segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Quem não tem voto critica o eleitor

Por Paulo Moreira Leite, na coluna Vamos combinar:

Pergunto o que leva nossos coveiros de sorriso amarelo a produzir tantas análises e raciocínios sofisticadíssimos para esconder o dado óbvio desta eleição municipal.

Apesar do julgamento do mensalão, apesar do tratamento ora irônico, ora pedante, que a maioria dos meios de comunicação dispensa ao ex-presidente Lula, está cada vez mais difícil esconder o bom desempenho do PT neste pleito.

Quem profetizou um fiasco de Lula precisa improvisar teorias para justificar verdades óbvias.

Quem chegou ao exagero de anunciar um duelo entre Lula e Geraldo Alckmin, em São Paulo, precisa fazer um curso supletivo de liderança política.

O mais novo argumento é dizer que o eleitor está desanimado, cansou-se da polarização entre PT e PSDB.

É preocupante. Nem faz muito tempo assim que os brasileiros recuperaram o direito de votar para prefeito de capital, que fora suprimido pela ditadura, e já tem gente que acha que esse tipo de coisa é cansativa e tediosa. É a mesma turma que, em dia de eleição, só consegue olhar para os santinhos na calçada e dizer que eles emporcalham a cidade. Eu acho que nada emporcalha mais uma cidade do que o autoritarismo, a falta de eleição, os prefeitos escolhidos de forma indireta.

E eu acho que a boca-de-urna ajuda a ampliar o debate numa eleição. E quem é a favor de proibi-la poderia dar uma chance ao próprio QI e perguntar-se se ela não tem a ver com a liberdade de expressão.

Voltando ao cansaço dos eleitores.

A teoria da baixa representatividade se apoia num fato real mas interpretado de forma interesseira.

É certo que o número de brancos e nulos nunca foi tão alto. O problema é usar este dado como prova de que nosso sistema político não expressa a vontade dos brasileiros e blá-blá-bla…

Nós sabemos muito bem onde esse tipo de conversa sobre falta de representatividade da democracia começa e onde costuma terminar, não é mesmo?

Estrela principal do pleito que centraliza as atenções no segundo turno, Fernando Haddad não enfrenta o menor problema com sua representatividade. Ilustre desconhecido há seis meses, já conquistou 49% das intenções de voto e lidera a eleição com uma diferença de 17 pontos. Falta de representatividade?

Se você comparar com outras eleições, municipais, estaduais e federais, verá que a ordem de grandeza é a mesma.

E se você se interessar pela temperatura da campanha, verá que Haddad tem empolgado a juventude e mesmo antigos militantes que pareciam ter pendurado a chuteira da luta política.

Estes números ajudam a mostrar que não há crise nenhuma com o regime democrático nem com o eleitor.

A doença envolve um candidato específico, José Serra, que exibe um desempenho muito abaixo daquilo que seus aliados prometiam no inicio da campanha.

O grande número de nulos e brancos, em São Paulo, expressa sua dificuldade para atrair apoio junto a eleitores do PSDB e mesmo adversários do PT. São estes nulos e brancos que deixaram de ir para a Serra, o que é natural num candidato com uma rejeição que chegou a 52%.

Lançado como última esperança para salvar a pátria do PSDB, o problema real da campanha de Serra não é a perspectiva de derrota. É o tamanho da diferença a favor de Haddad. Superior a qualquer previsão de nossos sábios, a vantagem do candidato do PT mostra um adversário que sequer tem-se mostrado competitivo.

Esta é a crise, o susto de 2012.

Temos uma oposição sem representatividade, inclusive em São Paulo, que sempre considerou como sua fortaleza.

Após a terceira derrota na sucessão presidencial, não é uma boa notícia para o PSDB.

Um comentário:

  1. A verdade é que o PSDB de Covas e Montoro acabou. O duopópolio estabelecido entre Alckmin e Serra, ao invés da apresentação de uma candidatura nova, jovem, cansou o eleitor paulistano, que é, como sempre fora, muito conservador. Tivesse aprendido algo com Lula, o PSDB também lançaria um candidato até então desconhecido e ganharia a eleição naturalmente.

    Andrea Matarazzo, Bruno Covas, José Aníbal e Ricardo Trípoli ameaçaram disputar prévias para esta candidatura, e qualquer um deles teria melhor sorte. Mas o Führer não poderia permitir sua aposentadoria precoce, além do surgimento de mais concorrência interna, e o resultado está aí.

    Em resumo, a verdade é que, tal como o PT transformou-se no partido do Lula, o PSDB paulista virou o partido do Alckmin e do Serra. A diferença, é que enquanto Lula é carismático, Alckmin e, principalmente, Serra, são intragáveis. Enquanto Lula promove a formação de novas lideranças, Alckmin e Serra lutam entre si para garantir o controle total. O PSDB é um partido sem alma, acabado, onde os próprios militantes enxergam isso.

    Paradoxalmente, caberá ao PMDB crescer nos próximos anos em São Paulo para, quem sabe, fazer sombra ao projeto de poder do PT que, sob a tutela de Lula, é imbatível.

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