Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
O ambiente político brasileiro, como sempre, está em chamas. Uns falam em preparação de um golpe branco, através do conluio entre mídia, judiciário e oposição partidária. A mídia, por sua vez, ridiculariza essas suspeitas. Presidentes dos principais partidos da base aliada divulgaram há pouco uma carta aberta em que denunciam a politização do julgamento do mensalão e a tentativa espúria, por parte de setores da imprensa, de macular a honra e a história do ex-presidente Lula.
Difícil se posicionar, ainda mais num momento eleitoral, que polariza e radicaliza as opiniões. Quem tenta ponderar acaba sendo arrastado para um dos extremos, ou então sendo visto com desconfiança por ambos os lados.
Não há meio termo. A internet ajuda a radicalizar as opiniões e cada um escolhe seu campo. Há alguns meses li um artigo do Pedro Doria mencionando um estudo que mostra a tendência à radicalização no ambiente virtual. Como se escreve sempre para o mesmo grupo de opinião, cria-se um ciclo vicioso que gera um radicalismo cada vez maior e mais polarizado.
Ponderar é chato, recende a insegurança, oportunismo, covardia. No entanto, é necessário, inclusive para os que se envolvem de corpo e alma nas lides políticas. Na Guerra do Peloponeso, o clássico de Tucídides, os grandes momentos literários são os discursos dos generais procurando incutir bravura nos soldados. Um dos mais belos é o de Péricles, falando aos atenienses. Ele é um dos mais inflamados partidários da guerra contra os peloponésios, porque entende que ela é inevitável e os atenienses, portanto, devem tomar a iniciativa antes que seja tarde. No entanto, quando os peloponésios, que tinham substancial superioridade numérica na infantaria (soldados em terra) invadem a Ática, o líder ateniense insta seu exército, tanto seu como dos aliados, a não contra-atacarem. Não era a primeira vez que Atenas tinha agido assim. Na guerra contra os persas, os atenienses chegam a abandonar a cidade e seus campos, e refugiam-se em seus barcos e nas ilhas próximas.
A estratégia consistia em não bater de frente contra um exército superior, mas deixá-lo se desgastar, e depois combatê-lo de preferência no mar, onde os atenienses levavam vantagem. E pegá-lo de surpresa.
A guerra do Peloponeso marca o fim da hegemonia ateniense e o declínio dos ideais democráticos no mundo grego. A estratégia de Péricles, contudo, estava certa, e enquanto ele viveu, Atenas levou a melhor. Após sua morte, assumiram a liderança do exército ateniense personagens menos brilhantes, mais imprudentes e ambiciosos, que acabariam por levar Atenas à derrota.
Muitos séculos depois, um general russo derrotou o até então invencível Napoleão usando a mesma estratégia. A Rússia inteira, população e exército, recuou para o interior gelado de seu território e deixou a França entrar livremente em Moscou. O grande estrategista francês, considerado um dos cérebros militares mais brilhantes da história, cometera enfim um erro fatal.
O general russo, por sua vez, penou para convencer seus ardentes oficiais a recuar. Foi chamado de covarde pra baixo, até que os resultados da guerra lhe deram razão. O terrível inverno russo sobreveio e Napoleão se viu no meio de uma cidade vazia, rodeada por campos devastados (pelos próprios russos), sem comida, sem infra-estrutura, sem nada. Quando inicia o retorno à França, o clima inóspito faz o papel do mais impiedoso dos adversários. E aí, justamente nesse momento, o general russo ordena o ataque.
As tropas napoleônicas são dizimadas por um exército descansado, acostumado ao frio, e com a vantagem de conhecer melhor o terreno.
Na guerra da comunicação em que vivemos não creio que seja o momento de recuar. Ao contrário, a mídia conservadora vive um tempo de desmoralização e enfraquecimento moral e político, conforme se pode depreender a partir do comportamento patético da Veja e a repercussão de suas reportagens nos grandes jornais. Seus partidos preferidos (DEM e PSDB) tem perdido espaço rapidamente. Os colunistas, que vinham fazendo festinha com o bom posicionamento de seus aliados em algumas capitais nas pesquisas de intenção de voto para as eleições municipais deste ano, viram seus sonhos se desfazerem nos últimos dias.
A mídia já acusou o golpe, conforme se constata por essa notinha, que abre a coluna de hoje do Ilimar Franco, Globo:
Observe o final. “A oposição depende, cada vez mais, de um rompimento de Eduardo Campos com a presidente Dilma”.
