domingo, 7 de abril de 2013

Coreia do Norte sabe o que faz

Por Breno Altman, no sítio Opera Mundi:

Não falta quem apresente o governo de Pyongyang como um bando de aloprados, chefiado por um herdeiro tonto e tutelado por generais dignos de Dr. Strangelove, o célebre filme de Stanley Kubrick estrelado por Peter Sellers. Mas fica difícil acreditar que um Estado pintado nessas cores possa ter sobrevivido a tantas dificuldades nesses últimos vinte anos.

Depois do fim da União Soviética e do campo socialista na Europa Oriental, que eram seus grandes parceiros econômicos, a Coreia do Norte entrou em colapso. O caos foi agravado por catástrofes naturais que empurraram o país para uma situação de fome. Poderia ter adotado o caminho de reformas semelhantes às chinesas, mas o risco de ser açambarcado por Seul afastou essa hipótese.

O forte nacionalismo, mesclado com economia socialista e mecanismos monárquicos, impulsionou uma estratégia de preservação do sistema. Laços com a China foram reatados. E os norte-coreanos resolveram peitar o cerco promovido pelos EUA, cuja exigência era rendição incondicional.

A consequência óbvia dessa decisão foi reforçar a defesa militar, tanto do ponto de vista material quando cultural. Na chamada ideologia juche, criada pelo fundador da Coreia do Norte, Kim Il Sung, que combina marxismo e patriotismo, as Forças Armadas são a coluna vertebral da nação.

Pyongyang, portanto, jamais descuidou de estar preparada para novos conflitos depois do armistício que, em julho de 1953, suspendeu a Guerra da Coreia. Sempre considerou que a disputa entre norte e sul teria a variável da presença de tropas estadounidenses.

Mas outras lições foram extraídas a partir dos anos 90. O primeiro desses ensinamentos foi que, após a debacle soviética, a Casa Branca passara a intervir militarmente contra os países que não se curvassem à sua geopolítica. Iugoslávia, Afeganistão, Iraque e, mais recentemente, Líbia servem como exemplos desse axioma.

O segundo aprendizado está na conclusão de que qualquer guerra convencional contra o Pentágono estaria provavelmente fadada à derrota. Somente uma força nuclear de dissuasão poderia servir de escudo eficaz.

Ao longo do tempo, o governo dos Kim deu-se conta de que, no controle desse dispositivo, poderia impor certas condições econômicas e políticas que ajudassem a recuperação do país, pois os temores militares de Seul e Tóquio obrigavam os EUA a negociar.

No curso dessa estratégia, demonstrações de poderio bélico e vontade de combate são essenciais. Os Estados Unidos recrudesceram, por sua vez, a pressão para que os norte-coreanos se desarmem, como pré-condição para qualquer alívio de medidas punitivas.

Pyongyang resolveu reiterar, nas últimas semanas, que não está para brincadeiras. De quebra, parece sinalizar que não aceita ficar sob o guarda-chuva chinês e rifar sua independência político-militar.

Pode-se não gostar da política e do estilo, mas a Coreia do Norte está longe de ser uma pantomima do absurdo. Eles sabem o que fazem. Seu regime sobrevive porque aprendeu que a única linguagem entendida por Washington é a força. Quem não entendeu isso, dançou na história.

* Breno Altman, 51, é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.

2 comentários:

  1. Breno Altman agradeço essa análise. As organizações Globo e o restante da mídia serviçal tupiniquim não param de passar a imagem de que a Coréia do Norte é que ameaça o país mais belicoso do planeta: os EUA. É tão ridículo o que dizem...de toda forma é o procedimetno-padrão: lavagem cerebral. Só mesmo com atitudes corajosas se consegue chacoalhar um pouco as mentes "abduzidas" pelo oligopólio midiático. Essas "abduções" de mentes e corações são coisas de terrestres, não de marcianos.

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  2. O míssil Taeodong 2 é o principal d'a República Popular Democrática d’a Coréia, este magnífico espetáculo de um país pequeno, excessivamente montanhoso e com pouquíssimas áreas agricultáveis num clima gelado em grande parte do tempo, entretanto... De um povo heróico, inteligente e soberano que jamais cederá às chantagens dos genocidas do ocidente, dos seus lacaios de de Seul e de Tóquio !

    http://youtu.be/9CZHJJnACZU

    . . .
    A República Popular Democrática d’a Coréia não tem bomba atômica para ameaçar ninguém. A posse de armas nucleares não é a vontade d’a RPDC. A nação coreana vem sofrendo ameaça nuclear há mais de 60 anos. Muitos coreanos foram presos no Japão, para trabalhos forçados, após o recrutamento para reparar o que foi danificado pelos EUA nos ataques nucleares de Hiroshima e Nagasaki. A Coréia Popular só continuará existindo porque tem bomba atômica para se proteger. O Iraque, Afeganistão e Líbia foram covardemente destruídos porque abandonaram os respectivos projetos nucleares.

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