Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
A renúncia de Bento XVI contém lições interessantes.
Empossado com um programa que pretendia reconduzir a Igreja para um mundo fechado nela mesma, voltada exclusivamente para debates de natureza espiritual, longe das questões que afligem os homens e mulheres do mundo, Bento XVI deixou o trono da Igreja em ambiente de decepção e melancolia.
Um de seus admiradores afirma que, embora tenha sido um grande teólogo, Bento XVI fracassou como Papa.
Não é de surpreender. Não tenho a menor condição de debater teologia. Mas, ateu desde a infância, tenho capacidade de examinar os Papas como aquilo que são – chefes políticos da Igreja. E é nesta função que o fracasso de Bento XVI contém elementos didáticos.
Embora o conservadorismo católico tenha produzido vários representantes ao longo da História da Igreja, Bento XVI não era apenas um Papa fora do tempo – era um Papa contra seu tempo.
Num mundo onde a cultura tornou-se plural, as sociedades se mostram complexas, os cidadãos se recusam a abrir mão de sua autonomia, seus direitos e opções de vida, a proposta de Bento XVI era uma forma de clausura política e cultural.
Ele se recusava a dar respostas consistentes para a vida das pessoas do século XXI, fosse em relação a vida em família, aos direitos das mulheres, às angustias dos mais pobres.
Alguém acha viável ter audiência junto às mulheres sem falar sobre aborto?
Ou conversar com a juventude sem falar da liberdade sexual?
Ou procurar audiência junto às grandes populações do planeta sem responder à pobreza, à desigualdade?
Basta assistir a uma missa num bairro popular de São Paulo – recomendo a Achiropita, no Bixiga – para se entender o que estou dizendo. É fácil perceber quando os fiéis prestam atenção, quando se empolgam, quando ficam entediados.
Este conservadorismo radical de Bento XVI queria transformar o isolamento social da Igreja em virtude.
Antecessor de Bento XVI, João Paulo II era um Papa conservador, que deu início a uma política de combate à Teologia da Libertação e mesmo perseguição ao clero comprometido com os interesses dos mais pobres e oprimidos, como aconteceu em São Paulo, com dom Paulo Evaristo Arns – cardeal que esteve longe de liderar alguma fração esquerdista da Igreja, mas jamais abandonou valores como o respeito pelos direitos humanos e a democracia.
Mas João Paulo II nunca deixou de dar respostas – à sua maneira – às questões da vida concreta. Sua pregação tinha elementos democráticos, sua mensagem procurava responder ao sofrimento de homens e mulheres comuns – e por isso ele atraía multidões por onde passava. As viagens de Bento XVI jamais tiveram a mesma vibração nem a mesma acolhida, num sinal de que seu papado acentuou uma tendência histórica da Igreja.
No início dos anos 80, o francês Marcel Gauchet escreveu um clássico sobre as religiões, “O Desencantamento do Mundo”. Ele explica a decadência universal do catolicismo pelas mudanças na vida em sociedade.
Para Gauchet, o apogeu da religião ocorreu em épocas históricas em que as pessoas acreditavam que viviam num mundo encantado. Simplificando uma teoria muito mais complexa: homens e mulheres acreditavam viver num mundo em que a religião era uma forma de magia. Atribuíam aos céus suas alegrias e tristezas, sucessos e desgraças. Pensavam que a colheita era obra divina, tinham certeza de que havia uma vida após a morte – e atribuíam cada passo da existência à decisão de Deus. Acreditavam em milagres.
Naquele mundo de encantamento, temia-se o pecado como uma ação terrível – e a punição divina como um castigo material.
Na medida em que a sociedade de modificou, os meios de subsistência evoluíram, a educação e o conhecimento se ampliaram inclusive para as populações muito pobres, muitas conquistas científicas se mostraram indispensáveis para o bem-estar de todos, era preciso falar a outros homens e mulheres, outras angústias e preocupações. João XXIII e, em certa medida, Paulo VI fizeram esforços neste sentido. Ao contrário do que sugeriam seus inimigos, a Teologia da Libertação e correntes semelhantes ajudaram a prolongar a audiência da Igreja. Deram-lhe uma audiência que as correntes conservadoras jamais teriam alcançado.
O projeto de Bento XVI era fazer o caminho de volta. Chegava a dizer que preferia uma Igreja menor e menos influente, mas composta por fiéis convictos e irredutíveis, do que uma comunidade ampla e pouco consistente.
Foi esta sua aposta política.
Um engano, que o crescimento das igrejas pentecostais demonstram pelo avesso: conseguem combinar a angustia material dos mais pobres com a promessa de milagres aqui e agora.
Falando a um mundo em que poucos creem, Bento XVI desencantou-se.
A renúncia de Bento XVI contém lições interessantes.
Empossado com um programa que pretendia reconduzir a Igreja para um mundo fechado nela mesma, voltada exclusivamente para debates de natureza espiritual, longe das questões que afligem os homens e mulheres do mundo, Bento XVI deixou o trono da Igreja em ambiente de decepção e melancolia.
Um de seus admiradores afirma que, embora tenha sido um grande teólogo, Bento XVI fracassou como Papa.
Não é de surpreender. Não tenho a menor condição de debater teologia. Mas, ateu desde a infância, tenho capacidade de examinar os Papas como aquilo que são – chefes políticos da Igreja. E é nesta função que o fracasso de Bento XVI contém elementos didáticos.
Embora o conservadorismo católico tenha produzido vários representantes ao longo da História da Igreja, Bento XVI não era apenas um Papa fora do tempo – era um Papa contra seu tempo.
