Por Najla Passos, no sítio Carta Maior:
A cobertura equivocada da mídia brasileira, centrada em impasses pontuais, consolida uma visão negativa do Mercosul, que só interessa aos países mais industrializados. “Há uma campanha permanente na imprensa que menciona que o Mercosul não funciona, que ele cria problemas. É uma campanha permanente, porque os países grandes não querem um Mercosul forte”, afirmou o alto representante geral do Mercosul, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, na primeira audiência pública preparatória para o seminário “Crise, estado e desenvolvimento: desafios e perspectivas para a América do Sul”, nesta sexta (18), no Senado.
De acordo com ele, essa campanha pressupõe relações complexas, que resvalam no comprometimento da imprensa brasileira com os interesses das grandes multinacionais, oriundas dos países exportadores. “Quando um país do Mercosul exporta mais do outro, isso prejudica a economia do segundo e, consequentemente, gera insatisfações. E os noticiários acabam dando ênfase apenas a essas discussões pontuais, que consolidam a visão negativa do Mercosul, tão prejudicial ao países membros”, explicou à Carta Maior.
O embaixador avalia que o fortalecimento do Mecosul não interessa aos países industrializados porque, para que eles obtenham mais vantagens nas relações comerciais com a América Latina, “é melhor negociar com cada país isoladamente”. Entretanto, Guimarães acredita que o bloco é o principal instrumento para que seus membros (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) possam enfrentar o atual cenário de crise e de transferência do poderia capitalista do norte para a China, mantendo o crescimento da economia e da melhoria das condições de vida das suas populações.
Guimarães explicou que, ao contrário da Comunidade Comum Europeia, o Mercosul nada mais é do que uma reunião aduaneira, que possibilita aos países do bloco adotarem a mesma tarifa para importação de produtos, fortalecendo as relações comerciais entre eles e com os demais países. Por isso, não está sujeito à instabilidade em que vive hoje a União Europeia, cujos membros abriram mão até mesmo de possuir uma moeda própria. Conforme ele, o Mercosul não implica no enfraquecimento das estados.
Ele defendeu, inclusive, o ingresso da Venezuela como país membro. E esclareceu que só não há esforços para que haja, também, a adesão de outros países, porque os demais assinaram acordos com os Estados Unidos que os obrigam a reduzir a zero à tarifa de importação. No Mercosul, essa tarifa, hoje, é de 10%, mas tende a ser elevada para combater a importação excessiva dos produtos industrializados chineses.
O jornalista Mauro Santayana, colunista da Carta Maior, defendeu o fator cultural como instrumento primordial para garantir, de fato, a integração da América Latina. “Precisamos construir a unidade latino-americana. E o instrumento para isso é o Mercosul. Mas só poderemos ter uma unidade econômica quando tivermos uma cultural. Esta é a grande falha da nossa ação”, afirmou. Segundo ele, hoje, essa unidade cultural está restrita aos círculos intelectuais, a alguns blocos empresariais, mas ainda não atinge o povo.
O jornalista defendeu, ainda, que o Brasil assuma o protagonismo neste processo de integração, adotando uma postura humilde e sendo “o mais tolerante, o mais condescendente, o que mais aceita desaforo”. “Poderoso é aquele que tem o direito de parecer fraco”, afirmou.
O ex-presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, observou que o mundo passa por uma crise sistêmica, que cria oportunidades para a América Latina, mas também temores. “Embarcamos no discurso da globalização de forma absolutamente temerária. Abrimos mão de todos os instrumentos de salvaguarda nacionais e, hoje, temos um sistema financeiro que é apêndice do que acontece lá fora”, justificou.
Para ele, que centrou sua palestra na discussão sobre a crise econômica, o fortalecimento dos estados é a única alternativa. “Fora do estado não há solução. Não quero fazer uma ‘estadolatria’. Mas o estado, em última instancia, somos todos nós. Com uma crise dessas proporções, cada sociedade tem que estar coesa para sobreviver. E esta coesão só é possível com o Estado, por meio de um projeto nacional”, comentou.
O seminário “Crise, Estado e Desenvolvimento: Desafios e perspectivas para a América do Sul”, promovido pela Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, será realizado no Rio de Janeiro, em 25 de junho.
