domingo, 29 de julho de 2012

Síria, uma questão democrática?

Por Wladimir Pomar, no sítio Correio da Cidadania:

Já não parece haver dúvidas de que a Síria está envolvida numa profunda e destrutiva guerra civil. Como também não parece haver qualquer dúvida de que toda a grande mídia brasileira (e também parte considerável da pequena) tem como única fonte de informações a chamada oposição síria.


Diante da constante repetição de pretensos números exatos de mortos e dos massacres, mais tarde colocados em dúvida por outras fontes informativas, alguns órgãos de imprensa começaram a se preocupar em colocar os dados no condicional, numa tentativa de pelo menos salvar a face, caso se vejam diante da publicação de uma notícia comprovadamente falsa.

Por outro lado, a insinuação constantemente martelada de que os acontecimentos na Síria têm por base uma revolta popular e democrática contra uma ditadura prolongada empanou a visão de vários setores da população brasileira, que se sentem incomodados em apoiarem o governo sírio contra as tentativas dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais de imporem sanções, ou mesmo intervirem nos problemas internos daquele país. Para esses setores, seria necessário ter em conta a questão democrática que envolve a guerra civil síria.

É evidente que o governo sírio de Assad é uma ditadura hereditária, embora cumpra vários ritos democráticos. No entanto, supor que o que está em jogo na Síria é uma disputa entre democracia e ditadura pode representar uma miopia considerável sobre o que realmente está sendo disputado naquela região. Basta ver que a Liga Árabe, tendo à frente a Arábia Saudita, é uma das principais promotores da oposição síria, fornecendo a ela combatentes e armas. E, que se saiba, nenhum dos países que compõem a Liga Árabe, muito menos a Arábia Saudita, se destaca por ser algum tipo de democracia, o mínimo que seja.

Assim, na melhor das hipóteses, estamos diante da luta entre diferentes ditaduras, não havendo qualquer evidência real, a não ser pela propaganda, de que estejamos diante de forças democráticas combatendo contra forças ditatoriais e, portanto, de que a questão democrática deva ser óbice para uma posição mais firme diante do que verdadeiramente está em disputa naquela região. Isto é, da tentativa, nem sempre velada, do esforço imperial norte-americano de reestruturar suas forças de apoio no Oriente Médio, desorganizadas pela primavera árabe, em especial no Egito.

Os Estados Unidos buscam recuperar a hegemonia através da nova estratégia de combinar sua ação diplomática e seu fornecimento de armas com a ação de combatentes “aliados”, que marotamente elevam à condição de “combatentes pela democracia”. Isso deu certo na Líbia, que continua tão longe da democracia quanto estava na época de Kadafi, e em certa medida está tendo sucesso na Síria. Aqui, com muito maior dificuldade, seja porque o governo sírio conta com um apoio popular mais amplo do que Kadafi, seja porque a Rússia e a China se deram conta de que a conquista da Síria pela Liga Árabe não tem como objetivo parar aí, mas preparar as condições para atacar o Irã.

Portanto, além de não haver qualquer questão democrática realmente envolvida, a ação combinada dos Estados Unidos e de suas ditaduras aliadas contra a Síria tem como alvo principal o Irã, que o governo norte-americano continua considerando um dos “eixos do mal”, e não desistiu de submeter a qualquer custo. Os falcões estadunidenses, desse modo, operam para superar a sua crise sistêmica através do velho e ultrapassado método das guerras, que pode envolver a humanidade numa nova conflagração mundial.

Diante disso, as forças democráticas e o governo brasileiro não deveriam vacilar na oposição à trama do governo norte-americano e de seus aliados ditatoriais do Oriente Médio. Deveriam contrapor-se a toda e qualquer tentativa de interferir nos assuntos internos da Síria, ao envio de armas e combatentes para a chamada “oposição” síria e a qualquer bloqueio ou invasão de tropas estrangeiras contra aquele país. 

Se as ditaduras árabes derrotarem o governo Assad, implantarem sua própria ditadura pró-americana naquele país, e os planos dos falcões norte-americanos contra o Irã se concretizarem, os danos à questão democrática em todo o mundo serão muito mais profundos do que o possível sucesso da resistência do governo sírio contra sua oposição. E o arrependimento, se houver, poderá ser inócuo.

5 comentários:

Maribel Dias Kroth disse...

E pensar que corremos os mesmos riscos da Síria e a população não acordam desse sono mortal letárgico e insano, comandados pelos olhos maléficos da Globo

Anônimo disse...

a sara menezes nordestina , morena , mulher e quantos não questionaram que ela não deveria ser a atleta do ano ? até o cesar cielo, que eu gosto muito, disse que deveria ser outra se não me engano. O diego hipólito até mesmo disse que já passou fome: esses atletas muitas vezes até aceitam “restos” de contribuições e populares porque não tem projetos maiores e firmes para o esporte no brasil. Um esporte que facilmente pode terminar em cadeiras de rodas ou pior. Só vejo comentários na mídia sobre homossexualismo dos irmãos hipólito e só. Sinceramente , ele tinha que ter muito mais apoio da imprensa e do povo, eu acredito nele até nas olimpíadas no rio, acredito que ele não vá parar até lá. O rubinho falam mal, ele simplesmente foi campeão mundial de kart, numa modalidade onde os carros são muito mais equilibrados. Enfim, é triste -até porque nenhum ser humano é perfeito- mas a gente carrega essa aura que brasileiro quer subir na vida sempre enganando os outros e não olha para os seus problemas de forma mais real

Ignez disse...

