Reproduzo matéria publicada no sítio da revista CartaCapital:
O boletim divulgado no fim da manhã desta terça-feira 29 informava que o ex-vice-presidente apresentava um quadro de oclusão (obstrução) intestinal e peritonite (inflamação do peritônio, uma membrana que reveste a cavidade abdominal), em condições críticas. Raul Cutait, médico integrante da equipe que cuidava de Alencar, havia dito que o tratamento estava sendo feito à base de medicamento para aliviar as dores. “Não tem mais condições de tratamento. Estamos dando suporte para ele não sofrer”, afirmou.
Com roupa de hospital, deitado numa maca, envolto por aparelhos e sempre com alguma personalidade do universo político ao lado. Essa é a lembrança mais marcante dos últimos dias de vida do ex-vice-presidente José Alencar. Seu delicado histórico médico sobressaiu sua trajetória profissional. Não é para menos, desde 2000, lutava contra um câncer na região abdominal pelo qual passou por inúmeras cirurgias e até tratamento experimental nos Estados Unidos.
Mas quem foi o homem de negócios que da pequena Itamuri, em Minas Gerais, ocupou um dos cargos mais importantes da política?
José Alencar Gomes da Silva nasceu em 17 de outubro de 1931, num povoado à margem do rio Glória, chamado Itamuri, município de Muriaé, Minas Gerais, é o décimo primeiro descendente do casal Antonio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva, de um total de 15 filhos. Cedo, aos sete anos, já ensaiava os primeiros passos para os negócios atrás do balcão da loja do pai. Aos 14 anos, decidiu que era hora de ir mais longe. E em Muriaé, ainda no interior de Minas, foi trabalhar numa loja de tecidos. Em 1948, Alencar mudou-se para Caratinga onde trabalhou com vendedor.
De vendedor a empresário
Aos 18, com a ajuda do irmão mais velho Geraldo Gomes da Silva, depois de ser emancipado pelo pai, abriu as portas de sua primeira empresa: “A Queimadeira”, em Caratinga.
Ele chegou a morar na própria loja, “atrás da prateleira”, e comer de marmita fazia parte do esforço para baixar os custos e tornar competitiva a lojinha que vendia quase de tudo: tecidos, calçados, chapéus, guarda-chuvas, sombrinhas, armarinhos, etc.
Pouco tempo depois, aos 20, casou-se com Mariza Gomes da Silva, com quem teve duas filhas Maria da Graça e Patrícia e um filho Josué, que, atualmente, controla as empresas do pai.
Com a morte do irmão Geraldo, Alencar é chamado para assumir os negócios que o mais velho havia iniciado em Ubá. A empresa era a União dos Cometas, de Geraldo Gomes & Cia. Com a reestruturação societária, em homenagem ao principal fundador, adotou a razão social Geraldo Gomes da Silva, Tecidos S.A.
Em 1963, José Alencar construiu a Cia. Industrial de Roupas União dos Cometas, que mais tarde ganharia outro nome, Wembley Roupas S.A.
Em 1967, em parceria com o empresário e deputado Luiz de Paula Ferreira, da área de beneficiamento de algodão – fundou, em Montes Claros, a Companhia de Tecidos Norte de Minas, Coteminas, que hoje é uma das maiores empresas do setor têxtil. Com 15 fábricas no Brasil, cinco nos Estados Unidos, uma na Argentina e uma no México, emprega mais de 15 mil trabalhadores.
De empresário a vice-presidente
José Alencar quis mais e em 1994 candidatou-se a deputado estadual, ficando em terceiro lugar com 10,71% dos votos válidos. Esse era apenas o começo de sua carreira política. Depois de sua estreia no meio político, Alencar candidatou-se, em 1998, a senador, obtendo quase 3 milhões de votos. Foi durante esse mandato que defendeu o empresariado brasileiro e fez duras críticas ao governo da época pela não realização das reformas política e econômica.
