Antonio Cruz/ABr |
No último primeiro de fevereiro, Renan Calheiros (PMDB/AL) foi eleito presidente do Senado Federal e consequentemente do Congresso Nacional com 56 votos. Contra ele concorreu o senador Pedro Taques (PDT/MT).
Logo os moralistas de ocasião mostraram sua indignação nas redes sociais. Aos sinceros sempre o erro de olhar o específico ao invés do todo. O problema não é nome, é o modus operandi da política nacional que é ruim. A própria existência de senado gera polêmicas que se finge que nada existe.
Pedro Taques, além de candidato à presidência do Senado contra Renan, também foi candidato a novo Demóstenes. Álvaro Dias não aguentou muito tempo nessa tarefa, logo apareceram R$ 16 milhões em seu patrimônio que estavam escondidos. O próprio Taques, também não aguentaria muito tempo.
Ele é acusado de ter ligações com a máfia do combustível em seu estado. Sua esposa advoga para o sindicato dos postos de gasolina do Mato Grosso. Além de ter sido um dos maiores defensores, ao lado de Miro Teixeira – também do PDT – do “empregado” do bicheiro Carlinhos Cachoeira e editor chefe da sucursal de Veja em Brasília/DF, Policarpo Júnior.
Entre as tantas balelas ditas na defesa do elaborador de dossiês do bicheiro estava a de que não se podia “condenar o mensageiro”. A ironia é que Taques processa o jornalista que deu a informação de seu suposto envolvimento com a máfia dos combustíveis no Mato Grosso.
Taques é tão ético quanto Demóstenes ou o próprio Renan. Renan já foi presidente da Casa, mas renunciou para evitar cassação após denúncias de que um lobista pagava pensão em seu nome em uma relação extraconjugal.
Sem falar a descarada ação de Roberto Gurgel, Procurador Geral da República em formalizar denúncia contra Renan às vésperas da disputa no Senado. Ele teve seis anos para elaborar um documento de 17 páginas. Não há palavras para descrever o quão ridículo é sua passagem pelo Ministério Público.
Essa é a moral do Senado. Queriam cassar Renan, mas ele renunciou e ficou tudo resolvido. O problema não era um lobista pagar suas contas, era ter alguém da base aliada na presidência do Congresso Nacional.
Não se trata de defender esse ou aquele senador e sim questionar a moralidade seletiva alimentada pela “grande imprensa” e que assola a classe média tradicional. Renan foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Àquela época ele era apenas um senador alagoano com uma capacidade excelente de articulação. E comandou o resgate do irmão dos cantores Zezé di Camargo e Luciano.
Quase um herói nacional nos patéticos jornalões.
Alguém realmente acha que se Serra tivesse vencido a eleição em 2002 os presidentes do Senado seriam outros senão Sarney e Renan?
O PMDB é o maior partido em parlamentares e prefeitos do país. Já era assim há dez anos atrás. Essa relação intra corporis no Congresso não seria muito diferente do que é hoje.
O vice de Renan é o petista Jorge Viana do Acre. Logo a “midiazona” para de choramingar a derrota no Senado. Se Renan sair, assume um petista. Antes alguém de um partido aliado do que um do próprio partido da presidenta.
Apesar de relativamente barulhenta, a moralidade seletiva da “grande imprensa” e da classe tradicional tem efeitos cada vez menores. Basta olharmos a audiência do ápice da catarse de turma, o Jornal Nacional. Nunca foi tão baixo. Estamos deixando de ser um país de Homer Simpson's, para desespero de nossa elite.
2 comentários:
O problema no Brasil é a falta de uma reforma política:enquanto persistir o modelo vigente, haverá sempre quem grite contra corruptos. O financiamento de campanhas com capital privado dá margens ao famoso rabo preso, ao caixa 2, etc.Ficar questionando quem deveria estar comandando o Senado com base no quesito honestidade, com o velho e vazio discurso contra a corrupção, é ficar quase sem candidatos. Renan está eleito: agora vamos torcer para que ele não desperdice a chance que tem de abrir processo contra o prevaricador geral da república. Se fizer isto, já terá prestado enorme serviço à tão sofrida e ameaçada democracia do país.
Boa, valeu.
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