domingo, 17 de março de 2013

Poder e resistência digital

Por Leonardo Vasconcelos Cavalier Darbilly

O campo da comunicação vem passando por significativas mudanças em decorrência do desenvolvimento tecnológico e que está relacionado especialmente ao surgimento das novas tecnologias digitais de informação e comunicação. Este fenômeno, que ocorre em diversos países do mundo e que também acontece no Brasil, tem sido objeto de debates diversos na mídia e na academia. Como resultado dessas mudanças, há não apenas uma importante alteração no próprio processo de produção, difusão e consumo das notícias, que antes era monopolizado pelos grandes veículos de comunicação, mas também à própria estrutura das organizações.

A entrada nesse campo de grupos e organizações pertencentes à sociedade civil tem mudado significativamente as relações de poder existentes nesse campo. Tais grupos possuem ainda como uma de suas principais bandeiras a luta pela liberdade de expressão, a democratização dos meios de comunicação e a crítica à prática de monopólio exercida tradicionalmente pelas grandes organizações do campo. Assim, o presente trabalho busca analisar qual é a relação existente entre as novas tecnologias digitais de informação e o surgimento de práticas de resistência digital ao discurso das organizações hegemônicas no campo da comunicação política. Nele, procura-se realizar uma articulação entre a teoria sociológica de campo de Pierre Bourdieu e as perspectivas de resistência advinda dos estudos organizacionais; e de resistência digital, oriunda dos estudos sobre comunicação.

1. Introdução 

As organizações culturais vêm sendo, cada vez mais, objeto de pesquisas diversas por parte de autores ligados à área da gestão. Tal fenômeno justifica-se, principalmente, pela importância que a cultura, em suas mais diversas manifestações, assume em nossa sociedade, inclusive do ponto de vista do desenvolvimento econômico. Dentre algumas de suas principais atribuições, pode-se mencionar a contribuição tanto para a construção da identidade dos indivíduos quanto para o desenvolvimento local e a edificação de um senso de cidadania por parte desses indivíduos, além de ser também central para que uma sociedade possa pensar a respeito de seu próprio destino. Tal idéia é pensada de forma mais específica, por exemplo, por autores como Furtado (1978), que afirma ser essencial que as forças criativas de uma sociedade sejam liberadas para que esta possa construir sua própria realidade. Nesse sentido, o autor afirma que a remoção dos entraves que constituem obstáculos à atividade criativa do povo deveria ser feita por todas as instituições que se dizem guardiãs da herança cultural, o que permitiria o próprio desenvolvimento daquela sociedade.

Já o campo da mídia, como subárea da cultura, tem sido objeto de diversos debates tanto nos próprios veículos de comunicação como no meio acadêmico, pois, além, de exercer os papéis acima mencionados, tem sofrido um processo de intensas mudanças no que tange ao modo como a notícia é produzida, distribuída e consumida em seus diversos segmentos. A crise que o campo da mídia enfrenta e que está intimamente ligada a mudanças de ordem tecnológicas, possibilitou novas alternativas de produzir e comercializar a noticia que fogem ao modelo dominante estabelecido pelas organizações tradicionalmente hegemônicas nessa indústria e, ao mesmo tempo, possibilitando que diferentes indivíduos e grupos pertencentes à esfera da sociedade civil pudessem expressar-se livremente, além de ter aberto as portas para a formação de um novo fenômeno denominado por autores diversos como um novo tipo de ativismo o qual ocorre na esfera virtual e que tem como principal intuito contribuir para a democratização da informação.

Até recentemente, as organizações pertencentes ao campo da mídia, as quais detinham o quase absoluto controle da informação, dominavam o mercado e possuíam os recursos necessários de poder para exercer seu papel como atores dominantes nesse espaço e manter sua posição.

No contexto brasileiro, o campo da mídia foi tradicionalmente marcado pela situação de dominância das grandes corporações frente ao processo de produção de notícias. . De acordo com Borges (2009, p.59), na década passada, nove famílias dominavam o setor: Marinho (Globo), Abravanel (SBT), Saad (Bandeirantes), Bloch (Manchete), Civita (Abril), Mesquita (Estado), Frias (Folha), Levy (Gazeta) e Nascimento Silva (Jornal do Brasil). Entretanto, atualmente, afirma o autor, são “apenas cinco, já que as famílias Bloch, Levy e Nascimento faliram e o clã Mesquita atravessa uma grande crise financeira”. Ainda, Borges (2009), baseado no projeto ‘Donos da Mídia’, afirma que as Organizações Globo ainda preservam avassaladora hegemonia no setor da comunicação, sendo elas compostas por 35 grupos afiliados, os quais controlam, no total, 340 veículos, dentre emissoras de TV, rádios, revistas e canais e operadoras de TV a cabo.

As tecnologias digitais, entretanto, favoreceram a entrada de novos atores no campo (novos meios de comunicação independentes organizações, jornais online, blogueiros etc) e do empoderamento daqueles que anteriormente não tinham os recursos para competir contra essa dominação. Desta forma, a tecnologia tornou-se essencial para a aquisição de capitais econômico e simbólico por essas organizações. Além disso, as inovações tecnológicas parecem ser variáveis ​​centrais que afetam não só a estrutura de poder em que essas organizações estão inseridas, mas também os seus próprios processos organizacionais.

No que tange às mudanças que vêm ocorrendo mais especificamente no telejornalismo e no campo da TV, Ramonet (2010, p.77) afirma que, em países como os Estados Unidos, tal tipo de transmissão está mergulhada em uma profunda crise, a qual pode ser explicada por fatores diversos, “especialmente a concorrência das redes de informações ininterruptas, das redes digitais especializadas e da Internet, assim como o custo tão alto da produção das informações e a baixa considerável da audiência das principais redes gerais”. Wang (2003), por sua vez, explica que a rápida mudança da dinâmica e configuração espaço-temporais alcançada por essas novas tecnologias digitais mudaram radicalmente a natureza da ‘propriedade’ e do mercado, o equilíbrio de poder, e as relações e meios de produção, distribuição e recepção/consumo.

Além disso, Ramonet (2010, p.56) afirma que “as novas tecnologias favorecem o desaparecimento da especificidade do jornalismo”, uma vez que “a Internet permite a qualquer pessoa não só ser efetivamente, à sua maneira, jornalista, mas até encontrar-se à frente de uma mídia de alcance planetário”. A dúvida sobre o futuro do jornalista profissional frente ao fato de que, atualmente, cada cidadão se torna jornalista, é o que está no âmago da crise atual da mídia, conforme afirma Ramonet (2010).

Alcadipani (2007) afirma que o campo da mídia tem passado por mudanças relevantes nos últimos anos relacionadas principalmente ao avanço da internet e ao surgimento de novas tecnologias de informação como blogs, sites jornalísticos e redes de relacionamento, o que gera, assim, “um bombardeio e a pluralização das fontes de informação” (ALCADIPANI, 2007, p. 34). Nassif (2009), por sua vez, também considera que, atualmente, ocorre uma “pulverização da opinião”, sendo que, para ele, “a Internet tem um universo de pequenos formadores de opinião, que são blogs, sites de partido, sites de revistas, que formam um conglomerado (...) porque nele as alianças se formam a cada momento”. O mais importante, para autor, é o fato de que, a partir de agora, as diferentes organizações da sociedade civil poderão ser geradoras de informações, sem precisar passar pelo jornal para que aquelas se tornem notícias.

