quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Clarín e o "câncer" de Cristina

Por Francisco Luque, de Buenos Aires, no sítio Carta Maior:

Após a exitosa operação que descartou o diagnóstico de câncer de tireoide em Cristina Fernández de Kirchner, o jornal Clarín vem insistindo em colocar em dúvida a transparência e veracidade dos informes médicos da presidenta argentina. “Só falta o Clarín lamentar o fato de a presidenta não ter câncer”, disse o secretário-geral da Presidência, Oscar Parrillo, em entrevista de rádio.



Em sua edição do último domingo, o Clarín fez um extenso informe onde põe em dúvida o conteúdo dos estudos histopatológicos e o rigor do Centro Diagnóstico Maipú, lugar desde onde se divulgou o primeiro estudo realizado pela presidenta Cristina Fernández e que revelou a presença de células cancerígenas. Os dardos do Clarín também foram dirigidos contra a Unidade Médica Presidencial. Para o governo argentino esta é mais uma das jogadas executadas pelo grupo midiático com quem está se enfrentando há algum tempo.

Cristina Fernández foi operada no dia 5 de janeiro no Hospital Austral de Buenos Aires, com o objetivo de extrair a glândula tireoide, que estaria afetada por um tumor maligno. Após a operação e os exames laboratoriais, concluiu-se que o tumor não apresentava características cancerígenas.

Para Parrilli, o Clarín “ultrapassou todos os limites éticos e morais, ao tentar mudar a realidade, mentir, tergiversar e difamar”. Ele acusou o jornal de ter “iniciado uma loucura” após saber que a presidenta tinha um tumor benigno e não cancerígeno, como havia sido anunciado antes da operação. “Olhem a manchete de ontem, quase dizendo “que lástima, não era câncer”. Hoje estão vendo se colocam a culpa no governo, que mente, informa mal...”, respondeu. Se não tivéssemos tornado tudo público, desde o início, o que teriam dito? – perguntou, referindo-se ao Clarín.

A Unidade Médica Presidencial também se manifestou e assinalou em um comunicado que “diante das mal intencionadas publicações do diário Clarín, de domingo, em suas páginas 3 e 4, colocando em dúvida o conteúdo dos estudos histopatológicos do Centro de Diagnóstico Maipú, nos vemos na obrigação de divulgar o diagnóstico feito em 22 de dezembro de 2011, tal qual foi comunicado cinco dias mais tarde na Casa de Governo e que resultou na intervenção cirúrgica na chefe de Estado”.

Este diagnóstico do centro mencionado foi subscrito por dois médicos especialistas. O informe não questiona o profissionalismo dos especialistas, já que os resultados estão contemplados dentro dos 2% das estatísticas sob a denominação de “falso positivo” e que só pode se verificar uma vez realizada a intervenção cirúrgica e extraído o órgão afetado, assinala o comunicado. A unidade médica afirmou ainda que absolutamente tudo que ocorreu foi tornado público. “É um fato médico que ocorre em 2% dos casos. Ela é o 100% desses 2% e isso tem que nos alegrar”.

O diretor do Centro de Diagnóstico Maipú, Jorge Carrascosa, defendeu a trajetória do estabelecimento após o comunicado da Unidade Médico Presidencial onde divulgaram o primeiro estudo realizado na presidenta Cristina Kirchner, e afirmou que nessa instituição é “a primeira vez” que ocorre um diagnóstico de “falso positivo”. “Nunca tivermos um falso positivo, é a primeira vez que isso nos ocorre”, disse Carrascosa, acrescentando que a clínica foi uma das primeiras na Argentina a realizar esse tipo de estudo.

Para Parrili, o Clarín agora quer jogar a culpa na medicina argentina. “Não tem cara para defender abertamente seus interesses nefastos. Todos os informes divulgados sobre a saúde da presidenta demonstraram que a comunicação foi correta e que a intenção de macular o trabalho dos médicos que cuidaram dela veio das mãos do Clarín”.

A presidenta não tem câncer, mas para o Clarín isso não basta. Doente ou não, algo estaria sendo ocultado. Isso ficou demonstrado com a intervenção do jornalista Nelson Castro, funcionário do Clarín, em programas de rádio e televisão, que apresentou detalhes que teriam sido revelados por fontes em off de suspeitos “arranjos obscuros” por parte da Unidade Médica Presidencial. Segundo ele disse em seu programa na rádio Mitre, “houve uma médica que observou a pela e disse mais ou menos o seguinte: eu não teria sido tão contundente, não fica tão claro que se trata de um carcinoma papilar. Eu teria utilizado a palavra neoplasia. E não teria definido se é benigno ou maligno”. Quem é a especialista em questão. Ninguém sabe.

Segundo o jornalista do Grupo Clarín, “isso é o que ocorreu, a realidade dos fatos que aconteceram. É um papelão para a medicina argentina. Não tem tanto a ver com o diagnóstico do Centro Maipú, que teria dito ‘compatível’, deixando aberta a possibilidade da dúvida. Tem a ver com a administração equivocada da Unidade Médica Presidencial do tema comunicacional, porque se agiu sob o signo do medo”.

“Depois do que fizeram, não acredito em nada que venha da Unidade Médica Presidencial. Digo isso com muita dor porque há médicos respeitáveis. Acredito em quem me deu uma versão muito fidedigna”, concluiu o jornalista, ferrenho opositor do governo de Cristina Fernández.

* Tradução de Marco Aurélio Weissheimer

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