Por Juliana Sada, no blog Escrevinhador:
Nesta segunda-feira, a redação da revista “Caros Amigos”, que estava em greve desde sexta-feira (08/03), foi alvo de uma demissão coletiva. Nas redes sociais, leitores protestaram, considerando a atitude incompatível com uma revista de esquerda. Wagner Nabuco, diretor da Editora Casa Amarela, responsável pela publicação, alegou “quebra de confiança” da equipe, e afirmou ter sido surpreendido pela declaração de greve dos onze integrantes da redação.
Os funcionários demitidos, por sua vez, dizem que entraram em greve por causa da falta de diálogo e para reagir ao anúncio de cortes de 50% na folha de pagamento. Aqui, no “Viomundo”, você pode ler na íntegra as manifestações dos jornalistas e do diretor da Caros Amigos.
A crise da chamada “imprensa alternativa”, no entanto, é mais ampla. A greve e as demissões na “Caros Amigos” expõem uma situação grave: a precariedade e a falta de recursos que afetam vários sites e publicações.
O portal “Carta Maior” reagiu de forma direta: divulgou uma nota criticando a postura do governo federal, e informou que a origem do problema da “Caros Amigos” está na “asfixia financeira, decorrente das decisões do governo federal de suprimir publicidade de utilidade pública nos veículos da mídia alternativa”.
Carta Maior disse mais: “a revista [Caros Amigos] resistiu ao ciclo tucano dos anos 90, mas não suportou os ‘critérios técnicos’ da Secom no governo Dilma, cuja prioridade é concentrar recursos nos veículos conservadores”.
Fundada em 97, a “Caros Amigos” tornou-se referência de jornalismo crítico e independente, num momento em que as redações da chamada “grande imprensa” eram dominadas pelo pensamento neoliberal. A “Caros Amigos” cumpriu – de forma competente – a função de oferecer espaço para quem se opunha à onda liberal. Naquele momento, não havia blogs nem redes sociais. A revista resistiu. Foi, também, a única publicação do país a dar – com destaque – reportagem sobre o suposto filho de FHC com uma jornalista da Globo (no fim, o filho não era de FHC; mas FHC e a Globo achavam que era, sim - essa já é outra história…).
Nos últimos anos, a “Caros Amigos” tem enfrentado sérias dificuldades financeiras, que a levaram a reduzir o quadro de funcionários. Quando entraram em greve, os jornalistas relataram outros problemas: “ausência de registro na carteira profissional, não recolhimento das contribuições do FGTS e do INSS, e, agora, o agravamento da situação pela ameaça concreta de corte da folha salarial em 50%, com a demissão de boa parte da equipe”.
Precarização e crise
A situação descrita não é exclusividade da “Caros Amigos”. De maneira crescente, empresas de comunicação (inclusive na “grande imprensa”) precarizam o trabalho do jornalista, que de funcionário passa a ser um “colaborador fixo” ou “prestador de serviços” para que as empresas cortem os gastos com impostos e contribuições trabalhistas. Há anos a situação é denunciada por entidades da categoria, mas com poucas vitórias.
Por sua vez, a imprensa escrita como um todo passa por um momento de mudança e dificuldades. Nos últimos anos, tradicionais jornais deixaram de circular no Brasil, como o “Jornal da Tarde” e a “Gazeta Mercantil”. Já o “Jornal do Brasil” e o “Estado do Paraná” passaram a existir apenas no meio digital.
Dentro desse panorama, há ainda a peculiaridade dos veículos da imprensa “alternativa” (ou contra-hegemônica”, como preferem alguns), que possuem mais dificuldades de financiamento. Como explica Renato Rovai, da Altercom (Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação), “no Brasil a verba publicitária é pessimamente distribuída”. Editor da revista Fórum, ele relata ainda que em 2012 o veículo perdeu 50% da receita publicitária proveniente da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), órgão responsável pela distribuição da publicidade do governo federal.
A Altercom defende que “30% das verbas publicitárias sejam distribuídas às pequenas empresas de comunicação e aos empreendedoras individuais de comunicação, como já acontece em outras áreas, por exemplo, na compra de alimentos da agricultura familiar para a merenda escolar”, explica Rovai. A proposta foi apresentada à Comissão de Finanças do Congresso, onde está sendo debatida, e à ministra Helena Chagas, da Secom.