Nesse sentido, o presente trabalho busca analisar qual é a relação existente entre as novas tecnologias digitais de informação e o surgimento de práticas de resistência digital ao discurso das organizações hegemônicas no campo da comunicação política do Brasil. Nele, procura-se realizar uma articulação entre a teoria sociológica de campo e a noção de campo de produção cultural, desenvolvidas pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, e a perspectiva de resistência advinda do campo dos estudos organizacionais e de comunicação.

O conceito de campo de produção cultural formulado por Bourdieu (1993) ajuda a se pensar no setor de comunicação como um campo de produção cultural de larga escala que é caracterizada pela existência de indivíduos e grupos diversos que competem para obter recursos de poder importantes para o exercício da dominação ou da subversão da ordem de tal espaço social. Já por meio da abordagem de resistência, especialmente aquela desenvolvida por autores como Spicer e Bohm (2006; 2007), Russell (2005) e Carroll e Hacket (2006), busca-se explicar de forma mais aprofundada como os agentes pertencentes ao campo da comunicação política no Brasil lançam mão de estratégias diversas com o intuito de subverter a estrutura inerente ao campo cultural ao qual eles pertencem por meio de ações consideradas transformadoras ou, em última instância, revolucionárias, preenchendo o que alguns autores apontam como uma lacuna na teoria de campo de Bourdieu.

No que diz respeito às contribuições de caráter teórico, a pesquisa aqui proposta deverá vir a ser mais uma contribuição para a literatura que se propõe a investigar as organizações e o fenômeno da resistência. De acordo com Mizocsky (2008, p.182), os estudos críticos sobre as organizações possuem como uma das principais tarefas “explorar os processos de organização da resistência e das lutas sociais que tendem a ser ignorados pelo discurso organizacional contemporâneo”, uma vez que, para ela, “a organização hegemônica continuamente tenta naturalizar e essencializar a si mesma como a única forma pela qual o organizar pode ser articulado”, o que torna invisível “a multiplicidade de diferentes mundos organizacionais”.

Já no que tange às contribuições de aspecto prático, a pesquisa poderá trazer elementos que ajudem a nortear os diversos debates que têm sido realizados pela sociedade civil com o intuito de se discutir a democratização da mídia no país. Conforme Mielli (2009, p.9), “exclusão social, analfabetismo e negação de direitos, somados à ausência de espaços públicos de comunicação, resultam numa combinação explosiva que mina a democracia e molda uma sociedade passível de dominação cultural, política e econômica”. Ainda, segundo a autora, “entre as tantas dívidas que o Estado brasileiro tem com o seu povo, está a construção de um sistema público de comunicação que possa se constituir numa alternativa à hegemonia comercial existente nesse campo”, sendo “a luta pela democratização das comunicações é (...) uma pauta emergencial a ser enfrentada”. Já Brant (2009, p.70) afirma que “a comunicação é, sobretudo, um direito que precisa ser garantido” e que “entender a comunicação como direito é entender que a liberdade de expressão continua sendo um direito fundamental, mas se torna insuficiente se for tratada simplesmente como uma liberdade”, tendo o Estado, portanto, um papel central no que diz respeito a “garantir que esse direito seja exercido de maneira igual, ou igualitária, pelo conjunto da população”. Por fim, segundo Bauer (2010), os avanços decorrentes da era da convergência tecnológica em que transitamos devem estar a serviço da garantia do acesso à informação por todos os cidadãos.

Nesse sentido, a compreensão mais aprofundada da forma como o campo da comunicação política no Brasil encontra-se configurado, bem como sobre quais são as organizações e grupos que o constitui, os recursos de poder que detém e, principalmente, sobre o novo contexto dentro do qual esse campo se encontra e que modifica substancialmente o modo de se fazer jornalismo, podem constituir-se em elementos extremamente relevantes para que Estado, sociedade civil e mesmo o mercado reflitam de forma conjunta a respeito de um modelo de comunicação que, conforme as palavras de Mielli (2009, p.12), seja mais “plural, que espelhe a diversidade cultural, social, econômica e política do país, que abrigue o contraditório e contribua para o avanço da democracia”. Nesse sentido, torna-se imperativo a instituição de um marco regulatório para o setor da comunicação no país que torne este mais democrático e que estimule e permita, antes de tudo, a difusão dos pontos-de-vista e vozes dos diversos grupos presentes na sociedade brasileira de forma mais igualitária, espelhando toda a sua riqueza e complexidade. Entretanto, tal tarefa apenas é passível de ser realizada a partir da correta consideração a respeito dos diferentes interesses que colocam em conflito, de um lado, aqueles que detêm o poder hegemônico e que tentam, a partir da utilização de mecanismos altamente ideológicos - ainda que os mascarando e adotando um discurso de pretensa neutralidade - , impor sua visão de mundo e fazer valer seus interesses por meio do poder econômico e de influência que possuem e, de outro lado, diferentes grupos pertencentes à sociedade os quais, não possuindo o mesmo volume de recursos de poder que as organizações hegemônicas, tentam difundir seus pontos-de-vista por meio de mecanismos alternativos. Assim, estes últimos assumem um discurso contra-hegemônico no qual a ideologia não apenas é reconhecida e assumida, mas, também, orienta a própria luta pela liberdade de expressão no qual estão engajados.

2. Bourdieu, Poder e Campo de Produção Cultural

O crescente interesse pelo estudo das relações de poder que se observa na área da gestão vem fazendo com que algumas teorias ou conceitos, desenvolvidos mais recentemente por autores de áreas afins (especialmente a sociologia) sejam cada vez mais utilizados como base para a análise dos fenômenos que ocorrem no mundo das organizações. Os trabalhos do sociólogo francês Pierre Bourdieu que, assim como os de Foucault, são denominados pós-estruturalistas por diferenciarem-se da abordagem estruturalista tradicional oriunda dos trabalhos de Lévy-Strauss, formam parte desse corpo teórico descoberto recentemente pela literatura administrativa. Segundo Misoczky (2003, p.170), a utilização das teorias formuladas por Bourdieu na área implica “romper com uma tradição de estudos organizacionais” marcada pelo funcionalismo e o positivismo sistêmico e, também, com a tradição estruturalista, “deixando de lado a análise de estruturas desprovidas de sujeitos que evoluem pressionadas por forças também sem sujeito”.

De acordo com Özbilgin e Tatli (2005), o posicionamento filosófico de Bourdieu tinha como característica principal a negação da dicotomia entre as abordagens objetivistas e subjetivistas, que dominavam até então a área das ciências sociais. Assim, explicam eles, Bourdieu desenvolveu sua teoria da prática ou da ação, cujo objetivo era estabelecer um diálogo entre essas diferentes perspectivas por meio de uma metodologia pluralista que não raramente combinava técnicas quantitativas e qualitativas para a captura da realidade social. Misoczky (2003) lembra que Bourdieu, ao caracterizar seu próprio trabalho, denominou-o de “estruturalismo construcionista”, pelo fato de que, por um lado, seus estudos reconhecem a existência de estruturas objetivas que orientam a ação dos indivíduos independentemente da vontade destes, e, por outro, reconhecem também que a relação ou prática social desses indivíduos constituem ou reconstituem essas estruturas. Para que se possa compreender a teoria da prática elaborada por Bourdieu, bem como seus esforços para transcender a dualidade entre o objetivismo e subjetivismo, por ele tão criticada, faz-se necessário entender alguns conceitos por ele desenvolvidos que relacionam-se intimamente entre si. Tais conceitos são os de capital, habitus e campo, que, para Özbilgin e Tatli (2005), situam-se respectivamente nos níveis micro, meso e macro de análise.