Num mundo onde a cultura tornou-se plural, as sociedades se mostram complexas, os cidadãos se recusam a abrir mão de sua autonomia, seus direitos e opções de vida, a proposta de Bento XVI era uma forma de clausura política e cultural.
Ele se recusava a dar respostas consistentes para a vida das pessoas do século XXI, fosse em relação a vida em família, aos direitos das mulheres, às angustias dos mais pobres.
Alguém acha viável ter audiência junto às mulheres sem falar sobre aborto?
Ou conversar com a juventude sem falar da liberdade sexual?
Ou procurar audiência junto às grandes populações do planeta sem responder à pobreza, à desigualdade?
Basta assistir a uma missa num bairro popular de São Paulo – recomendo a Achiropita, no Bixiga – para se entender o que estou dizendo. É fácil perceber quando os fiéis prestam atenção, quando se empolgam, quando ficam entediados.
Este conservadorismo radical de Bento XVI queria transformar o isolamento social da Igreja em virtude.
Antecessor de Bento XVI, João Paulo II era um Papa conservador, que deu início a uma política de combate à Teologia da Libertação e mesmo perseguição ao clero comprometido com os interesses dos mais pobres e oprimidos, como aconteceu em São Paulo, com dom Paulo Evaristo Arns – cardeal que esteve longe de liderar alguma fração esquerdista da Igreja, mas jamais abandonou valores como o respeito pelos direitos humanos e a democracia.
Mas João Paulo II nunca deixou de dar respostas – à sua maneira – às questões da vida concreta. Sua pregação tinha elementos democráticos, sua mensagem procurava responder ao sofrimento de homens e mulheres comuns – e por isso ele atraía multidões por onde passava. As viagens de Bento XVI jamais tiveram a mesma vibração nem a mesma acolhida, num sinal de que seu papado acentuou uma tendência histórica da Igreja.
No início dos anos 80, o francês Marcel Gauchet escreveu um clássico sobre as religiões, “O Desencantamento do Mundo”. Ele explica a decadência universal do catolicismo pelas mudanças na vida em sociedade.
Para Gauchet, o apogeu da religião ocorreu em épocas históricas em que as pessoas acreditavam que viviam num mundo encantado. Simplificando uma teoria muito mais complexa: homens e mulheres acreditavam viver num mundo em que a religião era uma forma de magia. Atribuíam aos céus suas alegrias e tristezas, sucessos e desgraças. Pensavam que a colheita era obra divina, tinham certeza de que havia uma vida após a morte – e atribuíam cada passo da existência à decisão de Deus. Acreditavam em milagres.
Naquele mundo de encantamento, temia-se o pecado como uma ação terrível – e a punição divina como um castigo material.
Na medida em que a sociedade de modificou, os meios de subsistência evoluíram, a educação e o conhecimento se ampliaram inclusive para as populações muito pobres, muitas conquistas científicas se mostraram indispensáveis para o bem-estar de todos, era preciso falar a outros homens e mulheres, outras angústias e preocupações. João XXIII e, em certa medida, Paulo VI fizeram esforços neste sentido. Ao contrário do que sugeriam seus inimigos, a Teologia da Libertação e correntes semelhantes ajudaram a prolongar a audiência da Igreja. Deram-lhe uma audiência que as correntes conservadoras jamais teriam alcançado.
O projeto de Bento XVI era fazer o caminho de volta. Chegava a dizer que preferia uma Igreja menor e menos influente, mas composta por fiéis convictos e irredutíveis, do que uma comunidade ampla e pouco consistente.
Foi esta sua aposta política.
Um engano, que o crescimento das igrejas pentecostais demonstram pelo avesso: conseguem combinar a angustia material dos mais pobres com a promessa de milagres aqui e agora.
Falando a um mundo em que poucos creem, Bento XVI desencantou-se.
o papa, sem ter nenhuma iniciativa marcante do seu reinado! resolveu entrar para os livros de recordes com a primeira renúncia em 600 anos!
ResponderExcluiremerson57
Lamentável, que o meio jornalistico esteja tão contaminado de discordâncias espirituais, onde suas descrenças em Deus, se abstém de fazer um Jornalismo sério e menos manipulador,esse é um momento que os Jornalistas deveriam ser mais imparciais, e não aproveitadores de um frágil momento que os cristãos estão passando, para fortalecer as suas descrenças, e manipular em seus blogs, outras mentes incrédulas e ignorantes, que por, não terem pais responsáveis não orientaram seus filhos sobre a fé Deus e religião, e desde que o Papa Bento renunciou, até o momento não achei em nenhum blog qualquer jornalista que não seja Ateu, frustou me essa discordância, do quão contaminada esta as redes sociais e os jornalistas em seus blogs, e lamentavelmente não encontrei nenhum que tivesse a misericórdia e espirito fraterno, em suas palavras mas somente vi muito ódio e rancor contra um homem Santo, que foi escolhido por Deus para comandar a Igreja do Senhor, mas ao contrario só vi pessoas com mais defeitos do que Bento 16, porque estão tão longe de Deus pelo Ateísmo, que todos perderam a sensibilidade em suas avaliações e sem critérios o condenam de uma forma ultrajante e vergonhosa, e será que são esses os escolhidos por Deus, que tem o coração puro para condenarem Bento 16, ou haverá um Deus acima da soberba dos Ateus, para condenar não Bento 16, mas a quem os persegue com muito ódio e rancor.
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