Mas um cargo mais alto ainda estava por vir e em 2000, ao comemorar os 50 anos de sua carreira como empresário, numa celebração com a presença de familiares, figuras políticas entre governadores, líderes de partidos, prefeitos e ministros, seu discurso encantaria uma das mais emblemáticas personalidades do cenário político brasileiro, o líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, ainda não havia sido confirmada sua participação, pela quarta vez, como candidato às eleições para a presidência em 2002, mas saiu daquela festa já sabendo quem era seu vice.
Lula não resistiu à figura lutadora, cativante e com espírito nacionalista, que construiu um império, e agora estava no topo do mundo empresarial. Um homem chave para dialogar com o setor empresarial ao lado do governo petista.
Mesmo sendo um empresário milionário, Alencar sempre buscou manter sua simplicidade, e aceitou a missão de ser vice do metalúrgico para junto promoverem o desenvolvimento do Brasil, principalmente nas áreas sociais, que mais marcaram o governo Lula.
Muito disputado por sua desenvoltura política, Alencar foi assediado por três partidos: o PTB, PSD, mas acabou se desfiliando do PMDB para ingressar no PL que depois mudou o nome para PRB.
Antes já havia sido presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais e diretor da Associação Comercial de Minas, além da Câmara de Dirigentes Lojista de Belo Horizonte. No governo Lula, já como vice-presidente, em 2002, se tornou um dos interlocutores do governo com o setor empresarial, como era esperado. Uma aliança partidária histórica, das mais difíceis já realizadas, entre dois partidos com ideologias tão diferentes.
Mas o senador Eduardo Suplicy tratou de citar José Alencar, num momento de saudação da aliança, como um empresário de visão social, que emprega 15 mil pessoas. “Juntos, [PT e PL] podem fazer a justiça social que este governo, o governo de Fernando Henrique Cardoso, não fez”, disse Suplicy em junho daquele ano.
Alencar e o câncer
Apesar de ter descoberto o câncer em 2000, José Alencar resistiu aos compromissos de vice-presidente. Em sua longa batalha contra o câncer, submeteu-se a um tratamento experimental nos Estados Unidos, com resultado inconclusivo.
No final de seu mandato como vice, em 2010, sua saúde estava delicada, sendo necessário inclusive a interrupção do tratamento contra o câncer. Desde então, o estado de saúde de Alencar começou a se agravar.
Em janeiro deste ano ele voltou a ser internado na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Sírio-Libanês com perfurações no intestino, mas recebeu alta para ser homenageado com a comenda de Cidadão Paulistano no dia 25, data do aniversário da cidade.
Ele recebeu a Medalha 25 de Janeiro entregue pela presidenta Dilma Rousseff que, no discurso, destacou que participava da cerimônia como Presidenta da República, mas sobretudo como cidadã brasileira “para homenagear uma pessoa de tão profunda dimensão humana que todo o nosso povo aprendeu a respeitar, admirar e amar sem limites [...]nosso eterno vice-presidente da República, José Alencar”, afirmou. Nesse dia, integrantes de vários partidos, tanto de oposição quanto da situação, como o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) deixaram de lado as diferenças ideológicas para apertar as mãos do ex-vice.
Dentre as inúmeras visitas que recebeu enquanto internado, Alencar sempre fazia alguma declaração que repercutia na imprensa. Uma delas, em dezembro de 2010, Alencar reclamou ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre a alta dos juros. Algo recorrente em seu mandato.
Com o jornalista Ricardo Kotscho, em fevereiro deste ano, falou sobre a aposentadoria do jogador Ronaldo. Ao lado do deputado federal Albano Franco (PSDB-SE), chegou a dizer que estava “preparado para morrer”, mas que pretende “viver até quando for digno”. Em entrevista a Jô Soares no ano passado, José Alencar repetiu mais uma vez a frase que sempre dizia: “Se Deus quiser me levar, ele não precisa do câncer para isso. E se ele não quiser que eu vá, não há câncer que me leve”. O homem resistiu bravamente, e todos os brasileiros foram testemunhas disso.
terça-feira, 29 de março de 2011
José Alencar: a morte de um guerreiro
Reproduzo matéria de Dayanne Sousa, publicado no sítio Terra Magazine:
Morreu nesta terça-feira (29), aos 79 anos, o ex-vice-presidente da República, José Alencar. Ele estava internado na UTI do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, desde segunda (30) com quadro de suboclusão intestinal.
