-violência na sociedade. Como mães, namoradas, filhas, companheiras, irmãs, amigas, a violência entre os homens não nos interessa. Não há qualquer sentido em “liberar a pancadaria” num programa de grande audiência, sabedoras que somos do estímulo que isso representa para os jovens e adultos.
As masculinidades não devem ser medidas pela violência e é importante ter em mente que não podemos oferecer tais modelos, para muitos jovens que se identificam com esse programa. Finalmente, dizem bem os psicólogos sobre a contribuição destas cenas na formação da subjetividade das crianças, quando não também dos adultos.
Finalmente, por se tratar de um reality show, passa como cenas da vida real, selecionada para estar na mídia. Neste contexto, essa violência, pancadaria estimulada, seria ainda mais nociva à sociedade brasileira, do que a presenciada em filmes e telenovelas, notadamente mais ficcionais.
Assim, exigimos a retratação imediata e pública da “liberação” dada pelo diretor do programa aos componentes do mesmo, bem como sugerimos medidas preventivas, que se contraponham ao discurso proferido, entre as quais recomendamos:
- a veiculação de uma campanha de não-violência (uma geral, e outra, de gênero),
- uma atenção redobrada no sentido de minimizar a quantidade de cenas de violência na programação geral das emissoras de TV e, particularmente, no BBB11.
- Observatório da Mulher;
- Coletivo de Mulheres Ana Montenegro;
- Campanha pela Ética na TV – SP;
- Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero;
- Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras/SP;
- Anas do Brasil – Educação Popular Ampliada;
- Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social;
- AMARC-BRASIL (Associação Mundial de Rádios Comunitárias);
- Fórum da Mulher Tocantinense;
- Jornal MULHERES;
- Jornal H; Palmas/Tocantins;
- SESEG/Amazonas;
- Rede Mulher e Democracia – Alagoas;
- Ciranda Brasil de Comunicação Compartilhada;
- Rede 3setor;
- Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher - Americana – SP, entre outras.
EUA estão em guerra contra os imigrantes
Reproduzo artigo de Jorge Durand, publicado no jornal mexicano La Jornada:
Os Estados Unidos são um país guerreiro, saem de uma guerra para entrar em outra. Pode ser que este seja o destino dos impérios, também quando estão em queda. Além dos inimigos externos, a política nos EUA leva a ter os inimigos internos. Vamos relembrar o período da Lei Seca, em seguida o macartismo, a guerra fria e o anticomunismo. Agora, o perigo está na fronteira e os inimigos são imigrantes sem documentos.
Como em outras épocas, as forças mais obscuras do conservadorismo levam o país do norte a situações extremas e cometem erros históricos excessivos que fomentam o fanatismo, a perseguição, a violência. Muitos republicanos se taxam como “conservadores verdadeiros”, enquanto os liberais, entre eles Barack Obama, sentem-se encurralados e não se atrevem a defender suas posições, muito menos a atacar frontalmente a oposição e os difamadores.
Nas estradas do Texas são colocados anúncios com o rosto de Barack Obama desfigurado e agressivo, com a legenda de socialista ao lado. As campanhas mais absurdas, como a de acusar o presidente Barack Obama de socialista em função de sua proposta de uma reforma no sistema de saúde, ecoa em amplos setores da população. E se Obama não soube ou não conseguiu defender-se, muitos menos os imigrantes que são os mais indefesos e vulneráveis.
A retórica da invasão de imigrantes através da fronteira com o México é feita com as operações Bloqueio, Guardião e, a mais belicista, “Defender a Linha” (Hold the line). A este respeito, o antropólogo Leo Chávez analisa em seu livro “Covering immigration” (Cobrindo a imigração) dezenas de matérias de revistas que descrevem uma fronteira em crise, a necessidade de “fechar a porta”, de prevenir uma “invasão do México”, a preocupação porque a “América muda de cor” e, a mais irônica, sobre o letreiro “English spoken” (Inglês falado), como se o país tivesse perdido a identidade.
Mas as reclamações anti-imigrantes terminam quando o garçom serve a comida, a empregada doméstica limpa a casa e o consumidor compra verduras baratas no supermercado. A mão-de-obra mexicana é fundamental para que o sistema funcione. Mas não é indispensável. Há milhares de pobres no mundo que gostariam de estar no lugar dos mexicanos. E isto eles sabem – manipulam e utilizam o sistema segundo suas conveniências. A única vantagem diferencial é que estamos próximos, disponíveis e somos dispensáveis. Trazer mão-de-obra da China, Índia ou África teria custos adicionais e não poderia ser descartada com tanta facilidade.