Rovai destaca a importância de uma divisão mais justa da publicidade: “se isso fosse feito, certamente a situação da Caros Amigos e dos seus trabalhadores seria muito diferente”.
Nota do Escrevinhador: As informações que chegam de Brasília indicam que a Secom não tem qualquer intenção de mudar os critérios de distribuição das verbas oficiais de publicidade. O governo Dilma ajuda a concentrar as verbas nas mãos de poucos. Age, assim, na contramão das políticas adotadas por democracias ocidentais que destinam parte da verba para “fundos de democratização da mídia”; e parece mais preocupado em não criar “zonas de atrito” com meia dúzia de famílias que, donas de revistas e jornais conservadores, se esbaldam com a verba de publicidade oficial.
Nesta segunda-feira, a redação da revista “Caros Amigos”, que estava em greve desde sexta-feira (08/03), foi alvo de uma demissão coletiva. Nas redes sociais, leitores protestaram, considerando a atitude incompatível com uma revista de esquerda. Wagner Nabuco, diretor da Editora Casa Amarela, responsável pela publicação, alegou “quebra de confiança” da equipe, e afirmou ter sido surpreendido pela declaração de greve dos onze integrantes da redação.
Os funcionários demitidos, por sua vez, dizem que entraram em greve por causa da falta de diálogo e para reagir ao anúncio de cortes de 50% na folha de pagamento. Aqui, no “Viomundo”, você pode ler na íntegra as manifestações dos jornalistas e do diretor da Caros Amigos.
A crise da chamada “imprensa alternativa”, no entanto, é mais ampla. A greve e as demissões na “Caros Amigos” expõem uma situação grave: a precariedade e a falta de recursos que afetam vários sites e publicações.
O portal “Carta Maior” reagiu de forma direta: divulgou uma nota criticando a postura do governo federal, e informou que a origem do problema da “Caros Amigos” está na “asfixia financeira, decorrente das decisões do governo federal de suprimir publicidade de utilidade pública nos veículos da mídia alternativa”.
Carta Maior disse mais: “a revista [Caros Amigos] resistiu ao ciclo tucano dos anos 90, mas não suportou os ‘critérios técnicos’ da Secom no governo Dilma, cuja prioridade é concentrar recursos nos veículos conservadores”.
Fundada em 97, a “Caros Amigos” tornou-se referência de jornalismo crítico e independente, num momento em que as redações da chamada “grande imprensa” eram dominadas pelo pensamento neoliberal. A “Caros Amigos” cumpriu – de forma competente – a função de oferecer espaço para quem se opunha à onda liberal. Naquele momento, não havia blogs nem redes sociais. A revista resistiu. Foi, também, a única publicação do país a dar – com destaque – reportagem sobre o suposto filho de FHC com uma jornalista da Globo (no fim, o filho não era de FHC; mas FHC e a Globo achavam que era, sim - essa já é outra história…).
Nos últimos anos, a “Caros Amigos” tem enfrentado sérias dificuldades financeiras, que a levaram a reduzir o quadro de funcionários. Quando entraram em greve, os jornalistas relataram outros problemas: “ausência de registro na carteira profissional, não recolhimento das contribuições do FGTS e do INSS, e, agora, o agravamento da situação pela ameaça concreta de corte da folha salarial em 50%, com a demissão de boa parte da equipe”.
Precarização e crise
A situação descrita não é exclusividade da “Caros Amigos”. De maneira crescente, empresas de comunicação (inclusive na “grande imprensa”) precarizam o trabalho do jornalista, que de funcionário passa a ser um “colaborador fixo” ou “prestador de serviços” para que as empresas cortem os gastos com impostos e contribuições trabalhistas. Há anos a situação é denunciada por entidades da categoria, mas com poucas vitórias.
Por sua vez, a imprensa escrita como um todo passa por um momento de mudança e dificuldades. Nos últimos anos, tradicionais jornais deixaram de circular no Brasil, como o “Jornal da Tarde” e a “Gazeta Mercantil”. Já o “Jornal do Brasil” e o “Estado do Paraná” passaram a existir apenas no meio digital.
Dentro desse panorama, há ainda a peculiaridade dos veículos da imprensa “alternativa” (ou contra-hegemônica”, como preferem alguns), que possuem mais dificuldades de financiamento. Como explica Renato Rovai, da Altercom (Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação), “no Brasil a verba publicitária é pessimamente distribuída”. Editor da revista Fórum, ele relata ainda que em 2012 o veículo perdeu 50% da receita publicitária proveniente da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), órgão responsável pela distribuição da publicidade do governo federal.
