sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Mídia aplaude “privatização” de Dilma

Por Altamiro Borges

Deixando de lado o infindável debate terminológico sobre privatização ou concessão, é indiscutível que a mídia privatista gostou muito do “pacote logístico” apresentado pelo governo Dilma nesta semana. Nos editoriais dos principais jornalões, a iniciativa foi elogiada e tratada como uma emblemática mudança de postura da presidenta – que se elegeu condenando as privatizações do governo FHC. De forma matreira, todos os veículos afirmaram que o governo finalmente se rendeu à força do “deus-mercado”.

Valor e o "voluntarismo estatista"

O editorial do jornal Valor, mais voltado à nata dos empresários, soltou rojões. “Uma saudável dose de realismo fez o governo dar uma guinada e deixar, pelo menos provisoriamente, a rota do intervencionismo estatal para a uma maior participação privada nos projetos de infraestrutura do país. A mudança foi sacramentada ontem com o anúncio de um pacote de R$ 133 bilhões em obras a serem gastos em 25 anos... Atacando as privatizações, o governo Dilma tem, porém, se aproximado aos poucos do seu espírito”.

Para o jornal, pertencente às famiglias Marinho e Frias, o “Programa de Investimento em Logística” representa uma vitória das forças do mercado sobre a “ineficiência e a corrupção” do estado. “Os avanços atuais do governo Dilma são passos salutares em boa direção. A presidente corrige orientações seguidas no primeiro ano de mandato, marcado por boa dose do voluntarismo estatista, e busca um novo caminho. Há menos ideologia e mais pragmatismo nas recentes ações e planos que vêm à luz em profusão”.

O Globo e a rendição ao mercado

Já o editorial do jornal O Globo, mais dedicado à propaganda rastaquera do receituário neoliberal, afirmou que o pacote evidencia que a “privatização começa a ser política de Estado”. O jornal, que se mais se parece com um partido da direita, aproveita para fustigar o atual governo e para fazer campanha dissimulada da oposição demotucana – desesperada com as eleições de outubro próximo. Não há qualquer análise econômica mais séria, mas puro proselitismo político, com muitas provocações e futricas.

“Entendem-se os cuidados semânticos da presidente Dilma. Afinal, seu partido soube manipular o tema da privatização, na campanha eleitoral de 2006, para tachar o candidato de oposição Geraldo Alckmin de perigoso ‘privatista’, e assim fragilizá-lo no segundo turno daquelas eleições presidenciais, ganho por Lula. Por isso, Dilma e equipe fazem contorcionismos para tentar provar que ‘concessão’ não é ‘privatização’. Mas a discussão é pueril, diante do que é importante: o governo se rendeu ao óbvio, à necessidade de ceder à iniciativa privada parte da infraestrutura de transportes do país”, fuzila o jornal da famiglia Marinho.

Mesmo destilando veneno, O Globo não deixa de elogiar o pacote. “Embora haja inevitável exploração partidária, o lucro da mudança de rumo é da sociedade, porque privatizar começa a ser uma política de Estado, independentemente de quem esteja no poder. É o que se espera. Dilma, em certa medida, repete o candidato Lula quando ele, na campanha de 2002, assinou a Carta ao Povo Brasileiro, para garantir que não executaria os delírios prometidos do palanque pelo PT, durante os tempos de oposição".

Estadão e superação dos preconceitos

Outro panfleto da direita, o Estadão, também aplaudiu a iniciativa do governo, que prevê investimentos de R$ 133 bilhões em projetos de rodovias, portos e ferrovias, “financiados na maior parte pelo BNDES”. Para o jornal da famiglia Mesquita, “com atraso, a presidente Dilma pôs de lado alguns preconceitos e decidiu, afinal, recorrer não só a concessões, mas também às Parcerias Público-Privadas (PPPs), já usadas com sucesso em projetos estaduais” – só faltou bajular o governador tucano Geraldo Alckmin.

“A presidente Dilma reconhece, enfim, a necessidade urgente de medidas estruturais para tornar o País mais eficiente. Até agora, ela agiu a maior parte do tempo como se o Brasil enfrentasse apenas problemas conjunturais, decorrentes da crise global. Mas o desafio é muito mais amplo e a competitividade é o ponto central. Admitir esse ponto é um avanço. Para tomar as medidas necessárias, mesmo com a participação do setor privado, o governo precisará, no entanto, de competência gerencial. É o primeiro obstáculo”, alfineta.

Um opção perigosa

Como se observa, a mídia privatista não está tão preocupada com o debate semântico sobre privatizações e concessões. Para ela, o “pacote logístico” do governo Dilma representa uma vitória do “deus-mercado” e garantirá bilionários lucros para a iniciativa privada, em projetos “financiados na maior parte com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”. Ou seja: com recursos públicos! 

Diante do agravamento da crise capitalista mundial, que já causa estragos no Brasil, o governo optou por um caminho. Ao invés de enfrentar a maldição do superávit primário - o nome fictício da reserva de caixa dos banqueiros -, ele decidiu apostar na iniciativa privada. O capital aplaude e a mídia privatista ainda faz ironias. O ouvido vai virar penico!

Um comentário:

  1. E não poderia ser diferente, não é mesmo? O privado entra só com a vontade. Vai chover dinheiro público, a juros pra lá de baixos. Querem que eles chorem? Aí não dá!!E eu sei exatamente a diferença entre privatização e concessão.

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