terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Desafio da comunicação nas prefeituras

Por Altamiro Borges

O pronunciamento da presidenta Dilma em cadeia nacional de rádio e televisão, na quarta-feira (23), confirma a força da comunicação pública. Além de esclarecer a população sobre a redução das tarifas de energia, ela polemizou com os “pessimistas” e “alarmistas” da imprensa e da oposição. A mídia privada e seu dispositivo partidário, composto do PSDB, DEM e outras legendas, ficaram atordoados, sem resposta. Sentiram o baque do uso das concessões públicas da radiodifusão, conforme determina a lei, no diálogo franco e direto com a sociedade. A mídia e a oposição não estão acima dos que foram eleitos pelo povo, que devem honrar seus mandatos.

O episódio revela que sem uma comunicação pública de qualidade, ágil e eficiente, até as administrações públicas mais bem sucedidas são desmoralizadas e derrotadas. A comunicação direta com a sociedade, sem intermediários, é algo fundamental para detectar os erros, mas também para destacar os aspectos positivos de qualquer gestão. Ela deve prestar serviços à sociedade, informar sobre suas ações, limitações e debilidades. Deve manter um canal permanente de interlocução com os munícipes. Sem ilusões, ela deve também fazer o contraponto às manipulações tão comuns da mídia privada, seja por razões políticas ou econômicas.

Grosso modo, a imprensa possui dois grandes blocos. Uma que faz um jornalismo sério, que aponta os problemas reais da cidade, que denuncia os erros e os desvios da gestão – inclusive os casos de corrupção –, que fiscaliza o poder público. Esta mídia deve ser valorizada e respeitada. Não adianta brigar com os fatos concretos. Diante das denúncias, é preciso averiguar os erros, para não cometer injustiças, garantir a defesa dos acusados e, caso comprovadas as irregularidades, adotar medidas exemplares em defesa do erário público. Hoje, todos os administradores estão mais vulneráveis ao controle da sociedade, o que é excelente.

Há, porém, um segundo bloco. A que faz um jornalismo do esgoto, dos factoides, do denuncismo vazio. Não pode haver ilusões neste terreno. Este bloco tem razões políticas – está ligado às forças que foram derrotadas nas eleições e tem projetos políticos distintos. Ele também pode ter motivações econômicas, inclusive na defesa dos interesses corporações locais. Além disso, a mídia nos últimos anos reforçou sua linha editorial da escandalização da política. Isto é o que amplia a audiência dos veículos, que garante mais publicidade e venda. Nos dois casos, a mídia acaba cumprindo o papel de partido político e pode causar enormes prejuízos a uma boa administração.

Diante deste cenário, o que fazer? O primeiro passo é entender que a comunicação pública é uma questão estratégica. As prefeituras devem investir neste setor, profissionalizar seu trabalho, garantir qualidade, eficiência e agilidade. É fundamental monitorar a postura da mídia, responder suas críticas – justas e injustas –, manter o diálogo permanente com a sociedade. No trato com a mídia tradicional, é preciso montar boas assessorias de imprensa. Municiar os jornalistas de informações, mas cobrar o respeito aos fatos. A mídia não está acima das leis e da Constituição. É preciso manter boa relação com os veículos privados, mas sem servilismos ou promiscuidades.

O ideal é que a prefeitura tenha seus canais diretos de comunicação com a sociedade, garantindo a verdadeira liberdade de expressão. Já há várias experiências de jornais impressos de boa qualidade e com distribuição gratuita. Isto garante ao cidadão o direito humano à informação. A comunicação não pode ser monopólio de grupos privados. Há também possibilidades, previstas na legislação – como na Lei da TV a Cabo – para a construção de emissoras públicas de rádio e televisão. É preciso utilizar todos os instrumentos disponíveis e garantir a participação da sociedade no controle destes meios públicos de comunicação.

As novas administrações também devem estar atentas para o fenômeno da mídia digital. Segundo recentes pesquisas, 83,4 milhões de brasileiros já têm acesso à internet no Brasil – em casa, no trabalho, na escola, nas lan-houses. O país é um dos campeões mundiais no uso das redes sociais – twitter, facebook e outros. A juventude abandona os jornais e a televisão, que hoje sofrem uma grave crise do seu modelo de negócios. A mídia digital, esta brecha tecnológica que alguns setores já tentam calar, abala o monopólio da palavra dos grupos tradicionais. As novas administrações devem estar conectadas neste novo mundo.

É preciso investir na inclusão digital, garantindo a implantação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) nos municípios e viabilizando áreas públicas de acesso gratuito à internet. Este meio possibilita o contato direto e ágil com os cidadãos, democratiza a informação e presta serviços indispensáveis à população. A experiência do gabinete digital, como o implantado no Rio Grande do Sul, garante maior transparência ao poder público e o diálogo permanente com a sociedade. É necessário monitorar, profissionalmente, o que rola nas redes sociais para corrigir os erros e lacunas com mais rapidez. Nesse esforço do contato direto, expressão da democracia, as próprias prefeituras podem ter os seus blogs. A experiência do Blog da Petrobras evidenciou a importância deste instrumento.

Por último, o Brasil tem a necessidade urgente de envolver mais a sociedade na reflexão sobre o papel da mídia na atualidade. O tema é hoje debatido em várias partes do mundo e o nosso país é um dos mais atrasados neste quesito, tão essencial para a radicalização da democracia. A mídia exerce forte papel na construção da subjetividade – ela informa, mas também manipula informações; ela constrói valores, mas também deforma comportamentos. Este tema estratégico não pode ser monopólio dos grupos privados de comunicação, que confundem liberdade expressão com liberdade dos monopólios. No esforço para envolver mais a sociedade as prefeituras tem um importante papel. A convocação de conferências municipais de comunicação e a criação de conselhos municipais podem contribuir na luta pela democratização da mídia e pela verdadeira liberdade de expressão no Brasil.

* Exposição apresentada no Encontro Nacional de Prefeitos (as) e Vice-Prefeitos (as) do PCdoB, realizado neste final de semana em Brasília. Utilizei como fonte de pesquisa recentes e excelentes artigos de Luis Nassif, Beto Almeida e Maurício Caleiro sobre o tema. 

Um comentário:

  1. Lei de Meios, Reforma Agrária e do Judiciário é uma mesma coisa que deve ser feita no Brasil já.

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