A experiência indica que o melhor trabalhador é o que não tem documento, que é tratado como ilegal, que precisa esconder-se, vive com medo, não pode reclamar e carece de direitos. As vistorias são realizadas nas fábricas, nos comércios, nos restaurantes – onde há trabalhadores em excesso e são facilmente substituídos. Já faz alguns anos que não há vistorias em zonas agrícolas, onde faltam trabalhadores e não há reposição – 85% dos trabalhadores agrícolas dos EUA nasceram no México e a maioria não tem documentos. Esta é a maneira como somos tratados há mais de um século.
Uma parte do problema é que os imigrantes tornaram-se visíveis e estão dispersos por todo o território estadunidense. No Texas e na Califórnia sempre houve a presença Mexicana e ela já faz parte da sociedade, da diversidade racial e cultural. Em Arkansas, Geórgia, Alabama, nas Carolinas e em outros novos estados, os imigrantes são os recém chegados, os estrangeiros. A raça de “bronze” altera o equilíbrio racial e ancestral entre brancos e negros. Mas atrás das atitudes anti-imigrantes e legalistas há um conflito racial evidente.
Os afro-americanos aprenderam a levantar a voz diante de qualquer evidência de agressão ou discriminação contra seus irmãos. Os latinos, muitas vezes, ficam inibidos enquanto grupo, carecem de representação política e suportam calados as agressões. Há alguns anos compreendi o motivo, que quando perguntavam a um imigrante mexicano se ele havia se sentido discriminado, quase sempre respondia que não. A resposta foi dada por outro imigrante que estava nos Estados Unidos há muitos anos, quando me explicou que era uma questão de linguagem: se não entende o insulto ou a agressão, o impacto é muito menor e “é melhor...” Se não pode responder em inglês, você não terá nenhuma escolha.
A reforma imigratória foi convertida em um mito. Os republicanos afirmam que o tema só poderá ser discutido quando a fronteira estiver segura. E isto nunca vai acontecer. Sempre haverá incidentes fronteiriços. O muro está incompleto e não foi a solução. Além disso, atrás do muro é necessário um exército para vigiar 3.000 km de fronteira.
Não é só isso. No interior dos EUA é preciso controlar e verificar que só pode ser contratada a pessoa que tem documentação. Mas o sistema de verificação – E-Verif – é lento, complicado e tem muitos erros. Além de precisar fazer o tramite em linha, é preciso fazer uma consulta telefônica e esperar a confirmação. Várias pequenas empresas e empregadores não têm capacidade para fazer isso. São cerca de 10 milhões que trabalham com o número de segurança social falso ou utilizam de outra pessoa, mas a imensa maioria paga impostos.
Os imigrantes irregulares subsidiaram a segurança social com aproximadamente 200 bilhões de dólares. Esse dinheiro vai para um fundo, onde fica acumulado e é utilizado em caso de reclamações. Mas os que não têm documentos não podem reclamar, nunca vão ganhar esse dinheiro e nenhuma aposentadoria. Sem este dinheiro, o sistema de pensões estadunidense estaria quebrado.
Mas os argumentos monetários não contam, quando se trata de imigrantes irregulares. A falta de documentos é um pecado original que mancha para sempre a história de uma pessoa.
* Tradução de Sandra Luiz Alves.
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Os Estados Unidos são um país guerreiro, saem de uma guerra para entrar em outra. Pode ser que este seja o destino dos impérios, também quando estão em queda. Além dos inimigos externos, a política nos EUA leva a ter os inimigos internos. Vamos relembrar o período da Lei Seca, em seguida o macartismo, a guerra fria e o anticomunismo. Agora, o perigo está na fronteira e os inimigos são imigrantes sem documentos.
Como em outras épocas, as forças mais obscuras do conservadorismo levam o país do norte a situações extremas e cometem erros históricos excessivos que fomentam o fanatismo, a perseguição, a violência. Muitos republicanos se taxam como “conservadores verdadeiros”, enquanto os liberais, entre eles Barack Obama, sentem-se encurralados e não se atrevem a defender suas posições, muito menos a atacar frontalmente a oposição e os difamadores.
Nas estradas do Texas são colocados anúncios com o rosto de Barack Obama desfigurado e agressivo, com a legenda de socialista ao lado. As campanhas mais absurdas, como a de acusar o presidente Barack Obama de socialista em função de sua proposta de uma reforma no sistema de saúde, ecoa em amplos setores da população. E se Obama não soube ou não conseguiu defender-se, muitos menos os imigrantes que são os mais indefesos e vulneráveis.
A retórica da invasão de imigrantes através da fronteira com o México é feita com as operações Bloqueio, Guardião e, a mais belicista, “Defender a Linha” (Hold the line). A este respeito, o antropólogo Leo Chávez analisa em seu livro “Covering immigration” (Cobrindo a imigração) dezenas de matérias de revistas que descrevem uma fronteira em crise, a necessidade de “fechar a porta”, de prevenir uma “invasão do México”, a preocupação porque a “América muda de cor” e, a mais irônica, sobre o letreiro “English spoken” (Inglês falado), como se o país tivesse perdido a identidade.
