quarta-feira, 9 de maio de 2012

Banqueiros provocam e Dilma reage

Por Altamiro Borges

Os banqueiros até agora não engoliram a investida do governo federal para reduzir as taxas de juros e para enfrentar a “lógica perversa” da agiotagem financeira, como afirmou a presidente Dilma Rousseff na véspera das comemorações do 1º de Maio. No início desta semana, a prepotente Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) divulgou um relatório com ares de pura provocação.


O relatório, assinado pelo economista-chefe da entidade, Rubens Sardenberg, questionava a eficácia das medidas do governo para reduzir os juros e elevar o crédito. Num dos trechos, ele era irônico e desafiava: “Você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não pode obrigá-lo a beber água”, deixando explícito que os banqueiros não se curvariam diante das pressões do governo federal.

"Cavalo pode morrer de sede"

Segundo o noticiário, Dilma Rousseff não gostou nem um pouco do teor arrogante do documento. “Um interlocutor próximo da presidente rebateu a declaração de Sardenberg, dizendo que ‘o cavalo poderia morrer de sede’”, informou o jornal O Globo. Diante desta ameaça nada velada, a Febraban recuou rapidinho e desautorizou o seu próprio relatório. Ainda segundo o jornal rentista:

“O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, telefonou para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentando contornar a reação negativa que o relatório provocara e reafirmou a disposição de colaborar no esforço para a ampliação do crédito e o crescimento econômico... Diante da irritação de Dilma e seguindo sua orientação, Mantega avisou ao banqueiro que a retratação teria de ser pública, assim como foi a divulgação do relatório, e deu um prazo até o fim da tarde para a Febraban manifestar-se”.

O desgaste dos agiotas

No final da tarde de ontem (8), a entidade colocou o rabinho entre as pernas e divulgou nota oficial desautorizando o relatório. Segundo ela, os dados e análises apresentados no documento “não podem ser interpretados como um posicionamento oficial da entidade ou de seus associados”. Este foi o segundo recuo explícito dos banqueiros, que temem o desgaste junto à sociedade.

Logo que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal cortaram as suas taxas de juros, o presidente da Febraban, Murilo Portugal, saiu atirando no governo federal. Mas ele teve que engolir a língua e foi afastado das negociações. Agora, um relatório oficial é jogando na lata de lixo. Não dá mesmo para passar a mão na cabeça dos banqueiros, que se consideram deuses e adoram relinchar.

Mídia associada aos banqueiros

Nesta batalha titânica, a presidenta Dilma conta com o apoio dos trabalhadores e dos setores produtivos, aviltados pela roubalheira dos banqueiros no Brasil. Ela não conta, óbvio, com o respaldo dos bancos, que serão obrigados a conter a sua gula. Além disso, ela é obrigada a enfrentar as manipulações dos monopólios midiáticos, associados à ditadura da capital financeiro.

Em sua coluna ontem, a “urubóloga” Míriam Leitão até tentou defender a Febraban. “Reduzir o custo do crédito bancário é bom; as pessoas, no entanto, não podem se endividar mais apenas porque o ministro da Fazenda quer isso”. Desavisada, ela saudou o relatório, afirmando que ele “faz sentido”. Pouco depois, a própria entidade recuou e deixou a colunista pendurada na brocha.

4 comentários:

  1. E no Globo (ah, sempre o Globo), um editorial que deixa bem claro de que lado o grupo sempre esteve. Eles tem o topete de dizer que a questão dos juros é puramente "técnica", e não política. Logo em seguida criticam Dilma por ter incluído o assunto no pronunciamento de 01 de Maio, como se quisessem pautar até os discursos da presidenta. O próprio título já denuncia o que vem:

    Falta racionalidade na questão dos juros

    Uma questão de fundo técnico, a formação das taxas de juros no mercado, resvala para um embate político entre governo e bancos, inclusive com arroubos mais adequados a palanques eleitorais.
    Não se tinha notícia, antes do último Primeiro de Maio, de o tema frequentar discurso presidencial no Dia do Trabalhador. Pois aconteceu, com a presidente Dilma, em cadeia nacional, acusando a “lógica perversa” do sistema financeiro nacional, por não acompanhar em seus guichês a proporção da queda da taxa de juros básica (Selic).
    O problema existe e se deve aos elevados spreads praticados pelos bancos no Brasil — a diferença entre quanto a instituição financeira remunera o investidor ao captar dinheiro e os juros cobrados, na outra ponta, ao tomador de empréstimo. A distorção gera desalinhamentos escandalosos: enquanto a inflação anual é menos de 6% e a Selic se encontra em 9%, há modalidades de crédito que subtraem do orçamento do credor mais de 10% ao mês — se ele estiver financiando compras pelo cartão de crédito, por exemplo.
    Convertida a questão dos juros em algo como uma cruzada — o que não é mau, a depender das armas utilizadas —, o governo acionou os dois grandes bancos estatais com atuação no varejo, BB e Caixa, para cortar spreads e jogar taxas para baixo. Bom estímulo à competição, embora a tal portabilidade entre bancos seja pouco usada pela clientela.
    Está no campo de ação da presidente mandar os bancos oficiais reduzir custos de crédito. Mas, se isso gerar prejuízos às instituições oficiais, a conta deverá ser paga, em algum momento, pelo contribuinte, por meio de aportes de capital do Tesouro ao BB e à CEF. Isso já ocorre na injeção de recursos no BNDES pela perigosa via da ampliação do endividamento público.
    Os bancos alegam, com razão, haver obstáculos concretos para a aceleração da queda das taxas efetivas. É preciso compensar a inadimplência, por exemplo. A presidente diz, também com razão, que o Brasil precisa ter juros nos níveis internacionais. Mas, ao contrário do mundo exterior, só no Brasil existe a exigência de os bancos manterem volumosos depósitos no BC e uma carga tributária pesada sobre transações financeiras.
    Há, ainda, no sistema financeiro uma grande parcela de crédito subsidiado — BNDES, agrícola etc. —, que não só reduz a eficácia da política monetária (juros) como trava a oferta, em mais um fator de manutenção de taxas elevadas no mercado.
    O assunto é complexo e não poderá ser resolvido “no grito”. Não são boas as relações entre o governo e os bancos, representados pela Febraban. Mas a troca de frases cáusticas de lado a lado nada produz de objetivo.
    Ganhariam todos se medidas concretas fossem tomadas para eliminar os obstáculos à queda dos spreads e houvesse ações para estimular a concorrência no setor bancário, atividade muito concentrada (80% do mercado estão com dez grupos).
    O Planalto pode aumentar ainda mais a popularidade numa “guerra” contra os bancos auxiliado por marqueteiros. Mas será inócuo. Apenas repetirá o equívoco observado em certos países latino-americanos em que assuntos intrincados são tratados em meio a jargões inflamados em praça pública.

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  2. A atual crise do capitalismo é, na verdade, uma crise dos bancos, que fingem produzir dinheiro a partir do nada. Sou pela estatização de todo o sistema bancário, pois ele é estratégico para as nações, não podendo ser deixado na mão de meia-dúzia da banqueiros gananciosos.

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  3. A urubóloga é aquela que previu 12 das duas últimas crises...

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  4. É chegada a hora de nós, trabalhadores (e aposentados), participaramos desta luta, mudando nossa conta bancaria para o banco menos ganancioso do momento. Isto sinalizaria para os bancos que reduzir os juros é tambem uma questão de sobrevivencia (para eles)

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