Alencar havia sofrido um infarto agudo do miocárdio em novembro e foi submetido a um cateterismo. Foi internado e liberado com saúde. Seu estado piorou, porém, nesta segunda.
O vice-presidente tem um histórico de luta contra o câncer. Já passou por uma série de cirurgias desde 1997, quando foram identificados pela primeira vez tumores, nos rins e no estômago. Nesta semana, passava mais uma vez por sessões de quimioterapia. "Hoje não existe um paciente de câncer que não o veja como um exemplo", escreveu o diretor do centro de oncologia do Sírio Libanês, Paulo Hoff num perfil de Alencar para a Revista Época, que o elegeu um dos cem homens mais influentes do País.
Medo da morte
Foram 13 anos enfrentando o câncer e 18 cirurgias. Em 2009, Alencar passou por um dos momentos mais delicados do tratamento. Foi submetido a uma cirurgia de 18 horas para retirada de tumores da região do abdome. A recuperação rápida surpreendeu os médicos. Terno alinhado, cadeira de rodas, recém-saído do quarto de hospital, declarou em coletiva: "Não tenho medo da morte".
Biografia
José Alencar Gomes da Silva nasceu em 17 de outubro 1931 na cidade de Muriaé, em Minas Gerais. Ele exercia o segundo mandato de vice-presidente da República, posto que ocupa desde 2003 durante os dois mandatos do presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Alencar foi senador por Minas Gerais entre 1998 e 2002. Era também empresário: em 1967, em parceria com o empresário Luiz de Paula Ferreira, fundou, na cidade mineira de Montes Claros, a Companhia de Tecidos Norte de Minas, Coteminas.
Morreu nesta terça-feira (29), aos 79 anos, o ex-vice-presidente da República, José Alencar. Ele estava internado na UTI do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, desde segunda (30) com quadro de suboclusão intestinal.
Alencar havia sofrido um infarto agudo do miocárdio em novembro e foi submetido a um cateterismo. Foi internado e liberado com saúde. Seu estado piorou, porém, nesta segunda.
O vice-presidente tem um histórico de luta contra o câncer. Já passou por uma série de cirurgias desde 1997, quando foram identificados pela primeira vez tumores, nos rins e no estômago. Nesta semana, passava mais uma vez por sessões de quimioterapia. "Hoje não existe um paciente de câncer que não o veja como um exemplo", escreveu o diretor do centro de oncologia do Sírio Libanês, Paulo Hoff num perfil de Alencar para a Revista Época, que o elegeu um dos cem homens mais influentes do País.
Medo da morte
Foram 13 anos enfrentando o câncer e 18 cirurgias. Em 2009, Alencar passou por um dos momentos mais delicados do tratamento. Foi submetido a uma cirurgia de 18 horas para retirada de tumores da região do abdome. A recuperação rápida surpreendeu os médicos. Terno alinhado, cadeira de rodas, recém-saído do quarto de hospital, declarou em coletiva: "Não tenho medo da morte".
Biografia
José Alencar Gomes da Silva nasceu em 17 de outubro 1931 na cidade de Muriaé, em Minas Gerais. Ele exercia o segundo mandato de vice-presidente da República, posto que ocupa desde 2003 durante os dois mandatos do presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Alencar foi senador por Minas Gerais entre 1998 e 2002. Era também empresário: em 1967, em parceria com o empresário Luiz de Paula Ferreira, fundou, na cidade mineira de Montes Claros, a Companhia de Tecidos Norte de Minas, Coteminas.
BBB-11 termina; abusos da Globo continuam
Reproduzo artigo de Brizola Neto, publicado no blog Tijoçalo:
Mais cedo postei artigo (insuspeito, de um dirigente de bancomultinacional) falando do peso da educação no desenvolvimento chinês.
Agora, antes de almoçar, leio uma matéria que seria irônica, se não fosse trágica.
E, também, no insuspeitíssimo O Globo.