Por isso mesmo, o PT e outras legendas aliadas terão quer ser muito inteligentes para não se deixarem influenciar pelos “Iagos” da mídia, que farão de tudo para pintar o PSB como um adúltero. Eleição é um tempo de tensão. E o PSB está em confronto com o PT em Belo Horizonte e Recife. O Brasil, porém, é muito maior que isso. Tenho achado, por isso mesmo, que algumas intervenções do presidente do PT, Rui Falcão, e do secretário de Comunicação do partido, André Vargas, são desastradas. É um daqueles vícios do PT paulista, de ver somente o partido, e o curto prazo, sem enxergar as estratégias maiores.
Toda vez que as intrigas, constantes, diárias e crescentes, lançadas contra Eduardo Campos, se tornam alarmantes, o governador de Pernambuco viaja à São Paulo, encontra-se com Lula, os dois tiram fotos se abraçando, e Campos concede entrevistas onde reafirma a sua disposição de apoiar a reeleição de Dilma Rousseff em 2014. Um pernambucano autêntico como Campos pode ser tudo, menos desleal, traindo suas próprias palavras. O PSB é aliado estratégico do PT, e por isso acho até saudável que o PSB ganhe as eleições em Recife. Isso fortalecerá Campos. Em 2014, o governador deverá ou ser vice da presidenta Dilma ou, melhor ainda, senador da república, tornando-se imediatamente presidente do Senado. Temos assim um quadro político da esquerda sempre a postos para defender o campo popular progressista.
Quanto à regulamentação da mídia, um setor significativo da classe política já entendeu que é necessária. O governo federal, não sei. Tenho a impressão que o governo federal ainda tem dúvidas sobre as iniciativas a serem tomadas no campo da luta política e ideológica que acontece na comunicação social brasileira. Ainda há insegurança, algumas pitadas de covardia, outras de prudência. Tanto ministros quanto a presidente sabem que se tornarão, imediatamente, alvos de uma terrível campanha de desconstrução simbólica a partir do momento em que emitirem sinais concretos de que vão tomar medidas para reduzir o poder político da grande mídia. Gostaria de acreditar, também, que há estratégia. Que o governo espera o inverno se tornar mais rigoroso para a mídia antes de contra-atacar com força total. Não para destruí-la, mas para torná-la menos tirânica, mais plural e mais democrática, abrindo espaço para que outras ideias, mais condizentes com o Brasil de hoje, circulem na opinião pública.
O governo, aparentemente, abandonou Atenas e seus campos à sanha devastadora de seus inimigos. Blogueiros e ativistas digitais lutam sozinhos, usando táticas de guerrilha que, senão ferem de morte a mídia, lhe obrigam a soltar gritinhos de dor de vez em quando, como temos visto ela fazer através de seus editoriais e colunistas.
Não precisamos, todavia, esperar o Congresso Nacional. Os estados e municípios podem dar início às mudanças, fazendo leis que priorizem jornais de bairro, rádios comunitárias, blogs e sites.
Entretanto, uma mudança concreta em nossa realidade política, que dê segurança ao campo progressista popular de que os anseios da maioria não serão frustrados por trapaceiros da mídia, quase sempre mancomunados com bandidos disfarçados de ideólogos conservadores, como era a dupla Demóstenes & Cachoeira, uma mudança concreta só virá através de uma lei nacional que coíba os abusos, as calúnias, os escândalos às vésperas de eleições, que proíba enfim as famigeradas “balas de prata”.
A vantagem do campo progressista é justamente estar ao lado do povo. Hoje, a pesquisa CNI-Ibope, mostrou um crescimento notável da aprovação da presidente Dilma (chegou a 77%), mesmo com todo estardalhaço em torno do mensalão. Caiu a aprovação entre os mais ricos, mas cresceu fortemente junto à classe média baixa. A tendência é crescer ainda mais, após constatarem que os juros do cartão de crédito, que muitos ainda estão começando a usar, registraram queda, que a conta de luz está mais barata, e o valor do novo salário mínimo, a entrar em vigor em janeiro de 2013, ficará em R$ 670,00. A esquerda deverá crescer este ano no país todo. E, em 2014, teremos oportunidade de eleger um congresso ainda mais alinhado ao campo progressista. Antes disso, porém, temos que construir fortalezas para defender a nossa democracia. Os grupos conservadores que almejam ampliar seu poder político terão de batalhar por votos. Ganhar no tapetão, através de jogadas ensaiadas entre mídia, direita partidária e segmentos conservadores ou corruptos do judiciário, é um golpe branco que a sociedade já manjou, e estará de olho bem aberto para que não ocorra por aqui.
