terça-feira, 11 de setembro de 2012

Serra: semelhanças entre 1988 e 2012

Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

Serra está prestes a dar um espetacular salto rumo a seu passado. Transcorridos 24 anos, sua candidatura a prefeito de São Paulo em 2012 é singularmente parecida com aquilo que ocorreu em 1988.

Serra tentou a prefeitura paulistana, então, pelo recém-fundado PSDB. Era um nome forte. Começou a campanha como franco favorito. Recebera um espaço generoso da mídia por seu trabalho na Assembléia que faria a Constituição de 1988. (Detalhe: recebeu nota baixa do Diap, uma organização que avalia a atuação dos parlamentares pela ótica dos trabalhadores: de zero a dez, 3,75.) Os adversários pareciam pequenos diante de Serra. De um lado, Maluf, o velho Maluf, com a imagem tisnada irremediavelmente por sua ligação com a ditadura militar, primeiro, e pela fama de desonesto, depois.

De outro, Luiza Erundina, uma semidesconhecida do PT. Erundina carregava vários preconceitos num só pacote: mulher, nordestina e fora dos padrões estéticos consagrados. Os paulistanos, naqueles dias, estavam acostumados a ter alguém com as características de Erundina na cozinha ou no esfregão.

Havia ainda um terceiro adversário pouco ameaçador para Serra, João Leiva, do PMDB do qual derivara o PSDB de Covas e FHC. Sangrado de seus melhores quadros, o PMDB já era uma caricatura do que fora nos dias da anticandidatura de Ulysses Guimarães — um desafio ao mesmo tempo romântico e épico à ditadura militar, que em eleições indiretas controladas impunha o general que seria o próximo presidente.

Parecia fácil para Serra.

Até que começasse a campanha eleitoral e a televisão expusesse Serra como ele é: arrogante, antipático, ar de dono do universo. Conexão zero com o paulistano típico, a despeito de suas trombeteadas origens de menino pobre da Moóca. Raras vezes a Moóca, reduto da simpaticíssima colônia italiana de São Paulo, terá produzido uma pessoa tão metida como Serra. Ele pareceria originário do Jardim Europa, de uma casa com mordomo, e não da Moóca.

Deu no que deu.

Serra, à medida que as eleições foram se aproximando, foi perdendo mais e mais votos. Terminou em quarto, com 6% dos votos: até de Leiva ele perdeu. Sobraram poucos, entre os quais, se não estou enganado, eu próprio. Erundina e Maluf tiveram uma disputa eletrizante. As pesquisas, até a véspera, davam vantagem a Maluf. Mas havia no ar de São Paulo um vento a favor de Erundina que acabou dando a ela a prefeitura da cidade.

A candidatura Serra terminou em destroços. Mesmo assim, ele saiu do fracasso em 1988 convencido de que era o melhor nome não apenas para governar São Paulo, mas o Brasil.

Nos anos posteriores, Serra por duas vezes travaria um duelo de vontades com o povo brasileiro na tentativa de ser presidente, em 2002 e 2010. Em ambas as ocasiões a vontade dos brasileiros triunfou sobre a de Serra.

Mas 2014 está aí.

2 comentários:

  1. Já em 1986, candidato a deputado constituinte, Serra usava os mesmos métodos de hoje: muito dinheiro e nenhum escrúpulo. Invadiu as áreas de todos os demais candidatos, arrasou os de esquerda como Fernando Morais e Audálio Dantas, entre outros.
    Não é novidade que Serra faça uma campanha suja. Agora atira contra Russomano, mas atiraria contra qualquer um, usando preconceitos, religião, blogueiros de aluguel, e o cinismo sem pudor. Aposto que estará comungando em Aparecida nesta semana, apesar de que a Igreja Católica excomunga os abortistas automaticamente.
    Perderá, de novo.

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  2. Não tenho pretensão de lembrar de todos os detalhes do processo eleitoral de 1988 em Sampa, mas me parece que a narrativa do sr. Paulo Nogueira não corresponde aos fatos. Serra jamais foi favorito naquelas eleições. Entrou tardiamente na campanha, após a desistência de Montoro por motivos de saúde, Montoro que era o candidato aclamado pelo partido, e mesmo assim iniciou a campanha em 3º lugar, atrás de Maluf e Leiva, esses sim favoritos, e era Maluf o candidato franco-favorito,apesar de sua alta rejeição, pois naquela eleição não havia ainda o 2ºturno, instituído pela Constituição promulgada naquele ano, mas que só passaria a valer na eleição presidencial do ano seguinte. Serra assumiu a candidatura após muita hesitação, e entrou em 4ºlugar, atrás até de Erundina, que era uma candidata-zebra, escolhida pelas alas radicais do PT que rejeitaram Plínio de Arruda Sampaio, na época muito moderado e candidato de Lula e da Articulação.Serra na época era ainda pouco conhecido, e os tucanos ainda eram uma piada para a maioria dos eleitores paulistanos por causa do seu símbolo,o tucaninho. Para confirmar tudo isso, basta fazer uma busca do histórico das pesquisas eleitorais do Datafolha ou do Ibope da época. No link abaixo tem mais informações sobre aquela campanha do PSDB.

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/65373-a-campanha-esquecida.shtml

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