Por Renata Mielli, no blog Janela sobre a palavra:
Em sua coluna desta segunda-feira, 20, na Ilustrada, o sr. Luiz Felipe Pondé afirma não acreditar em motivações ideológicas para nada. Estranho, pois o artigo Basta é uma ode à ideologia burguesa em sua roupagem mais aristocrática.
Deselegante, como todo aristocrata, destila sua arrogância intelectual em nome dos interesses de sua classe. Sem preocupação alguma em fundamentar com argumentos suas opiniões, usa ataques baixos para rotular conquistas que a sociedade demorou séculos para alcançar, como o direito das mulheres a serem mais do que reprodutoras e cuidadoras e ocuparem um espaço no mercado de trabalho.
Do alto de sua pose intelectual e entre baforadas do seu cachimbo, faz um ataque desqualificado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, organismo que tem procurado conduzir sua atuação pautado pelos interesses da população e em consonância com práticas e estudos internacionais que mostram, por exemplo, como orientar o consumo de alimentos e medicamentos visando o bem-estar e a saúde da população.
Critica a iniciativa da Anvisa em exigir receita médica - o que já deveria ser feito - para comprar medicamentos com tarja vermelha. Mas, espere um pouco, o que vem escrito dentro desta tarja, alguém já parou para ler? VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. O que a Anvisa pretende é apenas fazer valer uma regra que já existe e que visa a proteção do usuário do medicamento.
Pondé classifica a medida como “uma das pragas contemporâneas”, chama os técnicos da Anvisa de tecnocratas e diz que eles “se masturbam à noite sonhando como vão controlar a vida dos outros em nome da saúde pública”.
As afirmações do jornalista deixam claro que ele precisa ajustar o grau dos óculos para enxergar a realidade. Imagino que para um dito intelectual não faltem informações sobre os riscos da automedicação, esta sim uma das pragas contemporâneas alimentadas pela indústria farmacêutica e por boa parte dos estabelecimentos que vivem da sua venda. Dados do Sistema Nacional de Informações Toxicológicas – Sintox, de 2009, mostram que 26,47% das intoxicações registradas no país foram caudas por medicamentos. Não há dados sobre a distribuição destas ocorrências por renda, mas não seria surpresa se a população mais atingida por esta “praga capitalista” fosse a de mais baixa renda.
Então, o que o Sr. Pondé chama de controlar a vida dos outros, eu chamo de preservar a saúde. E viva a possibilidade do contraditório. Para sermos mais democráticos, seria ótimo se minha humilde opinião pudesse também ser publicada em um jornal de grande circulação como a Folha de S.Paulo, possibilitando, assim, que seus leitores tivessem dois pontos de vistas diversos a partir dos quais pudessem construir suas próprias opiniões.
Mas não é só sobre medicamento que o Sr. Pondé emitiu sua douta opinião. Ele atacou também as cotas nas universidades e a campanha pela proibição de publicidade para crianças.
Sobre as cotas, sem dúvida que é contra, mas para os pobres ele as admite em “alguma pequena porcentagem, vá lá”, como alguém que engole um remédio amargo (tarja vermelha!).
Mas o machismo aristocrata que corre no sangue azul de Pondé ficou aflorado mesmo quando ele se contrapôs à proibição da publicidade infantil. No estilo Tradição, Família e Propriedade ele condena a mãe por todos os males que possam atingir as crianças.
Afinal, afirma, “todo mundo sabe que, quanto menos a mãe está em casa e quanto mais ela é só e menos tempo tem para a criança, mais a criança come porcaria”. E seguindo este raciocínio brilhante, ele afirma que a escola pública precisa existir “para preencher o vazio de famílias que não cumprem sua função”.
Para a aristocracia masculina que Pondé representa, a pior praga contemporânea é a existência de uma sociedade de direitos, aonde a mulher tem conquistado posições antes apenas reservada aos homens. Aonde a mulher pode destacar-se como profissional e cidadã, ocupando espaços de poder em grandes empresas, no Estado e dentro de casa.