Os diferentes campos também podem ser entendidos como sendo espaços ou mundo sociais, e correspondem a “um espaço de diferenças que contém o princípio de uma apreensão relacional do mundo social” e que apenas podem ser compreendidos “pela identificação do princípio gerador que funda essas diferenças na objetividade” (MISOCSKY, 2003, p.12;13), qual seja, a estrutura de distribuição de formas de poder. Anheier, Gerhards e Romo (1995), por sua vez, explicam que é em função de características econômicas, sociais e culturais que os atores localizados dentro desse espaço social nele se posiciona.

A configuração inerente a esse espaço social, a qual pode ser concebida como uma topografia, nas palavras do próprio Bourdieu (1989b, p.17), “é assim construída de forma que os agentes que ocupam posições similares ou vizinhas são colocados em condições similares e sujeitos a condicionamentos similares”. Bourdieu (1989, p.133) explica que o mundo social pode ser representado “em forma de um espaço (...) construído na base de princípios de diferenciação ou de distribuição constituídos pelo conjunto das propriedades que atuam no universo social considerado” as quais conferem a agentes e grupos de agentes “força ou poder neste universo”. Dessa forma, afirma o autor, “agentes e grupos de agentes são assim definidos pelas suas posições relativas neste espaço”, estando cada um deles “acantonado numa posição ou numa classe precisa de posições vizinhas” (BOURDIEU, 1989, p.133).

É importante, ainda, que se compreenda o significado do conceito de agente dentro do arcabouço desenvolvido por Bourdieu, já que não há sentido falar em campo sem que se pense no número de agentes que dele fazem parte, bem como as posições por eles ocupadas nessa topografia. Bourdieu (2002, p.101) afirma, nesse sentido, que um agente é “a unidade escondida sob a diversidade e multiplicidade de um conjunto de práticas realizadas em campos governados por diferentes lógicas e conseqüentemente incluindo diferentes formas de realização”. Uma vez que, dessa forma, tal definição leva em consideração de maneira especial as práticas que são levadas a cabo por esses agentes, vale ressaltar que, para Bourdieu (1992, p.107) o objeto das ciências sociais não são os indivíduos, mas sim agentes - não indivíduos biológicos, atores ou sujeitos – “que são socialmente constituídos como ativos e que agem no campo (...) pelo fato de possuírem as propriedades necessárias”. A essas propriedades, Bourdieu atribui o nome de capitais.

Bourdieu identifica diversos tipos de capitais, os quais são distribuídos no campo de maneira desigual e, conseqüentemente, passam a ser objetos de disputa por parte dos agentes que ocupam esse espaço. Dentre os principais tipos de capital trabalhados por Bourdieu (1989) em suas pesquisas, têm-se os capitais econômico, cultural, social e simbólico, sendo que este último relaciona-se a qualidades como prestígio, reputação e fama. Na verdade, ele explica que qualquer tipo de capital pode ser convertido em capital simbólico, desde que os agentes sociais os reconheçam e valorizem nesse espaço. (BOURDIEU, 2004).

O autor, ainda, ressalta que o capital “representa um poder sobre um campo em um determinado momento” e que “as espécies de capital, à maneira dos trunfos num jogo, são os poderes que definem as probabilidades de ganho num campo determinado” (BOURDIEU, 1989, p.134). Assim, pode-se afirmar que capital e poder, são, nessa perspectiva, termos intimamente relacionados, tendo em vista que um agente que adquire um tipo de capital importante para um campo específico está adquirindo, na verdade, recursos de poder.

Dentre os diferentes tipos de campo que Bourdieu (1993) pesquisou e que constitui o próprio objeto de análise do presente trabalho, pode-se citar o campo da produção cultural, o qual se distingue entre o campo de produção cultural restrito e o de larga escala (BOURDIEU, 1993). Enquanto o primeiro é caracterizado por ser um espaço em que os produtores produzem para outros produtores, ou seja, existe uma ‘arte pela arte’, no segundo os produtores produzem para o mercado com vistas a obter ganhos externos.

O campo da produção cultural situa-se no âmbito daquilo que Bourdieu (1993) denomina como um campo do poder, uma vez que contém forças especialmente de cunho econômicas e políticas. Assim, para ele, quanto mais autônomo for um campo (nesse caso, quanto mais ele se aproximar do campo da produção restrita), menor influência ele sofrerá de tais forças econômicas e maior o poder simbólico que os produtores poderão obter. Por outro lado, na medida em que a autonomia do campo for menor (isto é, quanto mais ele se aproximar do campo da produção de grande escala), maior será a influência das forças econômicas e do mercado. Nesse último caso, os produtores culturais competem com o intuito de serem recompensados financeiramente pelo mercado.

Ainda com relação ao campo de produção cultural de larga escala, Bourdieu (1993) esclarece que, nesse caso, há a submissão dos produtores culturais às demandas externas desse campo, ou seja, eles estão subordinados aos grupos que detêm o controle da produção e à mídia. Assim, o trabalho produzido no campo da produção cultural de grande escala é basicamente definido por seu público, ou seja, os produtores culturais optam por adequar as características técnicas e estéticas dessa arte às próprias características da classe social que eles pretendem atingir.

Por fim, no que tange aos recursos de poder que se fazem mais relevantes no campo da produção cultural, Johnson (1993) afirma que estes são o capital simbólico e o capital cultural. O primeiro, diz ele, diz respeito à acumulação de prestígio, de honra e de consagração, enquanto o segundo refere-se principalmente aos conhecimentos culturais específicos por parte dos agentes. Um indivíduo deve possuir uma quantidade mínima de propriedades, como conhecimento, talento ou habilidades, que o torne apto a jogar o jogo daquela estrutura. É por meio dessas propriedades que um indivíduo é percebido pelos outros agentes como um jogador legítimo dentro desse campo (JOHNSON, 1993).

No que tange à possibilidade dos agentes subverterem a estrutura inerente ao campo cultural ao qual eles pertencem por meio de ações consideradas transformadoras ou, em última instância, revolucionárias, alguns autores apontam que, ainda que a teoria de campo de Bourdieu não as descarte, o próprio conceito de habitus acaba naturalmente por restringi-las. Hesmondhalgh (2009), nesse sentido, afirma que Bourdieu é cético quanto a transformações revolucionárias no campo da cultura, uma vez que “momentos revolucionários são, para ele, sempre dependentes de possibilidades presentes nas posições inscritas no campo”, mas que elas não são descartadas totalmente pelo autor.

Já Cappelle, Melo e Brito (2005) afirmam que a estrutura macrossocial desenvolvida por Bourdieu acaba por fazer com que o espaço de ação dos agentes seja minimizado e que, dessa forma, a libertação tanto com relação à violência simbólica como à dominação “só pode vir de uma ação coletiva capaz de desafiar as estruturas objetivas e corporificadas, que subverta as fundações da produção e reprodução de seu capital simbólico”. Assim, os autores propõem uma ponte entre a teoria de campo formulada por Bourdieu e a teoria de poder desenvolvida por Michael Foucault, a qual, para eles, permitiria uma relativização do mecanismo de dominação que constrange os agentes, já que a análise, nesse caso, se dá em um plano micro social e as ações coletivas são provenientes de ações individuais localizadas e cotidianas.

