Por Altamiro Borges
Já virou rotina. Sempre que se aproxima a comemoração do Dia
Internacional do Trabalhador, a mídia patronal publica editoriais e
“reporcagens” contra o sindicalismo. É a mesma ladainha: as leis trabalhistas
são “anacrônicas” e “engessam” o crescimento econômico, há libertinagem nas greves e o
Brasil caminha para uma “república sindicalista” – o refrão preferido dos
golpistas de 1964.
Hoje, a Folha criticou o fato das centrais sindicais receberem
patrocínios oficiais para a realização dos atos do 1º de Maio. Para a mídia
patronal, só os patrões deveriam receber recursos públicos – que proveem dos
impostos dos trabalhadores – para realizar as suas festivas atividades.
Dinheiro público para as elites empresariais, sim; para eventos dos
trabalhadores, nunca!
O falso discurso da transparência
Segundo a matéria, que parece ter sido encomendada, “o
governo federal dobrou, em três anos, o valor repassado às principais centrais [através
de um percentual da contribuição sindical], que preparam festas milionárias
para celebrar o feriado do Dia do Trabalho. O bolo destinado às centrais saltou
de R$ 62 milhões em 2008 para R$ 124 milhões no ano passado”.
A Folha garante que, “apesar da origem pública, não há
nenhuma fiscalização sobre o uso da verba”. Já que é tão transparente, o jornal bem que poderia publicar quanto recebe de publicidade oficial ou de isenções no papel
para a impressão; também poderia informar aos leitores quanta grana as empresas
e os governos destinam para financiar os seus inúmeros eventos.
Asfixiar financeiramente os sindicatos
Além de criticar os patrocínios às comemorações do Dia
Internacional dos Trabalhadores, o diário da famiglia Frias aproveita para satanizar
a contribuição sindical descontada na folha de pagamento. Para os empresários,
o sindicalismo deveria receber menos recursos. De preferência, deveria morrer à
míngua. Desta forma, não promoveria tantas lutas e greves. Não daria tanta dor de
cabeça!
Segundo a Folha, o ex-presidente Lula, que teve a sua origem
no sindicalismo, beneficiou as centrais ao garantir recursos para a sua
atuação. “Nos primeiros quatro anos da regra, as seis centrais receberam um
total de R$ 370 milhões. A exemplo do Ministério do Trabalho, todas defendem a
cobrança obrigatória, à exceção da CUT”, informa o jornal, que sempre pregou o
fim deste “privilégio”.
Restrições ao direito de greve
No mesmo rumo da satanização do sindicalismo, editorial do
Estadão de segunda-feira passada (23) criticou o aumento do poder de
mobilização dos trabalhadores do setor público. Para o jornalão da famiglia
Mesquita, que iniciou a sua trajetória publicando anúncios da venda de
escravos, o governo deveria restringir drasticamente o direito de greve do
funcionalismo.
“Números divulgados pelo Dieese chamam a atenção, mais uma
vez, para a urgência de regulamentação do direito de greve dos servidores
públicos civis. Em 2009 houve 518 greves, o maior número no país desde 1978,
com 266 no setor privado, ou 51,5% do total, número ligeiramente superior às
251 greves do setor público... Em 2010, porém, o setor público passou a liderar
em número de greves, tendo deflagrado 269 paralisações, 60% do total de 448”.
Que tal o retorno à escravidão?
Para o Estadão, estes números são absurdos. Os servidores deveriam
ser reprimidos – ou melhor, sumariamente demitidos. “Com tantas greves e horas
não trabalhadas, a máquina do governo, que não prima pela eficiência, é ainda
mais emperrada e aumentam os gastos de custeio”. O jornal da famiglia Mesquita culpa
os governos Lula/Dilma por não restringirem as greves no setor público.
Sem esconder as suas predileções partidárias, o Estadão apoia descaradamente
um projeto do senador Aloysio Nunes, do PSDB, que tramita no Congresso. “O
projeto ataca o cerne da questão, definindo com clareza serviços que não
podem ser paralisados, em hipótese alguma - abastecimento de água, fornecimento
de energia, segurança pública, defesa civil, assistência médico-hospitalar,
transporte coletivo, telecomunicações, serviços judiciários, etc”. Ou seja: quase
todos os servidores públicos!
Como se observa, a mídia patronal não tolera as lutas dos
trabalhadores. O seu desejo insaciável é para retirar direitos trabalhistas,
criminalizar as greves e asfixiar financeiramente o sindicalismo. Se pudesse,
até proibiria a comemoração do Dia Internacional dos Trabalhadores – como ocorre
nos EUA. Ou melhor: ela imporia um decreto pelo retorno da escravidão! Seria
bem mais simples.
Estimado Miro, para quem ainda tem dúvida sobre a falta de transparência de recursos passados ao patrões para a manutenção da mídia tradicional, chamada de PIG por muitos, em recente publicação do Ipea, pesquisadora e trabalhadora da administração pública fez uma levantamento sobre como o Estado "esconde" as rúbricas para publicidade. Vale a pena ler e averiguar mais: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?searchword=panorama+da+comunica%C3%A7%C3%A3o&ordering=newest&searchphrase=all&limit=20&option=com_search
ResponderExcluirPor que os patrões não defendem o fim do imposto patronal, que também é porbigatório? Principalemnte dos pequenos e médios empregados/empreendedores/terceirizados desprovidos de sua condição de empregados CLT, e que constituem a grande massa de mantenedores do sistema sindical patronal?
Aloysio já começa sua carreira política em cargo de maior relevância sujando sua biografia.É mais um anacrônico que não percebe o tempo. Vai acabar igual a seu padrinho Çerra, para nosso alívio.
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