terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O racha na “intelectualidade” tucana

Por Altamiro Borges

A divisão no bloco neoliberal-conservador no Brasil não se dá apenas por motivos pragmáticos. Não decorre somente da disputa entre os candidatos demotucanos para as próximas eleições – a municipal deste ano que pavimenta o caminho para a presidencial de 2014. O racha é muito mais profundo. Deriva da falta de projeto programático da direita, que está fraturada e sem rumo.

Prova disto é que nem a chamada intelectualidade tucana se entende mais. Nesta semana, dois artigos evidenciaram a dificuldade da oposição. No Estadão, um dos mais fanáticos intelectuais da direita nativa, o historiador Marco Antonio Villa, fez duras críticas à postura “conciliadora” do PSDB. No artigo intitulado “Oposição sem rumo”, ele manifesta o seu desejo por mais sangue!

Conclusão demolidora

O seu alvo é FHC, que em recente entrevista defendeu Aécio Neves como candidato “óbvio” da sigla. O serrista Villa avalia que esta é mais uma “análise absolutamente equivocada da conjuntura. Esse tipo de reflexão nunca foi seu forte”, ironiza o “professor”, que cita vários erros de leitura do ex-presidente – como quando ele defendeu o ingresso do PSDB no governo de Collor de Mello.

Para Villa, golpista notório, um dos erros de FHC ocorreu em 2005. “No auge da crise do mensalão, ele capitaneou o movimento que impediu a abertura de processo de impeachment contra o então presidente Lula. Espalhou aos quatro ventos que Lula já era página virada na História e que o PSDB deveria levá-lo, sangrando, às cordas, para vencê-lo facilmente no ano seguinte. Deu no que deu”.

A conclusão do historiador, que goza de amplos espaços na mídia demotucana, é demolidora e contém algumas verdades:

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A ação intempestiva e equivocada de Fernando Henrique [em defesa de Aécio] demonstra que o principal partido da oposição, o PSDB, está perdido, sem direção, não sabendo para onde ir. O partido está órfão de um ideário, de ao menos um conjunto de propostas sobre questões fundamentais do País. Projeto para o País? Bem, aí seria exigir demais. Em suma, o partido não é um partido, na acepção do termo.

Fernando Henrique falou da necessidade de alianças políticas. Está correto. Nenhum partido sobrevive sem elas. O PSDB é um bom exemplo. Está nacionalmente isolado. Por ser o maior partido oposicionista e não ter definido um rumo para a oposição, acabou estimulando um movimento de adesão ao governo. Para qualquer político fica sempre a pergunta: ser oposição para quê? Oposição precisa ter programa e perspectiva real de poder. Caso contrário, não passa de um ajuntamento de vozes proclamando críticas, como um agrupamento milenarista.

O medo de assumir uma postura oposicionista tem levado o partido à paralisia. É uma oposição medrosa, envergonhada. Como se a presidente Dilma Rousseff tivesse sido eleita com uma votação consagradora. E no primeiro turno. Ou porque a administração petista estivesse realizando um governo eficiente e moralizador. Nem uma coisa nem outra. As realizações administrativas são pífias e não passa uma semana sem uma acusação de corrupção nos altos escalões.

O silêncio, a incompetência política e a falta de combatividade estão levando à petrificação de um bloco que vai perpetuar-se no poder... Em meio a este triste panorama, não temos o contradiscurso, que existe em qualquer democracia. Ao contrário, a omissão e a falta de rumo caracterizam o PSDB... Numa democracia ninguém é líder por imposição superior. Tem de apresentar suas idéias.


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Xico Graziano fustiga o “sabichão”

Diante de críticas tão ácidas e apocalípticas, Xico Graziano, um dos principais intelectuais orgânicos do PSDB, saiu em defesa do ex-presidente e da atual direção da legenda, hoje controlada por apoiadores de Aécio Neves. Num artigo no sítio Observador Político, abrigado no Instituto FHC, ele confirmou que o ninho tucano está em chamas e que ninguém mais se respeita nem se tolera.

Conhecido por sua língua ferina – o MST é um dos principais alvos de seus textos hidrófobos –, o ex-deputado do PSDB partiu logo para o ataque, qualificando o artigo de Marco Antonio Villa de “pretensioso e equivocado”. Além de defender caninamente o ex-presidente, com que sempre “estive ao lado”, Xico Graziano manifesta apoio à entrevista de FHC sobre as eleições de 2014.

“Quero eu entender do sabichão professor: onde está escrito que é errado um partido definir um candidato com antecedência? O PT fez isso com Lula durante 16 anos, e nada indica que tenha errado na estratégia”. Em síntese, os tucanos não têm unidade nem na leitura da conjuntura política, muito menos na definição dos rumos futuros da oposição de direita no Brasil.

2 comentários:

  1. Esse Vila, é de uma vilania pequena, o que evitou o golpe foi a reação do presidente da CUT João Felicio, de parar país caos a OAB tentasse abrir um processo de impechament, claro o empresários ficaram com medo de uma greve geral. Não era por ali...Eugenio.

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  2. Quem estuda Brasil na Sorbonne acaba assim: esquece o país e não aprende as modernas técnicas de análise. Fica no limbo. Vira adepto de qualquer "teoria" passageira, tipo "neoliberalismo", "fim da história", besteiras deste tipo.
    No poder, diante da incosnsistência ideológica, dedicam-se a vender o patrimônio público pensando que isto é "inserção" no mundo. É, mas subserviente e levando ao desastre. Para fazer isso qualquer Ménem serve. Os Cavallos estão por aí, querendo entrar no governo como professores e sairem banqueiros...
    Intelectuais como Graziano e Villa prejudicam o pensamento conservador, que certamente teriam um lugar no Brasil. A extrema-direita empobrece o pensamento, e só chega ao poder pelas armas. Por odiar o povo, ela precisa oprimir, mas isso não dura muito.
    Perguntem ao Goebbels, ao Pinochet, ao Fujimori, ao Saddam, etc, etc, etc. Melhor: perguntem ao Serra.

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