Por Altamiro Borges
Sem projeto e sem rumo
A campanha na revista Veja
O presidente Hugo Chávez afirmou outro dia que não
participará dos debates televisivos com o seu rival nas eleições
de outubro, o empresário Henrique Capriles Radonski. “Ele não tem ideias”,
ironizou. A afirmação chocou a imprensa colonizada do Brasil, que chamou o
líder bolivariano de arrogante. Mas a declaração irreverente de Chávez não é de
todo desprovida de sentido. De fato, o candidato da direita venezuelana não tem
ideias próprias, não tem projetos e a sua campanha está totalmente sem rumo.
Ciente do êxito dos programas sociais na Venezuela, que
reduziram drasticamente as taxas de pobreza no país, Capriles afirma em seus
comícios que dará continuidade às chamadas “misiones”. No início da sua campanha,
ele também se apresentou com um candidato de centro-esquerda, que “segue o
exemplo de Lula”. Pouco depois, o ex-presidente brasileiro gravou um carinhoso e
entusiástico vídeo de apoio a Hugo Chávez. “A sua vitória é a nossa vitória”,
afirmou Lula. Novamente, Capriles ficou pendurado na brocha!
Diante do recente ingresso da Venezuela no Mercosul,
festejado como uma importante conquista do povo venezuelano, o rico empresário, que
tem sólidos vínculos com os EUA, ficou desnorteado. Capriles enrolou e não se
posicionou nem contra nem a favor. Ele também evita falar da frustrada
tentativa de golpe em abril de 2002, quando se projetou como um dos principais
líderes da direita. Seu sítio de campanha revela todo este vazio
de posições e propostas. É um amontoado de platitudes, de mediocridades.
Na sua edição de final de julho, a revista Veja – porta-voz
de Capriles no Brasil – até que tentou extrair alguma ideia nova do direitista
venezuelano numa longa entrevista. Nas fotos bem editadas, ele aparece como um jovem
cheio de energia – já Chávez surge sempre em trajes militares, numa manipulação
grosseira que tenta vender a imagem de que ele é um ditador. A bajuladora
reportagem, porém, confirma a confusão que reina na campanha de Capriles
Radonski, que é apresentado como o Davi que vai derrotar o Golias.
Sobre a entrada do país no Mercosul, ele despista para não
dar pontos a Chávez. Afirma que será positiva “se mudarmos o modelo
econômico, valorizando as exportações”. Sobre o apoio de Lula ao presidente, ele mente não maior caradura: “Isso não importa. Não sou do tipo
que personaliza as coisas”. Já no que se refere às “misiones”, ele jura que ampliará
os programas sociais. Nas entrelinhas, porém, Capriles deixar vazar suas ideias
direitistas, o seu endeusamento do “deus mercado” e seu servilismo aos EUA.
Visão neoliberal e entreguista
Ele condena “as expropriações de empresas e fazendas”, colocando-se
ao lado de empresários fraudulentos e latifundiários e contra a retomada de firmas falidas e a reforma agrária em terras improdutivas patrocinadas pelo atual
governo. Ele também afirma que a misiones só terão sucesso se “contarem com
ajuda da iniciativa privada”. Quanto à política externa, ele ataca as relações
da Venezuela com o Irã e diz que o futuro governo deve fortalecer os laços com
países “que respeitam os direitos humanos” – citando os EUA.
Seu anticomunismo fica mais explícito quando ele sataniza
o regime cubano e apoia os golpistas do Paraguai. “Como alguém que se opõe ao
embargo econômico a Cuba pode defender o mesmo tipo de sanção ao Paraguai? Isso
prova que a diplomacia da Venezuela obedece apenas às preferências políticas e
pessoais de Chávez... Atualmente, o que existe é uma admiração de Chávez por
Fidel Castro, e uma tentativa do governo venezuelano de manter de pé o modelo
cubano. Este, contudo, é insustentável”.
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