Por José Dirceu, em seu blog:
A Comissão da Verdade deve receber hoje, em Porto Alegre, documentos sobre a morte de Rubens Paiva e o atentando no Riocentro, cometidos pela ditadura militar. Os papéis, como revelou o Zero Hora, confirmam oficialmente aquilo que já sabíamos: as versões oficiais para os dois casos não tinham nenhum sentido. Rubens Paiva foi preso e morto pela ditadura. A mesma ditadura que planejou o ataque ao Riocentro.
Neste momento histórico, é oportuno lembrar como a imprensa se comportou na época do atentado no Rio, em 1981. É esclarecedor saber que algumas posturas enviesadas da grande mídia a acompanham já há décadas.
Para quem não lembra, um breve resumo do atentado: na noite de 30 de abril de 1981, durante um show com os principais nomes da MPB no Riocentro em homenagem ao Dia do Trabalho, duas bombas explodiram no local. A primeira estourou dentro de um carro Puma e matou um sargento e feriu um capitão do Exército. Pouco depois, outra bomba explodiu na casa de força do Riocentro.
Era uma ação de militares que resistiam à abertura política e ao fim da ditadura. O Exército tentou esconder o fato – claro como o dia – de que os militares planejavam fazer um atentado contra o evento, mas uma das bombas acabou explodindo antes da hora. A ideia era culpar a esquerda.
É aí que entram alguns momentos nada honrosos da história da imprensa brasileira. O Jornal Nacional, da TV Globo, simplesmente desmentiu um fato que era absolutamente explícito, encampando a versão da ditadura.
Depois do atentando, o Jornal Nacional noticiou que havia mais duas bombas intactas no carro dos militares. Tais informações contrariavam o que sustentavam as investigações do Exército. Não deu outra: no dia seguinte, a TV Globo recuou e disse que as imagens não mostravam as referidas bombas, e sim cilindros de gás lacrimogêneo.
Esse recuo é reconhecido pela própria emissora, décadas depois. Neste link, a TV Globo tenta se justificar e diz que foi vítima de censura. Mas também reconhece que as outras emissoras não sofreram a mesma censura...
Nesse mesmo link, você pode ver as primeiras reportagens da Globo sobre o assunto. Curiosamente , não está registrada a que desmentiu a existência das bombas.
A Veja também teve papel nada animador. Basta dar uma olhada nas capas das edições que se seguiram ao atentado. Na primeira (foto), estampava na capa "A volta do terror", numa ambiguidade que nem mesmo os mais ingênuos fariam. Com isso, a revista deixava implícita a mensagem de que o ataque poderia ter sido feito pela da esquerda. Sendo que não havia nenhum elemento a sustentar tal versão.
A Comissão da Verdade deve receber hoje, em Porto Alegre, documentos sobre a morte de Rubens Paiva e o atentando no Riocentro, cometidos pela ditadura militar. Os papéis, como revelou o Zero Hora, confirmam oficialmente aquilo que já sabíamos: as versões oficiais para os dois casos não tinham nenhum sentido. Rubens Paiva foi preso e morto pela ditadura. A mesma ditadura que planejou o ataque ao Riocentro.
Neste momento histórico, é oportuno lembrar como a imprensa se comportou na época do atentado no Rio, em 1981. É esclarecedor saber que algumas posturas enviesadas da grande mídia a acompanham já há décadas.
Para quem não lembra, um breve resumo do atentado: na noite de 30 de abril de 1981, durante um show com os principais nomes da MPB no Riocentro em homenagem ao Dia do Trabalho, duas bombas explodiram no local. A primeira estourou dentro de um carro Puma e matou um sargento e feriu um capitão do Exército. Pouco depois, outra bomba explodiu na casa de força do Riocentro.
Era uma ação de militares que resistiam à abertura política e ao fim da ditadura. O Exército tentou esconder o fato – claro como o dia – de que os militares planejavam fazer um atentado contra o evento, mas uma das bombas acabou explodindo antes da hora. A ideia era culpar a esquerda.
É aí que entram alguns momentos nada honrosos da história da imprensa brasileira. O Jornal Nacional, da TV Globo, simplesmente desmentiu um fato que era absolutamente explícito, encampando a versão da ditadura.
