Por Altamiro Borges
Hugo Chávez foi diagnosticado com câncer na região pélvica
em junho de 2011 e passou por quatro cirurgias antes de falecer. Não há
qualquer indício de que tenha sido envenenado. Mesmo assim, o governo decidiu
convidar cientistas estrangeiros para analisar o caso com maior profundidade. O
procedimento foi o mesmo adotado pelos palestinos em novembro passado com a
exumação do corpo de Yasser Arafat, após a rede de televisão “Al Jazeera” divulgar
novos documentos sobre o seu possível assassinato.
Não estou em condições de falar sobre o que ocorreu concretamente, mas o presidente Maduro falou do tema, segundo ouvi, e prometeu investigar. Ele deve saber por que disse isso e se houver alguma desconfiança por parte do governo venezuelano este pode adotar a decisão que lhe pareça mais conveniente. Os estados têm soberania para decidir o que fazer. Não afirmou nada, estou especulando.
Os que colocaram em dúvida o que causou a morte de Arafat (suposto assassinato com substâncias radioativas) foram desqualificados em 2004, quando ele morreu. Passados alguns anos, isso que parecia um absurdo hoje não é mais e os que foram ridicularizados não estavam tão equivocados. O passar do tempo às vezes acaba revelando algumas coisas. Que se investigue.
Maduro falou de um plano sedicioso com participação estadunidense... O jornalista Kennedy Alencar informou que Dilma e Cristina se articulam para frear eventuais golpistas...
Não tenho informação, mas imagino que haja uma grande preocupação por parte das presidentas para que não haja um golpe de estado. Isso sempre pode ocorrer, como em 2002. De repente veio o golpe. Um golpe se articula discretamente. Estão corretas em se preocupar se têm informações. Mas creio que isso seja difícil no curto prazo. No médio ou longo prazo, aí já não sei. É importante que Brasil e Argentina estejam vigilantes.
Desestimular eventuais movimentos golpistas é importante. Juntas, elas podem influir poderosamente. O apoio delas ao governo democrático é necessário. Igualmente acredito que a transição para as eleições está assegurada. Haverá estabilidade no curto prazo, o problema é o longo prazo.
Se tiveram coragem de tentar um golpe contra Chávez, porque não tentariam de novo agora, sem ele?
Não sei com certeza se há setores militares fortes com planos golpistas, mas se há militares que não gostam do chavismo isso não me surpreenderia. Isso ocorre com todas as elites. Por isso, considero importante que existam milícias populares dispostas a defender o governo para compensar o poder dos militares.
A Venezuela foi uma província petroleira dos EUA durante décadas. Na II Guerra foi maior fornecedora de petróleo dos aliados. Tudo isso deu origem a uma classe dominante muito ligada ao negócio petroleiro e a Washington. Colômbia e Venezuela são fundamentais para o sistema norte-americano, no Mediterrâneo americano. Chávez acabou com tudo isso. Deu às costas aos Estados Unidos e se voltou ao Brasil, ingressou no Mercosul e rechaçou a ALCA. Isso, para os EUA, é imperdoável.
Para a direita, o chavismo morrerá com ele.
Dizer que Chávez era tudo foi mentira desses meios, que também inventaram que a revolução não é democrática. Na Venezuela de Chávez houve mais eleições que aqui no Brasil, como Lula observou. Não há notícias de jornalistas ou opositores presos. Se houvesse, seria notícia permanente. Essa imprensa criou a fantasia de que a revolução é um sistema baseado numa pessoa e isso é falso.
A longa agonia de Chávez permitiu que Maduro se afiançasse como seu sucessor?
O governo da Venezuela decidiu abrir um inquérito para investigar as
causas da morte de Hugo Chávez, ocorrida em 5 de março. O motivo é que crescem
as suspeitas de que o líder bolivariano foi assassinado. Segundo o
presidente interino Nicolás Maduro, o câncer do ex-governante poderia ter sido
acelerado por envenenamento. Ele chegou a citar a suspeita morte do líder
palestino Yasser Arafat. “Temos a intuição de que nosso comandante foi
envenenado por forças obscuras que o queriam fora do caminho”, argumenta.
A hipótese de envenenamento foi sugerida pela primeira vez
pelo próprio Hugo Chávez em 2011, quando foi descoberto seu câncer. Na ocasião,
ele disse estranhar a doença, já que gozava de ótimo estado de saúde. Na época,
a oposição direitista afirmou que a suspeita tinha meros objetivos eleitoreiros
e a mídia colonizada ridicularizou a sua “visão conspirativa”. Agora, porém,
novas vozes se erguem para insistir na necessidade de uma apuração independente
e rigorosa das reais causas da morte do líder bolivariano.
Na semana passada, o presidente da Bolívia, Evo Morales,
afirmou que sempre desconfiou do agravamento da saúde de Hugo Chávez. “Como pôde
ter perdido tão rapidamente a vida? O império sabe como se infiltrar”, disse,
lembrando que Fidel Castro já escapou de várias tentativas de assassinato. No
mesmo rumo, a jornalista estadunidense-venezuelana, Eva Golinger, que reside em
Nova Iorque, garante que os EUA há muita tramavam o assassinato do líder
bolivariano, o que justificaria a imediata abertura de um inquérito.
