Por Altamiro Borges
"As Malvinas de Dilma"
Merval Pereira, o “imortal” da Academia Brasileira de Letras (ABL),
não gostou do pronunciamento de Dilma Rousseff contra a “lógica perversa dos
bancos”. Transmitido em cadeia de rádio e TV na véspera do 1º de Maio, o
discurso foi saudado pelos sindicalistas e espinafrado pela mídia rentista. O
colunista da Rede Globo não perdeu a chance para prestar os seus serviços aos
banqueiros.
Para ele, a fala da presidenta exigindo a redução dos juros “sinaliza
uma perigosa tendência de seu governo de se apoiar nas altas taxas de popularidade
para pressionar setores da economia que não se enquadrem nas suas orientações”.
No seu entender, esse debate deveria ser “técnico”, limitando-se às negociações
do Ministério da Fazenda com a federação dos banqueiros (Febraban).
O medo das "táticas populistas"
Merval até elogia os bancos privados, que “anunciaram que
acompanharão os bancos públicos” na redução dos juros. Mas, como porta-voz dos
rentistas, diz que eles “querem uma contrapartida governamental para aderir à
queda mais firmemente”. Metido a astro da televisão, o enfadonho comentarista da
TV Globo também opina sobre a performance de Dilma Rousseff nas telinhas:
“Embora sua fisionomia amena na ocasião não possa ser
comparada à carranca da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que parece
estar sempre em luta contra os dragões da maldade do capitalismo, a postura da
presidente brasileira pode ser comparável à de sua colega argentina”. Ou seja: para o “imortal”,
ambas são demagogas. Em síntese: o saudoso de FHC acha que isto conduzirá o país ao
desastre:
“A utilização da política para resolver questões técnicas é
tática populista que pode render frutos eleitorais a curto prazo, mas leva a
decisões que podem ter consequências maléficas a longo prazo para a economia do
país... O discurso de Dilma foi muito bem elaborado, como sempre, pelo
marqueteiro João Santana, e até mesmo questões técnicas como a inadimplência
foram tratadas pelo viés populista, na intenção de jogar os argumentos dos
bancos contra a população”.
Merval Pereira não foi o único a sair correndo,
desesperadamente, em defesa dos banqueiros. A versão online da revista Veja
saiu à frente nesta tarefa (ver texto). Hoje o Estadão também espinafra o discurso
da presidenta. O título já é pura provocação: “As Malvinas de Dilma”. Num
discurso combinado da mídia, o editorial critica o “populismo” das presidentas
do Brasil e da Argentina.
“Discurso contra banqueiro é sempre um sucesso de público -
e muitas vezes de crítica - e a presidente Dilma Rousseff tem-se dedicado com
notável empenho a essa tarefa”, inicia o artigo. E conclui: “A retórica da
presidente não se distancia muito das perorações habituais de sua colega argentina.
Serão os bancos as Malvinas do governo brasileiro?”.
A guerra está declarada
Como se observa, a mídia rentista está preocupada com a
mudança de postura do governo diante da agiotagem financeira. Este temor se
deve basicamente a dois fatores. O primeiro é ideológico: os barões da mídia
são adoradores do “deus-mercado” e não toleram qualquer ação indutora do Estado.
São neoliberais convictos. O segundo é econômico: eles estão associados aos bancos
e dependem, inclusive, dos seus bilionários anúncios publicitários. A guerra
parece que foi declarada!
Viram o blog do Merval Pereira hoje?
ResponderExcluirLá pelas tantas, lí o seguinte:
Governistas querem impor maioria na CPI
Merval Pereira 2.5.2012 13h10m
"A lei do mais forte na CPI do Cachoeira. Se prevalecer trator situacionista, CPI dará mostras de que será usada para aniquilar a oposição, em vez investigar relações de bicheiro."
http://oglobo.globo.com/blogs/blogdomerval/posts/2012/05/02/governistas-querem-impor-maioria-na-cpi-443063.asp
Eu acho que ele tem razão.
Afinal os governistas são maioria e a oposição é minoria. Isso é extremamente injusto. Se a maioria sempre vence a minoria, onde está a democracia?
Talvez fosse o caso de promover uma reforma constitucional. A cada eleição, aqueles que obtivessem mais votos deveriam ter menos parlamentares e vice-versa. Assim, seriam assegurados os direitos da oposição.
Grande Merval.
É por isso que ele é imortal.