Aprovação da presidente Dilma:
Difícil se posicionar, ainda mais num momento eleitoral, que polariza e radicaliza as opiniões. Quem tenta ponderar acaba sendo arrastado para um dos extremos, ou então sendo visto com desconfiança por ambos os lados.
Não há meio termo. A internet ajuda a radicalizar as opiniões e cada um escolhe seu campo. Há alguns meses li um artigo do Pedro Doria mencionando um estudo que mostra a tendência à radicalização no ambiente virtual. Como se escreve sempre para o mesmo grupo de opinião, cria-se um ciclo vicioso que gera um radicalismo cada vez maior e mais polarizado.
Ponderar é chato, recende a insegurança, oportunismo, covardia. No entanto, é necessário, inclusive para os que se envolvem de corpo e alma nas lides políticas. Na Guerra do Peloponeso, o clássico de Tucídides, os grandes momentos literários são os discursos dos generais procurando incutir bravura nos soldados. Um dos mais belos é o de Péricles, falando aos atenienses. Ele é um dos mais inflamados partidários da guerra contra os peloponésios, porque entende que ela é inevitável e os atenienses, portanto, devem tomar a iniciativa antes que seja tarde. No entanto, quando os peloponésios, que tinham substancial superioridade numérica na infantaria (soldados em terra) invadem a Ática, o líder ateniense insta seu exército, tanto seu como dos aliados, a não contra-atacarem. Não era a primeira vez que Atenas tinha agido assim. Na guerra contra os persas, os atenienses chegam a abandonar a cidade e seus campos, e refugiam-se em seus barcos e nas ilhas próximas.
A estratégia consistia em não bater de frente contra um exército superior, mas deixá-lo se desgastar, e depois combatê-lo de preferência no mar, onde os atenienses levavam vantagem. E pegá-lo de surpresa.
A guerra do Peloponeso marca o fim da hegemonia ateniense e o declínio dos ideais democráticos no mundo grego. A estratégia de Péricles, contudo, estava certa, e enquanto ele viveu, Atenas levou a melhor. Após sua morte, assumiram a liderança do exército ateniense personagens menos brilhantes, mais imprudentes e ambiciosos, que acabariam por levar Atenas à derrota.
Muitos séculos depois, um general russo derrotou o até então invencível Napoleão usando a mesma estratégia. A Rússia inteira, população e exército, recuou para o interior gelado de seu território e deixou a França entrar livremente em Moscou. O grande estrategista francês, considerado um dos cérebros militares mais brilhantes da história, cometera enfim um erro fatal.
O general russo, por sua vez, penou para convencer seus ardentes oficiais a recuar. Foi chamado de covarde pra baixo, até que os resultados da guerra lhe deram razão. O terrível inverno russo sobreveio e Napoleão se viu no meio de uma cidade vazia, rodeada por campos devastados (pelos próprios russos), sem comida, sem infra-estrutura, sem nada. Quando inicia o retorno à França, o clima inóspito faz o papel do mais impiedoso dos adversários. E aí, justamente nesse momento, o general russo ordena o ataque.
As tropas napoleônicas são dizimadas por um exército descansado, acostumado ao frio, e com a vantagem de conhecer melhor o terreno.
Na guerra da comunicação em que vivemos não creio que seja o momento de recuar. Ao contrário, a mídia conservadora vive um tempo de desmoralização e enfraquecimento moral e político, conforme se pode depreender a partir do comportamento patético da Veja e a repercussão de suas reportagens nos grandes jornais. Seus partidos preferidos (DEM e PSDB) tem perdido espaço rapidamente. Os colunistas, que vinham fazendo festinha com o bom posicionamento de seus aliados em algumas capitais nas pesquisas de intenção de voto para as eleições municipais deste ano, viram seus sonhos se desfazerem nos últimos dias.
A mídia já acusou o golpe, conforme se constata por essa notinha, que abre a coluna de hoje do Ilimar Franco, Globo:
Observe o final. “A oposição depende, cada vez mais, de um rompimento de Eduardo Campos com a presidente Dilma”.
