segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

E os trabalhadores da boate Kiss?

Por João Franzin, no sítio da Agência Sindical:

Em nenhuma, rigorosamente, em nenhuma cobertura da imprensa sobre a tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, eu ouvi falar em trabalhador. Será que nenhum funcionário morreu no incêndio? Será que nenhum empregado ficou ferido?

Será que não ocorre aos jornalistas (um batalhão deles no local) perguntar sobre a condição de quem trabalhava na boate?

Não sei o que ocorria na Kiss, em Santa Maria. Mas nas grandes cidades, em regra, as condições de trabalho desses funcionários são ruins: muita informalidade, ambiente agressivo, jornada esticada nos dias de balada, som alto, convivência com usuários de drogas (usa-se muito droga sintética e álcool), entre outras. Em São Paulo, muitos antigos barracões de fábrica são adaptados para esse tipo de estabelecimento.

A Agência Sindical, onde trabalho, tentou desde as primeiras horas da manhã da segunda (28) falar com algum representante do Sindicato local (Secohtur). Por volta das 11h15, conseguimos falar com a secretária da entidade. Ela informou que estavam com dificuldades de apurar o ocorrido com os empregados, porque tanto os advogados da boate e o escritório que administra a empresa se negavam a dar informações ou citar nomes de eventuais vítimas.

Mas, atenção: a mesma secretária do Sindicato (que seria filiado à Nova Central) dizia haver boatos sobre “a falta” de sete funcionários. Parece que, na hora do sinistro, 23 trabalhavam no local.

Não tivemos como falar com nenhum dos diretores do Sindicato porque todos estavam mobilizados no atendimento às vítimas e ajudando no que cabia. Conseguimos o telefone da diretora Rejane, que havia viajado para Porto Alegre, e tentávamos falar com ela, a fim de levantar informações mais detalhadas.

Não vou a boates porque é o tipo de ambiente que me irrita. Mas sei que são locais barulhentos, cheios de gente e que muitos estabelecimentos funcionam de forma improvisada, sob vistas grossas das autoridades. Na Zona Sul de São Paulo (e em outros locais descolados), enquanto os playboys se divertem, os trabalhadores se desdobram para dar conta das tarefas, não raro em jornadas extenuantes e ainda tendo de aguentar desaforo de bêbado.

A imprensa só mostra o suposto glamour desses locais, que costumam ilustrar as colunas sociais de segunda linha. Quando acontece tragédia, aí a mídia se mobiliza, a fim de faturar com a desgraça alheia. Sobre quem trabalha, como trabalha, quanto ganha, que jornada cumpre, silêncio.

A Agência Sindical, sem querer adotar uma postura quixotesca, está atrás de responder uma pergunta elementar: o que aconteceu com os trabalhadores da boate Kiss?

9 comentários:

  1. Parabéns pela pergunta! Sou dirigente sindical e sempre q ocorre tragédia, o roteiro da mídia é culpar ou fingir que os trabalhadores não existem. Esquecem q nada ganham a mais por terem q trabalhar sem condições mínimas e/ou tem q se calar para manter seus empregos. Continue investigando e escrevendo sobre o tema.

    ResponderExcluir
  2. Também não ouvi sobre o nome dos donos da boate. Só o gerente. Podem ser gentes ricas ou etc.

    ResponderExcluir
  3. Desculpa mas não concordo com o seu texto dessa vez, todos nós estamos solidários com as vítimas do incêndio. Sejam eles trabalhadoras ou frequentadoras da boate. Não tem sentido falar em luta de classes nessa tragédia. Essa é a minha opinião. Na hora do incêndio estavam todos no mesmo barco. Um abraço.

    ResponderExcluir
  4. Não sei se isso ocorreu de fato,mas se os "seguranças" não perceberam que havia um problema eles são uns babacas. Que seguranças são esses?Preocupados somente com a segurança financeira do dono do estabelecimento?Não é a primeira vez que ocorre esse comportamento de ditos seguranças. Num ambiente lotado e fechado como aquele a qualquer sinal de correria as saidas devem ser liberadas.Seja em estadio de futebol,igreja,danceteria....Qualquer tumunto,mesmo sem fogo e fumaça, pode se transformar numa tragédia

    ResponderExcluir
  5. Mas que playboy se divertem? A maioria era filhos de trabalhadores e alguns trabalhadores também.Um pedreiro de Santa Maria perdeu duas filhas na tragédia!E mesmo qu fossem playboys? O comportamento que se sabe de certos "trabalhadores" que faziam a "segurança" do local foi de bloquer a saida para assegurar o lucro do patrão.

    Leonel Santos-Alvorada RS

    ResponderExcluir
  6. Um moralismo muito comum na direita religiosa .Com comentários do tipo: conviver com bebados e drogados! Ou outros como: "enquanto os playboys se divertem"...Ou "ter que aguentar desaforo de bebado". Como se a maioria dos jovens que morreram na tragédia não fossem filhos de trabalhadores e trabalhadores também(o ingresso era 15 reais). Muitos entraram na universidade pelo pro uni...Um pedreiro de Santa Maria perdeu duas filhas na tragédia.E como se todos nós trabalhadores não convivessemos com bebados e drogados, inclusive no trabalho, nas greves,nas atividades sindicais...E se fossem playboys? Isso me lembra algumas carolas da internet escrevendo: Se estivessem numa igreja....

    Leonel Santos-Alvorada-RS,

    ResponderExcluir
  7. Para quem quiser saber: 1- A FAMÍLIA DO KIKO, DONO DA BOATE, TEM TAMBÉM UMA DAS MAIORES CONSTRUTORAS DA CIDADE DE SANTA MARIA. ESTA POR SUA VEZ TEM CONTRATOS COM A PREFEITURA. 2- TODOS NO BRASIL SABEM DE ONDE VEM O DINHEIRO PARA AS CAMPANHAS ELEITORAIS. E ANO PASSADO, BINGO, FOI ANO DE ELEIÇÃO. 3- 'COINCIDENTEMENTE', HÁ ALGUNS DIAS A PREFEITURA DE SANTA MARIA - F E C H O U - POR 'IRREGULARIDADES',A PRINCIPAL CONCORRENTE DA BOATE KISS NA CIDADE. 'COINCIDENTEMENTE' TAMBÉM NA ÉPOCA MAIS RENTÁVEL PARA OS DONOS DE BOATES, QUE É ESSA ÉPOCA DE FÉRIAS DE VERÃO. SIM ESTÁ TUDO AÍ, É O RABO DO RATO, SE ALGUM JORNALISTA QUISER VER O RATO É SÓ PUXAR PELO RABO!

    ResponderExcluir
  8. Olá, por estar no RS e ter acesso a mais informações locais, escutei três entrevistas que citavam empregados, mas com certeza esse não tem sido o foco: um segurança que se salvou; um filho de uma senhora que trabalhava no banheiro por R$ 35 a noite e morreu; e um garçom que se salvou, mas comentou que seriam cerca de 7 colegas desaparecidos. Espero ter contribuído, parabéns pelo enfoque.

    ResponderExcluir
  9. Mais tragédia:

    Oito militares estão entre os mortos após o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS). Eles ajudavam no resgate de vítimas.

    O Comando da 3ª Divisão de Exército confirmou a lista e informou que as famílias estão recebendo todo o apoio necessário. Ao menos 231 pessoas morreram.

    Os corpos das vítimas começaram a ser enterrados na manhã desta segunda-feira (28). Ao todo, 34 serão sepultados no cemitério municipal e 23 no cemitério Santa Rita.

    ResponderExcluir

Comente: