quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Enfrentar a ofensiva da direita

Por José Dirceu, em seu blog:

O título deste post foi tirado de uma das minhas declarações dadas ontem no excelente encontro no Rio na sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) para discutir o julgamento da AP 470, chamado pela imprensa de julgamento do mensalão, no qual fui condenado sem provas. Mais de seiscentas pessoas estiveram no local.

O debate foi organizado pela CUT em parceria com o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Também estiveram presentes os jornalistas Raimundo Pereira e Altamiro Borges, o advogado Adriano Pilatti, professor da PUC-Rio, e Fernanda Carísio, integrante da Executiva do PT-RJ e ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio.

Mas quero começar destacando alguns trechos da excelente fala da jornalista Hildegard Angel, que também esteve lá:

"Venho, como cidadã, como jornalista, que há mais de 40 anos milita na imprensa de meu país, e como vítima direta do Estado Brasileiro em seu último período de exceção, quando me roubou três familiares, manifestar publicamente minha indignação e sobretudo minha decepção, meu constrangimento, meu desconforto, minha tristeza, perante o lamentável espetáculo que nosso Supremo Tribunal Federal ofereceu ao país e ao mundo, durante o julgamento da Ação Penal 470, apelidada de Mensalão, que eu pessoalmente chamo de Mentirão."“Vimos aquele show de deduções, de indícios, de ausências de provas, de contorcionismos jurídicos, jurisprudências pós-modernas, criatividades inéditas nunca dantes aplicadas serem retiradas de sob as capas e utilizadas para as condenações.” 

“A grande maioria dos que conheço não pensa como eu. Os que leem minhas colunas sociais não pensam como eu. Os que eu frequento as festas também não pensam. Mas eles estão bem protegidos. Importa-me os que não conheço e não me conhecem, o grande Brasil, o que está completamente fragilizado e exposto à manipulação de uma mídia voraz, impiedosa e que só vê seus próprios interesses. Grandes e poderosos. E que para isso não mede limites. Esta mídia que manipula, oprime, seduz, conduz, coopta, esta não me encanta. E é ela que manda.”


Ofensiva da direita

No debate, eu chamei atenção para a importância de levarmos adiante a luta política, não apenas pelas condenações sem provas impostas pelo STF, mas também porque ela se dá em uma escala mais ampla. É uma ofensiva conservadora e midiática contra o PT, contra o ex-presidente Lula e contra o nosso governo.

Destaco abaixo alguns trechos da minha fala no debate:

"A necessidade dessa luta política não é apenas pelo julgamento. É enfrentar a ofensiva que está havendo contra o companheiro Lula e contra o governo da presidenta Dilma. É preciso enfrentar a ofensiva que a direita está fazendo no país contra o nosso projeto político."

"Sempre que digo para ir às ruas, dizem que é uma afronta à democracia e ao STF. Pelo contrário, é um serviço que fazemos à democracia e à Suprema Corte. Temos que fazer a disputa do que foi o julgamento, o julgamento do julgamento. Temos que fazer uma anticampanha. Foi feito uma campanha para criar as condições para que o julgamento se desse como se deu.”

"Onde estão os nossos? Quando o procurador da República diz que vai enviar para os procuradores de primeira instância as denúncias do Marcos Valério sobre as relações com o presidente Lula, quem é que foi para a tribuna denunciar isso?"

"Sofri uma devassa da Receita por três anos, de 2006 a 2009. Recebi um atestado de honestidade. Mas toda a imprensa divulga como se eu tivesse me enriquecido no governo e no mensalão. Há uma campanha de tentar nos desmoralizar."

"O julgamento teve quatro meses e parou de julgar toda a sua pauta, por algo que era transmitido por TV aberta. Algo que não existe. Sendo assim, se transformou num julgamento de exceção. Perdemos essa batalha. Foi a primeira derrota que tivemos desde 2002.”

E deixei claro mais uma vez que vou lutar até que a verdade seja provada:

"Pode ser regime fechado, pode ser segurança máxima, pode ser solitária. Não vão me calar. Eu vou lutar."

“Eu optei por lutar, apesar do linchamento e da violência da imprensa. Sabia que era um julgamento do governo Lula, do PT e do nosso projeto.”

“Vou percorrer todo o Brasil. É uma luta longa que só está começando.”

"Quem fala em nome da nação é o Congresso Nacional, o parlamento brasileiro. Ministro do Supremo não fala em nome da nação."

Eu também falei sobre o temor que os meios de comunicação tem da regulamentação da mídia, algo que já existe em diversos outros países democráticos, mas que aqui é atacado violentamente. Aí a imprensa parte para a ofensiva de desmoralizar os políticos para impedir esse debate:

"É o caminho das ditaduras, uma tentativa de desmoralizar a política, os políticos e o Congresso."

"No dia em que o Congresso não tiver medo da Globo, da mídia, faz a regulação."

"É uma batalha dificílima contra o monopólio dos meios de comunicação. Há uma perda de qualidade e conteúdo nos jornais, porque passaram a partidarizar qualquer análise econômica, com campanhas de sabotagem sobre a própria economia do país.”

“Se existisse democracia nos meios de comunicação não estaríamos aqui. Seriamos absolvidos.”

Ainda vou tratar mais desse encontro nos próximos posts, com vídeos e importantes trechos de outros participantes também. Mas já queria compartilhar com vocês como foi um pouco desse evento no Rio.

2 comentários:

  1. Ninguém lúcido neste país desconhece que o tal "julgamento" foi um tribunal de exceção, conduzido pela mídia reacionária e com objetivos políticos claros, confessados até pelo procurador-geral da República. Inverteu-se princípios universais do Direito, como a presunção de inocência e a exigência de provas. Atribuiu-se aos réus a obrigação de provarem sua inocência, diante de indícios e deduções! Faz muito bem o ex-ministro Zé Dirceu em denunciar esta farsa, com todas as suas forças. E nisso, tem o apoio de boa parte da população que se recusa a ser manipulada.

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  2. "Quem fala em nome da nação é o Congresso Nacional, o parlamento brasileiro. Ministro do Supremo não fala em nome da nação."

    A mídia só aponta a câmera e dá o microfone na mão de quem ela bem quer. A mídia diz que é ela e nós assim, juntinho, ó! E em parte ela obtém o que deseja: os índices de audiência dos folhetins ainda são altíssimos, a despeito das usuais repetições de situações, do jogo maniqueísta de personagens maus até a raiz e outros bonzinhos que dói. Ela nos imbeciliza e coloca a voz do tucanato nos ouvidos do povão, que em alguns casos repete os bordões, como repete os da medíocre 'Zorra Total'. Enquanto não inventarem algo que convença tanto quanto isto, estaremos nas mãos dela. E a MPB, que já foi um dia trincheira de sanidade, hoje é algo que não fede e nem cheira, ou que reproduz denúncias baratas. Pobres de nós!

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