Mas as reclamações anti-imigrantes terminam quando o garçom serve a comida, a empregada doméstica limpa a casa e o consumidor compra verduras baratas no supermercado. A mão-de-obra mexicana é fundamental para que o sistema funcione. Mas não é indispensável. Há milhares de pobres no mundo que gostariam de estar no lugar dos mexicanos. E isto eles sabem – manipulam e utilizam o sistema segundo suas conveniências. A única vantagem diferencial é que estamos próximos, disponíveis e somos dispensáveis. Trazer mão-de-obra da China, Índia ou África teria custos adicionais e não poderia ser descartada com tanta facilidade.
A experiência indica que o melhor trabalhador é o que não tem documento, que é tratado como ilegal, que precisa esconder-se, vive com medo, não pode reclamar e carece de direitos. As vistorias são realizadas nas fábricas, nos comércios, nos restaurantes – onde há trabalhadores em excesso e são facilmente substituídos. Já faz alguns anos que não há vistorias em zonas agrícolas, onde faltam trabalhadores e não há reposição – 85% dos trabalhadores agrícolas dos EUA nasceram no México e a maioria não tem documentos. Esta é a maneira como somos tratados há mais de um século.
Uma parte do problema é que os imigrantes tornaram-se visíveis e estão dispersos por todo o território estadunidense. No Texas e na Califórnia sempre houve a presença Mexicana e ela já faz parte da sociedade, da diversidade racial e cultural. Em Arkansas, Geórgia, Alabama, nas Carolinas e em outros novos estados, os imigrantes são os recém chegados, os estrangeiros. A raça de “bronze” altera o equilíbrio racial e ancestral entre brancos e negros. Mas atrás das atitudes anti-imigrantes e legalistas há um conflito racial evidente.
Os afro-americanos aprenderam a levantar a voz diante de qualquer evidência de agressão ou discriminação contra seus irmãos. Os latinos, muitas vezes, ficam inibidos enquanto grupo, carecem de representação política e suportam calados as agressões. Há alguns anos compreendi o motivo, que quando perguntavam a um imigrante mexicano se ele havia se sentido discriminado, quase sempre respondia que não. A resposta foi dada por outro imigrante que estava nos Estados Unidos há muitos anos, quando me explicou que era uma questão de linguagem: se não entende o insulto ou a agressão, o impacto é muito menor e “é melhor...” Se não pode responder em inglês, você não terá nenhuma escolha.
A reforma imigratória foi convertida em um mito. Os republicanos afirmam que o tema só poderá ser discutido quando a fronteira estiver segura. E isto nunca vai acontecer. Sempre haverá incidentes fronteiriços. O muro está incompleto e não foi a solução. Além disso, atrás do muro é necessário um exército para vigiar 3.000 km de fronteira.
Não é só isso. No interior dos EUA é preciso controlar e verificar que só pode ser contratada a pessoa que tem documentação. Mas o sistema de verificação – E-Verif – é lento, complicado e tem muitos erros. Além de precisar fazer o tramite em linha, é preciso fazer uma consulta telefônica e esperar a confirmação. Várias pequenas empresas e empregadores não têm capacidade para fazer isso. São cerca de 10 milhões que trabalham com o número de segurança social falso ou utilizam de outra pessoa, mas a imensa maioria paga impostos.
Os imigrantes irregulares subsidiaram a segurança social com aproximadamente 200 bilhões de dólares. Esse dinheiro vai para um fundo, onde fica acumulado e é utilizado em caso de reclamações. Mas os que não têm documentos não podem reclamar, nunca vão ganhar esse dinheiro e nenhuma aposentadoria. Sem este dinheiro, o sistema de pensões estadunidense estaria quebrado.
Mas os argumentos monetários não contam, quando se trata de imigrantes irregulares. A falta de documentos é um pecado original que mancha para sempre a história de uma pessoa.
* Tradução de Sandra Luiz Alves.
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Mídia protege golpistas de Honduras
Por Altamiro Borges
Na semana passada, sem que a mídia mundial e nativa fizesse qualquer alarde, o parlamento de Honduras aprovou mudanças na Constituição que permitem a realização de referendo sobre a reeleição presidencial. A alteração foi exatamente o motivo alegado pelos golpistas deste país para derrubar o presidente Manuel Zelaya, em junho de 2009. Sob o pretexto de que ele pretendia alterar as normas legais para se perpetuar no poder, empresários e generais, com apoio direto dos EUA, patrocinaram o golpe.
Na semana passada, sem que a mídia mundial e nativa fizesse qualquer alarde, o parlamento de Honduras aprovou mudanças na Constituição que permitem a realização de referendo sobre a reeleição presidencial. A alteração foi exatamente o motivo alegado pelos golpistas deste país para derrubar o presidente Manuel Zelaya, em junho de 2009. Sob o pretexto de que ele pretendia alterar as normas legais para se perpetuar no poder, empresários e generais, com apoio direto dos EUA, patrocinaram o golpe.