Em entrevista ao repórter Dario Pignotti, publicada no jornal
argentino Página-12 e traduzida no sítio Carta Maior, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário
executivo do Itamaraty, avaliou que o assunto merece realmente um tratamento
mais cuidadoso. Vale conferir as suas ponderações:
*****
Washington considerou absurda a suspeita de que Chávez tenha
morrido vítima de uma enfermidade inoculada. Certamente a hipótese soa algo
exagerada, mas você a descartaria por completo?
Não estou em condições de falar sobre o que ocorreu concretamente, mas o presidente Maduro falou do tema, segundo ouvi, e prometeu investigar. Ele deve saber por que disse isso e se houver alguma desconfiança por parte do governo venezuelano este pode adotar a decisão que lhe pareça mais conveniente. Os estados têm soberania para decidir o que fazer. Não afirmou nada, estou especulando.
Os que colocaram em dúvida o que causou a morte de Arafat (suposto assassinato com substâncias radioativas) foram desqualificados em 2004, quando ele morreu. Passados alguns anos, isso que parecia um absurdo hoje não é mais e os que foram ridicularizados não estavam tão equivocados. O passar do tempo às vezes acaba revelando algumas coisas. Que se investigue.
Maduro falou de um plano sedicioso com participação estadunidense... O jornalista Kennedy Alencar informou que Dilma e Cristina se articulam para frear eventuais golpistas...
Não tenho informação, mas imagino que haja uma grande preocupação por parte das presidentas para que não haja um golpe de estado. Isso sempre pode ocorrer, como em 2002. De repente veio o golpe. Um golpe se articula discretamente. Estão corretas em se preocupar se têm informações. Mas creio que isso seja difícil no curto prazo. No médio ou longo prazo, aí já não sei. É importante que Brasil e Argentina estejam vigilantes.
Desestimular eventuais movimentos golpistas é importante. Juntas, elas podem influir poderosamente. O apoio delas ao governo democrático é necessário. Igualmente acredito que a transição para as eleições está assegurada. Haverá estabilidade no curto prazo, o problema é o longo prazo.
Se tiveram coragem de tentar um golpe contra Chávez, porque não tentariam de novo agora, sem ele?
Claro, isso é lógico. É preciso levar em conta que a
sociedade venezuelana está fraturada, os programas sociais levaram à
conscientização das massas e, ao mesmo tempo, provocaram uma reação das classes
altas e médias altas. As minorias sabem que pelas urnas é difícil chegar ao
poder e aparece aí a tentação permanente de fazê-lo por fora das urnas.
Não sei com certeza se há setores militares fortes com planos golpistas, mas se há militares que não gostam do chavismo isso não me surpreenderia. Isso ocorre com todas as elites. Por isso, considero importante que existam milícias populares dispostas a defender o governo para compensar o poder dos militares.
O novo secretário de Estado, John Kerry, se veste de pomba.
Será ele menos hostil do que Hillary?
Parece-me quase impossível ser mais hostil que Hillary, mas
a política externa dos EUA transcende a característica pessoal de seus
funcionários. Há um princípio permanente que é castigar, ainda que muitos anos
depois, os países que não se enquadram nos desígnios de Washington. Quando
algum país não obedece a esse enquadramento, e a Venezuela fez isso, será
vítima de uma política que eu chamaria de vingativa.
Lembro quando Bush invadiu o Iraque por muitas coisas. Para
ele, havia um sentimento pessoal. Bush chegou a dizer que Saddam quis matar seu
pai. O mesmo ocorre com o Irã, porque eles invadiram a embaixada e, pior, os
iranianos tiveram a audácia de dar os nomes dos informantes iranianos que
trabalhavam com a CIA. Isso, Washington nunca perdoou. O mesmo se aplica a
Venezuela. Creio que Washington nunca perdoará as atitudes de Chávez.
Soberania equivale e irreverência...
Soberania equivale e irreverência...
A Venezuela foi uma província petroleira dos EUA durante décadas. Na II Guerra foi maior fornecedora de petróleo dos aliados. Tudo isso deu origem a uma classe dominante muito ligada ao negócio petroleiro e a Washington. Colômbia e Venezuela são fundamentais para o sistema norte-americano, no Mediterrâneo americano. Chávez acabou com tudo isso. Deu às costas aos Estados Unidos e se voltou ao Brasil, ingressou no Mercosul e rechaçou a ALCA. Isso, para os EUA, é imperdoável.
Para a direita, o chavismo morrerá com ele.
A dimensão de Chávez foi imensa, mas não considero adequado
dizer que tudo era fruto do carisma dele. Um autor alemão que viveu nos EUA
dizia que as pessoas não chegavam ao poder porque tem carisma, o poder é que
lhes dá carisma. Quando Chávez chegou ao poder em 1999, não tinha a grande
dimensão internacional que chegou a ter, na medida em que foi desenvolvendo seu
projeto. Agora, é preciso ver com Maduro amadurece (risos).