É que o blog do Big Brother, certamente por distração de seus mentores, publica a seguinte informação:
“Na quarta-feira, 30 de março, existirão 169 ex-integrantes do “Big Brother Brasil”. Um número que chama atenção ao ser posto, lado a lado, ao de profissionais com carteira assinada em algumas atividades regulamentadas pelo Ministério do Trabalho: hoje, no Brasil, existem 18 geoquímicos, 34 oceanógrafos, 77 médicos homeopatas e 147 arqueólogos, entre outros ofícios. No entanto, na mesma quarta, alguém estará R$ 1,5 milhão mais rico (ou menos pobre, dependendo do ponto de vista), e não será um desses trabalhadores.”
Pois é. Mas o que o “brother” vai ganhar é nada, perto do que a Globo fatura. Ano passado foram R$ 300 milhões; em 2011, estima-se, R$ 400 milhões. E fatura porque as grandes empresas pagam para patrocinar.
Não tenho notícia de uma grande empresa patrocinando uma universidade. Não tenho notícia de uma multinacional investindo na formação de oceanógrafos, ou de arqueólogos, ou de homeopatas, ou geoquímicos.
Nem vejo os nossos gloriosos colunistas dizendo que as empresas devem ter uma função social, como prevê, desde 1946, a nossa Constituição.
Nada contra as moças e rapazes que estão ali tentando um lugar ao sol que, em nosso país, durante décadas, nos acostumamos a não merecer pelo estudo, pelo trabalho, pela austeridade. “Faz parte”, como dizia o bordão de um ex-”brother”.
Mas tudo contra o império do interesse comercial moldando, a seu bel-prazer, um comportamento social marcado pela competição a qualquer preço, pelo exibicionismo, pelo vazio, para embolsar milhões.
Sempre é bom repetir o que diz o artigo 221 de nossa Constituição:
A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
É por isso que quando a Globo fala em princípios, em educação, em trabalho honesto, em respeito ao ser humano, o cheiro da hipocrisia se espalha no ar.
Mais cedo postei artigo (insuspeito, de um dirigente de bancomultinacional) falando do peso da educação no desenvolvimento chinês.
Agora, antes de almoçar, leio uma matéria que seria irônica, se não fosse trágica.
E, também, no insuspeitíssimo O Globo.
É que o blog do Big Brother, certamente por distração de seus mentores, publica a seguinte informação:
“Na quarta-feira, 30 de março, existirão 169 ex-integrantes do “Big Brother Brasil”. Um número que chama atenção ao ser posto, lado a lado, ao de profissionais com carteira assinada em algumas atividades regulamentadas pelo Ministério do Trabalho: hoje, no Brasil, existem 18 geoquímicos, 34 oceanógrafos, 77 médicos homeopatas e 147 arqueólogos, entre outros ofícios. No entanto, na mesma quarta, alguém estará R$ 1,5 milhão mais rico (ou menos pobre, dependendo do ponto de vista), e não será um desses trabalhadores.”
Pois é. Mas o que o “brother” vai ganhar é nada, perto do que a Globo fatura. Ano passado foram R$ 300 milhões; em 2011, estima-se, R$ 400 milhões. E fatura porque as grandes empresas pagam para patrocinar.
Não tenho notícia de uma grande empresa patrocinando uma universidade. Não tenho notícia de uma multinacional investindo na formação de oceanógrafos, ou de arqueólogos, ou de homeopatas, ou geoquímicos.
Nem vejo os nossos gloriosos colunistas dizendo que as empresas devem ter uma função social, como prevê, desde 1946, a nossa Constituição.
Nada contra as moças e rapazes que estão ali tentando um lugar ao sol que, em nosso país, durante décadas, nos acostumamos a não merecer pelo estudo, pelo trabalho, pela austeridade. “Faz parte”, como dizia o bordão de um ex-”brother”.
Mas tudo contra o império do interesse comercial moldando, a seu bel-prazer, um comportamento social marcado pela competição a qualquer preço, pelo exibicionismo, pelo vazio, para embolsar milhões.
Sempre é bom repetir o que diz o artigo 221 de nossa Constituição:
A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
É por isso que quando a Globo fala em princípios, em educação, em trabalho honesto, em respeito ao ser humano, o cheiro da hipocrisia se espalha no ar.