Expectativas para a comunicação em 2011
Reproduzo artigo de Marcos Urupá, publicado no Observatório do Direito à Comunicação:
O ano de 2011 começa cheio de expectativas. Primeiro, porque é pela primeira vez que temos uma mulher no mais alto posto do País; segundo, porque ao que parece, a comunicação realmente na pauta política do Brasil.
No dia 01 de janeiro de 2011, tomou posse Dilma Rousseff como a primeira mulher eleita presidente do Brasil. No seu discurso, deixou claro que "Reafirmará o seu compromisso inegociável com a garantia plena das liberdades individuais; da liberdade de culto e de religião; da liberdade de imprensa e de opinião".
No mesmo dia, o governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, em seu discurso disse que queria a imprensa acompanhando seu governo de perto, deixando claro que sempre que a imprensa gaúcha tiver promova, as denúncias mais duras a respeito do seu governador, do seu vice-governador e dos seus secretários. E complementou: “Porque é desta informação colocada na esfera pública que surge a transparência, que surge a possibilidade da informação como resposta, que surge a democracia regulada pelo sentimento cívico da transparência e da verdade. Vocês, integrantes da imprensa, terão no nosso governo um apoio especialíssimo para que vocês realizem o trabalho de vocês com dignidade, com sobriedade e com respeito ao povo gaúcho".
No Pará, o governo eleito Simão Jatene, deixou para nomear o seu Secretário de Comunicação, assim como a presidente da Funtelpa – Fundação mantenedora dos veículos públicos do Estado – nos últimos minutos antes de tomar posse. Segundo o governador em entrevistas, a comunicação era um setor estratégico, e por isso a demora na indicação do titular da secretária.
O que todas essas circunstâncias e opiniões tem em comum? A mesma leitura: a de que a comunicação terá um tratamento especial. De que a comunicação, ao longo do tempo, tem sido vista como uma área que merece ser rediscutida, e acima de tudo, repensada. Durante muito tempo, isso sempre foi uma leitura, e bandeira de luta, da sociedade civil.
Não está se afirmando que estes governos, com estas declarações, farão a revolução na área da comunicação. Mas apenas apontando que a comunicação está na ponta da língua de quem está a frente da elaboração e execução das políticas públicas no Brasil.
Após um ano da realização da Conferência de Comunicação, que diga-se de passagem, saiu porque a sociedade civil arregaçou as mangas e forçou os Estados a realizarem sua etapa nacional, várias são as propostas que esperam por implementação. Até o final do ano passado, a Secom, quando tinha a frente o jornalista Franklin Martins, estava fazendo uma consolidação das propostas para que o próximo governo as implementassem. Ao mesmo tempo, temos uma opinião do próprio ex-ministro Franklin Martins, que diz que o Minicom precisa ser refundado e que reconhece que o Governo Lula nessa área, deixou a desejar.
Por tudo isso, o ano de 2011 promete muito para a Comunicação. A sociedade civil está pronta para o que der e vier e se for preciso, arregaçará as mangas, mais uma vez.
* Marcos Urupá é jornalista e advogado. Foi diretor da TV Cultura do Pará e é integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
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O ano de 2011 começa cheio de expectativas. Primeiro, porque é pela primeira vez que temos uma mulher no mais alto posto do País; segundo, porque ao que parece, a comunicação realmente na pauta política do Brasil.
No dia 01 de janeiro de 2011, tomou posse Dilma Rousseff como a primeira mulher eleita presidente do Brasil. No seu discurso, deixou claro que "Reafirmará o seu compromisso inegociável com a garantia plena das liberdades individuais; da liberdade de culto e de religião; da liberdade de imprensa e de opinião".
No mesmo dia, o governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, em seu discurso disse que queria a imprensa acompanhando seu governo de perto, deixando claro que sempre que a imprensa gaúcha tiver promova, as denúncias mais duras a respeito do seu governador, do seu vice-governador e dos seus secretários. E complementou: “Porque é desta informação colocada na esfera pública que surge a transparência, que surge a possibilidade da informação como resposta, que surge a democracia regulada pelo sentimento cívico da transparência e da verdade. Vocês, integrantes da imprensa, terão no nosso governo um apoio especialíssimo para que vocês realizem o trabalho de vocês com dignidade, com sobriedade e com respeito ao povo gaúcho".
No Pará, o governo eleito Simão Jatene, deixou para nomear o seu Secretário de Comunicação, assim como a presidente da Funtelpa – Fundação mantenedora dos veículos públicos do Estado – nos últimos minutos antes de tomar posse. Segundo o governador em entrevistas, a comunicação era um setor estratégico, e por isso a demora na indicação do titular da secretária.
