Por Francisco Bicudo, em seu blog:
A história é sórdida e tem requintes de arrogância, de descompromisso com a verdade e com a precisão da informação, revelando ainda solene desprezo pelos leitores que abrem o jornal no café da manhã do domingo em busca de notícias sustentadas e bem apuradas - aquelas que, em nome do bom jornalismo, pretendem reconstruir a melhor versão possível da realidade. Pois privilegiando o marketing e a auto-promoção, a imagem e a marca, a "Folha de São Paulo" decidiu mandar às favas e jogar na lata do lixo todos esses princípios, oferecendo ao seu leitor uma "realidade paralela" - aquela que o veículo gostaria muito que existisse, mas que não encontra respaldo e sustentação em dados e fatos concretos. Trocando em miúdos: a "Folha" desrespeita a inteligência de quem a lê.
Vamos aos fatos. Já era de conhecimento público que, em 2011, o jornal que mais vendeu no Brasil foi o "Super Notícia", de Belo Horizonte. De acordo com dados consolidados pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC), oficialmente reconhecido como o responsável por fazer esse tipo de levantamento, a publicação mineira vendeu em média 300 mil exemplares diários, no ano passado. Em segundo lugar, aí sim, aparece a "Folha", com 297 mil exemplares/dia (números arredondados); em terceiro, está o "Globo" (264 mil/dia). O jornal "O Estado de São Paulo" ocupa a quarta posição, com 254 mil/dia.
Agora, a "versão" - ou melhor, a invenção. Eis que a "Folha" estampa hoje em manchete de primeira página que "Folha é líder nas edições impressa e digital, diz IVC". Fiquei intrigado. Como assim? Fui ler a "matéria", publicada pelo caderno "Mercado", página B5. O exercício discursivo, insisto, é de estarrecer. Para apresentar os seus resultados, os números que lhe são interessantes e tentar faturá-los, a "Folha" simplesmente ignora o "Super", retira arbitrariamente o jornal mineiro da relação consolidada pelo IVC e considera apenas os jornais "de prestígio, do segmento premium".
Diz o lide (abre, no jargão jornalístico) da "matéria" que "A Folha encerrou o ano de 2011 na liderança entre os jornais de prestígio do Brasil, tanto na plataforma papel como na digital. Com crescimento de 0,9% e 297 mil exemplares diários, é o único verdadeiramente nacional, com influência fora do Estado de origem".
O leitor deve avançar até o oitavo parágrafo do texto (e ler uma série de elogios ao prestígio e à suposta liderança da "Folha") para finalmente descobrir que está sendo ludibriado. Reproduzo mais uma vez a "Folha": "Quando incluídos os jornais populares, o "Super Notícia", tablóide de R$ 0,25 de Belo Horizonte, registra 300 mil exemplares na média do ano, 3.000 à frente da Folha, que tem preço de capa de R$ 3 (R$ 5 aos domingos)".
Pronto: a farsa está assumida (embora tenha sido escondida e diluída). É a "Folha" quem reconhece: o "Super" vende mais que ela. Essa é a informação que deveria ter sido estampada na capa, nos títulos e na abertura do texto. Do alto de sua soberba e brigando com os fatos, o jornal paulista se recusa a assumir que já não tem mais o prestígio e a importância que um dia talvez tenha alcançado. Ressentida, inconformada, destila ainda seu veneno para desqualificar o "Super Notícia". O que está o jornal paulista a sugerir é que "nós temos relevância; eles, não". É a arrogância de quem agoniza em praça pública.
No ensaio "Padrões de manipulação na grande imprensa", Perseu Abramo alerta para a estratégia da ocultação, "o padrão que se refere à ausência e à presença dos fatos reais na produção da imprensa. Não se trata, evidentemente, de fruto do desconhecimento, e nem mesmo de mera omissão diante do real. É, ao contrário, um deliberado silêncio militante sobre determinados fatos da realidade".
Ao tentar legislar em causa própria e construir sua lista (quem define mesmo o que é "prestígio"?), à revelia do que foi divulgado pelo IVC, a "Folha" esconde a realidade e passa longe, muito longe, das regras básicas e elementares do jornalismo - e trapaceia, desinforma o leitor. A verdade é cristalina: o jornal impresso mais vendido do Brasil em 2011 foi o "Super Notícia" (que, aliás, já liderara o ranking também em 2010). Contra fatos não há argumentos. E falta com a verdade publicamente quem sonega essa informação aos seus leitores.