Dilma e a mídia: Não morder a isca
Reproduzo artigo de Emiliano José, publicado no sítio da revista CartaCapital:
Antes que fossem concluídos os 30 dias do governo Dilma, estabeleceu-se, em alguns órgãos da mídia hegemônica, um curioso debate em torno da personalidade da presidenta, descoberta agora como uma mulher decidida, capaz, com um estilo próprio, e simultaneamente, o discurso de que ela rompia com o estilo Lula, e que isso seria muito positivo. Deixava sempre trair o profundo preconceito contra Lula, pela comparação entre uma presidenta letrada (que cumprimenta em inglês a secretária Hillary Clinton…) e o outro, com seu português, essa língua desprezível. Não se sabe se seriam esquizofrenias da mídia hegemônica, ou táticas confluentes destinadas a diminuir o extraordinário legado do presidente-operário e a camuflar a continuidade de um mesmo projeto político.
Não custa tentar avaliar essa operação. Durante a campanha, a mídia seguiu a orientação de que Dilma era uma teleguiada, incapaz de pensar por conta própria. No governo, como era inexperiente, seria manipulada por Lula. Bem, ocorre que foi eleita. O que fazer diante da esfinge? Nos primeiros momentos, cobra que ela fale o tanto que Lula falava. Dilma, que tem estilo próprio, ao contrário do que a mídia dizia, seguia adiante, sem subordinar-se às cobranças. Toca o governo com toda firmeza, que é o que importa. Não se rende às expectativas midiáticas, sinal de uma personalidade forte, muito distante da figura de fácil manipulação que se tentou esculpir antes.
As coisas estão no mundo, minha nega, só é preciso entendê-las, é Paulinho da Viola. A mídia não raramente passa batida diante das coisas que estão no mundo. Ou tenta dar a interpretação que lhe interessa sobre a realidade já que de há muito se superou a idéia de um jornalismo objetivo e imparcial por parte de nossa mídia hegemônica. Todo o esforço para separar Lula e Dilma é inútil. Parece óbvio isso. Mas, não para a mídia. Ela prossegue em sua luta para isso. Lula e Dilma, e lá vamos nós com obviedades novamente, são diferentes. Personalidades diversas. E o estilo de um e de outro naturalmente não são os mesmos. O que não se pode ignorar é que Dilma dá continuidade ao projeto político transformador iniciado com a posse de Lula em 2003. Essa é a questão essencial.
Dilma seguirá com as políticas destinadas a superar a miséria no Brasil, tal e qual o fez Lula nos seus oito anos de mandato, coisa que até os adversários reconhecem, e o fazem porque as evidências são impressionantes. Mexeu-se para melhor na vida de mais de 60 milhões de pessoas, aquelas que saíram da miséria absoluta e as que ascenderam à classe média. Agora, a presidenta pretende aprofundar esse caminho, ao situar como principal objetivo de seu mandato combater a miséria absoluta que ainda afeta tantas pessoas no Brasil. Essa é a principal marca de esquerda desse projeto: perseguir a idéia de que é possível construir, pela ação do Estado, um país mais justo, que seja capaz de estabelecer patamares dignos de existência para a maioria da população. O desenvolvimento tem como centro a distribuição de renda, e o crescimento econômico deve estar a serviço disso. Aqui se encontram Dilma e Lula. O resto é procurar pêlo em ovo.
A terrorista cantada em prosa e verso pela mídia durante a campanha virou agora a heroína dos direitos humanos, e nós saudamos a chegada da mídia na defesa dos direitos humanos quando se trata de outros países. Que maravilha, do ponto de vista de pessoas que amargaram tortura e prisão no Brasil, ver a presidenta recebendo as Mães da Praça de Maio na Argentina e se emocionando com elas. E condenando qualquer tipo de violação dos direitos humanos no mundo.
No caso da mídia, seria muito positivo que ela também apoiasse a instalação da Comissão da Verdade para apurar a impressionante violação dos direitos humanos no Brasil durante a ditadura militar. Foi Lula que encaminhou o projeto da Comissão da Verdade, apoiando proposta do então ministro Paulo Vannuchi. As últimas eleições consagraram o projeto político desse novo Brasil que começou em 2003. Dilma está sabendo honrar a confiança que foi depositada nela, uma digna sucessora de Lula.