Catani, Catani e Pereira (2001), fazem uma crítica à maneira pela qual a obra de Bourdieu foi apropriada no Brasil, a partir dos anos 80, e que acabou por reduzir o arcabouço conceitual do autor. Os autores explicam que isso está relacionado às próprias propostas pedagógicas de Bourdieu advindas de sua análise sobre o campo da educação, a qual, não possuindo um discurso doutrinal, foi interpretada à época como carecendo de propostas mais efetivas. Isso é explicado pelo fato desse campo, ao longo desse período, ter sido marcado por um caráter mais combativo, dando uma ênfase maior à ação. Nesse sentido, dizem eles que a obra de Bourdieu acabou sendo aprisionada na dicotomia reprodução versus transformação que ele mesmo combateu, mas que, na época, era comum dentre aqueles que atuavam no campo da educação. Nesse sentido, Catani, Catani e Pereira (2001, p.10) enfatizam que, para Bourdieu, “as resistências individuais e coletivas existem sempre, são componentes inelimináveis do processo de reprodução social”, mas que o problema recai na existência de uma “forte adesão dóxica dos agentes sociais à ordem estabelecida (...)”. Por fim, o próprio Bourdieu (1992) afirma que não vê como as relações de dominação podem ser estabelecidas sem que suscitem de alguma maneira a resistência e que o próprio fato de pertencerem a um campo possibilita que os agentes exerçam certa força e produzam efeitos sobre ele.

No que diz respeito ao campo analisado no presente, qual seja, a mídia, faz-se relevante ressaltar que o próprio Bourdieu (1997), em seu trabalho denominado Sobre a Televisão, já realizava uma análise do campo do jornalismo como estando inserido dentro do campo de produção cultural pelo fato de produzir bens de caráter cultural. Para o autor, tal espaço possui, assim, sua própria dinâmica e é dotado de autonomia relativa, uma vez que está sujeito a pressões de ordem política, econômica, dentre outras. Nesse sentido, conforme o autor, o mundo do jornalismo é um microcosmo que possui suas próprias leis e que é definido por sua posição no mundo global e pelas atrações e repulsões que sofre da parte de outros microcosmos.

Bourdieu (1997), assim, afirma que o campo do jornalismo possui a particularidade de ser muito mais dependente de forças externas do que todos os outros campos de produção cultural, uma vez que depende diretamente da demanda e é diretamente objeto de sanção por parte do mercado. Também, em sua concepção, o campo jornalístico, dominado pela lógica comercial, atua sobre todos os outros campos por meio da imposição de suas limitações em outros universos. Com relação às posições das organizações midiáticas dentro do campo, Bourdieu (1997) afirma que o que conta neste são os pesos relativos, e que um jornal deixa de ser dominante quando seu poder de distorcer o espaço a sua volta diminui e ele não mais dita a lei. Finalmente, Bourdieu (1997) afirma que os jornalistas ou o campo jornalístico devem sua importância no mundo social ao fato de que eles detêm um monopólio real sobre os instrumentos de produção e a ampla disseminação da informação e, conseqüentemente, possuem uma forma rara de dominação, tendo poder sobre os meios de expressar seus pontos de vista publicamente e tendo acesso ao que ele denomina como notoriedade pública.

3. Perspectivas sobre Resistência no Contexto das Organizações 

Diversas escolas de pensamento ligadas à área das ciências sociais vêm discutindo o fenômeno da resistência com base em diferentes perspectivas de análise. De acordo com Hollander e Einwohner (2004), no âmbito da sociologia e de outras áreas, houve uma maior atenção envolvendo desde questões ligadas ao controle social e estrutura social até questões relacionadas à capacidade de agência dos indivíduos, o que resultou em um aumento considerável de pesquisas e teorias que têm como intuito abordar o tópico sobre resistência. Nesse sentido, conforme os autores explicam, disciplinas ligadas à sociologia, tais como estudos sobre movimentos sociais, gênero, esporte, tecnologia e sociologia política; e também à antropologia, estudos culturais, geografia, ciência política e outros, vêm centrando sua atenção de forma crescente em tal fenômeno.

Já no que diz respeito mais especificamente à administração, essa rápida proliferação abordada acima pelos autores também vem ocorrendo de forma visível ao longo dos anos, sendo que ela se dá tanto nas áreas consideradas menos instrumentais e dotadas de um viés mais crítico tais como a de estudos organizacionais, como naquelas tidas como mais funcionalistas e preocupadas com a performance organizacional, como, por exemplo, a de marketing, mais particularmente em estudos sobre consumo, a de gestão de pessoas e estudos sobre trabalho.

Entretanto, conforme Hollander e Einwohner (2004) apontam, é importante mencionar que essa rápida proliferação de estudos sobre resistência está longe de significar que seus diferentes estudiosos estejam falando sobre a mesma coisa e que há pouco consenso sobre o que pode ser definido como resistência. Assim, os autores afirmam que:

Acadêmicos usaram o termo resistência para descrever uma ampla variedade de ações e comportamentos em todos os níveis da vida social humana (individual, coletiva e institucional) e em um grande número de ambientes, incluindo sistemas políticos, entretenimento e literatura e ambientes de trabalho. De fato, qualquer coisa, desde revoluções (GOLDSTONE, 1991; SCOTT, 1985; SKOCPOL, 1979) até estilos de penteados (KUUMBA e AJANAKU, 1998; WEITZ, 2001) já foram apontados como sendo resistência (HOLLANDER e EINWOHNER, 2004, p. 534).

De acordo com Fleming e Spicer (2006), tal série de reavaliações sobre o fenômeno da resistência ao longo das últimas décadas tornou uma única definição não apenas indefensável, mas até mesmo indesejável, dados os diferentes contextos e representações que elas pode assumir. Mais do que isto, por causa da múltipla e específica natureza do fenômeno, generalizações amplas de resistência, segundo eles, podem ser bastante enganadoras.

Já no que tange às diferentes conceituações do termo resistência, a literatura freqüentemente define o termo como sendo, por exemplo, “esforços ativos para opor-se, lutar e recusar a cooperar com ou submeter-se a comportamento abusivo e controle” (Profitt, 1996, p. 25); “engajar-se em comportamentos apesar da oposição” (Carr, 1998, p. 543); ou simplesmente, questionando e objetando” (Modigliani e Rochat, 1995, p. 112).

Na verdade, a enorme produção sobre resistência pode ser também enganadora, já que muitos trabalhos parecem invocar o conceito de resistência em seus títulos ou introduções, mas falham em defini-lo ou usá-lo de maneira sistemática no restante da pesquisa. Para Weitz (2001, p. 669), o termo resistência resta imprecisamente definido, permitindo que alguns acadêmicos o vejam quase que em toda parte e outros quase que em nenhum lugar. Talvez por isto, haja alguns esforços recentes no estabelecimento de uma definição ampla, mas com ‘subdefinições’, buscando atender às diferentes expressões de resistência (e.g. Hollander e Einhower, 2004).

Estudos críticos, especialmente em organizações, além da sociologia e antropologia, vêm se dedicando ao estudo da resistência. Neles, resistência é definida como:

“um processo reativo onde agentes imbricados em relações de poder ativamente se opõem às iniciativas de outros agentes” (Jermier, Knights e Nord, 1994, p. 9);

“um amplo escopo de comportamentos – desde falhar em trabalhar muito ou até conscientemente não trabalhar, restrição deliberada da produção, piadas, furtos, sabotagem e má conduta sexual” (Ackroyd e Thompson, 1999, p 1-2);

“qualquer ato individual ou de pequeno grupo que intencione diminuir as demandas da gerência sobre os trabalhadores ou que avancem as demandas dos trabalhadores contra a gerência” (HodsoN, 1995, p. 80).


Em Routledge (1997), a resistência aparece como desafio ou recusa, em oposição a algo (instituição) ou alguém (representante), a um poder já estabelecido. Em tal definição pode-se ver movimentos democráticos e protestos, bem como performances com menor grau de articulação política. Desta forma, resistência pressupõe a articulação de “materiais e práticas da vida cotidiana e implica em alguma forma de contestação, alguma justaposição de forças” (ROUTLEDGE, p. 69).

