terça-feira, 4 de setembro de 2012

Incêndio em favelas: acidente ou crime?

Por Altamiro Borges

Na tarde de ontem, a favela Morro do Piolho, na zona sul de São Paulo, foi tomada pelas chamas. Balanço parcial aponta três feridos – um jovem de 15 anos sofreu queimaduras de 1º e 2º graus, um homem fraturou uma das pernas e uma gestante caiu em depressão – e centenas de moradores ficaram sem teto, sem roupa, sem comida, sem nada. Pelo menos 285 dos 700 barracos foram destruídos pelo fogo. A Polícia Militar e a Defesa Civil ainda não sabem os motivos da tragédia, mas uma pergunta paira no ar: acidente ou crime?

Foi o quinto incêndio em favelas da capital paulista em menos de três semanas. Desde o início deste ano, já foram registrados 32 casos semelhantes. No ano passado, foram 79 incêndios em favelas. O Corpo de Bombeiros ainda computa 130 incêndios em 2008; 122 em 2009; e 91 em 2010. Na história recente de São Paulo nunca foram registradas tantas ocorrências assim, o que reforça a suspeita de que há algo de errado nestas tragédias em áreas carentes da cidade – mas, a maioria delas, valorizadas do ponto de vista imobiliário.

A insensibilidade de Serra e Kassab

Reportagem da Rede Brasil Atual já comprovou que o tucano José Serra, quando assumiu a prefeitura em 2005, extinguiu um programa simples de combate a incêndios em favelas. Implantando pela gestão de Marta Suplicy (PT), ele consistia em equipar alguns barracos com extintores e treinar moradores para o combate às chamas. Apesar do custo reduzido, o programa teve efeitos reconhecidos, diminuindo as tragédias humanas. Serra e sua cria, o prefeito Gilberto Kassab (PSD), simplesmente desativaram a ação preventiva.

Mas a dúvida sobre as causas dos incêndios não deriva apenas da insensibilidade do tucano e do ex-demo. A desativação do programa não explica o elevado e crescente número de ocorrências. Tanto é que a Câmara Municipal de São Paulo chegou a abrir uma comissão parlamentar de inquérito para apurar a hipótese de ação criminosa. Dominada pela base de apoio do prefeito, porém, a CPI até hoje não investigou absolutamente nada. Somente na semana passada foi aprovado um calendário de reuniões da comissão.

Especulação imobiliária e ação criminosa

A capital paulista, a exemplo de muitas cidades brasileiras, vive atualmente um boom da construção civil – em decorrência do aumento da geração de emprego e renda no país. Há poderosos interesses imobiliários em jogo. Recentemente também surgiram denúncias graves sobre corrupção na legalização de terrenos em São Paulo, envolvendo alguns figurões da prefeitura paulistana. Será que existe relação entre a crescente especulação imobiliária e o aumento dos incêndios em favelas? A CPI deveria responder a esta pergunta! 

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