A mídia não descansará em seus objetivos. O de agora é o de tentar desconstruir Lula, tarefa que, cá pra nós, é pra lá de inútil pela força não apenas do carisma extraordinário do ex-presidente operário, mas pelo significado real das políticas que ele conseguiu levar a cabo, mudando o Brasil pra valer. Com esse objetivo, a desconstrução de Lula, elogia Dilma e destrata Lula. Este, naturalmente, não está nem aí. Sabe que a mídia hegemônica nunca gostou dele, nunca vai gostar. Ele é uma afronta às classes conservadoras, às quais a mídia hegemônica pertence. A existência dele como o mais extraordinário presidente de nossa história afronta a consciência conservadora. Ele seguirá seu caminho de militante político, cujos compromissos políticos sempre estiveram vinculados ao povo brasileiro, às classes trabalhadoras de modo especial, às multidões.
O segundo passo, mesmo que não consiga nada com o primeiro, que seria desconstruir Lula, será o de vir pra cima da presidenta, que ninguém se engane. Nós não temos o direito de nos iludir. As classes conservadoras mais retrógradas não podem aceitar um projeto como este que vem sendo levado a cabo desde 2003, quando Lula assumiu. A mídia hegemônica integra as classes conservadoras, é a intérprete mais fiel delas. Por isso, não cabe a ninguém morder essa isca. As diferenças de estilo entre Lula e Dilma são positivas. E é evidente que uma nova conjuntura, inclusive no plano mundial, reclama medidas diferentes, embora, como óbvio para quem quer enxergar as coisas, dentro de um mesmo projeto global de mudanças do País, sobretudo com a mesma idéia central de acabar com a miséria extrema em nossa terra. O povo brasileiro sabe o quanto recolheu de positivo do governo Lula. E tem consciência de que estamos no mesmo rumo sob a direção da presidenta Dilma. Viva Lula. Viva Dilma.
* Emiliano José é jornalista, escritor, deputado federal (PT/BA).
Antes que fossem concluídos os 30 dias do governo Dilma, estabeleceu-se, em alguns órgãos da mídia hegemônica, um curioso debate em torno da personalidade da presidenta, descoberta agora como uma mulher decidida, capaz, com um estilo próprio, e simultaneamente, o discurso de que ela rompia com o estilo Lula, e que isso seria muito positivo. Deixava sempre trair o profundo preconceito contra Lula, pela comparação entre uma presidenta letrada (que cumprimenta em inglês a secretária Hillary Clinton…) e o outro, com seu português, essa língua desprezível. Não se sabe se seriam esquizofrenias da mídia hegemônica, ou táticas confluentes destinadas a diminuir o extraordinário legado do presidente-operário e a camuflar a continuidade de um mesmo projeto político.
Não custa tentar avaliar essa operação. Durante a campanha, a mídia seguiu a orientação de que Dilma era uma teleguiada, incapaz de pensar por conta própria. No governo, como era inexperiente, seria manipulada por Lula. Bem, ocorre que foi eleita. O que fazer diante da esfinge? Nos primeiros momentos, cobra que ela fale o tanto que Lula falava. Dilma, que tem estilo próprio, ao contrário do que a mídia dizia, seguia adiante, sem subordinar-se às cobranças. Toca o governo com toda firmeza, que é o que importa. Não se rende às expectativas midiáticas, sinal de uma personalidade forte, muito distante da figura de fácil manipulação que se tentou esculpir antes.
As coisas estão no mundo, minha nega, só é preciso entendê-las, é Paulinho da Viola. A mídia não raramente passa batida diante das coisas que estão no mundo. Ou tenta dar a interpretação que lhe interessa sobre a realidade já que de há muito se superou a idéia de um jornalismo objetivo e imparcial por parte de nossa mídia hegemônica. Todo o esforço para separar Lula e Dilma é inútil. Parece óbvio isso. Mas, não para a mídia. Ela prossegue em sua luta para isso. Lula e Dilma, e lá vamos nós com obviedades novamente, são diferentes. Personalidades diversas. E o estilo de um e de outro naturalmente não são os mesmos. O que não se pode ignorar é que Dilma dá continuidade ao projeto político transformador iniciado com a posse de Lula em 2003. Essa é a questão essencial.