A história é sórdida e tem requintes de arrogância, de descompromisso com a verdade e com a precisão da informação, revelando ainda solene desprezo pelos leitores que abrem o jornal no café da manhã do domingo em busca de notícias sustentadas e bem apuradas - aquelas que, em nome do bom jornalismo, pretendem reconstruir a melhor versão possível da realidade. Pois privilegiando o marketing e a auto-promoção, a imagem e a marca, a "Folha de São Paulo" decidiu mandar às favas e jogar na lata do lixo todos esses princípios, oferecendo ao seu leitor uma "realidade paralela" - aquela que o veículo gostaria muito que existisse, mas que não encontra respaldo e sustentação em dados e fatos concretos. Trocando em miúdos: a "Folha" desrespeita a inteligência de quem a lê.
Vamos aos fatos. Já era de conhecimento público que, em 2011, o jornal que mais vendeu no Brasil foi o "Super Notícia", de Belo Horizonte. De acordo com dados consolidados pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC), oficialmente reconhecido como o responsável por fazer esse tipo de levantamento, a publicação mineira vendeu em média 300 mil exemplares diários, no ano passado. Em segundo lugar, aí sim, aparece a "Folha", com 297 mil exemplares/dia (números arredondados); em terceiro, está o "Globo" (264 mil/dia). O jornal "O Estado de São Paulo" ocupa a quarta posição, com 254 mil/dia.
Agora, a "versão" - ou melhor, a invenção. Eis que a "Folha" estampa hoje em manchete de primeira página que "Folha é líder nas edições impressa e digital, diz IVC". Fiquei intrigado. Como assim? Fui ler a "matéria", publicada pelo caderno "Mercado", página B5. O exercício discursivo, insisto, é de estarrecer. Para apresentar os seus resultados, os números que lhe são interessantes e tentar faturá-los, a "Folha" simplesmente ignora o "Super", retira arbitrariamente o jornal mineiro da relação consolidada pelo IVC e considera apenas os jornais "de prestígio, do segmento premium".
Diz o lide (abre, no jargão jornalístico) da "matéria" que "A Folha encerrou o ano de 2011 na liderança entre os jornais de prestígio do Brasil, tanto na plataforma papel como na digital. Com crescimento de 0,9% e 297 mil exemplares diários, é o único verdadeiramente nacional, com influência fora do Estado de origem".
O leitor deve avançar até o oitavo parágrafo do texto (e ler uma série de elogios ao prestígio e à suposta liderança da "Folha") para finalmente descobrir que está sendo ludibriado. Reproduzo mais uma vez a "Folha": "Quando incluídos os jornais populares, o "Super Notícia", tablóide de R$ 0,25 de Belo Horizonte, registra 300 mil exemplares na média do ano, 3.000 à frente da Folha, que tem preço de capa de R$ 3 (R$ 5 aos domingos)".
Pronto: a farsa está assumida (embora tenha sido escondida e diluída). É a "Folha" quem reconhece: o "Super" vende mais que ela. Essa é a informação que deveria ter sido estampada na capa, nos títulos e na abertura do texto. Do alto de sua soberba e brigando com os fatos, o jornal paulista se recusa a assumir que já não tem mais o prestígio e a importância que um dia talvez tenha alcançado. Ressentida, inconformada, destila ainda seu veneno para desqualificar o "Super Notícia". O que está o jornal paulista a sugerir é que "nós temos relevância; eles, não". É a arrogância de quem agoniza em praça pública.
No ensaio "Padrões de manipulação na grande imprensa", Perseu Abramo alerta para a estratégia da ocultação, "o padrão que se refere à ausência e à presença dos fatos reais na produção da imprensa. Não se trata, evidentemente, de fruto do desconhecimento, e nem mesmo de mera omissão diante do real. É, ao contrário, um deliberado silêncio militante sobre determinados fatos da realidade".
Ao tentar legislar em causa própria e construir sua lista (quem define mesmo o que é "prestígio"?), à revelia do que foi divulgado pelo IVC, a "Folha" esconde a realidade e passa longe, muito longe, das regras básicas e elementares do jornalismo - e trapaceia, desinforma o leitor. A verdade é cristalina: o jornal impresso mais vendido do Brasil em 2011 foi o "Super Notícia" (que, aliás, já liderara o ranking também em 2010). Contra fatos não há argumentos. E falta com a verdade publicamente quem sonega essa informação aos seus leitores.
"Folha", "O Globo" e "Estadão" podem não ser líderes de vendas, mas seguramente são os jornais "mais vendidos" do país.
ResponderExcluirMas, quem é que abre um jornal para ler enquanto toma o seu café da manhã? Que coisa mais antiga, né?
ResponderExcluirLucrécio dixit!
ResponderExcluirLucrécio acertou na mosca!
ResponderExcluirDois posts do Jornalismo B que, de alguma forma, complementam a reflexão sobre esse tema:
ResponderExcluirhttp://jornalismob.wordpress.com/2011/01/26/folha-nao-e-mais-o-maior-jornal-do-pais-e-dai/
e
http://jornalismob.wordpress.com/2011/08/23/cruzamento-de-dados-demonstra-blogs-comecam-a-superar-jornais/