Por Altamiro Borges
Valor e o "voluntarismo estatista"
O Globo e a rendição ao mercado
Deixando de lado o infindável debate terminológico sobre
privatização ou concessão, é indiscutível que a mídia privatista gostou muito do
“pacote logístico” apresentado pelo governo Dilma nesta semana. Nos editoriais
dos principais jornalões, a iniciativa foi elogiada e tratada como uma
emblemática mudança de postura da presidenta – que se elegeu condenando as
privatizações do governo FHC. De forma matreira, todos os veículos afirmaram
que o governo finalmente se rendeu à força do “deus-mercado”.
O editorial do jornal Valor, mais voltado à nata dos
empresários, soltou rojões. “Uma saudável dose de realismo fez o governo dar
uma guinada e deixar, pelo menos provisoriamente, a rota do intervencionismo
estatal para a uma maior participação privada nos projetos de infraestrutura do
país. A mudança foi sacramentada ontem com o anúncio de um pacote de R$ 133
bilhões em obras a serem gastos em 25 anos... Atacando as privatizações, o
governo Dilma tem, porém, se aproximado aos poucos do seu espírito”.
Para o jornal, pertencente às famiglias Marinho e Frias, o “Programa
de Investimento em Logística” representa uma vitória das forças do mercado
sobre a “ineficiência e a corrupção” do estado. “Os avanços atuais do governo
Dilma são passos salutares em boa direção. A presidente corrige orientações
seguidas no primeiro ano de mandato, marcado por boa dose do voluntarismo
estatista, e busca um novo caminho. Há menos ideologia e mais pragmatismo nas
recentes ações e planos que vêm à luz em profusão”.
Já o editorial do jornal O Globo, mais dedicado à propaganda
rastaquera do receituário neoliberal, afirmou que o pacote evidencia que a “privatização
começa a ser política de Estado”. O jornal, que se mais se parece com um
partido da direita, aproveita para fustigar o atual governo e para fazer
campanha dissimulada da oposição demotucana – desesperada com as eleições de
outubro próximo. Não há qualquer análise econômica mais séria, mas puro
proselitismo político, com muitas provocações e futricas.
“Entendem-se os cuidados semânticos da presidente Dilma.
Afinal, seu partido soube manipular o tema da privatização, na campanha
eleitoral de 2006, para tachar o candidato de oposição Geraldo Alckmin de
perigoso ‘privatista’, e assim fragilizá-lo no segundo turno daquelas eleições
presidenciais, ganho por Lula. Por isso, Dilma e equipe fazem contorcionismos
para tentar provar que ‘concessão’ não é ‘privatização’. Mas a discussão é
pueril, diante do que é importante: o governo se rendeu ao óbvio, à necessidade
de ceder à iniciativa privada parte da infraestrutura de transportes do país”,
fuzila o jornal da famiglia Marinho.
Mesmo destilando veneno, O Globo não deixa de elogiar o
pacote. “Embora haja inevitável exploração partidária, o lucro da mudança de
rumo é da sociedade, porque privatizar começa a ser uma política de Estado,
independentemente de quem esteja no poder. É o que se espera. Dilma, em certa
medida, repete o candidato Lula quando ele, na campanha de 2002, assinou a
Carta ao Povo Brasileiro, para garantir que não executaria os delírios
prometidos do palanque pelo PT, durante os tempos de oposição".
Estadão e superação dos preconceitos
Outro panfleto da direita, o Estadão, também aplaudiu a
iniciativa do governo, que prevê investimentos de R$ 133 bilhões em projetos de
rodovias, portos e ferrovias, “financiados na maior parte pelo BNDES”. Para o
jornal da famiglia Mesquita, “com atraso, a presidente Dilma pôs de
lado alguns preconceitos e decidiu, afinal, recorrer não só a concessões, mas
também às Parcerias Público-Privadas (PPPs), já usadas com sucesso em projetos
estaduais” – só faltou bajular o governador tucano Geraldo Alckmin.
“A presidente Dilma reconhece, enfim, a necessidade urgente
de medidas estruturais para tornar o País mais eficiente. Até agora, ela agiu a
maior parte do tempo como se o Brasil enfrentasse apenas problemas
conjunturais, decorrentes da crise global. Mas o desafio é muito mais amplo e a
competitividade é o ponto central. Admitir esse ponto é um avanço. Para tomar
as medidas necessárias, mesmo com a participação do setor privado, o governo
precisará, no entanto, de competência gerencial. É o primeiro obstáculo”, alfineta.
Um opção perigosa
Como se observa, a mídia privatista não está tão preocupada
com o debate semântico sobre privatizações e concessões. Para ela, o “pacote
logístico” do governo Dilma representa uma vitória do “deus-mercado” e garantirá
bilionários lucros para a iniciativa privada, em projetos “financiados na maior
parte com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”.
Ou seja: com recursos públicos!
Diante do agravamento da crise capitalista mundial, que já causa estragos no Brasil, o governo optou por um caminho. Ao invés de enfrentar a maldição do superávit primário - o nome fictício da reserva de caixa dos banqueiros -, ele decidiu apostar na iniciativa privada. O capital aplaude e a mídia privatista ainda
faz ironias. O ouvido vai virar penico!
E não poderia ser diferente, não é mesmo? O privado entra só com a vontade. Vai chover dinheiro público, a juros pra lá de baixos. Querem que eles chorem? Aí não dá!!E eu sei exatamente a diferença entre privatização e concessão.
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