Valter Campanato/ABr |
1- O Fórum Social em Porto Alegre
Durante 5 dias centenas de militantes sociais, entidades e intelectuais se reuniram em Porto Alegre para realizar diversos debates e convergências de diálogos sobre a crise capitalista mundial e suas conseqüências no meio ambiente e nas populações.
O evento realizado entre 24 e 29 de janeiro não teve o mesmo glamour e nem a massifividade de outras ocasiões. Não era um fórum mundial, era apenas um fórum internacional, temático, com foco na crise e meio ambiente. Por isso a participação foi mais militante e representativa. Houve dezenas de reuniões, oficinas, seminários e debates, entre as mais diferentes redes internacionais e articulações sociais. Daí sua importância, de continuar sendo um espaço de exposições de idéias, de debates e diálogos entre diferentes entidades e visões de mundo.
2- A unidade na análise da conjuntura
O resultado desses diálogos é que se produziu uma profunda coincidência de analises e avaliações, entre os mais diferentes movimentos sociais presentes (do Brasil e da América Latina, alguns europeus), intelectuais comprometidos com o povo, entidades da sociedade civil e militantes anônimos, porém muito combativos.
Todos concordaram que estamos no inicio de uma crise, prolongada, que é estrutural do capitalismo, agora globalizado, capitaneado pelo capital financeiro e suas corporações transnacionais. Que os estados nacionais e seus governos estão à mercê dos interesses do grande capital, e de certa forma de mãos amarradas para tomar medidas efetivas que pudessem resolver a crise, sem afetar os trabalhadores.
Todos concordaram que diante da crise, as grandes empresas capitalistas, seus bancos e corporações e seus governos nacionais, se movem e estão atodanto as seguintes estratégias:
a) Utilizar os recursos públicos em seu proveito e assim amenizar a crise;
b) Provocar conflitos bélicos regionais, para gerar demandas ao complexo industrial-militar;
c) Reprimir possíveis mobilizações populares, como vem sendo feito em todos paises aonde há mobilizações, inclusive nos Estados Unidos e Europa;
d) Se apropriar dos recursos naturais, privatizando-os para as empresas, como forma de transformar o capital fictício em patrimônio, bens efetivos, e assim na próxima etapa os transformam em lucros extraordinários;
e) Transformar os países do hemisfério sul em meros exportadores de matérias primas para suas necessidades;
f) Aumentar o desemprego no hemisfério norte, sobretudo entre jovens e os trabalhadores das industrias;
g) Que podem usar a conferencia da Rio+ 20, como teatro internacional para dizer que estão interessados na sustentabilidade e criar um novo marco legal, que lhes dê credibilidade para se apropriarem dos recursos naturais, naquilo que se tem chamado de "economia verde", e seguir acumulando lucros, com colorido verde;
3. As propostas unitárias para enfrentar a crise
Diante dessa situação, realizou-se em Porto alegre, como ultima atividade do Fórum, uma importante assembléia internacional de movimentos sociais, que produziu um documento de analise e selou um acordo unitário, entre todas as iniciativas, para:
a) Denunciar os estados e governos que estão operando apenas em favor do capital;
b) Denunciar essa máscara de economia verde, como engôdo para esconder a verdadeira causa dos problemas ambientais que se reproduzem em todo mundo;
c) Ter claro que os principais inimigos do povo nessa etapa do capitalismo, são o capital financeiro, as empresas transnacionais, e os processos de militarização e repressão que ocorrem nos país;
d) Lutar por uma democracia verdadeira, que supere a mera representatividade formal, a manipulação que os capitalistas estão operando em relação aos governos e construa novas formas de participação popular nos destinos dos países;
e) Esforçar-se para realizar grandes mobilizações de massa em todos os paises, contra os inimigos comuns, única forma de podermos alterar a correlação de forças atuais;
f) Defender os recursos naturais de nossos países, como questão de soberania nacional e popular, frente a ofensiva e apropriação privada do capital;
g) Exigir dos governos políticas publicas de proteção aos interesses da maioria da população, em especial os mais pobres e trabalhadores;
h) Realizar esforços para enfrentar o monopólio dos meios de comunicação de massa, que em todos os países manipulam as massas e distorcem as verdadieras causas da crise e suas graves conseqüências para a humanidade;
i) Redobrar os esforços para construir a unidade entre todas as forças sociais em nossos países e a nível internacional, única forma de enfrentarmos a força do capital;
j) Programar a semana de 5 junho como a grande jornada mundial, em defesa do meio ambiente e contra as empresas transnacionais;
k) Programar-se para realizar entre 18-26 de junho, no Rio de Janeiro, uma grande mobilização mundial, com acampamento permanente, realizando a cúpula dos povos, em contraposição a cúpula dos governos e do capital.
Como vêem, os espaços de Porto Alegre foram muito férteis na construção de convergência e unidade de propósitos. Agora, espera-se que todas as forças envolvidas, no Brasil, na América Latina e em todo mundo, logrem levar à prática os acordos programáticos.
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