A cobertura equivocada da mídia brasileira, centrada em impasses pontuais, consolida uma visão negativa do Mercosul, que só interessa aos países mais industrializados. “Há uma campanha permanente na imprensa que menciona que o Mercosul não funciona, que ele cria problemas. É uma campanha permanente, porque os países grandes não querem um Mercosul forte”, afirmou o alto representante geral do Mercosul, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, na primeira audiência pública preparatória para o seminário “Crise, estado e desenvolvimento: desafios e perspectivas para a América do Sul”, nesta sexta (18), no Senado.
De acordo com ele, essa campanha pressupõe relações complexas, que resvalam no comprometimento da imprensa brasileira com os interesses das grandes multinacionais, oriundas dos países exportadores. “Quando um país do Mercosul exporta mais do outro, isso prejudica a economia do segundo e, consequentemente, gera insatisfações. E os noticiários acabam dando ênfase apenas a essas discussões pontuais, que consolidam a visão negativa do Mercosul, tão prejudicial ao países membros”, explicou à Carta Maior.
O embaixador avalia que o fortalecimento do Mecosul não interessa aos países industrializados porque, para que eles obtenham mais vantagens nas relações comerciais com a América Latina, “é melhor negociar com cada país isoladamente”. Entretanto, Guimarães acredita que o bloco é o principal instrumento para que seus membros (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) possam enfrentar o atual cenário de crise e de transferência do poderia capitalista do norte para a China, mantendo o crescimento da economia e da melhoria das condições de vida das suas populações.
Guimarães explicou que, ao contrário da Comunidade Comum Europeia, o Mercosul nada mais é do que uma reunião aduaneira, que possibilita aos países do bloco adotarem a mesma tarifa para importação de produtos, fortalecendo as relações comerciais entre eles e com os demais países. Por isso, não está sujeito à instabilidade em que vive hoje a União Europeia, cujos membros abriram mão até mesmo de possuir uma moeda própria. Conforme ele, o Mercosul não implica no enfraquecimento das estados.
Ele defendeu, inclusive, o ingresso da Venezuela como país membro. E esclareceu que só não há esforços para que haja, também, a adesão de outros países, porque os demais assinaram acordos com os Estados Unidos que os obrigam a reduzir a zero à tarifa de importação. No Mercosul, essa tarifa, hoje, é de 10%, mas tende a ser elevada para combater a importação excessiva dos produtos industrializados chineses.
O jornalista Mauro Santayana, colunista da Carta Maior, defendeu o fator cultural como instrumento primordial para garantir, de fato, a integração da América Latina. “Precisamos construir a unidade latino-americana. E o instrumento para isso é o Mercosul. Mas só poderemos ter uma unidade econômica quando tivermos uma cultural. Esta é a grande falha da nossa ação”, afirmou. Segundo ele, hoje, essa unidade cultural está restrita aos círculos intelectuais, a alguns blocos empresariais, mas ainda não atinge o povo.
O jornalista defendeu, ainda, que o Brasil assuma o protagonismo neste processo de integração, adotando uma postura humilde e sendo “o mais tolerante, o mais condescendente, o que mais aceita desaforo”. “Poderoso é aquele que tem o direito de parecer fraco”, afirmou.
O ex-presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, observou que o mundo passa por uma crise sistêmica, que cria oportunidades para a América Latina, mas também temores. “Embarcamos no discurso da globalização de forma absolutamente temerária. Abrimos mão de todos os instrumentos de salvaguarda nacionais e, hoje, temos um sistema financeiro que é apêndice do que acontece lá fora”, justificou.
Para ele, que centrou sua palestra na discussão sobre a crise econômica, o fortalecimento dos estados é a única alternativa. “Fora do estado não há solução. Não quero fazer uma ‘estadolatria’. Mas o estado, em última instancia, somos todos nós. Com uma crise dessas proporções, cada sociedade tem que estar coesa para sobreviver. E esta coesão só é possível com o Estado, por meio de um projeto nacional”, comentou.
O seminário “Crise, Estado e Desenvolvimento: Desafios e perspectivas para a América do Sul”, promovido pela Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, será realizado no Rio de Janeiro, em 25 de junho.
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