Tal problema gerou algumas tentativas de compreensão da resistência, de acordo com uma determinada tipologia. Na revisão de Holander e Einhower (2004), a resistência apresenta diferentes modos (física ou discursiva, por exemplo), escala (individual/coletiva, disseminada/local), nível de coordenação (entre os resistentes, formando – ou não – um movimento social organizado), alvo (que pode ser um indivíduo, grupo, organização... o poder ao qual a resistência se opõe), direção ou objetivos (a resistência visa uma mudança radical ou apenas limitar a mudança?) e pode ser baseada na identidade (resistência originada em determinado projeto identitário ou contra uma identidade imposta, como por exemplo, ao rótulo de ‘desempregado’, ‘subdesenvolvido’).

Apesar das diferentes expressões, todas apresentam pontos em comum: a idéia de que há algo a ser impedido, contido, resistido, ou seja, há uma reação para uma ação anterior. Outro aspecto importante é o caráter interacional do fenômeno que é, segundo Prasad e Prasad (2003), socialmente construído. De acordo com Holander e Einhower (2004), o fenômeno da resistência é melhor entendido a partir do momento em que ele passa a ser analisado em termos de tipos distintos. Dessa forma, os autores elaboraram uma tipologia a qual pode ser visualizada na tabela abaixo e que apresenta uma combinação da intencionalidade do ator, o reconhecimento do alvo e o reconhecimento do observador, como pode ser observado abaixo:

A tabela 1 acima se faz particularmente interessante uma vez que permite observar as diversas formas de resistência tratadas na literatura tendo como uma de suas categorias centrais a questão da intencionalidade daquele que resiste. A tipologia de Hollander e Einhower (2004) e as definições aqui apresentadas permitem interpretar que, para os autores, a resistência pode não ser ‘pura’, mas sim um continuum de interação entre ‘resistente’ e ‘dominador’, sendo que de acordo com eles, aqueles que resistem ao poder podem acabar por reforçar simultaneamente as estruturas de dominação que necessitam a resistência de tais indivíduos ou grupos.

Outra perspectiva de resistência que também vem ganhando espaço especialmente no âmbito dos estudos organizacionais e que, por sua vez, está fundamentada em uma perspectiva política, é aquela desenvolvida por autores como Spicer e Böhm (2006). De acordo com eles, os estudos organizacionais situam-se na fronteira entre as razões econômicas e políticas, já que a organização interage com diferentes forças sociais. Assim, eles afirmam que “para que se possa compreender as relações de poder e resistência que afetam as organizações e os processos organizacionais, é importante olhar para as lutas de resistência que ocorrem na sociedade civil” (SPICER E BOHM, 2006, p. 302).

Os autores também justificam tal escolha teórica a partir da idéia de que a orientação para uma abordagem política é de vital importância pelo fato de que ela pode contribuir não apenas para o entendimento de como os movimentos sociais influenciam as organizações e desafiam os discursos hegemônicos produzidos por estas, mas também como eles mesmos desenvolvem novas formas de se organizarem. Nesse sentido, para os autores, o estudo dos movimentos sociais como forças de resistência organizacional podem abrir novas possibilidades discursivas sobre como perceber a organização (SPICER E BOHM, 2006, p. 302). É a partir da compreensão da resistência como sendo uma ação coletiva que ocorre não apenas nas “condições imediatas” dos espaços organizacionais, mas, principalmente, na sociedade civil de forma mais ampla e que acaba por influenciar as próprias ações das organizações, que Spicer e Bohm (2007, p 1667; 1691) a conceituam como sendo “uma luta hegemônica empreendida por movimentos sociais”.

Nesse mesmo sentido, Otto e Böhm (2006), baseados em Gramsci, ressaltam que o regime hegemônico do management é produzido não apenas por meio das relações de classe no local de trabalho, mas que também é importante verificar os mecanismos políticos de consenso existentes nas esferas mais amplas dessa sociedade civil os quais, segundo os autores, são responsáveis pela legitimação ou mesmo pela derrocada cultural e social de tal regime. Assim, afirmam eles:

Essa visão é derivada de um entendimento o qual percebe a sociedade civil como aquela esfera que ordena as relações entre humanos por meio da razão política, enquanto o local de trabalho é majoritariamente ordenado pela razão econômica. Possivelmente, os estudos organizacionais e do management, como uma área de investigação, situa-se na fronteira entre a razão política e econômica, por que a organização não é uma entidade fechada, mas um processo aberto, uma vez que interage e é influenciada por uma ampla cadeia de forças sociais. Conseqüentemente, para que se possa compreender as relações de poder e de resistência que se deparam com o management e com as relações internacionais, é importante olhar para as lutas de resistência que ocorrem na sociedade civil (Otto e Böhm, 2006, p. 302). 

Ao abordarem a importância da utilização das teorias que estudam os movimentos sociais como forma de se teorizar a respeito dos fenômenos que ocorrem na esfera relacionada às organizações, Misocsky, Flores e Silva (2008) afirmam estar interessados em interessados em “retornar aos movimentos sociais para dali abstrairmos possibilidades teóricas comprometidas com sua práxis”, uma vez que, conforme os autores, “uma das certezas que temos é a de que os movimentos sociais se constituem em (e através de) práticas organizacionais que a nossa disciplina, em sua configuração atual, não permite compreender” (Misocsky, Flores e Silva, 2008, p. 12).

No âmbito do campo da mídia política no Brasil, os aspectos acima discutidos são bastante importantes no que tange à observação do fenômeno da resistência em tal espaço. Sob tal ponto de vista, a utilização das novas tecnologias de comunicação poderia ser encarada como uma forma aberta, encoberta ou inconsciente de contestação de indivíduos e grupos pertencentes à sociedade civil a posição dominante das grandes corporações no campo. Assim, tais grupos podem fazê-lo com o intuito explícito de atingir as empresas que tradicionalmente atuam no setor da mídia ou simplesmente porque a oportunidade se apresenta.

Pode-se observar a resistência a partir dos mais variados pontos de vista, bem como nos mais diversos contextos. Neste ensaio, busca-se evidenciar que o surgimento e utilização das novas tecnologias digitais por parte de indivíduos e grupos localizados na esfera da sociedade civil podem ser compreendidos como sendo práticas de resistência, argumentação que ficará mais evidente na próxima seção, quando será discutido o fenômeno do ativismo de mídia à luz das perspectivas de resistência oriundas do campo dos estudos organizacionais e do campo de estudos sobre a mídia.

4. Estudos sobre Resistência Digital e o Ativismo de Mídia

As inúmeras possibilidades que as novas tecnologias de comunicação oferecem a diferentes setores da sociedade civil para que estes possam difundir seus pontos de vista sem passar pelo filtro da grande mídia é um fenômeno que também vem chamando já há algum tempo a atenção de estudiosos da mídia no contexto internacional, especialmente aqueles filiados a perspectivas mais críticas existentes nesse campo.

Russel (2005), por exemplo, estabelece uma relação entre as novas formas de ativismo por meio da internet e o que ela denomina como resistência digital, ou seja, práticas opositivas levadas a cabo por grupos diversos na web e que ocorrem de forma explícita, possuindo como característica principal o fato de atuarem em rede, estando “disponível para cópia e adaptação pela vasta maioria de usuários de qualquer lugar” (RUSSEL, 2005, p.514). A autora explica que diversos grupos aos quais foram negados o direito de comunicarem-se ou difundirem suas informações, agora exercem formas de resistência às barreiras e filtros a eles impostos por parte da mídia mainstream por meio da distribuição de mensagens alternativas na internet e, nesse sentido, os próprios sites de redes sociais facilitam manifestações políticas online e off-line, bem como a formulação de estratégias diversas (RUSSEL, 2005).