O que todas essas circunstâncias e opiniões tem em comum? A mesma leitura: a de que a comunicação terá um tratamento especial. De que a comunicação, ao longo do tempo, tem sido vista como uma área que merece ser rediscutida, e acima de tudo, repensada. Durante muito tempo, isso sempre foi uma leitura, e bandeira de luta, da sociedade civil.
Não está se afirmando que estes governos, com estas declarações, farão a revolução na área da comunicação. Mas apenas apontando que a comunicação está na ponta da língua de quem está a frente da elaboração e execução das políticas públicas no Brasil.
Após um ano da realização da Conferência de Comunicação, que diga-se de passagem, saiu porque a sociedade civil arregaçou as mangas e forçou os Estados a realizarem sua etapa nacional, várias são as propostas que esperam por implementação. Até o final do ano passado, a Secom, quando tinha a frente o jornalista Franklin Martins, estava fazendo uma consolidação das propostas para que o próximo governo as implementassem. Ao mesmo tempo, temos uma opinião do próprio ex-ministro Franklin Martins, que diz que o Minicom precisa ser refundado e que reconhece que o Governo Lula nessa área, deixou a desejar.
Por tudo isso, o ano de 2011 promete muito para a Comunicação. A sociedade civil está pronta para o que der e vier e se for preciso, arregaçará as mangas, mais uma vez.
* Marcos Urupá é jornalista e advogado. Foi diretor da TV Cultura do Pará e é integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
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A luta pela superação do neoliberalismo
Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, publicado em seu blog no sítio Carta Maior:
O capitalismo passou por várias fases na sua história. Como reação à crise de 1929, fechou-se o período de hegemonia liberal, sucedido por aquele do predomínio do modelo keynesiano ou regulador. A crise deste levou ao renascimento do liberalismo, sob nova roupagem que, por isso, se auto denominou de neoliberalismo.
Este impôs uma desregulamentação geral na economia, com o argumento de que a economia havia deixado de crescer pelo excesso de normas, que frearia a capacidade do capital de investir. Desregulamentar é privatizar, é abrir os mercados nacionais à economia mundial, é promover o Estado mínimo, diminuindo os investimentos em politicas sociais, em favor do mercado, é impor a precariedade nas relações de trabalho.
A desregulamentação levou a uma gigantesca transferência de capitais do setor produtivo ao especulativo porque, livre de travas, o capital se dirigiu para o setor onde tem mais lucros, com maios liquidez e menos tributação: o setor financeiro. Porque o capital não está feito para produzir, mas para acumular. Se pode acumular mais na especulação, se dirige para esse setor, que foi o que aconteceu em escala mundial.
O modelo neoliberal se tornou hegemônico em escala mundial, impondo as politicas de livre comércio, de Estados mínimos, de globalização do mercado de trabalho para os investimentos, entre outros aspectos. É uma nova fase do capitalismo, como foram as fases de hegemonia liberal e keynesiana. Não se pode dizer que seja a última, porque um sistema sempre encontra formas – mesmo que aprofundem suas contradições - se outro sistema não surge como alternativa, com a força correspondente para superá-lo.
Mas é uma fase difícil de ser superada, porque a desregulação tem muitas dificuldades para ser superada. Mesmo com a crise atual afetando diretamente os países do centro do capitalismo, provocada pela fata de regulação do sistema financeiro, ainda assim pouco ou quase nada foi feito para o controle do capital financeiro, justamente a origem da crise. Como já se disse: Obama salvou os bancos, achando que os bancos salvariam a economia dos EUA. Mas os bancos se salvaram às custas da economia norteamericana, que segue em crise.
É difícil para o capitalismo desembaraçar-se do neoliberalismo, etapa que marca o final de um ciclo desse sistema. A discussão que se coloca é de se o modelo chinês representa vida útil e inteligência mais além do neoliberalismo ou do capitalismo. Se sua via de mercado se vale do mercado para superar o capitalismo ou se o mercado o vincula de obrigatória e estreita ao capitalismo.
O certo é que ser de esquerda hoje é de lutar contra o neoliberalismo, não apenas resistindo a ele, mas sobretudo construindo alternativas a este modelo, allternativas que projetem para além do capitalismo. O neoliberalismo promove um brutal processo de mercantilização das coisas e das relações sociais. Tudo passa a ter preço, tudo pode ser compra e vendido, tudo é reduzido a mercadoria, em um processo que tem no shopping center sua utopia.
Nesse caso, lutar pela superação do neoliberalismo é desmercantilizar, restabelecer e generalizar os direitos como acesso a bens e serviços, ao invés da luta selvagem no mercado, de todos contra todos, para obtê-los às expensas dos outros. Generalizar a condição do cidadão às expensas da generalização do consumidor. Do sujeito de direitos e não do dono de poder aquisitivo.
