Por Altamiro Borges
A decisão de suspender a CPI gerou protestos. Há fortes
temores de que tudo pode terminar em pizza. A resistência às apurações das ligações
da máfia de Cachoeira foi intensa desde a instalação da CPI, em abril passado. O
DEM fez de tudo para desacreditá-la, já que ela atingia um dos principais nomes
do partido, o ex-senador Demóstenes Torres, eleito pela revista Veja como “mosqueteiro
da ética”. Já o PSDB ficou preocupado com o destino do governador Marconi
Perillo, flagrado em várias negociatas com a quadrilha.
O comando da CPI do Cachoeira decidiu nesta semana suspender
os seus trabalho até 9 de outubro. O argumento utilizado foi o de que as
investigações estavam sendo “contaminadas pelos humores eleitorais” – bem diferente
da postura adotada pelo STF, que continua o seu show midiático no julgamento do
chamado “mensalão do PT”. Quando retomar as apurações, a CPI terá menos de um
mês para tirar suas conclusões – já que o prazo da comissão parlamentar mista
de inquérito está previsto para terminar em 4 de novembro.
O alívio da mídia demotucana
Além disso, as investigações da CPI concluíram que a
construtora Delta – que presta serviços para vários governos, incluindo o do PSDB
em São Paulo – era uma empresa de fachada da máfia de Cachoeira. A pressão
contra a continuidade das apurações uniu setores do governo federal, governadores
e a poderosa empreiteira. No início de agosto, a CPI engavetou requerimentos
que exporiam as movimentações bancárias da Delta no eixo Rio-São Paulo com
outras empresas de fachada, que somaram mais de R$ 220 milhões.
Já a mídia demotucana, que faz tanto estardalhaço com o
julgamento do “mensalão”, evitou dar manchetes para a CPI do Cachoeira e pouco
investiu no seu chamado “jornalismo investigativo”. Desde o início, ela tratou
a investigação como uma trama do ex-presidente Lula para desacreditar os seus
opositores – como Demóstenes e Perillo. Com o vazamento das ligações telefônicas
entre o mafioso e o editor-chefe da revista Veja, Policarpo Junior, a mídia
passou a encarar a CPI como um instrumento de “censura e perseguição”.
O Policarpo não será convocado?
Nos últimos dias, jornais e emissores de televisão,
principalmente a TV Globo, anteciparam o “enterro” da CPI. Em seu editorial de
hoje (9), o Estadão ainda tenta disfarçar a sua alegria. Ele lamenta a
suspensão dos trabalhos, que “praticamente sepulta a comissão”. Mas é só
acompanhar seus vários artigos para constatar que, desde o início, o jornalão
da famiglia Mesquita acusou a CPI de ser um instrumento do “lulopetismo”. “Com a suspensão de suas atividades, a CPI
confirma a sua irrelevância”, decreta o editorial de hoje.
Não dá para afirmar, como fazem os jornalões, que a CPI foi um
“vexame”. Ela ajudou a encerrar a carreira do demo Demóstenes Torres, o falso
moralista do DEM cassado pelo Senado. Ela também serviu para levantar fortes
suspeitas contra o governador Marconi Perillo, outro ícone da oposição
demotucana – que deverá ser citado no relatório final da comissão. Ela ainda
ajudou a desnudar as relações promíscuas das poderosas empreiteiras com os
governos de várias esferas, o que reforça a urgência da reforma política.
Mesmo assim, o trabalho da CPI ainda está inconcluso – daí a
sensação que ela pode terminar em pizza. Muitos envolvidos no esquema criminoso
de Cachoeira permaneceram em silêncio, num flagrante desrespeito ao Congresso
Nacional. Vídeos e escutas telefônicas da Polícia Federal ainda não se tornaram
públicos. As movimentações financeiras da quadrilha com empresas e políticos continuam
em sigilo cúmplice. E vários suspeitos de ligação com a máfia nem foram
chamados para depor. A blindagem da mídia, um autêntico pacto mafioso, impediu
a convocação de Policarpo Junior. Daí o por que da mídia estar tão aliviada com
a suspensão dos trabalhos da CPI.
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