Um dos principais eventos que culminaram na aceleração da percepção da internet como um instrumento de comunicação de massa inerentemente democrático e amplamente livre das hierarquias que estruturam a publicação e divulgação de notícias offline, conforme Russel (2005), foi o ataque terrorista de 11 de Setembro ocorrido nos Estados Unidos. Isso porque, segundo a autora, o governo norte-americano passou a rotinizar o monitoramento das atividades ocorridas na esfera da Internet em nome da segurança nacional, houve a expansão do uso de firewalls e leis de direitos autorais com o intuito de limitar o acesso à informação, o fechamento de servidores da web e de listas de usuários, além de prisões e de indiciamento de usuários da rede de ativistas ao redor mundo. Nesse sentido, diz Russel (2005, p.513), todos esses exemplos acabaram por evidenciar que “a Internet pode ser tanto um instrumento de repressão como de libertação”.

Entretanto, Russel (2005) também ressalta que a resistência online a essas e a outras formas de controle continuam a se desenvolver rapidamente, e que “as tecnologias que facilitam as práticas políticas e culturais coletivas estão moldando o uso da Internet e integrando-a de forma mais aprofundada na vida de seus usuários ao redor do mundo – por meio de mensagens instantâneas, e-mails `inteligentes`, weblogs colaborativos, redes wireless, editores de texto wiki e as redes sociais” (RUSSEL, 2005, p. 513). Tais tecnologias e práticas, diz ela, chegaram quando a guerra ao terror promovida pelo governo norte-americano acelerou a resistência baseada na web e o surgimento de movimentos de contra-resistência. O foco de análise de estudos sobre resistência digital então afastou-se, afirma a autora, da celebração da Internet e da novidade desta última e direcionou-se à natureza das redes online e a relação entre o engajamento online e offline.

Assim, Russel (2005) explica que para alguns grupos de mídia táticos, “resistência digital refere-se a uma forma de protesto que imita o modo em que a tecnologia digital, com efeito, fez de si mesma um novo meio. Diz a autora que tal tipo de resistência surgiu por meio de uma combinação de necessidade e oportunidade e, assim:

Muitos `resistentes digitais` tiveram seu acesso negado à informações e produtos da mídia e/ou o poder de expressar e controlar sua mensagem. Eles resistem por meio do deslocamento das barreiras e dos filtros impostos pela mídia mainstream e por meio do hacking de tecnologia e de restrições legais sobre a informação, difundindo mensagens alternativas para audiências extensivas e preparando novas mídias ou utilizando mídias já existentes de novas maneiras ao longo do processo (RUSSEL, 2005, p.514).

Por fim, Russel (2005) explica que uma das mais distintas formas de resistência digital é a sua qualidade de conexão e de rede e que toda forma de oposição afiada, independentemente de sua eficácia ou de sua ideologia, é agora parte da rede de informações, disponível para cópia e adaptação pela vasta maioria de usuários em todas as partes. Dentro de um contexto em que cresce o medo de uma cultura autoritária, global e hegemônica, afirma Russel (2005), esses projetos acabam por ressaltar a independência e a pluralidade que existem no ambiente das novas mídias.

Moraes (2000), por sua vez, ao realizar uma análise da comunicação virtual e de sua relação com o alcance pleno da cidadania e de justiça social afirma, que, no Brasil, organizações as mais diversas da sociedade civil tais como “partidos, sindicatos, organizações não governamentais e até grupos guerrilheiros”, não obstante o fato de eventualmente atuarem de forma separada por possuir estratégias e táticas de ação distintas, encontram na esfera virtual possibilidades de difundir suas reivindicações e, para tal, sobrepujam os “filtros ideológicos e as políticas editoriais da chamada grande mídia” (MORAES, 2000, p.142). Ainda, o autor explica que tais grupos pertencentes à esfera da sociedade civil não têm a pretensão de, por meio do uso da internet, atingir milhares de pessoas (já que tal privilégio é obtido tão somente pelos meios de comunicação de massa), mas buscam, sim, disseminar suas idéias, obter o máximo de intercâmbios, interagir com quem quer apoiar, criticar, sugerir ou contestar e, por fim, “driblar o monopólio de divulgação, permitindo que forças contra-hegemônicas se expressem com desenvoltura, enquanto atores sociais empenhados no alcance da cidadania e justiça social” (MORAES, 2000, p.142). Para o autor, tais organizações, as quais fazem uso do espaço virtual para difundir seus pontos-de-vista e suas demandas, juntamente com os inúmeros indivíduos e grupos que se inserem na rede de forma espontânea, formam o que ele denomina como sendo uma “militância online” a qual “vem alargar a teia comunicacional planetária” (MORAES, 2000, p.142).

Em trabalho escrito no ano de 2007, o qual teve como intuito abordar os avanços e dilemas que estão relacionados à comunicação alternativa, às redes sociais e ao ativismo na web, Moraes (2007) afirma ser importante ter como foco de análise as intervenções na Web que se encontram em franca oposição à ideologia neoliberal sustentada, por sua vez, pela mídia global, e que está elevada em dois pilares, quais sejam, “a elevação do consumo à condição de instância máxima de organização societária; e a crença de que o incremento da produtividade depende da liberação crescente e generalizada das atividades econômicas” (MORAES, 2007, p. 4). Assim, o autor adota como premissa a idéia, baseada no conceito de comunicação alternativa desenvolvida pelo Foro de Medios Alternativos, realizado na Argentina no ano de 2004, de que no âmbito da comunicação alternativa em rede “se busca construir espaços de afirmação de óticas interpretativas críticas e de práticas jornalísticas cooperativas, com a finalidade de defender a diversidade informativa e valores éticos”. Já noção de comunicação alternativa, baseada, como afirmado acima, na definição aprovada no Foro, é, de acordo com Moraes (2007):

Aquela que atua como uma ferramenta para a comunicação no campo popular, sem deixar de lado a militância social, ficando implícito que jornalistas e/ou comunicadores devem estar dentro do conflito, sempre com uma clara tendência a democratizar a palavra e a informação (MORAES, 2007, p.4),

Dessa forma, o conceito de comunicação alternativa ou de alternatividade, conforme destaca o autor, está fundamentado em uma dupla inserção ideológica de um novo projeto comunicacional, ou seja, um alinhamento com processos de mudança social e um combate de modo sistemático ao sistema hegemônico. Está fundamentado, segundo Moraes (2007, p.4), “assumir visões transformadoras na relação com os leitores e a sociedade em geral, nos métodos de gestão, nas formas de financiamento e, sobretudo, na interpretação dos fatos sociais. Por fim, faz-se relevante destacar cinco aspectos que Moraes (2007, p.4) aponta como estando diretamente relacionados à comunicação em rede “com direção contra-hegemônica” e que podem estão presentes na web. São eles:

a) oposição direta ao neoliberalismo e defesa da universalização dos direitos democráticos e da socialização das riquezas; b) descentralização informativa: qualquer ponto da rede pode estabelecer permutas com outros pontos, dificultando o controle pelas instâncias de poder; c) os dados podem ser difundidos sem submissão às diretrizes e às idiossincrasias da mídia; d) a dinâmica virtual incentiva a interlocução e a interação baseadas em visões de mundo convergentes; e) estoques de textos e materiais audiovisuais podem ser partilhados com base no princípio inclusivo da "publicação aberta" (leitores podem adicionar comentários, publicar textos e/ou fotos sem prévio consentimento dos editores e aproveitar arquivos e bases de dados) e na adesão ao copyleft (permissão para reproduzir informações sem fins comerciais, desde que citada a fonte, evitando-se as barreiras impostas pela propriedade intelectual).