Quanto mais se desmercantilizar, quanto mais se afirmar os direitos de todos, mais se estará criando esfera pública, às expensas da esfera mercantil (que eles chamam de privada). Essa pode ser a via de passagem do neoliberalismo como estágio do capitalismo à sua superação, a uma era pós-capitalista. Mas hoje o que nos une a todos é a luta por distintas formas de pós neoliberalismo - pela universailização dos direitos, pela extensão da cidadania em todas suas formas – politica, econômica, social, cultural -, pelo triunfo do Estado social contra o Estado mínimo, da esfera pública contra a esfera mercantil.
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O capitalismo passou por várias fases na sua história. Como reação à crise de 1929, fechou-se o período de hegemonia liberal, sucedido por aquele do predomínio do modelo keynesiano ou regulador. A crise deste levou ao renascimento do liberalismo, sob nova roupagem que, por isso, se auto denominou de neoliberalismo.
Este impôs uma desregulamentação geral na economia, com o argumento de que a economia havia deixado de crescer pelo excesso de normas, que frearia a capacidade do capital de investir. Desregulamentar é privatizar, é abrir os mercados nacionais à economia mundial, é promover o Estado mínimo, diminuindo os investimentos em politicas sociais, em favor do mercado, é impor a precariedade nas relações de trabalho.
A desregulamentação levou a uma gigantesca transferência de capitais do setor produtivo ao especulativo porque, livre de travas, o capital se dirigiu para o setor onde tem mais lucros, com maios liquidez e menos tributação: o setor financeiro. Porque o capital não está feito para produzir, mas para acumular. Se pode acumular mais na especulação, se dirige para esse setor, que foi o que aconteceu em escala mundial.
O modelo neoliberal se tornou hegemônico em escala mundial, impondo as politicas de livre comércio, de Estados mínimos, de globalização do mercado de trabalho para os investimentos, entre outros aspectos. É uma nova fase do capitalismo, como foram as fases de hegemonia liberal e keynesiana. Não se pode dizer que seja a última, porque um sistema sempre encontra formas – mesmo que aprofundem suas contradições - se outro sistema não surge como alternativa, com a força correspondente para superá-lo.
Mas é uma fase difícil de ser superada, porque a desregulação tem muitas dificuldades para ser superada. Mesmo com a crise atual afetando diretamente os países do centro do capitalismo, provocada pela fata de regulação do sistema financeiro, ainda assim pouco ou quase nada foi feito para o controle do capital financeiro, justamente a origem da crise. Como já se disse: Obama salvou os bancos, achando que os bancos salvariam a economia dos EUA. Mas os bancos se salvaram às custas da economia norteamericana, que segue em crise.
É difícil para o capitalismo desembaraçar-se do neoliberalismo, etapa que marca o final de um ciclo desse sistema. A discussão que se coloca é de se o modelo chinês representa vida útil e inteligência mais além do neoliberalismo ou do capitalismo. Se sua via de mercado se vale do mercado para superar o capitalismo ou se o mercado o vincula de obrigatória e estreita ao capitalismo.
O certo é que ser de esquerda hoje é de lutar contra o neoliberalismo, não apenas resistindo a ele, mas sobretudo construindo alternativas a este modelo, allternativas que projetem para além do capitalismo. O neoliberalismo promove um brutal processo de mercantilização das coisas e das relações sociais. Tudo passa a ter preço, tudo pode ser compra e vendido, tudo é reduzido a mercadoria, em um processo que tem no shopping center sua utopia.
Nesse caso, lutar pela superação do neoliberalismo é desmercantilizar, restabelecer e generalizar os direitos como acesso a bens e serviços, ao invés da luta selvagem no mercado, de todos contra todos, para obtê-los às expensas dos outros. Generalizar a condição do cidadão às expensas da generalização do consumidor. Do sujeito de direitos e não do dono de poder aquisitivo.
Quanto mais se desmercantilizar, quanto mais se afirmar os direitos de todos, mais se estará criando esfera pública, às expensas da esfera mercantil (que eles chamam de privada). Essa pode ser a via de passagem do neoliberalismo como estágio do capitalismo à sua superação, a uma era pós-capitalista. Mas hoje o que nos une a todos é a luta por distintas formas de pós neoliberalismo - pela universailização dos direitos, pela extensão da cidadania em todas suas formas – politica, econômica, social, cultural -, pelo triunfo do Estado social contra o Estado mínimo, da esfera pública contra a esfera mercantil.
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Tunísia: um jasmim revolucionário
Reproduzo artigo de Hedi Attia, publicado no sítio Diário Liberdade:
Quem teria imaginado isto faz uns meses, algumas semanas inclusive?
Acabamos de viver uma jornada sem precedentes, nenhuma palavra, nenhuma expressão pode descrever satisfatoriamente o que está ocorrendo nestes momentos.
