terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A posse de Obama e a mídia colonizada

Por Altamiro Borges

A imprensa nativa parece uma sucursal rastaquera da mídia estadunidense. Ontem, as emissoras “privadas” de televisão deram um show na transmissão da posse de Barack Obama. Comentaristas embasbacados gastaram horas para endeusar a “democracia nos EUA”. Hoje, os principais jornalões deram total destaque para o ritual. O Globo utilizou quase toda a sua capa. “Obama prega igualdade para gays e imigrantes”, foi a sua manchete. Folha e Estadão repetiram a bajulação, num típico pensamento único imperial.

Bem diferente é a cobertura da mídia das posses dos presidentes latino-americanos, principalmente quando eles se opõem à política imperialista dos EUA na região e pregam a integração soberana do continente. No caso de Hugo Chávez, da Venezuela, ela nem sequer escondeu a torcida macabra pela sua morte. As posses de Cristina Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), entre outros, também mereceram coberturas “jornalísticas” negativas, depreciativas e até preconceituosas.

O comportamento servil da mídia nativa lembra uma frase de Chico Buarque, em outubro de 2010, durante o encontro de intelectuais e artistas em apoio a então candidata Dilma Rousseff. Na ocasião, ele ironizou os que “falam fino com Washington e falam grosso com a Bolívia e o Paraguai”. A imprensa brasileira segue exatamente este padrão de subserviência. E olha que os EUA nem estão com esta bola toda na atualidade. O império decadente afunda na crise econômica e se atola nas guerras em várias partes do mundo.

A regressão social nos EUA é algo impressionante – mas os “calunistas” preferem bajular a posse de Barack Obama. O país é hoje um dos mais desiguais e injustos do planeta. Um em cada sete estadunidenses depende de assistência do governo federal para comer. São cerca de 46,5 milhões de pessoas incluídas no programa “Food Stamps” (cupons de comida). Outros milhões não contam com qualquer tipo de assistência pública à saúde; outros foram despejados de suas casas e hoje residem em trailers.  

Na bajulada “democracia ianque”, enquanto milhões vegetam na miséria e não acreditam mais na balela da “terra das oportunidades”, uma minoria residual – o 1% criticado pelo movimento Ocupe Wall Street – continua esbanjando fortunas. Em 2010, apesar da brutal crise que vitimou o país, estes ricaços voltaram a acumular riquezas. A participação na renda dos 1,6 milhão do topo da pirâmide subiu de 18% para 19,8%. Mesmo assim, a mídia colonizada faz festa para a posse de Barack Obama. Haja servilismo!

4 comentários:

  1. A bajulação poderia ter sido maior, Altamiro. A Globo News adiou para fevereiro a inauguração de seu canal em alta definição. Já imaginou? Bajulação e servilismo em HD?

    Os puxa-sacos dos ianques gostam de insinuar que Obama é o legítimo sucessor de Martin Luther King Jr, que Obama defende os direitos civis de minorias (imigrantes, homossexuais, etc), que defende o chamado "SUS americano" (jocosamente chamado pelos republicanos de Obama Care)... Mas, na verdade, todo o Partido Democrata é algo entre o velho MDB e o PSDB. O Partido Republicano é a UDN dos EUA.

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  2. Nao achava um elo logico que explicasse o empobrecimento de municipios e estados nos EUA - especialmente california e michigan.
    Ate que li O artigo de I.wallerstein traduzido agora no portal Vermelho.org.
    E lá que pobreza de alastra com força e primeiro. a analise de wallerstein é daquelas que abrem uma cortina e deixam entrar a luz.

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  3. Do jeito que anda o nível de credibilidade da mídia brasileira o Departamento de Estado americano, logo logo, vai pedir mais realismo nas notícias sobre os EUA!

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  4. O interessante para nós outros, é como poderemos mudar esse poder da mídia (o quarto poder). Como encontrar um meio (a terceira via) de fazer conhecimento fora dos canais de TV, rádios e jornais, quase sempre de um grupo! Como seria possível derrubar uma estrutura tão forte de uma emissora, em que a cultura se vê submissa? Como acredito no poder infinito da nossa criação, como vejo que somos uma "merdinha", aliás, "merdinha" ainda é muito grande, em comparação com todo o universo, tenho confiança de que os maus não passarão! É inconcebível que o poder criador não interceda em tempo. Voltando ao poder da mídia, estamos no tempo em que falar de atores de teatro, é sinônimo de elementos da Globo! Músicos, numa grande maioria, para o sucesso, submetem-se à Globo! Salvem-nos Buda, Deus, Maóme, Shiva, Zumbi dos Palmares, Irmã Tereza, e, tantos quantos possam interferir nesse avanço dessa mídia de podres poderes! Do Indignado.

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