Ainda, vale destacar o alerta feito por Moraes (2007), o qual chama a atenção para falsas ilusões de que a esfera virtual encontra-se livre das contradições inerentes ao sistema capitalista, o que já foi abordado mais acima a partir dos exemplos mencionados por Russel (2005). Assim, além da existência de dicotomias como o aperfeiçoamento do sistema financeiro graças à Internet, ao mesmo tempo em que se constata o ativismo anticapitalista,o autor destaca que “é um erro supor que as aberturas na Internet possam sobrepujar o cenário de transnacionalização da comunicação, inclusive no campo virtual”, em que as “corporações midiáticas fincam seus tentáculos com agressividade, controlando os sites mais populares e com isso atraindo crescentemente anúncios e patrocínios” (MORAES, 2007, p.11).

Ainda no tocante ao fenômeno do ativismo existente no campo virtual, Carroll e Hackett (2006) explicam que uma forma importante de ativismo levado a cabo por militantes na esfera digital é aquela em que os meios de comunicação são encarados como sendo tanto um meio como um fim para as diversas lutas engendradas por tais grupos e, nesse sentido, uma de suas principais bandeiras está na democratização dos meios de comunicação e na crítica ao controle corporativo da comunicação de massa, sendo eles, por essa razão, denominados de ativistas de mídia. As novas tecnologias de comunicação, segundo os autores, reduzem drasticamente os custos da comunicação e possibilitam novas oportunidades para a prática do ativismo de mídia (CARROLL E HACKETT, 2006).

Carroll e Hackett (2006) explicam que grande parte dos movimentos ativistas de mídia implica na tentativa de lançar mão de práticas emancipatórias, tendo em vista que a própria idéia de democratizar a comunicação – por meio da criação de diálogos inclusivos como forma de substituir os canais monológicos típicos da mídia de massa e a ampla defesa do direito universal à comunicação – expressam uma aspiração por parte de tais movimentos a um mundo descolonizado, idéia essa que está fundamentada na noção de emancipação oriunda do pensamento de Habermas e em sua teoria da ação comunicativa e seu pensamento sobre a esfera pública. Carroll e Hacket (2006), explicam, nesse sentido, que a luta que ocorre no âmbito da sociedade civil para democratizar a comunicação parece satisfazer certos critérios para denominá-la como um movimento social, pois está baseada em redes de ativistas e culturas dissidentes; emprega um repertório extra de ação que requer a mobilização de recursos-chave tais como trabalho e tecnologia; e amplia o projeto da modernidade de razão e justiça, que impulsionou grande parte dos movimentos sociais modernos.

Ainda, conforme Carroll e Hackett (2006), por um lado, o foco de estratégia do ativismo de mídia – a comunicação em si - e seu repertório de ação – diversidade cultural, monitoramente da mídia, ativismo de internet, dentre outras – são suficientemente novas para transformar as estratégias implementadas pelos movimentos de protesto, tornando mais reflexiva a ação coletiva. Os autores afirmam, também, em uma crítica à teoria dos novos movimentos sociais de Mellucci, que alguns tipos de ativismo de mídia focam de forma mais especifica em questões de conteúdo, mas que muitos ativistas de mídia se colocam não apenas como sendo um desafio simbólico para as elites, mas também um desafio para o próprio sistema de produção simbólica, constituindo-se em uma crítica à economia política de comunicação de massa e em um esforço para construir alternativas democráticas. Entretanto, Carroll e Hackett (2006) também explicam que o ativismo de mídia está caracteristicamente associado a outras causas ativistas, o que significa que ele está constantemente transgredindo fronteiras políticas o que acaba por resultar em uma falta de identidade coletiva. Entretanto, diz os autores que “se essa forma de ativismo diz respeito mais a construir uma `política de conexões` do que construir seu próprio sistema de ação, a falta de uma identidade coletiva regularizada e clara entre ativistas” pode de alguma forma “indicar o sucesso em construir círculos sociais inter-setoriais que coalizões políticas radicais requerem” (CARROLL E HACKET, 2006, p.100).

5. Conclusão 

A perspectiva de poder advinda do pensamento de Pierre Bourdieu e sua teorização acerca das características de um campo de produção cultural permitem que se possa analisar o campo da comunicação política como um espaço marcado por forças e disputas entre indivíduos, grupos e organizações diversas. Assim, os agentes localizados nesse campo – jornalistas, grandes corporações de mídia, blogueiros, movimentos sociais, organizações diversas pertencentes à sociedade civil, entre outros – competem e disputam entre si a posse ou a utilização dos diversos tipos de capitais que possibilitam a ocupação de uma posição privilegiada neste espaço de poder.

Tendo como base o referencial, parece ser correto afirmar que, no âmbito do setor em análise, o principal evento crítico que tem ocasionado alterações significativas na estrutura do campo mais recentemente é, sobretudo, aquele de ordem tecnológica. Isso é verificado não apenas pelo surgimento da Internet, mas, especialmente, pelo desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação tais como blogs, sites jornalísticos e redes de relacionamento. Pode-se afirmar, evidentemente, que a cada vez maior relevância de tais recursos tecnológicos também corrobora para que aquelas organizações tradicionalmente ligadas ao setor da comunicação, como as grandes corporações detentoras dos mais importantes veículos de comunicação no país, adquiram recursos econômicos. Isso significa dizer que a aquisição de capital tecnológico faz-se extremamente importante para que tais organizações adquiram capital econômico e, assim possam sobreviver ao que muitos apontam como sendo uma crise no campo decorrente da mudança no modo de se produzir e consumir a notícia.

Entretanto, as recentes mudanças na estrutura do campo da comunicação, quando analisadas sob a ótica da abordagem de poder de Bourdieu, também permitem que se possa visualizar fatores que vão além da utilização das novas tecnologias por parte das organizações dominantes no campo com o intuito de sobreviver ao mercado em que atuam. Nesse sentido, o efeito mais importante do surgimento das novas tecnologias de informação e comunicação foi o de permitir que agentes diversos que tradicionalmente não atuavam no setor ou mesmo aqueles que nele atuavam, mas que não possuíam recursos de poder suficientes para ocupar uma posição de destaque no campo pudessem expressar e difundir suas opiniões sem que, para isso, tenham que passar pelo filtro das grandes organizações detentoras de veículos de comunicação.

Nesse sentido, ao se analisar o setor da comunicação por meio do arcabouço teórico proposto por Bourdieu, é possível afirmar que a alteração nas posições relativas dos agentes no campo e o surgimento do que autores como Ramonet (2010) apontam como uma crise em tal estrutura foi impulsionada, sobretudo pelo desenvolvimento e acesso de novas tecnologias de informação e comunicação. A noção de campo de produção cultural quando aplicado ao setor da mídia contribui no sentido de auxiliar na compreensão mais aprofundada não apenas das dinâmicas que se dão no interior desse setor, mas também, nas razões pelas quais a estruturação e reestruturação do campo ocorreram ao longo do tempo. O campo da comunicação no Brasil, atualmente, passa por um momento de alterações em sua estrutura, que foi afetada especialmente pelo surgimento de blogs, sites diversos jornalísticos e das redes sociais, tais como Orkut, Facebook, dentre outras. Se até recentemente as grandes organizações midiáticas, conforme mostrou Borges (2009), exerciam uma posição de dominância no campo e possuíam os recursos de poder que se faziam necessários, de ordem tecnológica e econômica, para manterem tal posição, tais fatores propiciaram a entrada de novos agentes no campo e o fortalecimento daqueles que até então não tinham recursos para reagir a essa dominação. Assim, os próprios movimentos sociais podem ser ilustrados como exemplos de organizações que, ao perceberem os benefícios das novas tecnologias digitais, passaram a utilizá-las visando difundir para um maior número de pessoas seus pontos-de-vista no que tange à luta política.

