Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A conferência da União Internacional das Telecomunicações (UIT), que se realiza em Dubai, nos Emirados Árabes, está mexendo até mesmo com a mídia internacional. A preocupação geral é com a possibilidade de o órgão da ONU se considerar no papel de regular o funcionamento da internet.
O assunto veio à tona no momento em que alguns países, como o Brasil, discutem a criação de um “marco regulatório” para a internet. Na verdade, a rede mundial de computadores entra nas discussões da UIT como parte do processo de reorganização das frequências de rádio e bandas para telefonia, necessidade criada pelas novas tecnologias de comunicação.
Mas o que está em jogo é a verdadeira liberdade de informação.
Retenção das atenções
Os representantes de 193 membros do organismo das Nações Unidas dizem que o objetivo do encontro é utilizar o potencial tecnológico para levar a internet e as telecomunicações às populações excluídas, expandindo o acesso às redes digitais. Mas entre os mais de 700 pesquisadores acadêmicos e enviados de empresas privadas presentes ao evento cresce a preocupação com o risco de um surto regulatório por parte de burocratas da ONU.
Por outro lado, gigantes dos novos negócios digitais, como o Google, acompanham os debates para observar os movimentos das empresas de mídia tradicional, que se sentem ameaçadas pela universalização da rede.
A transformação de todo tipo de conteúdo escrito, sonoro ou visual em algoritmos criou uma nova linguagem universal e, como no mito da Torre de Babel, acaba produzindo confusão onde deveria haver consensos. A aplicação dessa linguagem a aparelhos móveis estimula a expansão de redes informais de informação e interação, o que coloca em xeque o domínio das comunicações humanas pelos grandes conglomerados que exploram o setor desde a invenção do telefone.
Essas redes sociais digitais já alcançam grandes proporções das populações nos países onde a internet funciona sem restrição, alterando hábitos de consumo, reestruturando relações sociais, ampliando a participação política e transformando as economias. É natural, portanto, que sistemas hegemônicos tentem colocar obstáculos à sua expansão, na esperança de retardar o crescimento de novos negócios concorrentes.
A rigor, o que está em jogo é a atenção do público.
Sistemas autoritários e centralizadores, como o da mídia tradicional e das grandes empresas de telecomunicações, precisam se adaptar ao novo ambiente no qual a atenção das pessoas está mais fragmentada e não precisa ficar presa a uma agenda preestabelecida. O tempo se transformou no ativo mais importante do mundo e a experiência humana passa a funcionar como uma commodity semelhante ao petróleo.
Ainda é possível direcionar o interesse de milhões de pessoas ao mesmo tempo para um mesmo objeto, como acontece nos grandes eventos esportivos – ou, no Brasil, quando é transmitido o último capítulo de uma telenovela de sucesso. Mas já não é possível assegurar a retenção dessas atenções por muito tempo, nem prender os sentidos num único meio: no Brasil, por exemplo, o total de pessoas com acesso à internet já chega próximo aos 100 milhões.
Além disso, uma proporção enorme de pessoas com acesso à internet costuma assistir televisão e acessar a rede ao mesmo tempo. Por outro lado, existem no país 260 milhões de linhas de telefonia móvel em operação, 80% dos quais funcionam pelo sistema pré-pago, uma invenção nacional.
Caminho da sobrevivência
Para se ter uma ideia de como o sistema de negócios tradicional interfere na democratização da comunicação, basta observar que a grande maioria desses aparelhos ainda não oferece acesso à internet e apenas 25% deles têm recursos do tipo smartphone.
Isso acontece porque as empresas do setor preferem continuar empurrando para os consumidores aparelhos obsoletos, como acontecia com a indústria automobilística até o início dos anos 1990. A célebre frase do ex-presidente Fernando Collor de Mello sobre as “carroças” que os brasileiros eram obrigados a comprar pode ser aplicada ao mercado de telecomunicações.
Isso é apenas parte do jogo. Quando o número de celulares com acesso à internet ultrapassar o total de aparelhos comuns – o que está previsto para 2015 –, a grande maioria dos brasileiros passará a ter muito mais escolhas em termos de comunicação e serviços. Essa possibilidade abre novos campos de negócios, mas obriga alguns setores a ter que mudar para sobreviver.