O povo tunesino estremeceu o mundo inteiro alçando-se e derrubando uma ditadura feroz, policial, bárbara e sem escrúpulos; atrevendo-se a desafiar este famoso medo que nos paralisava, este fatalismo que a oligarquía queria que interiorizássemos para que se dissesse que não era possível. Acabamos de dar uma imensa bofetada a todos os observadores internacionais do Banco Mundial ou do FMI que de seus escritórios de Washington nos descreviam como economia modelo. É um triunfo do povo contra todos os arrogantes, ladrões mafiosos que nos olhavam com desdém, pensando que sempre íamos ficar passivos.
Esta revolução marca também um novo ponto de partida desta década e manda um forte sinal depois de 2.000 anos terríveis nos quais conhecemos crises econômicas devidas a um capitalismo liberal selvagem, as guerras imperialistas em Afeganistão e Iraq, o massacre de Gaza, uma crise ecológica que nos atinge a todos e piora a cada dia. O que acabou de realizar hoje o povo tunecino é uma verdadeira mensagem de esperança. No meio do fatalismo ambiente nós demonstramos que podíamos mudar as coisas, que nada era eterno, que era possível inverter a tendência. Cada ser humano pode identificar-se nesta revolução, em particular as populações árabes que doravante devemos apoiar por todos os meios em suas lutas. Podemos ter certeza disso, os outros ditadores árabes devem tremer vendo que em menos de um mês derrocamos o Noriega tunecino, obrigado a fugir como uma ratazana. Isto servirá de exemplo aos argelinos, aos egípcios e a todos os outros, que nos olham com esperança e desejam nos ver triunfar; hoje sabem que sim, um outro mundo é possível!
Esta é a primeira revolução do novo milênio. A primeira revolução popular do mundo árabe. A primeira revolução "numérica" que demonstrou claramente o alcance da Internet, que não é um mundo tão virtual como parecia. A revolução tunesina, ou a "Revolução do Jasmim" como alguns começam a chamá-la, é a ocasião de construirmos um novo país. Este novo país verá no dia antes de mais nada e graças à chegada de um novo cidadão que já se formou na luta contra a ditadura e que deve continuar o seu processo.
Nos seus escritos, Che Guevara evocou amplamente este período que começa depois da queda de um regime ao que a revolução põe de joelhos. É o período em que deve aparecer "o homem novo", o que dará forma à nova sociedade revolucionária. Avante! Todos nós, aqui, agora, imediatamente, sem esperarmos por nada nem pedirmos autorização a ninguém, devemos começar esta etapa. É o tempo da generosidade e do espírito coletivo, devemos ir arranjar todos os danos causados aos edifícios, comércios e edifícios públicos, e fazê-lo espontaneamente. Quanto mais solidários formos uns com outros, mais rápida e eficazmente reconstruiremos esta sociedade. Já chega de individualismo, basta da cada um para si próprio, caminhemos da mão e voltemos a pôr em pé nosso país, tão rico.
Agora devemos também permanecer vigilantes. Nossa reivindicações têm que seguir chegando ao poder, cabem numa palavra de ordem: "Trabalho, liberdade, dignidade". Deixemos Ghanouchi e os dirigentes da oposição trabalhar mão com mão e preparar-nos a transição democrática.
No entanto, a partir de agora nós dizemos solenemente a quem quiser recuperar este movimento e instrumentalizá-lo ou a quem quiser infiltrar-se nele: Não! Não deixaremos que tal aconteça, sofremos demasiado para conseguir a liberdade como para voltarmos a perdê-la. Os tunesinos são inteligentes, experientes, conscientes de sua força e vão alçar-se ao menor golpe baixo. Aos hipócritas que lamberam as botas ao poder e hoje mudam de casaca, senhores, é tarde demais, retirem-se e deixem-nos em paz.
Mohamed Bouazizi, teu nome permanecerá gravado para sempre na memória e será o equivalente de Aníbal, de Farhat Hached ou de Burguiba nos livros de história.
Não esqueceremos a memória de todos os mártires mortos pela liberdade de seu país.
Obrigados a todos os opositores que durante anos padeceram a tortura, ameaças, sem abandonar nunca.
Obrigados à juventude que através da internet criou uma nova forma de luta.
Nossos avós que libertaram a Tunísia devem estar agora muito orgulhosos de nós.
E, sobretudo, não esqueçamos nunca estas palavras:
إذا الشعب يوما أراد الحياة
فلا بدّ أن يستجيب القدر
Se o povo um dia quer a vida
terá que responder ao destino.
*****
Fonte: Rebelión.
Tradução do árabe: Beatriz Morales Bastos
Tradução para galego-português: Diário Liberdade.
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Quem teria imaginado isto faz uns meses, algumas semanas inclusive?