Como uma oposição, centrada em uns 70 homens mal armados resolve investir contra a população - para derrubar o poder o poder na marra -consegue transformar-se em centenas, e enfrentar um dos maiores exércitos do mundo, provocando uma guerra civil? Ora, essa mágica só foi conseguida pelo desejo da OTAN de desestabilizar o governo e apropriar-se da região, contando com a colaboração: ao norte, da Turquia - aliada dos EUA; a leste, o Iraque, destruído pela OTAN e apropriado pelas exploradoras de petróleo estadunidenses; à sudoeste, a Líbia, que também foi atacada pela OTAN, e cujo governo está sob controle dos aliados estadunidenses; e Israel Israel. Precisa dizer mais? Ora, foram esses paíeses que arrebentaram o exército sírio e a organização no país. A verdade é que armas e mercenários foram enviados para cumprir o desejo imperialista de dominío dessa parte da Ásia. Não há a menor dúvida que o cenário para a II GM está armado. Só precisa soar o gongo... Que Deus nos ajude!

Regina disse...

Ufa, até que enfim alguns raros brasileiros começam a acordar a respeito da realidade síria. Sabedores que somos de quem é o império, não é possível dar crédito à grande imprensa, mesmo internacional. 96% da mídia mundial estão vinculadas de uma forma ou de outra a seis grandes grupos empresarias sionistas. Sabemos dos interesses espúrios de um de outro. Por outro lado ONU, OTAN e todos esses organismos servem para enganar bobo. Estão às ordens e a serviço do império, pois se assim não fosse, há muito tempo já teriam tomado medidas decentes. Essas invasões podem ser comparadas com outra bem simplista, uma invasão domiciliar e que alguém venha dar palpite na forma de como conduzo minha casa, minhas finanças, meu lar, minha família. Mesmo que necessário fosse, essa pretensa “invasão” não poderia ser feita por um vizinho ou alguém que more mais longe. Mesmo para a própria polícia entrar numa casa, existem regras. Portanto não há nada que justifique a ânsia de poder, sem falar que destroem tudo e depois chegam com a maior cara-de-pau para negociar a reconstrução. Isso é asqueroso.
Por que será que não falam em invadir Bahrein, Catar, Arábia Saudita onde realmente estão ditaduras? Mas lá são as ditaduras amigas.
Para muitos, Kadafi era um ditador sim, mas a realidade é que não foi ruim para seu povo. A água foi levada por todos os cantos da Líbia. Cada casal por ocasião de suas núpcias recebia uma quantia em dinheiro razoável, para dar início à nova vida (se não me engano 50.000 $). TODOS tinham saúde e educação de primeiro mundo (não sei se isso quer dizer algo – 1º mundo). Evitou que o continente africano pagasse uma fortuna a título de aluguel a um país europeu de satélite, lançando um próprio. O banco central líbio não pertencia ao BIS (sábio), tinha reservas em ouro (precisamos descobrir onde foi parar).
Pergunto melhor viver na Líbia de Kadafi ou nos EUA de Bush e Obama, onde + de 50 mi não têm um atendimento médico, mais de 40 mi tomam sopa popular e um inimaginável número de famílias mora em tendas porque perderam suas casas. Mas os bancos foram salvos. Quem é o ditador? Quem é o democrático?
Voltando à Siria. Assad já providenciou uma nova Constituição, sistema político multipartidário. Não são os EUA muito menos a França que devem decidir o destino da Síria. Consultem o povo SÍRIO. Digo a França pq escutei no noticiário do almoço que Mr. Hollande, o SOCIALISTA francês (que engodo) vai pedir medidas a respeito, ao Conselho de Segurança da ONU. Quem esse monsieur pensa que é? Ele que cuide da França que está afundando e vai afundar mais. A crise da Peugeot é em razão bloqueio ao Irã (não podem mais vender lá). O sistema de saúde na França é/era exemplar. Pouco a pouco estão perdendo benefícios. O sistema de aposentadoria pública tb. está ruindo. Não haverá diferença alguma entre Sarko e Hollande pois ambos são candidatos do sistema. Não sei se já começou ou ainda vai ser implantado mas os correntistas só poderão sacar até mesmo na boca do caixa um valor muito pequeno. Aí vem aquele trololó que é para segurança do correntista, etc....
Quem são os ditadores? Quem são os bonzinhos? Está na hora de a gente acordar. Em nome da democracia estão liquidando com os países e com os povos. Nesse acordar precisamos rever esse conceito de democracia representativa. TAMBËM e URGENTE.

Anônimo disse...

Declaração do Pentágono, deita há tempos e divulgada, afirmava que o penúltimo país - de 7 - a ser eliminado era a Síria. O objetivo é chegar ao Irã. Yemên, Líbia e Egito ocuparam o notíciário internacional como países que construiam a "primavera árabe". Mentira. Foram grupos externos, e não movimentos sociais que derrubaram governos. Houve, sim, o "Inverno Mercenário". Nenhum desses países desfruta de liberdade. A Síria, um país que sempre propiciou a convivência pacífica entre religiões e etnias, está programada para cair e, o novo governo deverá criar "Bolsões" para cristãos (muitos mortos pelos mercenários), católicos (idem), etnias difernciadas, etc. Um país livre e bonito está em ruínas e vai ser loteado pela OTAN. Assim o terreno vai sendo "aplanado" para a intervenção no Irã. Salve-se quem puder!