terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O ódio de classe de Demétrio Magnoli

Por Fátima Mello, no sítio Outras Palavras:

Demétrio Magnoli,

Li com atenção e espanto seu artigo publicado no Globo de 31/1/2013 “Lula e a falência da ` Doutrina Garcia’”. Sou membro de uma organização da sociedade civil brasileira – FASE – e de uma rede – Rede Brasileira Pela Integração dos Povos/REBRIP – cuja atuação nacional, regional e global se orienta pela defesa dos direitos humanos, da sustentabilidade, da redução das desigualdades dentro e entre países. É com este olhar que atuamos sobre a política externa brasileira. E é por isso que tanto me surpreende sua avaliação.

Em primeiro lugar sua referência a um suposto “fracasso estrondoso da política externa – e da crise regional que se avizinha” não coincide com os fatos. Antes da era Lula o Brasil entrava pela porta dos fundos do sistema internacional; hoje entra como protagonista nos principais fóruns de negociação global. Antes de 2003, a região encontrava-se imersa em uma profunda crise, resultante do receituário do Consenso de Washington - que acirrava o que era e continua sendo a pior enfermidade entre nós, as desigualdades. As urnas de diversos países da região deram um basta e inauguraram um novo ciclo político, que com contradições e fortes condicionamentos externos, tenta se aproximar das demandas populares por inclusão social. A região estava prestes a se tornar oficialmente um protetorado dos EUA, se as negociações da ALCA não tivessem sido esvaziadas pela política externa brasileira em concertação com países vizinhos.

O que o Sr. chama de uma suposta Doutrina Garcia prefiro definir como diretrizes de política externa definidas e compartilhadas por todo o governo. Em 2003 o Itamaraty formulou duas propostas cruciais para o enfrentamento das assimetrias de poder entre países: propôs a criação do G20, na reunião ministerial da OMC em Cancun, e apresentou a proposta de negociação em três trilhos da ALCA, o que efetivamente esvaziou a desmedida ambição dos EUA. Ambas propostas tiveram o mérito de sintonizar a comunidade internacional com a necessidade de inclusão de novos atores no processo decisório, sinalizando que o mundo de fato estava entrando numa era multipolar. 

O que o Sr. chama de “fracasso estrondoso da política externa” colocou o Brasil como membro dos BRICS, do G20 financeiro, do IBAS, dos BASIC nas negociações de mudanças climáticas; na região, a inclusão da Venezuela no Mercosul resulta em um peso econômico infinitamente maior ao bloco. Além disso, apesar do ódio que a elite tem contra Chávez, o fato é que hoje a Venezuela é o país menos desigual na região.

A necessidade de uma doutrina a que se refere o ex-presidente Lula me parece referida à urgência de construirmos uma identidade e projeto regionais que auxiliem a transição de uma posição até então submissa e periférica para outra, constituída pela articulação de interesses econômicos e políticos comuns e por aproximações culturais e simbólicas que nos unem como povos que têm uma história compartilhada.

A suposta “crise regional que se avizinha” ou ainda a “desintegração da América Latina” supostamente evidenciada na Aliança do Pacífico também não sobrevive aos fatos. Como assinalou José Luís Fiori, “este ‘cisma do Pacífico’ tem mais importância ideológica do que econômica dentro da América do Sul, e seria quase insignificante politicamente se não fosse pelo fato de se tratar de uma pequena fatia do projeto Obama de criação da “Trans-Pacific Economic Partnership” (TPP), peça central da sua política de reafirmação do poder econômico e militar norte-americano, na região do Pacífico.”

Apesar de apoiar as diretrizes gerais da política externa brasileira dos últimos dez anos, como integrante de movimentos sociais que lutam por justiça e sustentabilidade, temos muitas críticas e propostas, pois não há dúvida que muitos são os problemas e contradições envolvendo, por exemplo, as iniciativas de cooperação e investimentos internacionais do Brasil, bem como a insustentabilidade ambiental na qual se ancora a ação externa do país. O problema é que o viés claramente marcado pelo ódio de classe e ideologicamente preconceituoso de críticas como a sua nos impedem de realizar um debate de qualidade.

Atenciosamente,

Fátima Mello

10 comentários:

  1. http://1.bp.blogspot.com/-ARv7v3qpz3U/UREcNA6cC4I/AAAAAAAAC44/rbFvUjdaazI/s640/demerito.jpg

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  2. Muito bom, Fátima Mello!Parafraseando Tom Jobim,que maravilha seria viver se tantos outros que não querem, não conseguem ou fingem não ver, fossem iguais a você.

    Elisa

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  3. Magnoli é um daqueles especialistas em "tudo", de política, economia, história, sociologia, agronomia, engenharia genética, energia nuclear, astrofísica, telecomunicações, canto gregoriano e qualquer outra coisa que seja preciso.

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  4. Até hoje não sei se Demétrio Magnoli é Geógrafo, Historiador, Filósofo, Sociólogo, Cientista ou o escambal de Bico. Mas uma coisa tenho certeza, é o mai preconceituoso, oportunista e desinformado que já conheci, esse cara é um pau mandado da direita, só fala o que lhe mandam, nem sabe o que está falando.

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  5. O Demétrio é desses que não se conformam com os avanços da política externa do sapo barbudo.
    Como não tem argumentos para contrapor, pois está acostumado com a doutrina jacu, essa de tirar os sapatos em aeroportos em bater em certas portas com o pires na mão, resta tentar desconstruir aquilo que seus amiguinhos jamais conseguiriam.

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  6. O preconceito de classe do Demétrio, é contra ele mesmo, que pensa que é, mas procure saber a sua origem e descobrira, portanto um iludido que não se conhece. E por mais que se lhe diga o que é falado no texto acima, ele não dará ouvidos. Mas, ganranto, se rolar uma ditadura, ele e caras como aquele Merval serão os primeiros a dançar, postos que já não terão mais utilidade.

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  7. Ele deve ser descendente ( não ascendente) dessas familias que chegaram esfomeadas ao Brasil, um século atrás e negam o Brasil e pensam ser italianos.

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  8. Esse Magnoli se não me engano tem um irmão em BH, nisto eu tenho dúvida, so não tenho dúvida de que ele não passa de um imbecil.

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  9. Ao final do texto se lê:"críticas como a sua nos impedem de realizar um debate de qualidade"; depois se vê uma enxurrada de deboches vazios e patranheiros... Êita turminha de parasitas alienígenas, essa!

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  10. Magnoli engana midiaticamente mas não quem estuda. Seu discurso tem virtuosismo de linguagem mas é profundamente violento e ideológico. A quem estuda dá a impressão de alguém que lê beiradas de livros e retira trechos para dizer o que quer, deturpando os originais.

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