Acabamos de viver uma jornada sem precedentes, nenhuma palavra, nenhuma expressão pode descrever satisfatoriamente o que está ocorrendo nestes momentos.
O povo tunesino estremeceu o mundo inteiro alçando-se e derrubando uma ditadura feroz, policial, bárbara e sem escrúpulos; atrevendo-se a desafiar este famoso medo que nos paralisava, este fatalismo que a oligarquía queria que interiorizássemos para que se dissesse que não era possível. Acabamos de dar uma imensa bofetada a todos os observadores internacionais do Banco Mundial ou do FMI que de seus escritórios de Washington nos descreviam como economia modelo. É um triunfo do povo contra todos os arrogantes, ladrões mafiosos que nos olhavam com desdém, pensando que sempre íamos ficar passivos.
Esta revolução marca também um novo ponto de partida desta década e manda um forte sinal depois de 2.000 anos terríveis nos quais conhecemos crises econômicas devidas a um capitalismo liberal selvagem, as guerras imperialistas em Afeganistão e Iraq, o massacre de Gaza, uma crise ecológica que nos atinge a todos e piora a cada dia. O que acabou de realizar hoje o povo tunecino é uma verdadeira mensagem de esperança. No meio do fatalismo ambiente nós demonstramos que podíamos mudar as coisas, que nada era eterno, que era possível inverter a tendência. Cada ser humano pode identificar-se nesta revolução, em particular as populações árabes que doravante devemos apoiar por todos os meios em suas lutas. Podemos ter certeza disso, os outros ditadores árabes devem tremer vendo que em menos de um mês derrocamos o Noriega tunecino, obrigado a fugir como uma ratazana. Isto servirá de exemplo aos argelinos, aos egípcios e a todos os outros, que nos olham com esperança e desejam nos ver triunfar; hoje sabem que sim, um outro mundo é possível!
Esta é a primeira revolução do novo milênio. A primeira revolução popular do mundo árabe. A primeira revolução "numérica" que demonstrou claramente o alcance da Internet, que não é um mundo tão virtual como parecia. A revolução tunesina, ou a "Revolução do Jasmim" como alguns começam a chamá-la, é a ocasião de construirmos um novo país. Este novo país verá no dia antes de mais nada e graças à chegada de um novo cidadão que já se formou na luta contra a ditadura e que deve continuar o seu processo.
Nos seus escritos, Che Guevara evocou amplamente este período que começa depois da queda de um regime ao que a revolução põe de joelhos. É o período em que deve aparecer "o homem novo", o que dará forma à nova sociedade revolucionária. Avante! Todos nós, aqui, agora, imediatamente, sem esperarmos por nada nem pedirmos autorização a ninguém, devemos começar esta etapa. É o tempo da generosidade e do espírito coletivo, devemos ir arranjar todos os danos causados aos edifícios, comércios e edifícios públicos, e fazê-lo espontaneamente. Quanto mais solidários formos uns com outros, mais rápida e eficazmente reconstruiremos esta sociedade. Já chega de individualismo, basta da cada um para si próprio, caminhemos da mão e voltemos a pôr em pé nosso país, tão rico.
Agora devemos também permanecer vigilantes. Nossa reivindicações têm que seguir chegando ao poder, cabem numa palavra de ordem: "Trabalho, liberdade, dignidade". Deixemos Ghanouchi e os dirigentes da oposição trabalhar mão com mão e preparar-nos a transição democrática.
No entanto, a partir de agora nós dizemos solenemente a quem quiser recuperar este movimento e instrumentalizá-lo ou a quem quiser infiltrar-se nele: Não! Não deixaremos que tal aconteça, sofremos demasiado para conseguir a liberdade como para voltarmos a perdê-la. Os tunesinos são inteligentes, experientes, conscientes de sua força e vão alçar-se ao menor golpe baixo. Aos hipócritas que lamberam as botas ao poder e hoje mudam de casaca, senhores, é tarde demais, retirem-se e deixem-nos em paz.
Mohamed Bouazizi, teu nome permanecerá gravado para sempre na memória e será o equivalente de Aníbal, de Farhat Hached ou de Burguiba nos livros de história.
Não esqueceremos a memória de todos os mártires mortos pela liberdade de seu país.
Obrigados a todos os opositores que durante anos padeceram a tortura, ameaças, sem abandonar nunca.
Obrigados à juventude que através da internet criou uma nova forma de luta.
Nossos avós que libertaram a Tunísia devem estar agora muito orgulhosos de nós.
E, sobretudo, não esqueçamos nunca estas palavras:
إذا الشعب يوما أراد الحياة
فلا بدّ أن يستجيب القدر
Se o povo um dia quer a vida
terá que responder ao destino.
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Fonte: Rebelión.
Tradução do árabe: Beatriz Morales Bastos
Tradução para galego-português: Diário Liberdade.
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