Por Flavio Aguiar, na Rede Brasil Atual:
E la nave va. Ou melhor, não vai: fica.
Depois de um breve intermezzo graças ao trilhão de euros que o Banco Central Europeu injetou no sistema bancário e financeiro do continente, a crise bateu às portas de novo, se é que saiu um dia. As letras espanholas estão custando bem mais caro do que antes para serem renovadas (6% para letras de dez anos, sendo que 7% é considerado o limite vermelho). Na Itália cresce a oposição ao plano de "austeridade" de Mario Monti enquanto sua margem de manobra diminui. Greves sacodem Portugal, Grécia, Espanha, França e arredores – neste último país as chances de Nicolas Sarkozy vencer a eleição permanecem remotas, enquanto na Grécia se anunciam eleições para maio com um resultado incerto.
Nos últimos dias um frenesi de vendas se abateu sobre as bolsas européias, todos tentando se desfazer das letras espanholas e italianas, por acreditarem que um "bailout" – a ajuda financeira que sufoca as economias – será inevitável, sendo uma questão de tempo.
O governo de Mariano Rajoy anuncia medidas que aprofundarão a recessão, num país que já tem 24% de desemprego entre a população economicamente ativa e quase 50% entre os jovens até 25 anos. É a saída suicida em operação. Um dado preocupante: na França, a candidata Marine Le Pen, de extrema direita, lidera entre os jovens de 18 a 24 anos.
Mas a criatividade humana não tem limites. Na Espanha, o prefeito da cidade catalã de Rasquera, com 900 habitantes, propôs utilizar as terras do município para o plantio de cannabis, a popular maconha, ao lado das tradicionais azeitonas e da criação de cabras. O plano é ambicioso: produziria 40 novos postos de trabalho e renderia aos cofres municipais a bagatela de 1,3 milhão de euros em 2 anos. A dívida municipal seria simplesmente zerada nesse período, permitindo novos investimentos.
Entretanto o plano ainda não vingou. Realizou-se um plebiscito, e o prefeito declarou que só o levaria adiante com 75% de aprovação. Deram 56% de "sim" ao ousado plano. Criou-se um impasse: o plano foi aprovado, mas não obteve o desejado "quorum". O prefeito vai repensar. Enquanto isso, as autoridades catalãs, judiciárias e a polícia se mobilizaram contra o plano, alegando sua ilegalidade. Ocorre que na Espanha não é ilegal plantar cannabis para consumo privado, mesmo coletivo. Entretanto o que assusta no caso do plano de Rasquera é seu tamanho, inédito na história do país – pelo menos em se tratando de plantios legais.
Outra saída "criativa" – mas que desta vez beira também o suicídio – foi anunciada na Grécia, pelo jornal Proto Thema. Diz o jornal que o governo grego passará a "alugar" serviços e recursos de sua polícia, como meio de obter verbas de manutenção e investimento, para empresas e pessoas físicas privadas. Um helicóptero custará 1.500 euros a hora, enquanto uma lancha de patrulha valerá 200 (e a Grécia tem uma infinidade de ilhas tradicionalmente repletas de turistas). Um policial custará 30 euros a hora; 40, se com ele for um carro.
Não se sabe ainda a dimensão da proposta. O pior dela, em todo caso, é que ela pode pegar –inclusive em nossa terra – onde não faltarão privatistas que a defendam.
E la nave va. Ou melhor, não vai: fica.
Depois de um breve intermezzo graças ao trilhão de euros que o Banco Central Europeu injetou no sistema bancário e financeiro do continente, a crise bateu às portas de novo, se é que saiu um dia. As letras espanholas estão custando bem mais caro do que antes para serem renovadas (6% para letras de dez anos, sendo que 7% é considerado o limite vermelho). Na Itália cresce a oposição ao plano de "austeridade" de Mario Monti enquanto sua margem de manobra diminui. Greves sacodem Portugal, Grécia, Espanha, França e arredores – neste último país as chances de Nicolas Sarkozy vencer a eleição permanecem remotas, enquanto na Grécia se anunciam eleições para maio com um resultado incerto.
Nos últimos dias um frenesi de vendas se abateu sobre as bolsas européias, todos tentando se desfazer das letras espanholas e italianas, por acreditarem que um "bailout" – a ajuda financeira que sufoca as economias – será inevitável, sendo uma questão de tempo.
O governo de Mariano Rajoy anuncia medidas que aprofundarão a recessão, num país que já tem 24% de desemprego entre a população economicamente ativa e quase 50% entre os jovens até 25 anos. É a saída suicida em operação. Um dado preocupante: na França, a candidata Marine Le Pen, de extrema direita, lidera entre os jovens de 18 a 24 anos.
Mas a criatividade humana não tem limites. Na Espanha, o prefeito da cidade catalã de Rasquera, com 900 habitantes, propôs utilizar as terras do município para o plantio de cannabis, a popular maconha, ao lado das tradicionais azeitonas e da criação de cabras. O plano é ambicioso: produziria 40 novos postos de trabalho e renderia aos cofres municipais a bagatela de 1,3 milhão de euros em 2 anos. A dívida municipal seria simplesmente zerada nesse período, permitindo novos investimentos.
Entretanto o plano ainda não vingou. Realizou-se um plebiscito, e o prefeito declarou que só o levaria adiante com 75% de aprovação. Deram 56% de "sim" ao ousado plano. Criou-se um impasse: o plano foi aprovado, mas não obteve o desejado "quorum". O prefeito vai repensar. Enquanto isso, as autoridades catalãs, judiciárias e a polícia se mobilizaram contra o plano, alegando sua ilegalidade. Ocorre que na Espanha não é ilegal plantar cannabis para consumo privado, mesmo coletivo. Entretanto o que assusta no caso do plano de Rasquera é seu tamanho, inédito na história do país – pelo menos em se tratando de plantios legais.
Outra saída "criativa" – mas que desta vez beira também o suicídio – foi anunciada na Grécia, pelo jornal Proto Thema. Diz o jornal que o governo grego passará a "alugar" serviços e recursos de sua polícia, como meio de obter verbas de manutenção e investimento, para empresas e pessoas físicas privadas. Um helicóptero custará 1.500 euros a hora, enquanto uma lancha de patrulha valerá 200 (e a Grécia tem uma infinidade de ilhas tradicionalmente repletas de turistas). Um policial custará 30 euros a hora; 40, se com ele for um carro.
Não se sabe ainda a dimensão da proposta. O pior dela, em todo caso, é que ela pode pegar –inclusive em nossa terra – onde não faltarão privatistas que a defendam.
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