A Altercom defende que “30% das verbas publicitárias sejam distribuídas às pequenas empresas de comunicação e aos empreendedoras individuais de comunicação, como já acontece em outras áreas, por exemplo, na compra de alimentos da agricultura familiar para a merenda escolar”, explica Rovai. A proposta foi apresentada à Comissão de Finanças do Congresso, onde está sendo debatida, e à ministra Helena Chagas, da Secom.
Rovai destaca a importância de uma divisão mais justa da publicidade: “se isso fosse feito, certamente a situação da Caros Amigos e dos seus trabalhadores seria muito diferente”.
Nota do Escrevinhador: As informações que chegam de Brasília indicam que a Secom não tem qualquer intenção de mudar os critérios de distribuição das verbas oficiais de publicidade. O governo Dilma ajuda a concentrar as verbas nas mãos de poucos. Age, assim, na contramão das políticas adotadas por democracias ocidentais que destinam parte da verba para “fundos de democratização da mídia”; e parece mais preocupado em não criar “zonas de atrito” com meia dúzia de famílias que, donas de revistas e jornais conservadores, se esbaldam com a verba de publicidade oficial.
Superficialmente, penso que, da mesma forma que o governo federal distribui fartas quantias à meia-dúzia de famiglias oligárquicas donas da mídia conservadora, reacionária e golpista, poderia socializar essa "ajuda" à mídia alternativa, promovendo uma democratização para além da esperança de Regulação da Mídia. É incompreensível que um "apartheid" midiático seja alimentado por um governo denominado progressista, exatamente por aqueles que mais o defendem, e que, (pasmem!) têm sido punidos por uma política estranhíssima que os discrimina!quências de !
ResponderExcluirÉ uma pena ver um jornal como esse em uma crise destas.
ResponderExcluirA informação pura pode libertar as pessoas.
Mas há também o lado de as pessoas não mais se interessarem por jornais ou informações importantes.
Uma boa semana.
esta passando da hora da imprensa alternativa denunciar esse setor neoliberal do governo. afinal quem deu voz a Dilma foi a imprensa alternativa mas se ela acha que pode conviver ou ser tratada com imparcialidade pela imprensa empresa venal e golpista, problema dela, aliás foi ela mesma que disse que preferia a midia venal e golpista livre, fazendo pouco caso sobre a democratização das comunicações, acredito que existam outras candidatas interessadas em regulamentar essa pouca vergonha da midia golpista brasileira.
ResponderExcluirPessoal, será que o aborrecimento expresso no texto principal e nos comentários não se deve a frustração de acharem que o governo Dilma é de esquerda ?
ResponderExcluir.
Se o governo deu fartas verbas à direita oligárquica, talvez o governo não seja tão de esquerda quanto vocês achem.
Um monte de jornalista vendido pra imprensa grande, fica difícil articular.
ResponderExcluiré realmente muito contraditória essa postura do gov federal... mas me veio à mente uma coisa: será que não é uma forma de não incitar ainda mais o ódio do PIG às vésperas da campanha de reeleição? e aí então com o segundo mandato garantido, reverter tudo isso? será?
ResponderExcluirDilma não fez e nem vai fazer nada a respeito, mas não é por ai o caso aqui...
ResponderExcluirE quem é Wagner Nabuco? Sigam a trajetória - jornalismo de qualidade é raro...
A mídia dita de esquerda explorar o trabalhador tanto quanto a de direita e todo mundo sabe, mas ninguém fala.
ResponderExcluirA Dilma nunca se mexeu e nem vai se mexer a respeito e todo mundo sabe.
O papo aqui é outro:
*Pq a revista nao vende? Quem era o editor?
*quem é Nabuco? de onde veio, pra onde vai?
... jornalismo de verdade é coisa rara...
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. O governo do PT não pode e não deve se sustentar apenas por popularidade. Como vemos, todos os dias a grande imprensa (golpista em essência) bate sem dó no governo, quando ele acerta e quando erra. Ou seja, bate de qualquer jeito. Não consigo entender a posição da Secon distribuindo verbas de puplicidade para esses golpistas.
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