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Derrotado nas eleições para o Senado em 2010, o antigo líder do PSDB, Arthur Virgílio, tenta voltar à vida política e ocupar a prefeitura de Manaus. À primeira vista, sua situação parece confortável: o tucano lidera as pesquisas. No único levantamento realizado pelo Ibope até o momento, divulgado em 16 de agosto, o ex-senador tem 29% contra 19% da senadora Vanessa Grazziotin, candidata do PCdoB. Pesquisa do Instituto Action, encomendada pelo jornal A Crítica e divulgada no último domingo 2 de setembro, mostra Virgílio com 29% e Grazziotin com 22%. A questão é saber se o tucano manterá a distância até a votação do primeiro turno, em 7 de outubro.
A aliança de Grazziotin é ampla e motivada. Mesmo sem candidato próprio, o PT tem se empenhado na eleição manauara para solapar Virgílio. A razão para o esforço petista na cidade é a atuação do tucano no Senado durante os oito anos do governo Lula. Um dos líderes da oposição, Virgílio chegou ao nível mais baixo quando ameaçou dar uma surra no então presidente. Naquele mesmo dia, em 2005, disse no plenário: “sou inesquecível como inimigo”. Estava certo. O PT não o esqueceu. Nesta eleição, petistas desistiram da cabeça de chapa e, com o auxílio do líder do senador Eduardo Braga (PMDB), tentaram viabilizar a candidatura com mais chances de derrotar o tucano.
O resultado do empenho político foi uma coligação com oito partidos, com apoio à senadora do PCdoB. A aliança foi costurada em cima da hora. Até o último dia, o PT discutia a candidatura da deputada federal Rebecca Garcia (PP).
A disputa deste ano pode parecer uma repetição da eleição para o Senado em 2010, quando Grazziotin derrotou Virgílio. Há dois anos, ela teve, porém, uma votação menor que a do tucano em Manaus. Os atores da disputa são os mesmos, mas as circunstâncias são diferentes.
A candidata tem a seu favor um enorme tempo de televisão. São quase treze minutos por horário eleitoral, contra três minutos e meio de Virgílio. No seu programa, relembra com frequência os apoios de Lula e da presidenta Dilma Rousseff. Não à toa: Amazonas foi o estado onde Dilma venceu pela maior diferença em 2010. Teve 80,57% dos votos válidos no segundo turno contra José Serra. O PT planeja uma visita de Lula a Manaus no meio de setembro, para fazer a campanha ao lado de Grazziotin.
Enquanto isso, Virgílio não menciona sua atuação como líder da oposição a Lula. Na sua biografia no horário eleitoral, apresenta-se como um “senador atuante”, mas omite as diatribes contra o ex-presidente. O tucano havia usado a mesma estratégia na última eleição. “As urnas elegeram um candidato que não era do meu partido. Eles não me mandaram ir atrás de cargo, diretoria. Mandaram fiscalizar o que aconteceu, e foi nesse sentido que eu me portei. Mas isso aqui é uma eleição municipal, não quero discutir o Lula. Estou nela para discutir os problemas da cidade de Manaus,” justifica. O candidato também diz que seu histórico na oposição não influenciaria, caso eleito, sua relação com o governo federal na busca de verbas para a capital de Amazonas. “A Dilma trata seus adversários com razoabilidade. Ela não exige que você esteja do lado dela.”
Sem críticas a Lula em seu horário político, Virgílio usou seu tempo até para justificar erros passados. Em um dos programas, se desculpou pela repressão a camelôs ocorrida em 1989, quando era prefeito.
Além do empenho do PT, o tucano enfrenta problemas dentro do seu próprio partido. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), entrou no Supremo Tribunal Federal com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) para derrubar a lei que concede os incentivos fiscais à Zona Franca de Manaus. A atitude coloca em risco os mais de 100 mil empregos do polo industrial da cidade. Quase ninguém tomou conhecimento do ato de Alckmin em São Paulo. Mas a decisão virou tema de campanha em Manaus.
Desde então, Virgílio diz ter “rompido de vez” com Alckmin. O tucano afirma não ter contato com o governador paulista desde julho de 2011 e garante não ter sido avisado previamente da decisão. “Fico impressionado de ver que o Alckmin pede eleição interna do partido, quer prévias, e depois toma atitudes como essa. É uma contradição ambulante,” diz Virgílio. “Tenho muitas críticas ao PSDB, mas isso eu vou deixar para discutir muito depois. O partido tem de refazer seu discurso, fazer uma análise em perspectiva.”
Grazziotin também tem obstáculos em sua coligação. Seu vice, Vital Mendes (PT), foi escolhido de última hora e deixou parte dos petistas insatisfeitos. Liderados pelo deputado estadual Sinésio Campos, os descontentes chegaram à indicação de Moraes sem sucesso.
Mendes foi secretário do Trabalho na impopular administração de Amazonino Mendes (PDT) até abril deste ano. A coligação buscou o apoio do atual prefeito, aprovado por 28% da população, até a última hora. Por causa disso, Grazziotin, histórica opositora de Amazonino, agora evita críticas diretas ao atual prefeito.
Terceiro colocado nas pesquisas, o ex-prefeito Serafim Corrêa (PSB) reclama que PSDB e PT paulistas tentam nacionalizar a campanha e fazer um “colonialismo interno” no Amazonas. O socialista foi eleito prefeito de Manaus em 2004, mas perdeu a reeleição no segundo turno em 2008.
Corrêa minimiza a influência de Lula na disputa e tenta compensá-la com o apoio de Marina Silva. A senadora participou de eventos de campanha com Corrêa e gravou para seu programa de televisão. Foi a primeira aparição de Marina nas eleições deste ano. “O eleitor de Manaus vai decidir a eleição, não a de São Paulo. O Lula está distante. Ele vota e mora em São Bernardo. Mas a Marina é diferente, morou aqui, tem parente aqui e tomou banho no igarapé”. A candidata acriana à presidência teve 35,9% dos votos válidos da cidade em 2010.
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