Por Altamiro Borges
Os cortes seguidos das taxas de juros, que confirmam que o
governo abandonou a suicida ortodoxia na política monetária, não conseguiram
até agora conter os impactos destrutivos da crise mundial na economia
brasileira. Dados do IBGE divulgados ontem indicam que a geração de empregos no
setor industrial teve a sua maior queda nos últimos dois anos e meio. O recuo em maio
foi de 1,7% na comparação com o mesmo mês de 2011. Em São Paulo, a retração do
emprego nas indústrias foi de 3,2%.
Mais ousadia do governo Dilma
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central discute
hoje a taxa básica de juros. O próprio “deus-mercado” já dá como certa uma nova
redução da Selic. Seria o oitavo corte seguido e o menor patamar dos últimos
anos. Os banqueiros apostam que a taxa cairá de 8,5% para 8% ao ano. Outros
setores da sociedade, preocupados com o desaquecimento da economia e mais
aliviados com o controle da inflação, torcem por uma redução mais “radical”,
para 7,5%.
Piora generalizada e preocupante
A pesquisa também constatou que a piora na geração de emprego
se generalizou: atingiu 12 dos 18 ramos industriais avaliados e 12 de 14
regiões estudadas. Segundo André Macedo, técnico do IBGE, está em curso uma
piora “gradual” e cada vez mais intensa em todos os indicadores de trabalho na
indústria. Essa degradação decorre do desaquecimento do consumo interno e da
retração do mercado externo, com a diminuição das exportações e o aumento da
invasão de produtos importados.
Setores que já sofriam com a maior concorrência externa,
como calçados, vestuário, fumo e madeira, ampliaram as demissões. E outros ramos
passaram a cortar vagas mais recentemente, como o automobilístico e a
siderurgia. Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial
(Iedi), as recentes iniciativas do governo – como o corte de juros e as medidas
de estímulo ao crédito – podem até surtir “efeitos mais visíveis”, mas somente
nos últimos meses do ano.
Todos os estes indicadores sinalizam que o governo Dilma Rousseff deveria ousar ainda mais na política macroeconômica – caso contrário, o
desastre será imediato, inclusive com reflexos nas eleições de outubro. Como
apontou recente estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), não
basta cortar os juros para estimular o consumo interno. O governo precisa
proteger a produção nacional, endurecendo a sua política cambial, e garantir
mais investimentos, o que requer superar a maldição do superávit primário.
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