quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Marta rechaça elitismo da Folha

Por Altamiro Borges

Na quinta-feira passada (10), a Folha publicou um editorial raivoso contra o chamado “Vale-Cultura”, rotulado de “vale-populismo” já no título, e abusou dos adjetivos para desqualificar a ministra Marta Suplicy. Na visão elitista do jornal, a nova lei “é mais um exemplo do uso equivocado de dinheiro público na área cultural do país”. A Folha prefere que a grana dos impostos seja usada somente para bancar os juros dos rentistas. Ela também adora os milhões de reais que recebe de publicidade do governo – que só serve para alimentar cobras!

Pela nova lei, trabalhadores que recebem até cinco salários mínimos poderão receber o “Vale-Cultura” de R$ 50 mensais.  Desse valor, R$ 45 serão subsidiados pelo governo por meio de renúncia fiscal. “Estima-se que serão beneficiados 10 milhões de assalariados”, diz a Folha, para torpedear: “O argumento fácil da ‘democratização da cultura’ sempre pode ser esgrimido para justificar o espetáculo populista. Mas parece óbvio que essa não é a melhor estratégia para empregar tais verbas públicas”.

O editorial elitista da Folha, que inclusive afirmou preconceituosamente que o dinheiro seria usado para “livros de autoajuda”, deve ter gerado chiadeira dos seus leitores – pelo menos da parcela que ainda tem senso crítico. Tanto que hoje o jornal abriu espaço para a ministra da Cultura, Marta Suplicy, defender o projeto. Reproduzo a resposta na íntegra:

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"A gente não quer só comida"

A Folha publicou editorial ("Vale-populismo", 10/1) crítico do Vale-Cultura (VC). Chama de "populismo" e promoção pessoal e eleitoreira projeto de lei que buscava aprovação desde 2009. Com a regulamentação do VC, empresas poderão passar R$ 50 a seus funcionários que recebam prioritariamente até cinco salários mínimos (R$ 3.390) para gastarem em cultura.

O Brasil nos últimos anos, com Lula e agora Dilma, tem dado passos gigantescos para acabar com a miséria. Não preciso citar os números dos que hoje comem nem dos que hoje entraram na classe média. O Bolsa Família, trucidado pela oposição, hoje é comprovadamente um instrumento de erradicação da pobreza.

O Vale-Cultura pode, sim, ser o "alimento da alma". Por que não? Pela primeira vez o trabalhador terá um dinheiro que poderá gastar no consumo cultural: sejam livros, cinema, DVDs, teatro, museus, shows, revistas...

Lembro que, quando fizemos os CEUs (Centro Educacional Unificado), na pesquisa (2004) realizada no primeiro deles, na zona leste, 100% dos entrevistados nunca tinham entrado num teatro e 86%, num cinema. Quando Denise Stoklos fez seu espetáculo de mímica, a plateia se remexia inquieta até entender a linguagem e não se ouvir uma mosca no teatro, fascinado.

Fomento ao teatro, aquisição de conhecimento e bagagem cultural! Não foi à toa que Fernanda Montenegro ficou pasma com a plateia dos CEUs. Essas pessoas, se tiverem criado gosto, finalmente poderão usufruir e escolher mais do que hoje podem.

E os que não têm CEU têm televisão e conhecem o que é oferecido para determinado público. Sabem também o que aparece no bairro. E sabem que não podem ir.

Existe toda uma multidão de brasileiros (17 milhões) que hoje ganha até cinco salários mínimos (R$ 3.390) que potencialmente poderão, além de comer, alimentar o espírito. Este é um projeto de lei que toca duas pontas: o cidadão que vai consumir e o produtor cultural que terá mais público para sua oferta.

Quando chegarmos nesse potencial, serão R$ 7 bilhões injetados na cultura. Nossa previsão é atingir R$ 500 milhões neste ano.

Em 2008, o Ibope realizou pesquisa sobre indicadores de cultura no Brasil e mostrou que a grande maioria da população está alijada do consumo dos produtos culturais: 87% não frequentavam cinemas, 92% nunca foram a um museu; 90% dos municípios do país não tinham sala de cinema e 78% nunca assistiram a um espetáculo de dança.

Segundo a Folha, estaremos incentivando blockbusters e livros de autoajuda. Visão elitista. Cada um tem direito de consumir o que lhe agrada. Não esqueço quando, visitando um telecentro, fiquei indignada que a maioria dos jovens estava nos chats de um reality show. Fui advertida pela gestora: "Esse é um instrumento que eles estão aprendendo a usar. Depois, poderão voar para outros interesses. Ou não".

Não custa lembrar que a fome pelo acesso à cultura é enorme, o que ficou evidente nas filas quilométricas na mostra sobre impressionistas quando apresentada gratuitamente pelo Banco do Brasil.

O que a Folha também menosprezou é a enorme alavanca que o VC pode representar e desencadear na economia. A cadeia produtiva da cultura é o investimento de maior rentabilidade a curto prazo. Para uma peça de teatro, você vai desde os artistas, ao carpinteiro, cenógrafo, vestuário, iluminador...

Quanto ao recurso ir para formação e atividades de menor sustentação comercial, citadas como prioritários pela Folha, os editais do ministério, os Pontos de Cultura, têm exatamente essa preocupação, assim como os CEUs das Artes e Esporte que são, no momento, 124 em construção no país.

"A gente quer comida, diversão e arte." (Titãs)

5 comentários:

  1. Me desculpe, mas o vale-cultura é sim risível.
    A sede de cultura não pode ser tão simploriamente resolvida com alguns trocados. O governo trivializou um assunto tão complexo.

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  2. Tô com anônimo...Martha foi simplesmente patética e essa iniciativa é o "fim da picada"...esse país está virando o país de bolsas tudo...não trabalhe...não se esforce...vote PT e o governo lhe dará bolsas...

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  3. Não vejo problema algum em bolsas disso e daquilo. Gostaria mesmo que cada cidadão brasileiro (inclusive eu) ganhasse 10 salários mínmos. Será que será estendido aos professores? Quero bolsa para livros, cinema, teatro e todos os produtos culturais. Qual o problema? Risível é o meu salário de professora.

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  4. Concordo com você Rita, risível é o nosso salário. Adoraria ter um vale cultura, pois o meu salário de professora não tem como comprar livros, ir ao cinema e teatro, etc. Qual o problema?

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  5. O Vale Cultura foi discussão aberta ainda na gestão de Gilberto Gil. Ninguém está dizendo que seja a solução definitiva para a cultura, ou para a má distribuição de renda, etc. Assim como as cotas raciais não são a solução definitiva para a dívida social com os afrodescendentes. A solução definitiva é o socialismo. Só que ainda não chegamos lá.

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