Tal avanço democrático implica, necessariamente, numa reformulação dos papéis de cada um dentro da família. E isto impacta, principalmente, no comportamento masculino. Tarefas cotidianas da casa e do cuidado com os filhos passam a ser dividas e isso para o Sr. Luiz Felipe Pondé é o sinal dos tempos. Imagine o homem limpando um banheiro, lavando louça, trocando uma fralda.
“Os mesmos que gozam pensando em mandar na vida dos outros são os que mentem quando não dizem que as crianças comem porcaria porque ficam largadas em casa sem mãe para tomar conta delas”, constata Pondé para mais a frente concluir: “Os mesmos que cospem na cara da família como instituição, estimulam as mulheres a pensarem só em si mesmas e acusam a família de ser autoritária são os que pedem a proibição da publicidade infantil”.
A sociedade é um espaço de conflitos entre o velho e o novo. Entre os que lutam para defender com unhas e dentes o status quo e os que querem transformações. O Sr. Pondé representa o primeiro grupo, que vê seu poder sendo reduzido quando o país elege um operário e uma mulher para presidir a República, que sofre de urticária quando medidas em prol do desenvolvimento nacional e da inclusão social são adotadas para reduzir as desigualdades (afinal a sua classe vive e se alimenta delas).
Felizmente, o sr. Pondé sabe disso e usa todas as suas armas para evitar que seu pensamento seja superado. O que talvez ele não saiba, ou não tenha percebido, é que a sociedade já o está superando.
Em sua coluna desta segunda-feira, 20, na Ilustrada, o sr. Luiz Felipe Pondé afirma não acreditar em motivações ideológicas para nada. Estranho, pois o artigo Basta é uma ode à ideologia burguesa em sua roupagem mais aristocrática.
Deselegante, como todo aristocrata, destila sua arrogância intelectual em nome dos interesses de sua classe. Sem preocupação alguma em fundamentar com argumentos suas opiniões, usa ataques baixos para rotular conquistas que a sociedade demorou séculos para alcançar, como o direito das mulheres a serem mais do que reprodutoras e cuidadoras e ocuparem um espaço no mercado de trabalho.
Do alto de sua pose intelectual e entre baforadas do seu cachimbo, faz um ataque desqualificado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, organismo que tem procurado conduzir sua atuação pautado pelos interesses da população e em consonância com práticas e estudos internacionais que mostram, por exemplo, como orientar o consumo de alimentos e medicamentos visando o bem-estar e a saúde da população.
Critica a iniciativa da Anvisa em exigir receita médica - o que já deveria ser feito - para comprar medicamentos com tarja vermelha. Mas, espere um pouco, o que vem escrito dentro desta tarja, alguém já parou para ler? VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. O que a Anvisa pretende é apenas fazer valer uma regra que já existe e que visa a proteção do usuário do medicamento.
Pondé classifica a medida como “uma das pragas contemporâneas”, chama os técnicos da Anvisa de tecnocratas e diz que eles “se masturbam à noite sonhando como vão controlar a vida dos outros em nome da saúde pública”.
As afirmações do jornalista deixam claro que ele precisa ajustar o grau dos óculos para enxergar a realidade. Imagino que para um dito intelectual não faltem informações sobre os riscos da automedicação, esta sim uma das pragas contemporâneas alimentadas pela indústria farmacêutica e por boa parte dos estabelecimentos que vivem da sua venda. Dados do Sistema Nacional de Informações Toxicológicas – Sintox, de 2009, mostram que 26,47% das intoxicações registradas no país foram caudas por medicamentos. Não há dados sobre a distribuição destas ocorrências por renda, mas não seria surpresa se a população mais atingida por esta “praga capitalista” fosse a de mais baixa renda.
Então, o que o Sr. Pondé chama de controlar a vida dos outros, eu chamo de preservar a saúde. E viva a possibilidade do contraditório. Para sermos mais democráticos, seria ótimo se minha humilde opinião pudesse também ser publicada em um jornal de grande circulação como a Folha de S.Paulo, possibilitando, assim, que seus leitores tivessem dois pontos de vistas diversos a partir dos quais pudessem construir suas próprias opiniões.