Por isso mesmo, o PT e outras legendas aliadas terão quer ser muito inteligentes para não se deixarem influenciar pelos “Iagos” da mídia, que farão de tudo para pintar o PSB como um adúltero. Eleição é um tempo de tensão. E o PSB está em confronto com o PT em Belo Horizonte e Recife. O Brasil, porém, é muito maior que isso. Tenho achado, por isso mesmo, que algumas intervenções do presidente do PT, Rui Falcão, e do secretário de Comunicação do partido, André Vargas, são desastradas. É um daqueles vícios do PT paulista, de ver somente o partido, e o curto prazo, sem enxergar as estratégias maiores.
Toda vez que as intrigas, constantes, diárias e crescentes, lançadas contra Eduardo Campos, se tornam alarmantes, o governador de Pernambuco viaja à São Paulo, encontra-se com Lula, os dois tiram fotos se abraçando, e Campos concede entrevistas onde reafirma a sua disposição de apoiar a reeleição de Dilma Rousseff em 2014. Um pernambucano autêntico como Campos pode ser tudo, menos desleal, traindo suas próprias palavras. O PSB é aliado estratégico do PT, e por isso acho até saudável que o PSB ganhe as eleições em Recife. Isso fortalecerá Campos. Em 2014, o governador deverá ou ser vice da presidenta Dilma ou, melhor ainda, senador da república, tornando-se imediatamente presidente do Senado. Temos assim um quadro político da esquerda sempre a postos para defender o campo popular progressista.
Quanto à regulamentação da mídia, um setor significativo da classe política já entendeu que é necessária. O governo federal, não sei. Tenho a impressão que o governo federal ainda tem dúvidas sobre as iniciativas a serem tomadas no campo da luta política e ideológica que acontece na comunicação social brasileira. Ainda há insegurança, algumas pitadas de covardia, outras de prudência. Tanto ministros quanto a presidente sabem que se tornarão, imediatamente, alvos de uma terrível campanha de desconstrução simbólica a partir do momento em que emitirem sinais concretos de que vão tomar medidas para reduzir o poder político da grande mídia. Gostaria de acreditar, também, que há estratégia. Que o governo espera o inverno se tornar mais rigoroso para a mídia antes de contra-atacar com força total. Não para destruí-la, mas para torná-la menos tirânica, mais plural e mais democrática, abrindo espaço para que outras ideias, mais condizentes com o Brasil de hoje, circulem na opinião pública.
O governo, aparentemente, abandonou Atenas e seus campos à sanha devastadora de seus inimigos. Blogueiros e ativistas digitais lutam sozinhos, usando táticas de guerrilha que, senão ferem de morte a mídia, lhe obrigam a soltar gritinhos de dor de vez em quando, como temos visto ela fazer através de seus editoriais e colunistas.
Não precisamos, todavia, esperar o Congresso Nacional. Os estados e municípios podem dar início às mudanças, fazendo leis que priorizem jornais de bairro, rádios comunitárias, blogs e sites.
Entretanto, uma mudança concreta em nossa realidade política, que dê segurança ao campo progressista popular de que os anseios da maioria não serão frustrados por trapaceiros da mídia, quase sempre mancomunados com bandidos disfarçados de ideólogos conservadores, como era a dupla Demóstenes & Cachoeira, uma mudança concreta só virá através de uma lei nacional que coíba os abusos, as calúnias, os escândalos às vésperas de eleições, que proíba enfim as famigeradas “balas de prata”.
A vantagem do campo progressista é justamente estar ao lado do povo. Hoje, a pesquisa CNI-Ibope, mostrou um crescimento notável da aprovação da presidente Dilma (chegou a 77%), mesmo com todo estardalhaço em torno do mensalão. Caiu a aprovação entre os mais ricos, mas cresceu fortemente junto à classe média baixa. A tendência é crescer ainda mais, após constatarem que os juros do cartão de crédito, que muitos ainda estão começando a usar, registraram queda, que a conta de luz está mais barata, e o valor do novo salário mínimo, a entrar em vigor em janeiro de 2013, ficará em R$ 670,00. A esquerda deverá crescer este ano no país todo. E, em 2014, teremos oportunidade de eleger um congresso ainda mais alinhado ao campo progressista. Antes disso, porém, temos que construir fortalezas para defender a nossa democracia. Os grupos conservadores que almejam ampliar seu poder político terão de batalhar por votos. Ganhar no tapetão, através de jogadas ensaiadas entre mídia, direita partidária e segmentos conservadores ou corruptos do judiciário, é um golpe branco que a sociedade já manjou, e estará de olho bem aberto para que não ocorra por aqui.
Aprovação da presidente Dilma:
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