sexta-feira, 2 de março de 2012

O segredo do poder de José Serra

Por Maria Inês Nassif, no sítio Carta Maior:

José Serra chegou tarde na disputa pela legenda do PSDB à prefeitura paulistana: antes de declarar suas intenções, foram sete meses de disputa interna entre os quatro pré-candidatos tucanos (José Anibal, Bruno Covas, Ricardo Tripoli e Andrea Matarazzo), que percorreram os 48 diretórios zonais da capital e fizeram debates regulares com filiados do partido. Mesmo que vença a disputa com os candidatos que sobraram – Bruno Covas e Andrea Matarazzo abriram mão de suas candidaturas em favor de Serra –, o ex-prefeito terá de lidar com bases políticas que, pela tradição tucana pós-Covas, estavam alijadas até agora das decisões partidárias, e pela primeira vez na última década foram chamadas a debater e decidir uma candidatura.

Os relatos dos efeitos da disputa interna sobre uma base até então desmotivada são unânimes em apontar que as prévias foram um sopro de vida num partido altamente hierarquizado e sem vida interna fora dos seus quadros institucionais. Da participação da militância, tucanos levaram também a informação de que há um desconforto explícito com o distanciamento de Serra. O cacique tucano esteve no centro da política tucana paulista praticamente por toda a última década , mas trabalhou em isolamento completo em relação ao partido. À sua volta, formou-se um partido paralelo, o dos “serristas”, que sempre se sobrepôs e manobrou as decisões do PSDB.

O primeiro vice-presidente municipal, João Câmara, um dos que se revoltaram com as manobras feitas pelo grupo serrista na reunião da Executiva, segunda-feira, que conseguiram o adiamento da consulta, do dia 4 para o dia 25 de março, acha que Serra é a personificação do mal no partido: “O Serra historicamente é sinônimo de desagregação do PSDB nacional, estadual e municipal”, vocifera. Outro integrante do partido acha que, pior do que Serra, são os serristas. O método do grupo mantém o partido em crise permanente, para dentro, e para fora expressa “posições elitistas, antipáticas e arrogantes”, às quais atribui a rejeição enorme atingida pelo tucano nas últimas pesquisas de intenção de voto.

Serra aceitou participar das prévias porque não existia mais caminho de volta. Em outros tempos e outras circunstâncias, teria conseguido manobrar internamente para que os quatro pré-candidatos renunciassem em seu favor. E, se as mesmas bases que no processo de escolha interna reclamam da marginalização de uma militância histórica, ligada à formação do partido, consagrarem o ex-prefeito como candidato, seguramente o PT terá uma enorme contribuição nessa decisão.

No imaginário tucano, a ação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa é uma estratégia de “aniquilamento” do PSDB nacional que, se abatido em seu último reduto, São Paulo, estaria condenado ao fogo do inferno. A ameaça de que o PT use uma eventual vitória na disputa pela prefeitura da capital paulista para destruir a hegemonia tucana no Estado torna Serra, o político com mais recall do partido, uma alternativa. Numa situação de ameaça extrema, a tendência do partido, provavelmente, será a de não correr o risco de lançar um nome novo na praça, mas apostar num candidato conhecido, e torcer para que os recursos de marketing político sejam eficientes para vencer a rejeição dos eleitores.

Ainda assim, o fato de o grupo de Serra ter passado como um trator sobre uma Executiva que praticamente já tinha acordado o adiamento das prévias marcadas para o dia 4 por uma semana, obrigando-a a engolir um adiamento de pouco mais de um mês (de 4 para 25) pode ser o sinal de que o ex-prefeito não está tão seguro de que possa nadar de braçada nas prévias, sem tempo suficiente para reverter simpatias já conquistadas pelos candidatos José Anibal e Ricardo Tripoli, mesmo contando com o apoio de Bruno Covas e Andrea Matarazzo, que se retiraram da disputa. E também que o grupo do ex-prefeito sabe que não conseguirá esvaziar o processo de escolha, o que o beneficiaria.

Segundo pesquisa feita internamente pelo partido, com uma amostra de 773 dos 19.500 filiados, 89% têm a intenção de votar. Nessas eleições, se vencer as prévias, Serra estará obrigado a sorrir e cumprimentar eleitores potenciais em dose dupla: primeiro, dentro do seu partido; depois, nas ruas da maior cidade da América Latina.

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