Entretanto, conforme visto anteriormente, os diferentes grupos que agora possuem a oportunidade de expressar-se por meio da utilização das novas ferramentas digitais o fazem não apenas para que possam difundir seus diferentes pontos-de-vista, mas também as usam como uma clara expressão de recusa a um modelo hegemônico praticado pelas grandes organizações de mídia, expressão de um poder estabelecido há décadas e que ainda busca legitimar-se a si mesmo como sendo o melhor. Tal prática, apontada por autores como Russell (2005) como resistência digital, não apenas é intencionalmente reconhecido por parte daqueles que propõem mudanças no modo de se produzir a notícia e de se fazer jornalismo, mas também são reconhecidos como tal por aqueles que exercem ainda a posição de dominantes no setor, ou seja, os grandes veículos de comunicação.

Sendo assim, tendo como base a tipologia de resistência formulada por Holander e Einhower (2004), parece ser possível afirmar que a expressão de resistência colocada em prática por partidos, blogueiros, sindicatos, organizações não-governamentais, grupos guerrilheiros, dentre outros, é caracterizada como de tipo aberta, já que possui um intuito claro de combater o monopólio exercido pela grande mídia no setor. Assim, em tal prática de resistência explícita e aberta, a ideologia não apenas é reconhecida e assumida, mas, também, orienta a própria luta pela liberdade de expressão na qual tais agentes estão engajados. Além disso, parece ser correto afirmar que, dentre as principais perspectivas de resistência advindas da literatura das ciências sociais, aquela que melhor diz respeito às características das práticas de resistência acima mencionadas é a abordagem de autores da área de estudos organizacionais como Spicer e Böhm (2006). Tal perspectiva se afasta de uma análise mais micro das práticas de resistência nas organizações e orienta-se rumo a uma abordagem mais macro, a qual considera que é de vital importância a compreensão das forças que atuam fora das fronteiras das organizações e que se esforça por modificar suas práticas. Tais forças, para os autores, são de caráter coletivo e são expressas pelas ações de movimentos sociais, o que faz com que essa abordagem adquira um caráter político.

Por fim, parece ser também apropriado considerar as práticas de resistência digital, colocadas em prática pelos agentes pertencentes ao campo da mídia, como sendo uma forma de ativismo de mídia, já que, conforme ressaltado por autores como Moraes (20002007), tais grupos e organizações possuem estratégias bem definidas de atuação que buscam “assumir visões transformadoras na relação com os leitores e a sociedade em geral, nos métodos de gestão, nas formas de financiamento e, sobretudo, na interpretação dos fatos sociais” (MORAES, 2007, p.4). O ativismo de mídia, como forma de ativismo praticada por militantes na esfera virtual, possui como uma de suas principais bandeiras exatamente a democratização dos meios de comunicação e a crítica ao monopólio exercido pelas grandes corporações de mídia.

A perspectiva de poder desenvolvida a partir dos estudos de Pierre Bourdieu, dessa forma, quando articulada com as perspectiva de resistência política, desenvolvida no âmbito dos estudos organizacionais; e de resistência digital, desenvolvida no campo da comunicação, pode ser bastante rica para que possamos compreender não apenas como tal espaço está configurado, quais agentes estão nele inseridos e quais os recursos de poder que possuem, mas também, para que entendamos de forma mais aprofundada as especificidades que caracterizam a luta praticada por tais agentes no sentido de subverter ou alterar suas posições dentro desse campo e as estratégias por eles utilizadas. Além disso, tal articulação é extremamente importante para que se possa visualizar a prática de resistência digital e o ativismo de mídia como fenômenos intimamente associados ao elemento poder, uma vez que são recursos de ordem tecnológicos que acabam por abrir a possibilidade de que novos agentes possam formular estratégias contra-hegemonicas, tendo como intuito modificar a estrutura do campo em que eles estão inseridos.

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Um comentário:

  1. A essência da nação militante petista


    Temos paixão. Somos convictos e contagiantes. Provavelmente a militância mais numerosa do planeta. Somos autênticos, corajosos e batalhadores. Estamos impregnados de verdade e nossa causa é a mais justa de todas. Por isso não desistimos jamais. O que nos move passa longe de vingança, ódio a um partido ou a um candidato e o que aprendemos não está nas manchetes das cartilhas penduradas nas bancas de jornal. Ao contrário de nossos adversários, não ecoamos preconceito racial e social, individualismo e limpeza étnica. Nossos desejos não se realizam às custas do sofrimento alheio e não pretendemos derrubar o Brasil e humilhar seu povo em nome de nossa vitória.
    Não nos enganam mais os apresentadores, os locutores, os porta-vozes, os tradutores, os comentaristas e os novelistas que tentam corromper nossas consciências a todo custo. Não nos interessam mais as teorias, os modelos, as tendências, as fachadas, os apelidos, a maquiagem e as máscaras dos falsos patriotas.
    Sonhamos um Brasil forte, justo e soberano. Um Brasil que já quase podemos tocar, que vibra nos rostos iluminados de nossas crianças. Enxergamos um horizonte real, atingível, construído por cada um de nós através dos governos vitoriosos que elegemos. Somos NÓS que estamos lá. Mais do que representados, donos do nosso destino. Estamos encravados na história e no futuro deste novo Brasil e desta nova América para sempre. Não seremos demovidos por qualquer instrumento que não seja a vontade soberana do povo, expressa em eleições justas e democráticas.
    Não buscamos lucro ou vantagem pessoal. O que nos move é a confiança, a certeza de que é possível melhorar nossas vidas e a vida de todas pessoas, independente da cor, do sexo e da classe social.tornar este país mais justo, um lugar melhor de se viver. Para que nossos filhos não tenham vergonha de serem brasileiros. É isso que nossos adversários não compreendem. Essa entrega a uma causa que beneficia milhões de pessoas do norte ao sul do país. Os conservadores estacionados no século passado e sua imprensa podre nos estranham porque só conhecem os caminhos do preconceito, da inveja e da trapaça para se alcançar um objetivo.
    Os inimigos da democracia conspiram cada dia mais abertamente em nome de uma elite que decidiu “reaver seu país” a qualquer custo. Mais do que isso, planejam reescrever a história recente deste país. Devolver ao Brasil a condição de vira-latas da comunidade internacional, sempre submisso às vontades dos mercadores e assaltantes estrangeiros.
    O desrespeito à constituição e às bases mais elementares do direito e da justiça exibidos pelo STF no julgamento da 470 e festejados pelo PiG durante e em função da campanha eleitoral, mostra que os conspiradores não estão ensaiando. Estão armando o bote – associados agora aos senhores das togas, que a cada dia que passa, tornam-se mais parecidos com seus colegas de cargo paraguaios.
    Por isso enfrentamos essas forças predadoras e sua imprensa a cada dois anos. Sabemos que jamais desistirão – seja no voto, seja na marra. E sabemos que somente a vitória das forças progressistas nas eleições deste domingo poderá conter sua voracidade bestial e golpista que ameaça roubar-nos o estado de direito.
    Somos amantes da verdade, da justiça e da prosperidade. Não nos vendemos e não nos rendemos.
    Tudo isso nos diferencia dos mercenários da outra margem. E é por tudo isso que venceremos!
    Fonte: O que será que me dá?
    Postado por O TERROR DO NORDESTE às

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