Mas não é só sobre medicamento que o Sr. Pondé emitiu sua douta opinião. Ele atacou também as cotas nas universidades e a campanha pela proibição de publicidade para crianças.
Sobre as cotas, sem dúvida que é contra, mas para os pobres ele as admite em “alguma pequena porcentagem, vá lá”, como alguém que engole um remédio amargo (tarja vermelha!).
Mas o machismo aristocrata que corre no sangue azul de Pondé ficou aflorado mesmo quando ele se contrapôs à proibição da publicidade infantil. No estilo Tradição, Família e Propriedade ele condena a mãe por todos os males que possam atingir as crianças.
Afinal, afirma, “todo mundo sabe que, quanto menos a mãe está em casa e quanto mais ela é só e menos tempo tem para a criança, mais a criança come porcaria”. E seguindo este raciocínio brilhante, ele afirma que a escola pública precisa existir “para preencher o vazio de famílias que não cumprem sua função”.
Para a aristocracia masculina que Pondé representa, a pior praga contemporânea é a existência de uma sociedade de direitos, aonde a mulher tem conquistado posições antes apenas reservada aos homens. Aonde a mulher pode destacar-se como profissional e cidadã, ocupando espaços de poder em grandes empresas, no Estado e dentro de casa.
Tal avanço democrático implica, necessariamente, numa reformulação dos papéis de cada um dentro da família. E isto impacta, principalmente, no comportamento masculino. Tarefas cotidianas da casa e do cuidado com os filhos passam a ser dividas e isso para o Sr. Luiz Felipe Pondé é o sinal dos tempos. Imagine o homem limpando um banheiro, lavando louça, trocando uma fralda.
“Os mesmos que gozam pensando em mandar na vida dos outros são os que mentem quando não dizem que as crianças comem porcaria porque ficam largadas em casa sem mãe para tomar conta delas”, constata Pondé para mais a frente concluir: “Os mesmos que cospem na cara da família como instituição, estimulam as mulheres a pensarem só em si mesmas e acusam a família de ser autoritária são os que pedem a proibição da publicidade infantil”.
A sociedade é um espaço de conflitos entre o velho e o novo. Entre os que lutam para defender com unhas e dentes o status quo e os que querem transformações. O Sr. Pondé representa o primeiro grupo, que vê seu poder sendo reduzido quando o país elege um operário e uma mulher para presidir a República, que sofre de urticária quando medidas em prol do desenvolvimento nacional e da inclusão social são adotadas para reduzir as desigualdades (afinal a sua classe vive e se alimenta delas).
Felizmente, o sr. Pondé sabe disso e usa todas as suas armas para evitar que seu pensamento seja superado. O que talvez ele não saiba, ou não tenha percebido, é que a sociedade já o está superando.
Miro, as poucas pessoas que leem o Pondé, têm discernimento para analisar como você fez. Apesar dele escrever num "jornalão", acredito que tenha menos leitores do que ele mesmo imagina. Não é uma pessoa com quem se deva preocupar.
ResponderExcluirMarco.
Nada do que se disser pode ser mais contundente do que a própria exposição que o sr. Pondé faz de forma arrogante, machista e preconceituosa. Tanto título para uma criatura tão... sem dimensão. Mesquinha, mesmo. Dá certo nojo.
ResponderExcluirRenata, um detalhe para tua informação, eu só tomei conhecimento do texto porque escreveu, ou melhor, apareceu aqui, pois este 'grande jornal de circulação', no qual a senhora faz menção, eu nem leio.
ResponderExcluirNão li - e não gostei - o artigo de Pondé, mas o conheço de longa data quando perdia meu tempo tentando tirar alguma coisa do que escrevia do alto de seu trono de engraxate das botas da Casa Grande. Com o tempo vai ficando pior, se isso é possível.
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