Dilma seguirá com as políticas destinadas a superar a miséria no Brasil, tal e qual o fez Lula nos seus oito anos de mandato, coisa que até os adversários reconhecem, e o fazem porque as evidências são impressionantes. Mexeu-se para melhor na vida de mais de 60 milhões de pessoas, aquelas que saíram da miséria absoluta e as que ascenderam à classe média. Agora, a presidenta pretende aprofundar esse caminho, ao situar como principal objetivo de seu mandato combater a miséria absoluta que ainda afeta tantas pessoas no Brasil. Essa é a principal marca de esquerda desse projeto: perseguir a idéia de que é possível construir, pela ação do Estado, um país mais justo, que seja capaz de estabelecer patamares dignos de existência para a maioria da população. O desenvolvimento tem como centro a distribuição de renda, e o crescimento econômico deve estar a serviço disso. Aqui se encontram Dilma e Lula. O resto é procurar pêlo em ovo.
A terrorista cantada em prosa e verso pela mídia durante a campanha virou agora a heroína dos direitos humanos, e nós saudamos a chegada da mídia na defesa dos direitos humanos quando se trata de outros países. Que maravilha, do ponto de vista de pessoas que amargaram tortura e prisão no Brasil, ver a presidenta recebendo as Mães da Praça de Maio na Argentina e se emocionando com elas. E condenando qualquer tipo de violação dos direitos humanos no mundo.
No caso da mídia, seria muito positivo que ela também apoiasse a instalação da Comissão da Verdade para apurar a impressionante violação dos direitos humanos no Brasil durante a ditadura militar. Foi Lula que encaminhou o projeto da Comissão da Verdade, apoiando proposta do então ministro Paulo Vannuchi. As últimas eleições consagraram o projeto político desse novo Brasil que começou em 2003. Dilma está sabendo honrar a confiança que foi depositada nela, uma digna sucessora de Lula.
A mídia não descansará em seus objetivos. O de agora é o de tentar desconstruir Lula, tarefa que, cá pra nós, é pra lá de inútil pela força não apenas do carisma extraordinário do ex-presidente operário, mas pelo significado real das políticas que ele conseguiu levar a cabo, mudando o Brasil pra valer. Com esse objetivo, a desconstrução de Lula, elogia Dilma e destrata Lula. Este, naturalmente, não está nem aí. Sabe que a mídia hegemônica nunca gostou dele, nunca vai gostar. Ele é uma afronta às classes conservadoras, às quais a mídia hegemônica pertence. A existência dele como o mais extraordinário presidente de nossa história afronta a consciência conservadora. Ele seguirá seu caminho de militante político, cujos compromissos políticos sempre estiveram vinculados ao povo brasileiro, às classes trabalhadoras de modo especial, às multidões.
O segundo passo, mesmo que não consiga nada com o primeiro, que seria desconstruir Lula, será o de vir pra cima da presidenta, que ninguém se engane. Nós não temos o direito de nos iludir. As classes conservadoras mais retrógradas não podem aceitar um projeto como este que vem sendo levado a cabo desde 2003, quando Lula assumiu. A mídia hegemônica integra as classes conservadoras, é a intérprete mais fiel delas. Por isso, não cabe a ninguém morder essa isca. As diferenças de estilo entre Lula e Dilma são positivas. E é evidente que uma nova conjuntura, inclusive no plano mundial, reclama medidas diferentes, embora, como óbvio para quem quer enxergar as coisas, dentro de um mesmo projeto global de mudanças do País, sobretudo com a mesma idéia central de acabar com a miséria extrema em nossa terra. O povo brasileiro sabe o quanto recolheu de positivo do governo Lula. E tem consciência de que estamos no mesmo rumo sob a direção da presidenta Dilma. Viva Lula. Viva Dilma.
* Emiliano José é jornalista, escritor, deputado federal (PT/BA).