Por Marcelo Justo, no sítio Carta Maior:
Em vida, Margaret Thatcher polarizou a sociedade britânica como nenhum outro político do século XX. As coisas não mudaram com sua morte. Em uma sociedade tão consciente das formas como a britânica, o funeral pomposo nesta quarta-feira na catedral de Saint Pauls terá como contrapartida protestos no centro de Londres e celebrações em bairros.
A polícia deslocará cerca de quatro mil efetivos para as ruas para prevenir atentados ou incidentes e a canção “Ding Dong the witch is dead” (“Celebremos que a bruxa morreu”) – número dois na lista das mais vendidas na semana passada – soará com tanto vigor quanto os temas clássicos do funeral.
Entre os milhares de convidados à catedral de Saint Paul se encontram a Rainha Elizabeth II e o Príncipe William, mandatários e ex-mandatários, ministros e ex-ministros, todo o gabinete da coalizão conservadora-liberal democrata, membros da oposição trabalhista, celebridades e desportistas. Em alusão à guerra das Malvinas, participarão mais de 700 membros das forças armadas, entre eles dois irmãos que combateram nas ilhas, o sargento Bill Mott e o major Nicky Mott.
O funeral será fastuoso. O ataúde, coberto por uma bandeira britânica, será transportado por um carro fúnebre antes de ser transferido para uma carruagem puxada por seis cavalos negros. Até o Big Bem, esse símbolo clássico da capital, deixará de dar as horas em homenagem à dama de ferro, algo que não ocorria desde o enterro de Winston Churchill em 1965. Segundo o governo, não se trata de um funeral de estado. O cidadão comum e o espectador estrangeiro, menos afeitos a estes detalhes protocolares, o verão como uma homenagem do mais alto calibre, só outorgada a heróis nacionais.
Nas ruas, durante os 20 minutos em que o cortejo se deslocará desde a Igreja de St.Clemente Danes até a catedral de Saint Pauls, grupos opositores a Thatcher lhe darão as costas em um gesto simbólico de rechaço. Os militantes informaram pelo Twitter que planejam derramar baldes de leite para lembrar que a dama de ferro foi também a “ladra dos copos de leite” que privou as crianças do copo que recebiam na escola primária.
O custo do funeral é de 8 milhões de libras e gerou um forte debate. Segundo o chanceler William Hague, a ex-primeiro ministra merece a homenagem pois as negociações que fez com a União Europeia pouparam cerca de 75 bilhões de euros ao contribuinte britânico. O ex-vice primeiro ministro trabalhista John Prescott criticou “este desperdício” em meio a um período de contração econômica como o que vive o Reino Unido e sugeriu que os 13 mil milionários que receberam um corte de impostos de 100 mil libras anuais com o atual governo financiem esse gasto.
“É preciso privatizar seu funeral. Isso seria uma homenagem adequada à sua obra”, assinalou Preston. Mas nem todos os trabalhistas foram tão críticos. Em sua homenagem parlamentar na semana passada o líder da oposição, Ed Miliband, destacou que, para além das diferenças, era preciso reconhecer que Thatcher havia mudado o Reino Unido e que, em muitos aspectos, ela tinha sido uma pioneira.
Não resta dúvida que entre o país que ela assumiu em 1979 e o que deixou ao renunciar em 1990 havia um abismo. Nestes 11 anos, os serviços básicos e grandes empresas britânicas – do aço a British Airways e Rolls Royce – foram privatizados, o setor financeiro desregulamentado e o poderoso movimento sindical marginalizado com a legislação mais dura em termos trabalhistas de toda a Europa.
Segundo os conservadores, ela salvou o Reino Unido de uma decadência pós-imperial e devolveu o país a um destino de grandeza que estava se perdendo entre as greves e os apagões dos anos 70. Segundo seus detratores, ela foi responsável pela crescente desigualdade e pobreza do Reino unido, pela desindustrialização do país e pela debacle financeira.
Que pensam os britânicos hoje? Em uma pesquisa da ComRes para o “The Independent on Sunday”, 33% disseram que não houve melhor premier do que ela, enquanto 41% discordaram dessa posição. Cerca de 59% a apontaram como a figura mais polarizadora do país; somente 18% discordaram disso. Na mesma pesquisa, 38% manifestaram-se contra a privatização do gás, da eletricidade e do serviço telefônico, enquanto 25% se disseram a favor.
Mas segundo outra sondagem, publicada pelo “The Guardian”, se Margaret Thatcher fosse hoje a líder dos conservadores, estes ganhariam cerca de oito pontos na preferência de votos e se colocariam com 40% das preferências dos eleitores, apenas 2,5% menos do registrado nas eleições de 1987 que lhe deram maioria absoluta em seu último período de governo.
O debate sobre Thatcher e o Thatcherismo está presente nas casas, nos pubs, na imprensa, na televisão e até nas canções populares. A música “Ding dong the witch is dead”, cantada por Judy Garland em “O mágico de Oz”, terminou a semana em segundo lugar das preferidas do público, enquanto que a canção punk “I am in love with Margaret Thatcher” só chegou ao 35º lugar.
A BBC foi apanhada em fogo cruzado dos simpatizantes e opositores de Thatcher. Nos domingos, a Rádio 1 tem um programa onde toca na íntegra as músicas mais populares da semana. Sob pressão dos conservadores, reduziram “Ding dong...” a um clipe de sete segundos, mas transmitiram inteira a música da banda punk.