Depois do atentando, o Jornal Nacional noticiou que havia mais duas bombas intactas no carro dos militares. Tais informações contrariavam o que sustentavam as investigações do Exército. Não deu outra: no dia seguinte, a TV Globo recuou e disse que as imagens não mostravam as referidas bombas, e sim cilindros de gás lacrimogêneo.
Esse recuo é reconhecido pela própria emissora, décadas depois. Neste link, a TV Globo tenta se justificar e diz que foi vítima de censura. Mas também reconhece que as outras emissoras não sofreram a mesma censura...
Nesse mesmo link, você pode ver as primeiras reportagens da Globo sobre o assunto. Curiosamente , não está registrada a que desmentiu a existência das bombas.
A Veja também teve papel nada animador. Basta dar uma olhada nas capas das edições que se seguiram ao atentado. Na primeira (foto), estampava na capa "A volta do terror", numa ambiguidade que nem mesmo os mais ingênuos fariam. Com isso, a revista deixava implícita a mensagem de que o ataque poderia ter sido feito pela da esquerda. Sendo que não havia nenhum elemento a sustentar tal versão.
Mas o pior ocorreu na edição seguinte (foto). Na capa, a Veja destacava "Fiqueiredo enfrenta a luta armada", com uma foto do capitão ferido ao fundo. Ou seja, a revista encampou a versão oficial de que o capitão e o sargento haviam sido vítimas de um atentado terrorista da esquerda. Como se a luta armada ainda existisse naquela época! A reportagem ainda dizia que as "bombas desafiaram atrevidamente o Palácio do Planalto".
É claro que ninguém acreditou, e a verdade acabou aparecendo. Mas, antes disso, algumas manchetes da Folha e do Estadão também não merecem comemoração. Um dia depois de noticiar a existência de mais duas bombas no carro, a Folha veio com a manchete "Primeiro Exército repudia versões", num claro recuo.
No mesmo dia, o Estadão também deu manchete aliviando para o Exército: "Délio promete investigar com 'máximo rigor'". Délio Jardim de Mattos era o ministro da Aeronáutica.
Mas é preciso lembrar o papel importante que o Jornal do Brasil teve na busca pela verdade. O jornal investigou e publicou elementos importantes para esclarecer a verdade. Aqui, você pode ver algumas das edições da época do JB.
Infelizmente, as primeiras páginas imediatamente após o atentado não estão nesse arquivo digital, mas vale ler o relato do repórter Fritz Ultzer, que cobriu o episódio pelo JB e conta como foi parte da cobertura.
A cobertura do JB puxou a dos demais jornais, que passaram a noticiar com clareza as contradições das investigações e acabaram também expondo a falsidade da versão do Exército.
É claro que ninguém acreditou, e a verdade acabou aparecendo. Mas, antes disso, algumas manchetes da Folha e do Estadão também não merecem comemoração. Um dia depois de noticiar a existência de mais duas bombas no carro, a Folha veio com a manchete "Primeiro Exército repudia versões", num claro recuo.
No mesmo dia, o Estadão também deu manchete aliviando para o Exército: "Délio promete investigar com 'máximo rigor'". Délio Jardim de Mattos era o ministro da Aeronáutica.
Mas é preciso lembrar o papel importante que o Jornal do Brasil teve na busca pela verdade. O jornal investigou e publicou elementos importantes para esclarecer a verdade. Aqui, você pode ver algumas das edições da época do JB.
Infelizmente, as primeiras páginas imediatamente após o atentado não estão nesse arquivo digital, mas vale ler o relato do repórter Fritz Ultzer, que cobriu o episódio pelo JB e conta como foi parte da cobertura.
A cobertura do JB puxou a dos demais jornais, que passaram a noticiar com clareza as contradições das investigações e acabaram também expondo a falsidade da versão do Exército.
É a mídia se atolando cada vez mais fundo na areia movediça da perda de credibilidade.Se o que ela teria de mais valioso-a credibilidade-para entregar,ela sonega ao público,não surpreende sua crescente perda de leitores.
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