O assunto veio à tona no momento em que alguns países, como o Brasil, discutem a criação de um “marco regulatório” para a internet. Na verdade, a rede mundial de computadores entra nas discussões da UIT como parte do processo de reorganização das frequências de rádio e bandas para telefonia, necessidade criada pelas novas tecnologias de comunicação.
Mas o que está em jogo é a verdadeira liberdade de informação.
Retenção das atenções
Os representantes de 193 membros do organismo das Nações Unidas dizem que o objetivo do encontro é utilizar o potencial tecnológico para levar a internet e as telecomunicações às populações excluídas, expandindo o acesso às redes digitais. Mas entre os mais de 700 pesquisadores acadêmicos e enviados de empresas privadas presentes ao evento cresce a preocupação com o risco de um surto regulatório por parte de burocratas da ONU.
Por outro lado, gigantes dos novos negócios digitais, como o Google, acompanham os debates para observar os movimentos das empresas de mídia tradicional, que se sentem ameaçadas pela universalização da rede.
A transformação de todo tipo de conteúdo escrito, sonoro ou visual em algoritmos criou uma nova linguagem universal e, como no mito da Torre de Babel, acaba produzindo confusão onde deveria haver consensos. A aplicação dessa linguagem a aparelhos móveis estimula a expansão de redes informais de informação e interação, o que coloca em xeque o domínio das comunicações humanas pelos grandes conglomerados que exploram o setor desde a invenção do telefone.
Essas redes sociais digitais já alcançam grandes proporções das populações nos países onde a internet funciona sem restrição, alterando hábitos de consumo, reestruturando relações sociais, ampliando a participação política e transformando as economias. É natural, portanto, que sistemas hegemônicos tentem colocar obstáculos à sua expansão, na esperança de retardar o crescimento de novos negócios concorrentes.
A rigor, o que está em jogo é a atenção do público.
Sistemas autoritários e centralizadores, como o da mídia tradicional e das grandes empresas de telecomunicações, precisam se adaptar ao novo ambiente no qual a atenção das pessoas está mais fragmentada e não precisa ficar presa a uma agenda preestabelecida. O tempo se transformou no ativo mais importante do mundo e a experiência humana passa a funcionar como uma commodity semelhante ao petróleo.
Ainda é possível direcionar o interesse de milhões de pessoas ao mesmo tempo para um mesmo objeto, como acontece nos grandes eventos esportivos – ou, no Brasil, quando é transmitido o último capítulo de uma telenovela de sucesso. Mas já não é possível assegurar a retenção dessas atenções por muito tempo, nem prender os sentidos num único meio: no Brasil, por exemplo, o total de pessoas com acesso à internet já chega próximo aos 100 milhões.
Além disso, uma proporção enorme de pessoas com acesso à internet costuma assistir televisão e acessar a rede ao mesmo tempo. Por outro lado, existem no país 260 milhões de linhas de telefonia móvel em operação, 80% dos quais funcionam pelo sistema pré-pago, uma invenção nacional.
Caminho da sobrevivência
Para se ter uma ideia de como o sistema de negócios tradicional interfere na democratização da comunicação, basta observar que a grande maioria desses aparelhos ainda não oferece acesso à internet e apenas 25% deles têm recursos do tipo smartphone.
Isso acontece porque as empresas do setor preferem continuar empurrando para os consumidores aparelhos obsoletos, como acontecia com a indústria automobilística até o início dos anos 1990. A célebre frase do ex-presidente Fernando Collor de Mello sobre as “carroças” que os brasileiros eram obrigados a comprar pode ser aplicada ao mercado de telecomunicações.
Isso é apenas parte do jogo. Quando o número de celulares com acesso à internet ultrapassar o total de aparelhos comuns – o que está previsto para 2015 –, a grande maioria dos brasileiros passará a ter muito mais escolhas em termos de comunicação e serviços. Essa possibilidade abre novos campos de negócios, mas obriga alguns setores a ter que mudar para sobreviver.
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