* Tradução de Katarina Peixoto
Em vida, Margaret Thatcher polarizou a sociedade britânica como nenhum outro político do século XX. As coisas não mudaram com sua morte. Em uma sociedade tão consciente das formas como a britânica, o funeral pomposo nesta quarta-feira na catedral de Saint Pauls terá como contrapartida protestos no centro de Londres e celebrações em bairros.
A polícia deslocará cerca de quatro mil efetivos para as ruas para prevenir atentados ou incidentes e a canção “Ding Dong the witch is dead” (“Celebremos que a bruxa morreu”) – número dois na lista das mais vendidas na semana passada – soará com tanto vigor quanto os temas clássicos do funeral.
Entre os milhares de convidados à catedral de Saint Paul se encontram a Rainha Elizabeth II e o Príncipe William, mandatários e ex-mandatários, ministros e ex-ministros, todo o gabinete da coalizão conservadora-liberal democrata, membros da oposição trabalhista, celebridades e desportistas. Em alusão à guerra das Malvinas, participarão mais de 700 membros das forças armadas, entre eles dois irmãos que combateram nas ilhas, o sargento Bill Mott e o major Nicky Mott.
O funeral será fastuoso. O ataúde, coberto por uma bandeira britânica, será transportado por um carro fúnebre antes de ser transferido para uma carruagem puxada por seis cavalos negros. Até o Big Bem, esse símbolo clássico da capital, deixará de dar as horas em homenagem à dama de ferro, algo que não ocorria desde o enterro de Winston Churchill em 1965. Segundo o governo, não se trata de um funeral de estado. O cidadão comum e o espectador estrangeiro, menos afeitos a estes detalhes protocolares, o verão como uma homenagem do mais alto calibre, só outorgada a heróis nacionais.
Nas ruas, durante os 20 minutos em que o cortejo se deslocará desde a Igreja de St.Clemente Danes até a catedral de Saint Pauls, grupos opositores a Thatcher lhe darão as costas em um gesto simbólico de rechaço. Os militantes informaram pelo Twitter que planejam derramar baldes de leite para lembrar que a dama de ferro foi também a “ladra dos copos de leite” que privou as crianças do copo que recebiam na escola primária.
O custo do funeral é de 8 milhões de libras e gerou um forte debate. Segundo o chanceler William Hague, a ex-primeiro ministra merece a homenagem pois as negociações que fez com a União Europeia pouparam cerca de 75 bilhões de euros ao contribuinte britânico. O ex-vice primeiro ministro trabalhista John Prescott criticou “este desperdício” em meio a um período de contração econômica como o que vive o Reino Unido e sugeriu que os 13 mil milionários que receberam um corte de impostos de 100 mil libras anuais com o atual governo financiem esse gasto.
“É preciso privatizar seu funeral. Isso seria uma homenagem adequada à sua obra”, assinalou Preston. Mas nem todos os trabalhistas foram tão críticos. Em sua homenagem parlamentar na semana passada o líder da oposição, Ed Miliband, destacou que, para além das diferenças, era preciso reconhecer que Thatcher havia mudado o Reino Unido e que, em muitos aspectos, ela tinha sido uma pioneira.
Não resta dúvida que entre o país que ela assumiu em 1979 e o que deixou ao renunciar em 1990 havia um abismo. Nestes 11 anos, os serviços básicos e grandes empresas britânicas – do aço a British Airways e Rolls Royce – foram privatizados, o setor financeiro desregulamentado e o poderoso movimento sindical marginalizado com a legislação mais dura em termos trabalhistas de toda a Europa.
Segundo os conservadores, ela salvou o Reino Unido de uma decadência pós-imperial e devolveu o país a um destino de grandeza que estava se perdendo entre as greves e os apagões dos anos 70. Segundo seus detratores, ela foi responsável pela crescente desigualdade e pobreza do Reino unido, pela desindustrialização do país e pela debacle financeira.
Que pensam os britânicos hoje? Em uma pesquisa da ComRes para o “The Independent on Sunday”, 33% disseram que não houve melhor premier do que ela, enquanto 41% discordaram dessa posição. Cerca de 59% a apontaram como a figura mais polarizadora do país; somente 18% discordaram disso. Na mesma pesquisa, 38% manifestaram-se contra a privatização do gás, da eletricidade e do serviço telefônico, enquanto 25% se disseram a favor.
Mas segundo outra sondagem, publicada pelo “The Guardian”, se Margaret Thatcher fosse hoje a líder dos conservadores, estes ganhariam cerca de oito pontos na preferência de votos e se colocariam com 40% das preferências dos eleitores, apenas 2,5% menos do registrado nas eleições de 1987 que lhe deram maioria absoluta em seu último período de governo.
O debate sobre Thatcher e o Thatcherismo está presente nas casas, nos pubs, na imprensa, na televisão e até nas canções populares. A música “Ding dong the witch is dead”, cantada por Judy Garland em “O mágico de Oz”, terminou a semana em segundo lugar das preferidas do público, enquanto que a canção punk “I am in love with Margaret Thatcher” só chegou ao 35º lugar.
A BBC foi apanhada em fogo cruzado dos simpatizantes e opositores de Thatcher. Nos domingos, a Rádio 1 tem um programa onde toca na íntegra as músicas mais populares da semana. Sob pressão dos conservadores, reduziram “Ding dong...” a um clipe de sete segundos, mas transmitiram inteira a música da banda punk.
* Tradução de Katarina Peixoto
Bruxa Malvada!
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