quinta-feira, 11 de outubro de 2012

As fissuras na base governista

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

No balanço sobre as eleições municipais, ressaltei: o PT de Lula não sofreu a “derrota acachapante” que tantos colunistas da velha mídia previam. De outro lado, o PT também não colheu uma vitória espetacular. Pode-se dizer que Lula saiu-se vitorioso, dadas as condições adversas que enfrentava. Mas a tônica da eleição foi a fragmentação política, com sinais de que uma “terceira força” pode surgir.

Agora, nas negociações do segundo turno, surgem outros sinais dessa tendência. Na Bahia, o PMDB (que tem a vice-presidência da República, controla ministérios e autarquias federais) decidiu apoiar não o candidato petista – mas ACM Neto (DEM), inimigo ferrenho do PT e de Lula.

Em São Paulo, outros sinais de fissuras na base governista: o PDT de Paulinho ficou com Serra. Não chega a ser surpresa. Se de um lado domina a simbólica pasta do Trabalho (antes com Lupi, agora com Brizola Neto), em São Paulo o PDT é velho aliado dos tucanos. Ainda assim, chama atenção que Paulinho tenha feito a escolha de ficar com o PSDB – apesar dos apelos de Lula, que pedia apoio a Haddad. Em termos eleitorais, significa pouco. Paulinho teve menos votos que o PSOL. Mas não deixa de ser simbólico.

Agora, o PRB, partido que tem Marcelo Crivella no Ministério da Pesca, anuncia que ficará “neutro” na batalha campal entre Serra e Haddad. Era esperado que Russomano (candidato do PRB) optasse pela neutralidade. Mas o PT contava com o apoio explícito do PRB. Acompanhei a coletiva em que o presidente da silgla, Marcos Pereira, fez questão de anunciar que é “independente”. Uma repórter perguntou se Dilma havia pedido a Crivella o apoio a Haddad. Pereira disse que sim, mas concluiu: ainda assim, o PRB avaliou que seria melhor a neutralidade.

Sintomático. Apelos de Lula e Dilma não fazem efeito. Mostra de certa fragilidade, que pode ter várias explicações.

Primeiro, a base governista é ampla demais. As contradições vão-se avolumando: se abre espaço pro PMDB, o PT desagrada o PSB; e vice-versa. Mais que isso: os aliados se ressentem quando sentem que são preteridos por Dilma e Lula. O PRB talvez esperasse um nível de agressividade menor do PT em São Paulo. Se tivesse seguido essa linha, o petista estaria fora do segundo turno: precisou bater em Russomano para conquistar espaço. Agora, está na disputa, mas abre-se – aparentemente – uma fissura entre aliados.

Perguntei ao presidente do PRB, na coletiva, se a “neutralidade” em São Paulo era mais um sintoma no quadro nacional em que parece crescer o apelo por uma terceira força. Pereira confirmou.

O PT também se ressente da falta de articulação política. Dirceu está nas cordas, precisa resistir, sobra pouco tempo pra articular. E uma das funções do “mensalão” era justamente essa: inviabilizar o principal articulador petista. Dilma prefere o papel de “gerente”. Quem faz política em São Paulo, por exemplo? Haddad? Ele não articula sozinho. No PT, agora, tudo passa porLula. Fortaleza, Salvador, João Pessoa, Campinas, São Paulo… Tudo depende de Lula. Ainda que ele seja um gigante, é muita coisa para um homem só .

Os políticos movem-se pela expectativa de poder. Se aliados começam a dizer não ao PT, isso significa que muita gente fareja a possibilidade de mudar de barco. Isso não se faz de uma vez. Há testes, movimentos, ensaios. Partes do PSB, PMDB e talvez o PRB estejam ensaiando esse giro.

Como já disse em texto anterior, não parece que a velha oposição PSDB paulista/DEM possa ser a beneficiária desse movimento. Não. Talvez uma força nova esteja para surgir.

Não quer dizer que o PT não possa rearticular seus aliados, curando as feridas das disputas locais. Vitórias em Salvador e São Paulo serão uma demonstração de força de Lula, que fará os aliados voltarem ao leito… Mas derrotas nessas disputas emblemáticas podem aumentar as fissuras. Elas estão aí, expostas. Só não enxerga quem não quer.

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