segunda-feira, 29 de abril de 2013

Mortes em Bangladesh e roupa da moda

Por Altamiro Borges

A morte de 377 operários no desabamento de uma fábrica de tecidos em Bangladesh, na semana passada, mostrou mais uma vez o lado sinistro da indústria de roupas de grife. O prédio de três andares não respeitava qualquer norma de segurança e reunia cerca de 3 mil trabalhadores. Segundo Andrew North, correspondente da BBC, a situação de outras empresas é idêntica. “É no norte da capital Dhaka que se concentra a maior parte das fábricas de roupas do país. Muitas delas fabricam peças para marcas internacionalmente conhecidas. Das casas de um quarto e dos casebres onde os operários vivem, podem-se ver blocos de concreto de múltiplos andares atravessando os céus da região. Nos telhados, vigas de aço estão aparentes, na esperança de que outro piso repleto de máquinas de costura seja erguido”.

Na ânsia por mais lucros, sempre com base nos minguados salários dos trabalhadores, as empresas terceirizadas correm para atender pedidos de roupas mais baratas. A fábrica Rana Plaza, que desabou na semana passada, era uma das que produzia para a famosa cadeia de lojas britânicas Primark, entre outros clientes. “Em sua defesa, a Primark informou que estava ‘chocada e entristecida’ pelo desastre e que exigiria de seus outros fabricantes uma revisão dos padrões de segurança. Mas esta é apenas uma pequena amostra de um cenário conhecido há bastante tempo na região. Há menos de seis meses, no mesmo local, um incêndio reduziu a cinzas uma fábrica que fazia roupas para a cadeia americana de supermercados Wal-Mart, matando 100 trabalhadores”, descreve o jornalista Andrew North.

Na prática, poucas mudanças foram feitas para resguardar a vida dos explorados. Após a tragédia da Wal-Mart, as empresas até colocaram placas com a frase “proibido trabalho infantil”. Mas a fiscalização é precária. “Não está claro se os fiscais das grifes internacionais também vêm procurando ‘falhas estruturais’ nos edifícios onde muitas dessas fábricas estão localizadas”. Além disso, afirma o repórter da BBC, “dezenas de fábricas ilegais floresceram na capital de Bangladesh na última década tentando tirar proveito do ‘boom’ de roupas baratas. Inúmeras dessas operações ocorrem à margem do poder governamental e não cumprem com os requisitos mínimos de segurança, como proteção contra incêndio... Menores de idade trabalham nas linhas de confecção de roupas”.

“Não é segredo que muitas das grandes fábricas da região subcontratem plantas menores para puxar os custos para baixo e atender aos prazos dos clientes. Nesses locais, a atividade pode ser apenas pregar botões ou costurar zíperes. Em seguida, as roupas retornam à fábrica contratante e ‘legal’, sem que os compradores conheçam qualquer detalhe desse processo”. Pelos menos é o que dizem os executivos das poderosas redes varejistas, como a Wal-Mart, que alegam desconhecer as condições de trabalho da região. A desculpa, porém, é esfarrapada. As multinacionais pagam pouco pelas peças porque o grau de exploração é violento e as condições de trabalho são as mais precárias. Como afirma um dirigente sindical de Bangladesh, “quando você compra algo e leva outro de graça, não é exatamente de graça”.

3 comentários:

  1. Reproduzem este modelo de exploração de mão de obra até aqui,com brasileiros e bolivianos.

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  2. Lado sinistro do consumidor.
    A falsa moral implementa leis para certificação ambiental. E seguirá nesta falsidade enquanto não tivermos certificação humana e social.
    É mais barato produção de escravo.

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  3. http://www.facebook.com/photo.php?fbid=592035184153871&set=a.448945311796193.102674.448289145195143&type=1&theater

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