O cesarismo, talvez inevitável, do modelo bolivariano agrava o vazio causado pela morte do líder?
O cesarismo, talvez inevitável, do modelo bolivariano agrava o vazio causado pela morte do líder?
Os meios de comunicação dão muito valor à atuação do
presidente ou do primeiro ministro, supervalorizam a pessoa, como se ela fosse
imprescindível. É falso. Ninguém governa sozinho, governa-se porque se
representa um conjunto de setores. Isso ocorre nas democracias liberais e nas
ditaduras. Por tanto, é um equívoco achar que o chavismo é só a presença de
Chávez e não ver que esse fenômeno teve um respaldo enorme dos setores populares.
Dizer que Chávez era tudo foi mentira desses meios, que também inventaram que a revolução não é democrática. Na Venezuela de Chávez houve mais eleições que aqui no Brasil, como Lula observou. Não há notícias de jornalistas ou opositores presos. Se houvesse, seria notícia permanente. Essa imprensa criou a fantasia de que a revolução é um sistema baseado numa pessoa e isso é falso.
A longa agonia de Chávez permitiu que Maduro se afiançasse como seu sucessor?
Espero que sim. Não é fácil saber qual será sua habilidade
para manter dentro do projeto os setores populares, partidos e forças armadas.
Sendo Alto Representante do Mercosul (até julho de 2012), você pode conversar em profundidade com Chávez?
Sendo Alto Representante do Mercosul (até julho de 2012), você pode conversar em profundidade com Chávez?
Com Chávez falei poucas vezes. Ele citava constantemente um
livro meu que ele considerava muito importante.
Parece estar em marcha um ataque preventivo contra Maduro quando os conservadores anunciam que deverá haver um “inevitável” ajuste do gasto público.
Parece estar em marcha um ataque preventivo contra Maduro quando os conservadores anunciam que deverá haver um “inevitável” ajuste do gasto público.
A mídia internacional e os organismos financeiros
internacionais repetem em coro que é preciso fazer um ajuste, controlar a
inflação ou então virá uma catástrofe. Tudo isso é falso. Basta olhar para os
EUA onde nunca se fala disso e onde há déficits comerciais e fiscais absurdos.
Lá não se pede isso, aqui sim. É uma religião disfarçada de discurso econômico
global onde toda a política social é chamada de populismo. No Brasil falam do
lulopetismo.
As políticas sociais destes 14 anos de Chávez são conquistas irreversíveis?
As políticas sociais destes 14 anos de Chávez são conquistas irreversíveis?
Não creio. No Chile havia um processo avançado e, com o
golpe de73, se retrocedeu até na reforma agrária. Na Argentina ocorreu o mesmo
com o golpe de 1976. Se a direita volta é para retomar o poder e terminar com
as políticas públicas, com a redistribuição de renda. Tudo começa com as
campanhas nos meios de comunicação, dizendo que chegou a modernidade, que está
tudo melhor, que o populismo está dizendo adeus.
Na Venezuela esse discurso pode começar a ser utilizado com
a volta das classes abastadas, para desqualificar os programas de saúde, os
gastos do Estado com alfabetização, para retirar recursos da Universidade das
Forças Armadas, das missões (programas sociais do governo).
Capriles (principal opositor nas eleições de outubro de
2012) teve mais de 40% dos votos. Esses votos não são só das elites. Há pessoas
pobres beneficiadas pelos programas sociais que são ideologicamente
conservadoras. Eu creio que essas conquistas não possam ser entendidas como
irreversíveis. Por isso as classes dominantes querem voltar ao governo, para
reverter esses avanços.
Se Lula e Dilma tiveram cancer pelo mesmo processo, para não passar por isso mesmo, no que eles tiveram que seder ao império?
ResponderExcluirAté o mundo mineral (M.Carta)não desconhece das várias tentativas de assassinar o líder cubano Fidel Castro por sicários norte-americanos. Há livros, depoimentos de ex-agentes da Cia, que comprovam a hipótese e os diversos métodos empregados, alguns dignos de ópera bufa, no intento em liquidá-lo. A causa da morte do Comandante Chávez deve ser investigada. A tecnologia ianque voltada para a morte é imensa.
ResponderExcluirMiro, quero que você leia esse texto. Desconfio que a "rádio rock" UOL 89 FM seja uma forma do demotucanato paulista de reciclar seu poder criando uma base de apoio juvenil através de um pretexto "descompromissado" e "apolítico".
ResponderExcluirOs donos da UOL 89 são o Grupo Camargo de Comunicação, que era ligado a Paulo Maluf na ditadura militar, e a Folha de São Paulo, que dispensa apresentações.
Peço que leia e divulgue para todos, inclusive o pessoal do Barão de Itararé. A coisa é muito mais séria do que se imagina.
Linque do texto:
http://mingaudeaco.blogspot.com.br/2013/03/uol-89-fm-e-relacao-de-seus-donos-com.html
O que não podemos fazer é pensar que "eles não fariam isso". Fariam, sim.
ResponderExcluirÉ preciso investigar.